PMDB do Rio teria
oferecido R$ 1 milhão em troca de apoio do PTN, diz revista
RIO - O procurador regional eleitoral, Maurício da
Rocha Ribeiro, afirmou que vai encaminhar à promotoria eleitoral da capital, do
Ministério Público Eleitoral (MPE), uma ação para investigar o suposto abuso de
poder econômico do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que tenta a reeleição.
Segundo reportagem da revista “Veja” deste sábado, o PMDB fluminense teria oferecido
pagamento de R$ 1 milhão em troca do apoio do PTN à candidatura de Paes.
A princípio, demonstra aceitação de importância em
dinheiro por parte do presidente estadual do PTN em troca da adesão à coligação
do PMDB. Hoje mesmo, encaminhei o caso ao MPE para ajuizamento da ação para
apurar a prática de grave ato de abuso de poder político e econômico, ocorrido
às vésperas do início do período de campanha - afirmou Rocha Ribeiro, lembrando
que, caso seja comprovado a irregularidade, Paes pode ter o registro de
candidatura cassado e ficar inelegível por oito anos.
Em gravação publicada no site da revista, o
presidente regional do PTN, Jorge Sanfins Esch, revela o esquema a integrantes
do partido. No áudio, Jorge Esch diz que barrou a candidatura própria do
partido porque teria acertado o recebimento de R$ 200 mil para financiar a
campanha de candidatos a vereador da sigla. Os outros R$ 800 mil seriam pagos
por meio de uma dívida cobrada por Esch e três outros ex-conselheiros da Rio
Luz, órgão da prefeitura responsável pela iluminação pública do município, por
conta de diferenças no cálculo do jeton pago para os comissionados da autarquia
entre 2001 e 2008.
De acordo com Jorge Esch, a negociação para receber
o dinheiro da Rio Luz teria sido feita com o presidente regional do PMDB, Jorge
Picciani, e não envolveria o acordo de aliança entre o PTN e o PMDB. Segundo
ele, o pedido foi feito ao ex-presidente da Assembleia Legislativa por conta da
proximidade dele com o atual José Henrique Pinto. Picciani negou:
- O processo (da suposta dívida) foi negado por
mérito e arquivado em dezembro de 2011. Como é que eu poderia oferecer o
dinheiro, em junho, com um processo arquivado? O prefeito Eduardo Paes tem 65%
dos votos válidos. Ninguém do PMDB é idiota ao ponto de pôr em risco a
campanha.
Esch rebateu:
— Se ele está dizendo isso é mentira. Tratei
pessoalmente com ele.
À Veja, Jorge Esch afirma que o acordo foi
realizado na convenção do partido, em 30 de junho com o deputado federal Pedro
Paulo (PMDB), ex-chefe da Casa Civil do governo Eduardo Paes e coordenador da
campanha do peemedebista. O presidente estadual do PTN, no entanto, afirma que
não recebeu os recursos e desde então tem sido ignorado pela campanha
peemedebista. Em 17 de junho, o PTN chegou a homologar a candidatura a prefeito
de Paulo Memória, mas o encontro foi cancelado por erros no edital e pela falta
de ata oficial homologando o nome de Memória. Em seguida, ele declarou apoio a
Paes.
Na gravação, Sanfins justifica a postura para os
colegas do partido:
- Não tem condição de lançar candidatura própria
(…). O cara dá 200 mil reais para dentro, dá uma prata para ele tirar a
candidatura dele, dá todo o material de campanha, toda a estrutura para os
candidatos. Chega lá dentro se bobear tem uma gasolininha extra para botar no
carro. Pô, não dá para recusar!
Paes nega compra de apoio
Paes visitou na manhã deste sábado a favela de
Vigário Geral, na Zona Norte. Ele negou ter havido alguma negociação financeira
com Jorge Sanfins Esch em troca de apoio político nas eleições. Paes, no
entanto, confirmou o encontro com presidente regional do PTN e outros sete
presidentes de partidos, em maio deste ano, para apresentar o seu projeto de
reeleição. O prefeito apresentou notas fiscais para comprovar as doações.
