Folha de S. Paulo
Não faz sentido desmoralizar decisão do
Supremo e muito menos comparações com anistia de 1979
Condenado o núcleo crucial da tentativa
de golpe, faz sentido anular a decisão
do Supremo Tribunal Federal concedendo perdão a quem, no entendimento
dos juízes, cometeu os crimes a eles imputados?
Não faz, a menos que se queira desmoralizar a corte suprema de justiça e dizer ao país que o decidido ali vale menos que os interesses de um grupo político. Aqui se incluem os já sentenciados pelo ataque de 8 de janeiro e que agora começam a ser vistos com certa benevolência.
É falsa, fruto de pura manipulação histórica,
a comparação do plano de torná-los impunes com a anistia de 1979. Este foi o
passo seguinte à revogação do AI-5, no ano anterior,
para o fim de uma ditadura real.
Permitiu a volta dos exilados, a libertação
de presos políticos, a retomada de carreiras interrompidas pelo arbítrio, a
extinção de perseguições aos que discordavam do regime militar.
Estabeleceu-se, de outro lado, que não
haveria punições aos agentes do Estado autoritário responsáveis por perseguir,
prender, torturar e matar brasileiros que exerciam o então negado direito de
discordar e lutar pela restauração da liberdade fatalmente golpeada em 1964.
Àquela anistia aplicou-se o conceito de
ampla, geral e irrestrita justamente porque incluiu tanto as vítimas como seus
algozes. A despeito das críticas a tal amplitude, foi a negociação possível
para se abrir caminho à transição democrática concluída em 1985, igualmente sob
a égide do possível na concessão a uma última eleição presidencial indireta.
Na ocasião, o Brasil estava unido nesse
anseio. Tão pacificado ficou o tema que algumas vezes o STF foi
questionado sobre a validade daquele trato e em todas rejeitou revisar os
termos do trato firmado 46 anos atrás.
Diante desse relato já se percebe com nitidez
as diferenças entre o que se fez e o que se quer fazer agora. Não há transição
de regime, não vivemos numa ditadura e não há dois lados a serem perdoados. Só
existe o dos agressores a pedir clemência a atos imperdoáveis.
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