domingo, 30 de setembro de 2012

Tapar o sol - Ferreira Gullar


O julgamento do STF realiza-se à vista de milhões de telespectadores. Não é uma conspiração

Gostaria de deixar claro que não tenho nada de pessoal contra o ex-presidente Lula, nem nenhum compromisso partidário, eleitoral ou ideológico com ninguém. Digo isso porque, nesta coluna, tenho emitido, com alguma frequência, opiniões críticas sobre a atuação do referido político, o que poderia levar o leitor àquela suposição.

Não resta dúvida de que tenho sérias restrições ao seu comportamento e especificamente a certas declarações que emite, sem qualquer compromisso com a verdade dos fatos. E, se o faço, é porque o tenho como um líder político importante, capaz de influir no destino do país. Noutras palavras, o que ele diz e faz, pela influência de que desfruta, importa a todos nós.

E a propósito disso é que me surpreende a facilidade com que faz afirmações que só atendem a sua conveniência, mas sem qualquer compromisso com a verdade. É certo que o faz sabendo que não enganará as pessoas bem informadas, mas sim aquelas que creem cegamente no que ele diga, seja o que for.

Exemplo disso foi a entrevista que deu a um repórter do "New York Times", quando voltou a afirmar que o mensalão é apenas uma invenção de seus adversários políticos. E vejam bem, ele fez tal afirmação quando o Supremo Tribunal Federal já julgava os acusados nesse processo e já havia condenado vários deles. Afirmar o que afirmou em tais circunstâncias mostra o seu total descompromisso com a verdade e total desrespeito com às instituições do Estado brasileiro.

Pode alguém admitir que a mais alta corte de Justiça do país aceitaria, como procedentes, acusações que fossem meras invenções de políticos e jornalistas irresponsáveis?

E mais: os ministros do STF passaram sete anos analisando os autos desse processo, tempo mais que suficiente para avaliá-lo. Afirmar, como faz Lula, que tudo aquilo é mera invenção equivale a dizer, implicitamente, que os ministros do STF são coniventes com uma grande farsa.

Mas o descompromisso de Lula com os fatos parece não ter limites. Para levar o entrevistador do "NYT" a crer na sua versão, disse que não precisava comprar votos, pois, ao assumir a Presidência, contava com a maioria dos deputados federais.

Não contava. Os verdadeiros dados são os seguintes: o PT elegera 91 deputados; o PSB, 24,; o PL, 26, o PC do B, 12, num total de 153 deputados. Mesmo com os eleitos por partidos menores, cuja adesão negociava, não alcançava a metade mais um dos membros da Câmara Federal.

Cabe observar que ele não disse ao jornalista norte-americano que não comprou os deputados porque seria indigno fazê-lo. Disse que não os comprou porque tinha maioria, ou seja, não necessitava comprá-los. Pode-se deduzir, então, que, como na verdade necessitava, os comprou. Não há que se surpreender, Lula é isso mesmo. Sempre o foi, desde sua militância no sindicato. Para ele, não há valores: vale o que o levar ao poder ou o mantiver nele.

Sucede que, apesar do que diga, ninguém mais duvida de que houve o mensalão. Pior ainda, corre por aí que o Marcos Valério está disposto a pôr a boca no mundo e contar que o verdadeiro chefe da patranha era o Lula mesmo, como, aliás, sempre esteve evidente. E já o procurador-geral da República declarou que, se os dados se confirmarem, o processará. É nessas horas que o Lula falastrão se cala e desaparece. Às vezes, chama Dilma para defendê-lo.

Desta vez, chamou o Rui Falcão, presidente do PT, para articular o apoio dos líderes da base política do governo. Disso resultou um documento desastroso, que chega ao ponto de acusar o Supremo de perpetrar um golpe de Estado contra a democracia, equivalente aos golpes que derrubaram Vargas e João Goulart. Pode? Vargas e Goulart, como se sabe, foram depostos pela extrema direita com o apoio de militares golpistas.

O julgamento do STF realiza-se às claras, à vista de milhões de telespectadores. Não é uma conspiração. Ele desempenha as funções que a Constituição lhe atribui. E que golpe é esse contra um político que não está no poder?

O tal manifesto só causou constrangimento. O governador Eduardo Campos, de Pernambuco, deu a entender que foi forçado a assiná-lo, após rejeitar três versões dele. Enfim, mais um vexame. Só que Lula, nessas horas, não aparece. Manda alguém fazer por ele, seja um manifesto, seja um mensalão.

Fonte: Folha de S. Paulo

Novidade e surpresa - Tereza Cruvinel


Faltando uma semana para a eleição municipal, em circunstâncias normais seria possível dizer que o quadro atual apresentado pelas pesquisas tende a ser confirmado pelas urnas. Mas a campanha tem apresentado singularidades, como a inclinação do eleitorado por novidades, o que nem sempre quer dizer por nomes novos. Outra marca tem sido a surpresa, a reviravolta brusca, com a despencada de favoritos e a ascensão de candidatos que estavam na retaguarda. Uma terceira característica, a ser confirmada pelas urnas, será a dispersão dos votos entre um maior número de partidos, o que só piora o nosso fragmentado quadro partidário.

Em Salvador, tanto ACM Neto, do DEM, quanto Nelson Pelegrino, do PT, são figuras já carimbadas. Mas o inesperado aconteceu na sexta-feira, segundo o Ibope, com a ultrapassagem de Neto pelo petista. Nem tão inesperado, se lembrarmos que Pelegrino já demonstrou, em mais de uma disputa majoritária, sua capacidade de crescer na chegada, embora morrendo na praia. Desta vez, ele tem o apoio de um governador bem avaliado como Jaques Wagner.
 
O candidato do PRB à prefeitura de São Paulo, Celso Russomanno, é o mais forte emblema da inclinação do eleitor pela velha novidade. Ele já tem muitos anos na estrada política, não é um neófito. A novidade seria chegar, por um partido pouco expressivo, a posto executivo tão importante, suplantando as duas maiores forças políticas do estado, PSDB e PT. Foi intuindo essa busca da novidade que o ex-presidente Lula lançou Fernando Haddad, o único candidato que parece ter sido efetivamente afetado pelo julgamento do mensalão. Mas o elemento surpresa visitou São Paulo novamente e Russomanno entrou na reta final perdendo cinco pontos, segundo a pesquisa Ibope/TV Globo. O quadro instável já nem permite descartar o segundo turno entre Serra e Haddad. Amanhã, a presidente Dilma fará campanha presencial pelo petista, embora seja incerta sua capacidade de agregar votos, apesar da alta popularidade.

A novidade e o inesperado visitaram Recife. Depois da derrocada dos favoritos iniciais, o petista Humberto Costa e o demista Mendonça Neto, subiu a estrela do candidato do governador do governador Eduardo Campos, o seminovo Geraldo Júlio. Na reta final, ascendeu inesperadamente o tucano Daniel Coelho. Hoje, os dois disputariam o segundo turno. No capítulo novidades insere-se o desempenho do candidato Ratinho em Curitiba e o do pepista Alcides Bernal (pivô da prisão do diretor do Google Brasil) em Campo Grande, que podem derrotar os caciques locais.

São surpreendentes as disputas emboladas como a de Fortaleza, onde o candidato petista Elmano de Freitas disparou oito pontos e empatou tecnicamente (24%) com o candidato do PSB, Roberto Claudio (19%). Lá, o PSB não aceitou a indicação de Elmano e lançou Claudio, engrossando a crise entre os dois partidos. Seus candidatos estão embolados também em Cuiabá.

Diante de tão fortes sinais de volatilidade, o bom-senso não recomenda apostar na confirmação do quadro desenhado no último fim de semana antes do pleito.

O comando do Congresso

Passada a eleição, entra para valer na agenda a eleição das Mesas da Câmara e do Senado, assunto agora soterrado pela campanha. O acordo entre o PT e o PMDB para que o novo presidente da Câmara seja um peemedebista vai bem entre as duas legendas, mas ele não inclui os outros partidos, e especialmente, o mais novo e agora dos mais influentes, o PSD. O nome de Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN) nunca foi apresentado aos outros. Uma conspiração ainda muito incipiente projeta a formação de um superbloco reunindo PSD, PTB, PP, PR e talvez o PSB e o PCdoB. Uma candidatura avulsa estaria germinando exatamente no PSB, aliado com o qual o PT teve tantas desavenças recentemente. Seria a do deputado mineiro Julio Delgado.

No Senado, a candidatura do senador Renan Calheiros vai se consolidando na sombra e no silêncio. Mas ali também pode surgir um candidato avulso nas próprias lides governistas.

Toga justa

O polido ministro Marco Aurélio foi quem reagiu, mas quase todos, no Supremo, estão incomodados com a aspereza do ministro Joaquim Barbosa, não só em relação a Lewandowski. Os atritos trouxeram um impasse. Por voto secreto, poderiam não eleger Joaquim para presidente, em novembro. Mas se não o fizerem, quebrando a tradição, será uma discriminação e pagarão caro por isso.

Tradição do Jornal do Commercio
 
Mais antigo veículo em circulação ininterrupta na América Latina, o Jornal do Commercio (RJ) festeja 185 anos amanhã, homenageando um grande elenco de personalidades: a presidente Dilma Rousseff; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral; o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes; e o ministro do STF Luis Fux.

Fonte: Correio Braziliense

Dilma, na chuva - Valdo Cruz


Quem está na chuva é para se molhar. Em outras palavras, não resta à presidente Dilma outra opção a essa altura do campeonato. Vai entrar de corpo, e não só de alma, na campanha do petista Fernando Haddad em São Paulo.

O fato é que, a uma semana do primeiro turno das eleições, Dilma se envolveu no pleito mais do que gostaria. Resultado: uma derrota petista no próximo domingo será debitada não só na conta do ex-presidente Lula mas na dela também.

O retrato do momento indica riscos de derrota aguda para seu partido. O PT pode perder a eleição nas principais capitais. É o caso de Belo Horizonte, campanha na qual ela interferiu e atuou diretamente.

Ali, se tudo seguir no rumo atual, será uma derrota pessoal dela. Revés que fortalece os planos de seu potencial adversário em 2014, o tucano Aécio Neves.

Além de reeleger o atual prefeito do PSB, Márcio Lacerda, o tucano planeja fazê-lo governador mineiro. Lance estratégico no seu xadrez presidencial.

Aécio sonha em atrair para sua campanha o governador Eduardo Campos (PSB-PE), principal líder do partido que pinta como um dos grandes vitoriosos da eleição. De preferência como seu vice. Seria uma chapa forte para 2014.

Daí que, para Dilma, eleger Fernando Haddad torna-se estratégico para compensar as demais derrotas do PT país afora. Ganhando em São Paulo, enfraquece os tucanos e abre espaço para eleger um petista governador do Estado.

As eleições municipais, contudo, são um ensaio para a presidencial. Têm influência, mas não decisiva. A chave de 2014 está nas mãos de Dilma: fazer a economia acelerar. Nos dois primeiros anos de mandato, não conseguiu. Se conseguir nos dois últimos, com inflação sob controle, esqueçam. Só uma tempestade internacional lhe tira a reeleição. Ainda mais com Lula chamuscado pelo mensalão.

Fonte: Folha de S. Paulo

Disputa por prefeituras tem 640 candidatos ‘sujos’


A sete dias da eleição, em 11% das cidades ao menos um concorrente poderá não tomar posse caso seja eleito por causa de condenações pela Justiça Eleitoral. Rio é o 2º estado com maior proporção de municípios nessa situação.

Em 602 cidades do país, caso o Tribunal Superior Eleitoral não julgue nos próximos sete dias recursos de 640 candidatos a prefeito, os eleitores poderão votar em políticos que correm o risco de não assumir o cargo porque tiveram candidatura indeferida nos TREs devido a irregularidades, revelam Juliana Castro e Vera Araújo. Nesses casos, os votos serão considerados nulos e assumirão os segundos colocados. O TSE diz que julgará os recursos até o fim de dezembro, antes da diplomação dos eleitos

Votos sub judice

No próximo domingo, 640 candidatos a prefeito correm o risco de ganhar e não levar

Juliana Castro, Vera Araújo

A uma semana do primeiro turno das eleições municipais, 640 candidatos a prefeito em 602 cidades podem ir para as urnas no próximo domingo ainda sem saber se poderão tomar posse caso sejam eleitos. Ou seja, podem até ganhar, mas correm o risco de não assumir o cargo. Isso acontece porque esses políticos estão com as candidaturas indeferidas ou cassadas, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda não julgou os recursos. Até o momento, a Corte analisou 241 processos referentes a candidaturas ao Executivo, incluindo casos de concorrentes que tiveram o registro aprovado em instâncias anteriores e contestado por partidos adversários ou pelo Ministério Público Eleitoral (MPE).

No Rio, 32 candidatos em 26 cidades tiveram seus registros indeferidos ou cassados. É o segundo estado onde, proporcionalmente, há mais municípios com pelo menos um concorrente à prefeitura nesta situação. Há prefeitos no estado que concorrem à reeleição sem ter a certeza de que sua candidatura vai ser liberada. São os casos de Rachid Elmor (PDT), de Paty do Alferes, Rafael Miranda (PP), de Cachoeiras de Macacu, e Rosinha Garotinho (PR), de Campos dos Goytacazes. Também existem ex-prefeitos que tentam voltar ao cargo e aguardam recursos. Em Tanguá, o número de pendurados atinge metade dos aspirantes ao Executivo. Para tentar garantir a vaga, todos recorreram ao TSE.

- Infelizmente, a legislação admite que isso ocorra, o que só gera instabilidade e insegurança jurídica e institucional. Trata-se dos candidatos eleitos com pedido de registro sub judice , ou seja, aqueles cujos registros foram indeferidos, mas recorreram das decisões nos tribunais regionais eleitorais ou ao TSE. Assim, o candidato concorre com o registro de candidatura indeferido, porém à espera do julgamento de um recurso visando à reforma da decisão de indeferimento - explicou o coordenador do 5º Centro de Apoio Operacional das Promotorias Eleitorais do Rio, Rodrigo Molinaro Zacharias.

O fato de a candidatura não estar julgada até a eleição pode causar insegurança tanto para o candidato quanto para o eleitor. O político pode ter dificuldades de encontrar doadores, já que não há garantia de que ele terá o registro aprovado. E é ruim para o eleitor, que pode votar em um concorrente que, depois da eleição, corre o risco de ser considerado inapto. Com isso, o voto do eleitor no candidato é anulado.

De acordo com resolução do TSE, nenhum candidato com registro indeferido pode ser diplomado - ato em que a Justiça oficializa quem foi eleito -, mesmo que exista recurso. Caso isso ocorra e o candidato a prefeito mais votado não tiver a maioria absoluta dos votos válidos, o segundo colocado na eleição tomará posse. Essa situação vai perdurar até o julgamento final do registro do primeiro colocado. Entretanto, se o mais votado estiver com o registro indeferido e obtiver mais da metade dos votos válidos, será preciso convocar uma nova eleição. Até lá, o presidente da Câmara Municipal assumirá o cargo de prefeito interinamente. Ainda assim, existe a possibilidade de políticos eleitos, e ainda com o registro indeferido, sejam diplomados, amparados por liminares.

O TSE informou que os casos deverão ser julgados até o fim de dezembro, data das diplomações. Até agora, 5.223 recursos sobre registro chegaram à Corte. Pouco menos de um terço foi julgado. Cerca de 40% dos processos são sobre a Lei da Ficha Limpa.

- Muitos candidatos que deveriam ter recorrido ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) perderam o prazo e entraram direto com recurso no TSE. Isso aconteceu em pelo menos 48 candidaturas do Rio - disse o presidente do TRE-RJ, desembargador Luiz Zveiter, explicando que isso sobrecarrega o TSE.

O PR é, proporcionalmente, o partido com o maior número de candidaturas a prefeito indeferidas. São 48 nessa situação entre os 703 políticos da sigla que concorrem ao Executivo.

- Às vésperas da eleição, o político desiste, e o partido indica outro. O eleitor não tem tempo de se informar. Ao digitar o número do candidato que renunciou, os eleitores verão a foto dele, já que os dados estão na urna. O cidadão vota em um e elege outro - explica Molinaro.

Essa constatação é corrente entre os membros do MPE, que defendem mudança na lei. Na tentativa de impedir que os partidos adotem essa prática, o procurador regional eleitoral do Rio, Maurício da Rocha Ribeiro, recomendou que as siglas não substituam os candidatos a menos de dez dias das eleições, sem justa causa, sob pena de caracterizar fraude eleitoral.

Há ainda 924 candidatos a prefeito que estão com o registro deferido, mas o MPE ou coligação adversária ainda contestam a decisão. Pode acontecer de o TSE mudar o entendimento das instâncias anteriores, e o político, que até então estava aprovado, fica impedido de assumir se eleito.

Apenas um dos três candidatos que disputam a prefeitura de Cachoeiras de Macacu teve a candidatura deferida, sem pendências judiciais. O atual prefeito, Rafael Miranda (PP), que tenta a reeleição, teve o registro negado pelo TRE e recorreu. O registro do ex-prefeito Cica Machado (PSC) foi aprovado, mas a coligação que apoia o prefeito tenta mudar a decisão.

- Cachoeiras de Macacu é uma cidade de interior, mas não é pequena. A eleição é muito disputada. A apuração parece final de Copa do Mundo. Tem telão na praça, e todos vibram a cada totalização dos votos. Há até brigas de torcida - explicou a juíza eleitoral da cidade, Carla Regina da Costa.

Procurado pelo GLOBO, Miranda não estava na prefeitura no horário de expediente e não retornou as ligações.

Na vizinha Tanguá, dos sete políticos que concorrem à prefeitura, quatro tiveram candidatura indeferida, sendo que apenas um deles não recorreu. Lá, os eleitores se dividem entre os descrentes da política e aqueles que valorizam a intenção de voto ao extremo.

- Outro dia, prenderam cabos eleitorais de um candidato a prefeito comprando votos por R$ 100. Não dá para jogar o voto fora. Sou a favor de quem tem ficha limpa - disse a estudante, Paola dos Santos, de 17 anos.

Fonte: O Globo

Aécio aquece para 2014 com críticas a Dilma, Lula e Haddad


Pré-candidato a presidente, tucano ensaia discurso de campanha

Maria Lima

BELO HORIZONTE - Num momento de fragilidade política do PT, maior adversário do PSDB, o senador Aécio Neves (MG) pegou carona nas candidaturas tucanas bem sucedidas e partiu para seu primeiro teste como pré-candidato ao Planalto fora de seus domínios, as gerais. Num roteiro de carreatas e grandes eventos de campanha nas regiões Sul e Nordeste, ele incorporou de vez o discurso de candidato e conseguiu levar para o ringue, com áspera troca de farpas, a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e, de quebra, o candidato do PT à prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad.

Aécio, segundo seus aliados, tem o timing perfeito da hora de começar a brigar com Dilma, sua provável adversária em 2014. Semana passada, travou um embate com os adversários.

- Se Aécio quer ser presidente, estude um pouquinho, leia um livro por semana. Pode ser na praia de Ipanema - disparou Haddad.

- Quero agradecer ao candidato Haddad por ter lançado a minha candidatura, mas vou deixar que o meu partido decida isso no tempo certo. Como não acho que ele possa ser tão idiota, como parece às vezes, certamente quis dar ali uma estocada no presidente Lula, talvez não satisfeito com a incapacidade que (Lula) demonstrou até agora para alavancar sua candidatura - devolveu Aécio.

Na guerra com Dilma e o PT, o mineiro pode ganhar o primeiro round com a reeleição do prefeito Márcio Lacerda (PSB) em Belo Horizonte, contra o petista Patrus Ananias. Para ajudar Patrus, Dilma e Lula despacharam para a capital mineira o marqueteiro João Santana.

Estrela da campanha de Lacerda, Aécio tem percorrido Minas Gerais e as principais cidades do país em campanha paralela. Na propaganda de seu candidato, alfineta Dilma: ele usou o veto presidencial ao aumento dos royalties do minério para acusar a presidente, mineira de nascimento, de não ter amor ao estado, pois, com a medida, tirou de Minas R$ 300 milhões.

- A presidente vem cometendo equívocos e não vou me furtar a fazer críticas a esses episódios. O primeiro foi responder um artigo do ex-presidente Fernando Henrique para agradar Lula. O segundo foi contestar interpretação do Supremo no julgamento do mensalão e, por último, lotear e colocar o governo a serviço do partido, dando um ministério para Marta Suplicy. Isso enterra o bom discurso inicial da faxina.

Aécio ainda minimizou o poder do Lulismo. Em viagem pelo Nordeste, acusou Lula de agir "como líder de facção":

- O ex-presidente Lula mancha a própria biografia, quando defende os réus do mensalão e ataca a oposição de forma extremamente agressiva nos palanques. O que estamos percebendo é que o lulismo, da forma que existia, quase messiânico, que apontava o dedo e tudo seguia na mesma direção, não existe mais.

Fonte: O Globo

Em Fortaleza e Salvador, máquina influi na ascensão de candidatos


Apesar de ter perdido força, oposição avalia saldo como positivo

Mais uma vez, é o peso da máquina que está fazendo a diferença contra a oposição. Um exemplo claro foi o ocorrido em Fortaleza, onde os candidatos do PT da prefeita Luizianne Lins e da presidente Dilma Rousseff; e do PSB, apoiado pelo governador Cid Gomes, conseguiram ultrapassar o candidato do DEM, Moroni Torgan. Em Salvador, Nelson Pelegrino conseguiu superar ACM Neto contando com apoio da presidente, do ex-presidente Lula e do governador Jaques Wagner.

Apesar dessa veloz retomada dos governistas em algumas cidades, a oposição ainda vê o saldo como positivo. Ex-governador da Paraíba, senador Cássio Cunha Lima (PSDB) acredita que essa eleição demonstra um esgotamento do ciclo de poder do PT:

- Haverá um movimento de mudança, que é natural da democracia. Essa alternância vem aos poucos, mas esse processo está em curso e, quando começa, não para mais. Há um envelhecimento, uma fadiga de material, natural na democracia. Eles não serão governo para sempre porque a sociedade quer sempre um avanço a mais.

O senador petista Lindbergh Farias (RJ) atribui o resultado às questões locais:

- Se for procurar uma lógica nacional disso, não se encontra. A disputa local é que cria esse quadro. Se o prefeito tem uma boa avaliação, a tendência é eleger o sucessor. Estou convencido da tese de que presidente transfere para presidente, governador para governador e prefeito para prefeito.

Fonte: O Globo

Tucano se coloca como‘escolha segura’


Diante de adversários que se apresentam como novidade, a campanha de José Serra (PSDB), de 70 anos, vai tentar reforçar na última semana de propaganda eleitoral a imagem de que ele é uma escolha segura para o eleitor, contra as "apostas" que seriam Fernando Haddad (PT) e Celso Russomanno (PRB).

A campanha de Serra pretende levar à TV suas propostas e um portfólio de realizações de suas passagens pela Prefeitura e pelo governo do Estado. O objetivo é dar credibilidade à sua candidatura, como um político que "tira as coisas do papel".

Nessa linha, é citado como exemplo um programa exibido na semana passada que mostrava vídeos de Serra fazendo promessas na campanha de 2004, seguidas de imagens atuais de obras e equipamentos públicos.

Com foco no eleitorado tradicionalmente simpático ao PSDB, a equipe de Serra também vai manter um discurso ético contra os petistas. Com a previsão de início do julgamento de José Dirceu no processo do mensalão. A campanha de Serra tenta atrelar Haddad aos dirigentes do PT envolvidos no escândalo. A equipe também não descarta a possibilidade de atacar Russomanno na propaganda de TV e rádio.

A campanha ainda tenta reduzir a desconfiança dos eleitores sobre a possibilidade de Serra, se eleito, renunciar ao mandato para se candidatar a outro cargo - Em 2006, ele deixou a Prefeitura para concorrer ao governo estadual. Por isso, ele manterá em sua propaganda uma mensagem clara sobre o assunto. Os tucanos também adotaram como novo slogan "São Paulo fica melhor com Serra" e acreditam que a repetição da palavra "fica" tem impacto positivo sobre os descrentes.

O comitê do PSDB também aumentou os repasses de dinheiro e material para os candidatos a vereador dos partidos da coligação, que terão o papel de levar a campanha do tucano para os bairros da cidade. Eles receberão diretrizes claras para intensificar o trabalho de porta a porta e organizar dezenas de reuniões durante a semana para consolidar a candidatura de Serra.

Os tucanos pagaram pela impressão de 250 milhões de "santinhos" com as fotos do tucano e dos candidatos a vereador.

A campanha de Serra quer usar como trunfo a inserção regional dos 193 candidatos dos partidos da coligação que disputam vagas na Câmara Municipal.

Também está nos planos da equipe a ampliação do impacto visual da candidatura. Os tucanos pretendem encerrar a campanha de rua com um grande ato público na Sé, na quinta-feira.

A ideia é organizar cinco caminhadas que se encontrarão no mesmo ponto do centro. O evento está previsto para o horário do almoço, para que os tucanos possam contar com a presença do governador Geraldo Alckmin.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Pesquisas indicam equilíbrio de força política nas capitais


João Domingos

BRASÍLIA - As forças partidárias que atualmente governam as capi­tais deverão sofrer mudanças e deslocamentos a partir do ano que vem, quando tomam posse os novos prefeitos. Mas o quadro tende a manter um certo equilíbrio com a situa­ção atual, levando-se em con­ta as últimas pesquisas de pre­ferência do eleitorado para as eleições do próximo domingo. O PT, que hoje governa sete ca­pitais, poderá perder o título de campeão. E favorito em cin­co, assim como o PSDB, que hoje só tem um prefeito, o de São Luís (MA), João Castelo.

Alguns partidos deverão ser ali­jados do poder nas capitais, co­mo o PC do B, que vai deixar o poder em Aracaju (SE) ou para o DEM, que disputa com o ex-sena­dor João Alves, ou para o PSB, que lançou o deputado Valada­res Filho, apoiado pelo governa­dor Marcelo Déda (PT) e pelo atual prefeito, o comunista Ed- valdo Nogueira. Nas últimas se­manas o favoritismo de Alves caiu, enquanto Valadares subiu muito nas pesquisas.

Outro que dará adeus a uma prefeitura é o recém-criado PEN, partido do prefeito de Maceió (AL), Cícero Almeida. As pesqui­sas indicam que ele deverá ser substituído pelo tucano Rui Pal­meira. Tanto Nogueira, em Ara­caju, quanto Almeida, em Ma­ceió, já estão no segundo manda­to e não puderam disputar a ree­leição.

Atualmente, as 26 prefeituras de capitais são governadas por 11 partidos e um sem partido - o pre­feito de João Pessoa (PB), Luciano Agra. Eleito pelo PSB, Agra dei­xou a legenda depois que o presi­dente da sigla, Eduardo Campos, o impediu de tentar a reeleição, lançando Estelizabel Bezerra. Em represália, Agra passou a apoiar o petista Luciano Carta­xo, hoje favorito na disputa con­tra o senador tucano Cícero Lucena, ex-prefeito, e o ex-governador José Maranhão, do PMDB.

Agra exigiu que o PT aceitasse na chapa o vice Nonato Bandei­ra, do PPS, partido que faz oposi-o à presidente Dilma Rousseff. As direções partidárias do PT e do PPS tiveram de engolir a exi­gência, visto que vetaram alian­ças entre si. Quadro semelhante só é repetido em Uberaba, em que o PPS apoia o candidato petista Gilmar Machado, favorito na disputa. Mas, ao contrário de João Pessoa, não integra a chapa majoritária.

Levando-se em conta as proje­ções de votos, o número de parti­dos que se distribuirão na chefia dos executivos das capitais será de 12. Pela primeira vez o PSOL poderá eleger um prefeito, o ex-petista Edmilson Rodrigues, em Belém (PA). Rodrigues já foipre­feito da capital paraense e está à frente de políticos tradicionais, como Zenaldo Coutinho (PSDB) e José Priante (PMDB).

O PSB governa hoje três capi­tais. Poderá chegar a quatro, mas corre o risco de perder Curitiba. Na capital paranaense, o prefei­to Luciano Ducci tenta a reelei­ção, mas está atrás de Ratinho Junior, do PSC. Gustavo Fruet (PDT), que tem o apoio do PT, aparece em terceiro lugar.

Já o PSD, que tem o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, sairá da capital paulista. É provável que migre para Florianópolis (SG), com o favorito Gesar Sou­za Junior. O PTB, que hoje está à frente de três capitais - Teresina (PI), Belém e Guiabá (MT) - po­derá ficar sem nenhuma. De acor­do com as pesquisas, o partido não elegerá prefeito de capitais.

O PP, que hoje comanda a Pre­feitura de Salvador (BA) com João Henrique, poderá migrar para Palmas (TO), onde o empre­sário colombiano naturalizado brasileiro Garlos Amastha dei­xou para trás Marcelo Lelis, do PV, que tem o apoio do governa­dor tucano Siqueira Gampos. A cidade é governada por Raul Fi­lho, do PT, que passou por um sério desgaste depois da divulga­ção de um vídeo em que negocia com o empresário Garlos Augus­to Ramos, o Carlinhos Cachoei­ra. Como já foi reeleito, ele não disputa a eleição.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Em BH, quilometragem pelo voto


Principais candidatos à prefeitura, Lacerda e Patrus fazem maratona nas regionais de BH. Aécio alega que críticas a Lula foram reação a ataques

Alice Maciel e Felipe Canêdo

Na corrida por votos a uma semana das eleições, os dois principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte, o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias (PT) e o prefeito Marcio Lacerda (PSB), fizeram carreatas por regionais da cidade para atingir o maior número de eleitores. Patrus visitou cinco regionais, Lacerda foi a três. Apesar da troca de ataques dos últimos dias, os dois candidatos garantem que vão manter uma linha propositiva na reta final. O petista aposta na força da militância para ultrapassar o adversário, que está à frente nas pesquisas, enquanto o candidato do PSB cola na imagem do senador Aécio Neves (PSDB-MG), seu principal cabo eleitoral.

Ao lado do tucano, Lacerda percorreu as regionais Norte, Nordeste e Leste. A carreata amarela terminou na Praça Duque de Caxias, em Santa Tereza. Patrus começou sua maratona na Praça Che Guevara, no Bairro Taquaril, Região Leste, acompanhado de apoiadores vestidos de vermelho. De lá, o candidato seguiu para as regiões Nordeste, Pampulha, Noroeste e encerrou a peregrinação na Praça Floriano Peixoto, Região Centro-Sul da capital, onde se encontrou com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT).

Patrus bateu forte na tecla de seu perfil inovador, citando a municipalização da saúde e a implementação do Orçamento Participativo durante sua gestão na PBH (1993–1996). O petista criticou a nomeação de 1.264 novos servidores da Secretaria de Saúde a sete dias da eleição: "Uma atitude demagógica e oportunista do nosso adversário, que teve quatro anos para cuidar da saúde e não cuidou".

Lacerda também enfatizou a sua gestão. "Acho que a nossa gestão foi transparente, honesta, com muito trabalho, com muito resultado para a cidade", afirmou. Em relação às nomeações na Saúde, Lacerda explicou que elas ocorreram "em maio, junho". "Isso foi um concurso que fizemos no fim do ano passado", acrescentou, deixando para o senador Aécio Neves os ataques mais ferrenhos aos adversários.

Aécio X Lula Segundo o tucano, a campanha petista está "batendo a cabeça, cada hora mudando um pouco o tom". Aécio voltou a lembrar que o PT participou da gestão de Lacerda e que na época não era contrário à administração. O tucano tentou amenizar os ataques feitos ao presidente Lula, a quem chamou na sexta-feira de "líder de facção", mas não poupou alfinetadas ao PT. Segundo Aécio, as críticas a Lula foram uma "posição reativa" aos ataques que o ex-presidente tem feito a tucanos que disputam as eleições municipais. Ele, no entanto, chegou a fazer elogios ao ex-presidente, a quem chamou de "uma figura que está na história do Brasil" e "vai estar permanentemente no coração de muitos brasileiros". Ele disse ainda que Lula tem "no mundo um prestígio extraordinário".

Fonte: Estado de Minas

Em Recife, Geraldo fica próximo de vitória no primeiro turno


Nova pesquisa do Instituto Maurício de Nassau, na apuração dos votos válidos, Geraldo Júlio (PSB) tem 50%, Daniel (PSDB) 26%, Humberto (PT) 19% e Mendonça (DEM) 4%. Com apenas mais um voto, socialista venceria já no primeiro turno.

Geraldo tem 50% dos votos válidos

TENDÊNCIA

Na nova pesquisa JC/IPMN, socialista atinge percentual de votos válidos que indica vitória no primeiro turno da disputa

A uma semana da eleição, o candidato do PSB à Prefeitura do Recife, Geraldo Julio, atinge 50% dos votos válidos – percentual obtido descontados os brancos, nulos e indecisos – na nova pesquisa JC/IPMN, realizada nos dias 27 e 28 passados. Nesse formato, Daniel Coelho (PSDB) alcançou 26%, Humberto Costa (PT) ficou com 19% e Mendonça Filho (DEM) com 4%. Os demais postulantes somaram 1%. Com esse percentual, e considerando o cenário em que 89% dos recifenses já estão com o voto decidido, o socialista pode faturar a disputa no primeiro turno, no próximo domingo (7). Vence na primeira etapa quem obter 50% dos votos mais um.

Essa tendência é confirmada pelo professor da UFPE e um dos coordenadores da pesquisa, Adriano Oliveira. Ele atribui principalmente a dois fatores as chances de a eleição ser decidida no domingo em favor do candidato do governador Eduardo Campos. “A tendência de vitória de Geraldo Julio no primeiro turno se dá em função da estabilidade no percentual de Daniel Coelho, diante dos ataques que vem sofrendo, e na redução das intenções de voto de Humberto Costa, que perdeu definitivamente a segunda posição para o candidato do PSDB. Por outro lado, Geraldo Julio só oscilou positivamente.”

Já na pesquisa estimulada – quando o eleitor é consultado mediante a lista com os demais postulantes, incluindo brancos, nulos e indecisos –, o candidato do PSB aparece com 42% das intenções de voto. Na segunda posição aparece o tucano Daniel Coelho, com 22%, seguido por Humberto Costa, que caiu de 19% para 16%, e Mendonça Filho, que aparece com 3%. A soma dos demais candidatos atinge 1% das intenções.

Quando a consulta é feita sem que seja apresentado ao eleitor a lista dos candidatos, a chamada pesquisa espontânea, o socialista obtém 41% das preferências dos entrevistados, Daniel Coelho tem 21%, Humberto Costa, 15%, e Mendonça Filho, 3%. Os demais se mantém na soma de 1%.

A nova rodada JC/IPMN também consultou os recifenses sobre a hipótese de a eleição ser decidida em segundo turno. No primeiro cenário, com a disputa entre Geraldo Julio e Humberto Costa, o socialista venceria com 50% contra 20% do petista. Já no cenário entre Geraldo e Daniel Coelho, o candidato do PSB levaria a eleição com 45% contra 30% do tucano.

O candidato do PT, Humberto Costa, lidera a consulta JC/IPMN no quesito rejeição. Quando o recifense é perguntado sobre qual desses candidatos você tem “medo” que seja prefeito do Recife, o petista é apontado em primeiro lugar por 27% dos consultados. Geraldo Julio vem na sequência com 14%, Daniel Coelho aparece com 9% e Mendonça Filho com 7%.

A pesquisa JC/IPMN está registrada no TRE-PE sob o número 00173/2012. A consulta ouviu 1.079 recifense nos dias 27 e 28 de setembro. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos. Veja amanhã mais detalhes da pesquisa.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Procurador vai encaminhar investigação de suposto abuso de poder econômico de Paes


PMDB do Rio teria oferecido R$ 1 milhão em troca de apoio do PTN, diz revista



RIO - O procurador regional eleitoral, Maurício da Rocha Ribeiro, afirmou que vai encaminhar à promotoria eleitoral da capital, do Ministério Público Eleitoral (MPE), uma ação para investigar o suposto abuso de poder econômico do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que tenta a reeleição. Segundo reportagem da revista “Veja” deste sábado, o PMDB fluminense teria oferecido pagamento de R$ 1 milhão em troca do apoio do PTN à candidatura de Paes.

A princípio, demonstra aceitação de importância em dinheiro por parte do presidente estadual do PTN em troca da adesão à coligação do PMDB. Hoje mesmo, encaminhei o caso ao MPE para ajuizamento da ação para apurar a prática de grave ato de abuso de poder político e econômico, ocorrido às vésperas do início do período de campanha - afirmou Rocha Ribeiro, lembrando que, caso seja comprovado a irregularidade, Paes pode ter o registro de candidatura cassado e ficar inelegível por oito anos.

Em gravação publicada no site da revista, o presidente regional do PTN, Jorge Sanfins Esch, revela o esquema a integrantes do partido. No áudio, Jorge Esch diz que barrou a candidatura própria do partido porque teria acertado o recebimento de R$ 200 mil para financiar a campanha de candidatos a vereador da sigla. Os outros R$ 800 mil seriam pagos por meio de uma dívida cobrada por Esch e três outros ex-conselheiros da Rio Luz, órgão da prefeitura responsável pela iluminação pública do município, por conta de diferenças no cálculo do jeton pago para os comissionados da autarquia entre 2001 e 2008.

De acordo com Jorge Esch, a negociação para receber o dinheiro da Rio Luz teria sido feita com o presidente regional do PMDB, Jorge Picciani, e não envolveria o acordo de aliança entre o PTN e o PMDB. Segundo ele, o pedido foi feito ao ex-presidente da Assembleia Legislativa por conta da proximidade dele com o atual José Henrique Pinto. Picciani negou:

- O processo (da suposta dívida) foi negado por mérito e arquivado em dezembro de 2011. Como é que eu poderia oferecer o dinheiro, em junho, com um processo arquivado? O prefeito Eduardo Paes tem 65% dos votos válidos. Ninguém do PMDB é idiota ao ponto de pôr em risco a campanha.

Esch rebateu:

— Se ele está dizendo isso é mentira. Tratei pessoalmente com ele.

À Veja, Jorge Esch afirma que o acordo foi realizado na convenção do partido, em 30 de junho com o deputado federal Pedro Paulo (PMDB), ex-chefe da Casa Civil do governo Eduardo Paes e coordenador da campanha do peemedebista. O presidente estadual do PTN, no entanto, afirma que não recebeu os recursos e desde então tem sido ignorado pela campanha peemedebista. Em 17 de junho, o PTN chegou a homologar a candidatura a prefeito de Paulo Memória, mas o encontro foi cancelado por erros no edital e pela falta de ata oficial homologando o nome de Memória. Em seguida, ele declarou apoio a Paes.

Na gravação, Sanfins justifica a postura para os colegas do partido:

- Não tem condição de lançar candidatura própria (…). O cara dá 200 mil reais para dentro, dá uma prata para ele tirar a candidatura dele, dá todo o material de campanha, toda a estrutura para os candidatos. Chega lá dentro se bobear tem uma gasolininha extra para botar no carro. Pô, não dá para recusar!

Paes nega compra de apoio

Paes visitou na manhã deste sábado a favela de Vigário Geral, na Zona Norte. Ele negou ter havido alguma negociação financeira com Jorge Sanfins Esch em troca de apoio político nas eleições. Paes, no entanto, confirmou o encontro com presidente regional do PTN e outros sete presidentes de partidos, em maio deste ano, para apresentar o seu projeto de reeleição. O prefeito apresentou notas fiscais para comprovar as doações.

—Que é esse cara? Nunca tratei nada com ele. (Quem é) esse cara agora para virar o delator de uma picaratagem? — desqualificou Paes levantando suspeitas quanto a relação de Esch com o ex-prefeito Cesar Maia (DEM), pai do também candidato à prefeitura Rodrigo Maia (DEM):

— Ele trabalhou com Cesar Maia. É o tal do batom na cueca — disse o prefeito.

Pedro Paulo, por sua vez, confirmou que a promessa de ajuda ao PTN feita na convenção de 30 de junho era apenas para apoio logístico e para confecção de materiais de campanha para os candidatos a vereador do PTN. Segundo a revista, a assessoria do prefeito calculou o repasse em R$ 154.514.

Pedro Paulo afirmou que, em nenhum momento, a campanha de Paes repassou recursos em espécie para os 19 partidos da base aliada.

O presidente do diretório municipal do PTN, Paulo Memória, negou que o partido tenha trocado o apoio à candidatura de Paes por dinheiro. Mas, segundo ele, será "natural" a sigla participar de um possível segundo mandato de Paes, caso o prefeito seja reeleito. Memória seria candidato a prefeito pelo PTN antes da disputa interna com Jorge Sanfins Esch. Memória foi destituído do cargo de presidente, mas foi reconduzido graças à intervenção do diretório nacional.

- A minha candidatura foi aprovada por unanimidade na convenção. Fui destituído da presidência municipal do PTN por ele (Jorge Esch). Recorri ao diretório nacional, que fez a intervenção e me reconduziu à presidência. Como a minha candidatura a prefeito nunca foi de oposição e, sim, alternativa, entendemos que era melhor não mexer nisso para agravar a situação. Por isso, entendi que eu poderia seguir com apoio ao Eduardo Paes - disse Memória, lembrando ser um "admirador" de Paes.

Adversários defendem investigação

O candidato a prefeito do Rio, Marcelo Freixo, do PSOL, defendeu na manhã deste sábado uma investigação do caso. Freixo fez caminhada em Bonsucesso, na Zona Norte. O então candidato a vice prefeito do PTN, Eduardo Homem, participou da concentração, mas não fez corpo a corpo com socialista.

Homem é ex-integrante do PDT e faz parte do Movimento de Resistência Leonel Brizola, organizado por pedetistas descontentes com a atual administração do partido e que apoiam a candidatura de Freixo.

- É uma denúncia muito grave. Tem que ser investigada pelos órgãos competentes, o Ministério Público Eleitoral e o Tribunal Regional Eleitoral. De alguma maneira mostra que essa aliança (do prefeito Eduardo Paes com 19 partidos, além do PMDB) pode não ter sido feita em cima de projetos de cidade. Pode ter sido, na verdade, um grande negócio. A denúncia fala não só da compra de um partido como fala na interferência da máquina, na Rio Luz - disse Freixo.

Atualmente, Eduardo Homem é candidato a vereador pelo PTN.

- Entrei no PTN pensando em ser candidato a vice-prefeito e para divulgar o movimento de resistência. A minha chapa, que tinha o Paulo Memória como candidato a prefeito, venceu a convenção por um placar de 40 a 2. Mas o Jorge (Sanfins Esch) não aceitou, cancelou tudo para apoiar o Paes. Foi um absurdo. Hoje os partidos têm donos - disse Eduardo Homem.

Freixo, contudo, disse não conhecer Eduardo Homem:

- Ele é de um outro partido, o PTN. Agora, existe um movimento de resistência dentro do PDT. Eu conheço essa pessoa de vista. Não tem nenhum vínculo com a nossa campanha.

O outro candidato a prefeito, Otávio Leite (PSDB), anunciou por meio de nota que vai entrar com uma representação no MPE contra Eduardo Paes:

- Os fatos falam por si. É fundamental uma imediata e urgente apuração do que está claro ser um crime eleitoral.

Fonte: O Globo

Democracia e golpismo - Maria Celina D’Araujo


Cientista política reflete sobre as avaliações em andamento dos fatos políticos que redundaram no que se chamou "mensalão"

Desde que o País se redemocratizou, a importância do conhecimento dos cientistas polí­ticos cresceu e sua presença na mídia também se tornou mais cons­tante, especial­mente em momentos eleitorais ou de possí­veis crises políticas. Passaram a estudar com mais rigor e mais recursos metodológi­cos o comportamento político do eleitor, o desempenho dos partidos nas urnas e no Congresso, impactos do sistema eleitoral sobre o sistema partidário, geografia do vo­to, possíveis reformas eleitorais e partidá­rias e seus impactos na qualidade da repre­sentação, etc. Temas não faltam e creio que estamos fazendo isso muito bem. No entan­to, quando se trata de fazer previsões, os cientistas políticos, assim como os econo­mistas, passam por situações vexatórias e humilhantes. Isso é parte do ofício das disci­plinas que lidam diretamente com as resul­tantes da ação humana que são, por defini­ção, imprevisíveis.

A ciência política tem como objeto o po­der, que, como diz Maquiavel, é tema referi­do à ação humana: "A política é coisa dos homens como eles são", ou seja, capazes de patifarias e ações generosas conforme suas habilidades para lidar com circunstâncias, adversidades, desejos de poder e valores.

Dito isso, quero refletir sobre a avaliação em torno dos\fatos políticos que redunda­ram no que se chamou mensalão. Não faço " previsões nem ilações de causa e efeito e não ouso falar do desempenho do Judiciá­rio. Metodologicamente limitada a refletir a posteriori, procuro entender argumentos usados por meus colegas e analistas políti­cos em geral que se posicionam de maneira favorável ao governo do ex-presidente Lula da Silva e ao PT. Entre eles, destaco seis.

Lula não sabia. Num primeiro momento houve o argumento quase unânime de que, se fatos estranhos ocorreram no financia­mento da campanha do PT em 2002, o presi­dente deveria ser poupado, pois tudo teria se passado à sua revelia. A começar pelo denun­ciante, Roberto Jefferson, o presidente era pessoa honrada e deveria ser deixada à mar­gem desses fatos. Em entrevista ao Aliás em 10 de julho de 2005, defendi que, a julgar pela história de nosso presidencialismo a partir de 1946, era impossível imaginar que qual­quer operação política de grande vulto, en­volvendo empresários e uma grande rede de partidos, pudesse ser feita sem o conheci­mento do presidente em exercício.

O mensalão nunca existiu. Essa afirmação persistiu ao longo do processo. Teria sido uma invenção da oposição e da "imprensa golpista". Cientistas políticos comprova­ram que, a julgar pela trajetória do comporta­mento dos partidos no Congresso, nada indi­caria a compra de votos. De fato, o Executivo continuou aprovando seus projetos com as altas taxas de sucesso que tivera desde o go­verno Itamar: desde então, cerca de 95% dos projetos Aprovados pelo Legislativo têm ori­gem no Executivo. Foi nesse compasso que se votou a emenda da reeleição proposta pe­lo ex-presidente Fernando Henrique, recor­rentemente lembrada como uma vitória à custa da compra de votos.

O que o PT fez não tem nada diferente. Nesse caso, trata-se de um direito adquirido pela classe política de usar privadamente re­cursos públicos. Corrupção e negociatas se­riam prática comum no Brasil. Por que fazer do PT a única vítima de uma prática que tem consentimento generalizado? Explica-se que a crítica deriva do elitismo dos que não querem reconhecer os inegáveis avanços so­ciais do País desde 2003. Seria uma vertente da conspiração das elites, mas com a reafir­mação cínica de que "se todos roubam, por que o PT não pode?" Alguns parlamentares do PT chegaram a afirmar que, como aprendizes, não souberam fazer isso tão bem quan­to os partidos mais experientes.

O mensalão não tem impacto nas elei­ções, pois o povo não se interessa por es­ses assuntos. Se tem ou não impacto, não me cabe avaliar, não é minha expertise, se alguma tenho. Preocupante é aceitar com naturalidade que o eleitor não leve em conta temas éticos. De todos os argumentos que tentaram minimizar a importância do men­salão, esse me parece o mais grave. Foi muito acionado no início da campanha pelos governistas mais otimistas, embora, depois, o tom tenha mudado um pouco. O que importa é que foi um argumento corriqueiro que faz supor que o Brasil possa ser mesmo um país de gente moralmente indolente. No entan­to, à medida que a candidatura de Celso Russomanno à Prefeitura de São Paulo avançou nas pesquisas, esses mesmos analistas sen­tenciaram que o eleitor se tornou um consu­midor mais exigente. Pelo menos isso.

Lula passará imune a todo o processo. As teses a esse respeito vão em duas direções: sua liderança pessoal é inabalável e o lulismo veio para ficar. Se lulismo significa mais justi­ça social, é desejável mesmo que continue. As democracias modernas, contudo, su­põem revezamento dp líderes e partidos no poder. Momentos de baixa acontecem com líderes e organizações partidárias sem que isso signifique seu ocaso.

Há golpismo no ar. Governistas e analistas simpatizantes do governo têm insistido nes­se ponto. Há golpismo da direita contra os avanços nas políticas sociais do PT, e o PIG, "partido da imprensa golpista", leia-se toda a grande imprensa, estaria ao lado dos con­servadores. Segundo a nota dos partidos da base (20/09) em apoio ao ex-presidente, nem o STF escaparia: seria parte da trama que visa a "golpear a democracia e reverter as conquistas que marcaram a gestão do pre­sidente Lula". Há uma entidade vigorosa no ar: os golpistas. A oposição também bate firme nessa tecla quando insiste que o PT pode acionar qualquer mecanismo não repu­blicano para se manter no poder. Tendo em vista essas suspeitas generalizadas sobre golpes e golpismo, só resta concluir que a qualidade da democracia no Brasil ainda dei­xa muito a desejar.

Um argumento adicional presente entre os militantes do PT é o de que o mais impor­tante nas eleições de 2012 seria derrotar os tucanos em São Paulo. São Paulo, de fato, é um caso de pouca rotatividade no poder des­de 1982. No entanto, os governos, lá e alhu­res, são escolhidos por cidadãos que preci­sam ser respeitados em suas escolhas.

Estou relendo Sociologia dos Partidos Políti­cos, de Robert Michels, que em termos de realismo político chega a ser mais cruel do que Maquiavel. Baseado em sua experiência no partido alemão da social-democracia, do início do século 20, afirma que "à medida que a organização (o partido operário) cres-ce, a luta pelos grandes princípios se torna impossível". Impossível? Não, claro que não. Mas certamente é uma tarefa à qual os partidos que se dizem programáticos preci­sam dar mais atenção.

Maria Celina D’Araujo, doutora em ciência política, é professora da PUC-Rio

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

A década includente – José de Souza Martins


A melhora na distribuição de renda das populações oriundas das duas escravidões do País é também um avanço na emancipação que as libertou pela metade

Ouço, num link de transmissão sonora e visual do site do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), a exposição com que seu presidente, Marcelo Neri, dá aos jornalistas a boa notícia de que na última década a distribuição de renda no Brasil melhorou. Sumariza ele os resultados do estudo A Década Inclusiva (2001-2011) - Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda. Diminuiu a distância entre os mais ricos e os mais pobres. Ao mesmo tempo, tenho diante de mim a primeira página de O Estado de S. Paulo de 5ª feira. Nela, uma fotografia de Tiago Queiroz retrata um miserável encolhido de frio sob um improvisado barraco na rua, feito de placas de propaganda de candidatos a vereador na cidade de São Paulo.

O nó da feliz estatística anunciada está em baixo daquele tapume. A começar pelo fato de que os dados para medição da distribuição de renda se baseiam na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. Aquele barraco não é domicílio, como não o é o chão em que milhares de pessoas, em nossas cidades, dormem no pesadelo cotidiano da incerteza. Os que mais carecem não são alcançados nem pela distribuição da renda nem pelas estatísticas sobre pobreza.

Neri não pretende passar um retrato descabidamente otimista sobre a melhora relativa na repartição dos ganhos da economia. Antes, assinala que estamos chegando ao padrão de distribuição de renda que tínhamos em 1960, embora a sociedade fosse mais pobre que hoje. Poderíamos definir esse meio século como o longo tempo da modernização da pobreza no Brasil, uma pobreza, agora, de privações dramáticas. Serão necessários pelo menos 20 anos para chegarmos ao padrão de distribuição desigual da riqueza de países como os EUA. Mas ainda temos lastro para incrementar a distribuição de renda e atenuar as desigualdades que nos afligem. Na média, nossos pobres estão se tornando apenas menos pobres.

O estudo se baseia no pressuposto de que a pobreza dos 10% mais pobres é apenas uma questão de grau em relação aos 10% mais ricos. O Bolsa-Família e o programa de Benefício de Prestação Continuada, programas compensatórios do governo que incrementam a renda dos mais pobres, são decisivos para atenuar a distribuição desigual de renda. O estudo econômico não avalia, porém, nem tem por que avaliar, que esses benefícios não deslocam necessariamente o eixo social de referência dos beneficiados, especialmente os pobres do campo, cuja economia pré-moderna é predominantemente baseada na produção direta dos meios de vida.

