Folha de S. Paulo
Modelo de Bukele, o ditador de El Salvador,
já é realidade no Brasil
Na campanha eleitoral de 2018, Wilson
Witzel —político que "tentando a subida desceu", como a Conceição de
Cauby Peixoto— disse que iria construir navios-presídios em alto mar para
abrigar presos. A cadeia flutuante é realidade nos EUA e, no Brasil, remete aos
tempos da chegada da Corte portuguesa, em 1808, com as presigangas fundeadas na
baía de Guanabara que funcionavam como depósito de "escravos em
correção".
Não duvide que a ideia volta, impulsionada pelo efeito Nayib Bukele, o ditador de El Salvador que surfa numa onda de popularidade de 90% após adotar uma política de julgamentos e detenções em massa, assassinatos e tortura. Bukele se orgulha de ter inaugurado o maior presídio da América Latina, com capacidade para 40 mil pessoas. Apesar de ser um risco real à democracia, serve de inspiração para candidatos à Presidência do Equador e Guatemala. Logo, logo, surge um Bukelezinho por aqui.
Mais populoso, o Brasil é o país da região
com mais gente em cana e em situação precária. Em 20 anos, o número de detentos
triplicou. São mais de 830 mil. Há relatos de que no Pará e em Sergipe os
presos são obrigados a beber água da privada para matar a sede; no Rio Grande
do Norte faltam itens de higiene pessoal e limpeza das celas.
O perfil dos presos brasileiros é de jovens
e, sobretudo, negros. Segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
entre 2005 e 2022 houve um crescimento de 381% da população negra encarcerada.
É como se nunca tivéssemos deixado a época das presigangas.
Herdeiro do método "atirar na cabecinha" propagado por Witzel, o governador Cláudio Castro, não tendo como encarcerar, resolveu segregar os pobres. Planeja erguer um muro na Linha Vermelha a fim de dar segurança a quem passa de carro pela via expressa. Do outro lado, ficarão os moradores das favelas dominadas por grupos criminosos. Não é muito diferente de um presídio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário