O Estado de S. Paulo
A busca da eficiência e de resultados com visão de futuro, com uma nova liderança política e uma burocracia mais competente, é do que o Brasil precisa
Poucos pensam e discutem o Brasil acima de
preocupações político-partidárias e de interesses pessoais. Não se trata de
criticar a ação do governo de turno e de outros que o precederam. Hoje, na
prática, o País está sem projeto de nação, que defina os rumos da economia; sem
estratégia nacional de segurança, que defina o lugar do Brasil no mundo em rápida
e profunda transformação; sem uma clara definição de objetivos modernos para a
educação que dê base para a inovação e o desenvolvimento tecnológico; e sem
saber como equacionar seus problemas sociais e ambientais no médio e no longo
prazos.
Com forte influência populista, o País está dividido ideologicamente e politicamente. Ao não ousar, vê seu crescimento reduzido, as desigualdades aumentando, a violência crescendo, a base industrial se deteriorando e as vulnerabilidades econômicas, comerciais, sociais, militares e de defesa aumentarem. A segurança jurídica está abalada por decisões contraditórias e a competitividade da economia, paralisada pela ineficiência da burocracia e do tamanho do Estado.
A mediocridade da discussão e das ações burocráticas em grande parte explica esta situação de falta de perspectiva do País. A polarização política e a intolerância deixam a burocracia semiparalisada, com receio de assumir decisões que possam ser vistas como partidárias e que poderiam gerar consequência políticas ou mesmo jurídicas contrárias. A sociedade civil está sem liderança para propor a revisão de políticas institucionais de desenvolvimento e reforma política de interesse do País, e sem força para propor uma nova relação entre civis e militares, desgastados pelos envolvimentos recentes, para virar a página da histórica interferência militar na política.
Os empresários, sobretudo no setor industrial, estão sem projetos e se acomodam aos governos de turno para defender seus interesses setoriais. O sistema político-partidário é disfuncional pelo número de partidos, sem uma clara ideologia, atuando na defesa de seus próprios interesses econômicos, comerciais e patrimoniais.
O Congresso Nacional tem avançado o exame e a aprovação de algumas reformas, mas a percepção é de que, sem programas claros na defesa dos interesses maiores do País, fica enredado na discussão menor de privilégios e muitos de seus representantes aparecem envolvidos com corrupção.
O Judiciário sofre desgaste com a judicialização de
questões que o Legislativo e o Executivo não conseguem resolver. Em muitos
casos, decisões são tomadas com forte viés político, alterando substancialmente
decisões anteriores, ensejando a visão de que a política menor, e não a
Constituição, prevalece em suas decisões.
Num mundo em que o conhecimento está na
base das grandes mudanças, com os desafios da aplicação da Inteligência
Artificial, o País não consegue superar as deficiências do sistema educacional.
As escolas e universidades, com honrosas exceções, não respondem às
necessidades dos novos tempos. Os recursos públicos são mal administrados e o
Brasil está muito baixo nos índices internacionais.
As ONGs e os think tanks, com uma visão
setorial em suas atuações, examinam e atuam com competência nas matérias que discutem,
mas em raros casos têm força e poder para influir na definição de políticas
públicas que possam ser avaliadas e tenham um sentido e uma visão de médio e
longo prazos.
Nessa breve análise, que não pretende
esgotar o assunto, mas chamar a atenção para as armadilhas de que a sociedade
foi vítima, em todas as áreas mencionadas, o que se destaca, lamentavelmente, é
o triunfo da mediocridade.
A mediocridade da classe dirigente
historicamente refletida na incapacidade de aproveitar as potencialidades do
Brasil para deixar de ser um país do futuro e transformá-lo numa força global,
como ocorreu em Cingapura e na China.
Para superar essa situação, em que a
mediocridade prevalece – inclusive pelo despreparo, pelo nepotismo,
apadrinhamento, formas disfarçadas de corrupção, nas nomeações para o serviço
público e para as filiações partidárias –, o Brasil teria de dar força à
meritocracia, para buscar a eficiência e resultado nas políticas em todas as
áreas. O termo meritocracia é um neologismo inventado nos anos 1950 pelo
sociólogo britânico Michael Young. No romance The Rise of the Meritocracy (O
surgimento da meritocracia), Young descreve uma sociedade em que os melhores e
mais aptos detêm o poder. Ao morrer, em 2002, Young estava decepcionado com a
vida pública estratificada na Inglaterra, mas tinha esperança na terceira via
de Tony Blair.
O valor do mérito é atacado hoje no Brasil
todos os dias e em todos os lugares: vejam como se desenvolve a carreira na
classe política e o nivelamento por baixo, por muitos anos, nos principais
setores do serviço público. Para muitos dos que o desprezam, o mérito seria uma
vitrine enganosa, que dissimula mal a sobrevivência das elites. Os que atacam a
meritocracia, com hipocrisia e cinismo, são os principais responsáveis pelos
seus desvios.
A busca da eficiência e de resultados com
visão de futuro, com uma nova liderança política e uma burocracia mais
competente, é do que o Brasil precisa. O setor privado fará sua parte.
Abaixo a tirania da mediocridade.
*PRESIDENTE DO INSTITUTO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS E COMÉRCIO EXTERIOR (IRICE), É MEMBRO DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS
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