As doações financeiras do governo, não obstante, corroem a lógica econômica dessas populações, incrementando em sua vida necessidades sociais que dependem de mais dinheiro e mais mercadorias de fora de seu sistema econômico restrito. Um processo clássico de desenraizamento de populações retardatárias da história, tão característico do Brasil e da América Latina.

É nessa perspectiva que se pode analisar uma das importantes constatações do estudo, a de que "a renda daqueles que se identificam como pretos e pardos sobe 66,3% e 85,5% respectivamente, contra 47,6% dos brancos". Uma de suas conclusões é a de que: "Mais que o país do futuro entrando no novo milênio, o Brasil, último país do mundo ocidental a abolir a escravatura, começa a se libertar da sua herança escravagista".

Ora, a distinção censitária de pretos e pardos e, aqui, a indicação da melhora diferencial que tiveram na distribuição de renda precisam ser devidamente matizadas. O censo mostra que a maior concentração dos que se identificam como pardos está no Norte do País e a maior concentração dos que se identificam como pretos está no Nordeste litorâneo, o chamado Nordeste açucareiro. Embora haja uma tendência confusa no sentido de tratar os pardos como negros que se envergonham de sua negritude, o fato é que a concentração regional nos diz que os pardos não são mulatos, são pardos mesmo, como eram classificados no período colonial os índios administrados, aqueles submetidos a cativeiro. Oriundos, pois, de uma escravidão jurídica e sociologicamente distinta da escravidão negra, formalmente libertados pelo Diretório dos Índios do Maranhão e Grão-Pará, em 1755. Diferentes do negro libertado pela Lei Áurea de 1888. Ambos os grupos mantidos à margem da liberdade jurídica que lhes fora concedida e reduzidos a formas disfarçadas de servidão.

Nesse sentido, o que aparece como melhora na distribuição de renda, em relação sobretudo às populações oriundas das duas escravidões que tivemos (e da terceira que ainda temos), é também um avanço na emancipação que as libertou pela metade. O pequeno incremento de renda que os setores mais pobres da sociedade tiveram na década permite-lhes, ainda que na crua contradição de inserção mais ampla no mercado e maior corrosão de seus costumes e de seu modo de vida, acelerarem sua travessia histórica para a sociedade moderna.

JOSÉ DE SOUZA MARTINS É SOCIÓLOGO, PROFESSOR EMÉRITO DA FACULDADE DE FILOSOFIA, DA USP, AUTOR, ENTRE OUTROS, DE EXCLUSÃO SOCIAL, A NOVA DESIGUALDADE (PAULUS)

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

O mais grave dos riscos - Míriam Leitão


O IBGE revelou uma notícia assustadora, mas não houve reação à altura. O Brasil tem um milhão quatrocentos e quinze mil crianças de 7 a 14 anos oficialmente analfabetas pelo registro da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (Pnad). E de 2009 a 2011 caiu - sim, é isso, caiu - o percentual de jovens de 15 a 17 anos na escola. Será que é assim que queremos vencer?

A vastidão da tragédia educacional brasileira não caberia nesta coluna, e arruinaria - querida leitora, caro leitor - este seu domingo. Por isso vamos pensar juntos apenas em alguns números. Fomos informados dias atrás pelo IBGE que em 2009 o Brasil tinha 85,2% de jovens de 15 a 17 anos na escola. O que equivale a dizer que 14,8% não estavam, e isso já era um absurdo suficiente. Mas em 2011, a Pnad descobriu que o número tinha piorado e agora só há 83,7%. Aumentou para 16,3% o total de jovens nessa faixa crítica que estão fora da escola.

Em qualquer país do mundo, que saiba a natureza do desafio presente, esses números seriam motivo para se fazer um escândalo, iniciar uma investigação, chamar as autoridades à responsabilidade. O ministro se desculparia, os educadores seriam entrevistados para saber como resolver o problema, os contribuintes exigiriam mais respeito com seus impostos, os pais se mobilizariam. Mas a notícia foi dada numa sopa de outros indicadores e sumiu por lá. Em alguns jornais foi destaque, em outros, nem isso.

Como assim que em 2012 o país fica sabendo que tem menos - e não mais - jovens onde eles deveriam estar? E mesmo assim não se assusta, não reage? Difícil saber o que é pior: se a notícia em si ou a falta de reação diante da notícia.

Os demógrafos já nos informaram que estão nascendo menos brasileiros, e que, por isso, a população vai parar de crescer. Os empresários estão dizendo que há um apagão de mão de obra, falta trabalhador qualificado. Nem que seja por uma mera questão econômica, de formação de trabalhadores, o país deveria exigir explicação das autoridades. Afinal, estamos jogando fora cérebros que serão necessários à economia.

Mas a educação, evidentemente, não é só para formação de trabalhadores, como se fossem peças de uma máquina. É a única estrada que leva as pessoas à realização do seu potencial, a única forma de realmente incluir o cidadão, a melhor maneira de fortalecer a democracia.

A taxa de analfabetismo no Brasil é considerada a partir de 15 anos. Com esse recorte etário, a taxa foi de 8,6% em 2011. Uma melhora em relação a 2009, quando era de 9,7%. Com mais de 15 anos temos 12,9 milhões de analfabetos.

Mas se formos considerar quem não está na conta - os de 7 a 14 anos - existem mais 1,4 milhão de analfabetos. O problema desse número é que ele derrota a ideia de que o analfabetismo é um problema herdado pelos erros passados do Brasil. De fato, ele é maior quanto mais alta for a idade. Mas esses dados mostram que o país está repetindo agora o mesmo desatino. Há analfabetos jovens, hoje. Meio milhão deles estão na área rural. Aliás a taxa de analfabetismo rural brasileiro é de 21%.

Eu queria não estragar o domingo de você que me lê. Então vamos concluir assim: ainda há tempo. Se o Brasil se apressar, pode correr atrás dos ainda analfabetos. Pode tentar trazer de volta os jovens que desistiram da escola. Alguns mais céticos dirão que não há mais tempo e o cérebro não educado na infância jamais terá de volta a habilidade necessária. São tantos os casos de superação. É quase tarde demais, mas ainda há tempo. Se o Brasil não se apressar esses jovens continuarão em seu desamparo.

Fonte: O Globo

Cachaça com Arnica - Mercearia Paraopeba

Os Domingos - Paulo Mendes Campos

Todas as funções da alma estão perfeitas neste domingo. 
O tempo inunda a sala, os quadros, a fruteira.
Não há um crédito desmedido de esperança
Nem a verdade dos supremos desconsolos -
Simplesmente a tarde transparente,
Os vidros fáceis das horas preguiçosas,
Adolescência das cores, preciosas andorinhas.


Na tarde – lembro – uma árvore parada,
A alma caminhava para os montes,
Onde o verde das distâncias invencidas
Inventava o mistério de morrer pela beleza.
Domingo – lembro – era o instante das pausas,
O pouso dos tristes, o porto do insofrido.
Na tarde, uma valsa; na ponte, um trem de carga;
No mar, a desilusão dos que longe se buscaram;
No declive da encosta, onde a vista não vai,
Os laranjais de infindáveis doçuras geométricas;
Na alma, os azuis dos que se afastam,
O cristal intocado, a rosa que destoa.
Dos meus domingos sempre fiz um claustro.
As pétalas caíam no dorso das campinas,
A noite aclarava os sofrimentos,
As crianças nasciam, os mortos se esqueciam mortos,
Os ásperos se calavam, os suicidas se matavam.
Eu, prisioneiro, lia poemas nos parques,
Procurando palavras que espelhassem os domingos.
E uma esperança que não tenho.

Paulo Mendes Campos (Belo Horizonte, 28 de fevereiro de 1922 - Rio de Janeiro, 1 de julho de 1991