—Que é esse cara? Nunca tratei nada com ele. (Quem
é) esse cara agora para virar o delator de uma picaratagem? — desqualificou
Paes levantando suspeitas quanto a relação de Esch com o ex-prefeito Cesar Maia
(DEM), pai do também candidato à prefeitura Rodrigo Maia (DEM):
— Ele trabalhou com Cesar Maia. É o tal do batom na
cueca — disse o prefeito.
Pedro Paulo, por sua vez, confirmou que a promessa
de ajuda ao PTN feita na convenção de 30 de junho era apenas para apoio
logístico e para confecção de materiais de campanha para os candidatos a
vereador do PTN. Segundo a revista, a assessoria do prefeito calculou o repasse
em R$ 154.514.
Pedro Paulo afirmou que, em nenhum momento, a
campanha de Paes repassou recursos em espécie para os 19 partidos da base
aliada.
O presidente do diretório municipal do PTN, Paulo
Memória, negou que o partido tenha trocado o apoio à candidatura de Paes por
dinheiro. Mas, segundo ele, será "natural" a sigla participar de um
possível segundo mandato de Paes, caso o prefeito seja reeleito. Memória seria
candidato a prefeito pelo PTN antes da disputa interna com Jorge Sanfins Esch.
Memória foi destituído do cargo de presidente, mas foi reconduzido graças à
intervenção do diretório nacional.
- A minha candidatura foi aprovada por unanimidade
na convenção. Fui destituído da presidência municipal do PTN por ele (Jorge
Esch). Recorri ao diretório nacional, que fez a intervenção e me reconduziu à
presidência. Como a minha candidatura a prefeito nunca foi de oposição e, sim,
alternativa, entendemos que era melhor não mexer nisso para agravar a situação.
Por isso, entendi que eu poderia seguir com apoio ao Eduardo Paes - disse
Memória, lembrando ser um "admirador" de Paes.
Adversários defendem investigação
O candidato a prefeito do Rio, Marcelo Freixo, do
PSOL, defendeu na manhã deste sábado uma investigação do caso. Freixo fez
caminhada em Bonsucesso, na Zona Norte. O então candidato a vice prefeito do
PTN, Eduardo Homem, participou da concentração, mas não fez corpo a corpo com
socialista.
Homem é ex-integrante do PDT e faz parte do
Movimento de Resistência Leonel Brizola, organizado por pedetistas descontentes
com a atual administração do partido e que apoiam a candidatura de Freixo.
- É uma denúncia muito grave. Tem que ser
investigada pelos órgãos competentes, o Ministério Público Eleitoral e o
Tribunal Regional Eleitoral. De alguma maneira mostra que essa aliança (do
prefeito Eduardo Paes com 19 partidos, além do PMDB) pode não ter sido feita em
cima de projetos de cidade. Pode ter sido, na verdade, um grande negócio. A
denúncia fala não só da compra de um partido como fala na interferência da
máquina, na Rio Luz - disse Freixo.
Atualmente, Eduardo Homem é candidato a vereador
pelo PTN.
- Entrei no PTN pensando em ser candidato a
vice-prefeito e para divulgar o movimento de resistência. A minha chapa, que
tinha o Paulo Memória como candidato a prefeito, venceu a convenção por um
placar de 40 a 2. Mas o Jorge (Sanfins Esch) não aceitou, cancelou tudo para
apoiar o Paes. Foi um absurdo. Hoje os partidos têm donos - disse Eduardo
Homem.
Freixo, contudo, disse não conhecer Eduardo Homem:
- Ele é de um outro partido, o PTN. Agora, existe
um movimento de resistência dentro do PDT. Eu conheço essa pessoa de vista. Não
tem nenhum vínculo com a nossa campanha.
O outro candidato a prefeito, Otávio Leite (PSDB),
anunciou por meio de nota que vai entrar com uma representação no MPE contra
Eduardo Paes:
- Os fatos falam por si. É fundamental uma imediata
e urgente apuração do que está claro ser um crime eleitoral.
Fonte: O Globo
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