segunda-feira, 2 de janeiro de 2023

Lauro Jardim - Discurso é impecável, mas há desafios

O Globo

MP que desonera combustíveis expõe a dificuldade que presidente terá em aliar equilíbrio fiscal e políticas sociais

Os discursos de posse de Lula, no Congresso e no Parlatório, foram impecáveis. Nada do que interessa foi esquecido. Estava lá o apelo à união nacional. Como em 2003, o presidente falou da sua obsessão em acabar com a fome no Brasil. Deu também o destaque devido à questão ambiental. Enfatizou a chaga que é a desigualdade absurda do país. Lula reservou ainda um espaço generoso para a obrigatória pauta da inclusão e da diversidade — neste sentido, pela primeira vez uma posse presidencial tem a cara do século XXI.

Os dois textos, lidos em cerca de uma hora no total, por um Lula com voz firme são, portanto, peças bem escritas, abrangentes e acertam ao tentar mandar o recado de que a “disputa eleitoral no Brasil acabou”.

Quatro anos atrás, o presidente que tomava posse jogava na cara dos brasileiros um discurso noutro tom. Não pronunciou uma mísera vez as palavras “desigualdade” e “fome”. Nem que fosse por formalidade pregou a união nacional. Em vez disso, despejou à plateia temas inéditos numa cerimônia de posse: Jair Bolsonaro chegou a proclamar que aquele era o dia em que o país “começaria a se livrar do politicamente correto” e que um dos seus objetivos era o “combate à escola sem partido”. Eram essas algumas das prioridades.

Entrevista | Celso Rocha de Barros: ‘Lula podia fazer choque ortodoxo em 2003, hoje não há condição política’

Por Bernardo Mello e Thiago Prado / O Globo

Autor de ‘PT, uma história’ vê lulismo e governadores petistas como condutores de guinada ao centro do partido, e aponta urgência de refundar relação com Congresso

O sociólogo Celso Rocha de Barros é autor do livro "PT, uma história" (Companhia das Letras), lançado recentemente em meio a disputa eleitoral. A publicação resgata a história do Partido dos Trabalhadores, de sua fundação, nos anos 1980, até os dias atuais. Em entrevista ao GLOBO, ele fala sobre os desafios do novo governo de Lula e a importância de modificar a relação com o poder legislativo.

Lula começa um governo precisando apresentar resultados na economia. A tendência é de uma gestão mais para Antonio Palocci ou Guido Mantega?

O cenário que Fernando Haddad enfrenta é bastante diferente do de Palocci. Uma coisa é suceder Fernando Henrique Cardoso e o (ex-ministro da Fazenda) Pedro Malan, outra é Bolsonaro e Paulo Guedes. Em 2003, Lula podia perfeitamente dar um choque ortodoxo que ninguém tentaria um golpe. Hoje não há circunstâncias políticas para administrar dois anos de impopularidade, fazendo ajuste fiscal e esperando os programas sociais darem certo. Também há diferenças em relação ao que o Mantega fez depois da crise de 2008. A PEC da Transição é muito mais para segurar as políticas sociais do que trazer uma visão desenvolvimentista e heterodoxa de como fazer o gasto.

Miguel de Almeida - O PT e os motoristas búlgaros

O Globo

É sabida a implicância — para não dizer ojeriza — do escritor Michel Houellebecq às situações trazidas pela globalização. Tendo oportunidade, ele desfia seu elenco de abluções, de críticas — como seu horror aos motoristas búlgaros nas autoestradas da União Europeia.

Difícil deixar de imaginar um motorista búlgaro, entre Barcelona e Toulouse, e não sorrir com a despreocupada tolice: um búlgaro ao volante! Em seu novo livro, “Aniquilar”, ao dissertar sobre os diferentes, autoexcludentes e aleatórios ingredientes postos nos pratos pelos chefs contemporâneos, ele dá um grito e anota: “O frango brasileiro, não!”. Sem esquecer que Houellebecq é francês, impossível não concordar com a observação: o frango brasileiro tem a sensualidade da voz de um caixa eletrônico, algo anódino.

Houellebecq, se informado, riria do princípio ou do conceito por trás da formação do ministério do novo governo. Ali estão contemplados, em conta-gotas, os motoristas búlgaros, o frango brasileiro, a quinoa do Cerrado e a ginkgo biloba do Centrão. Não fosse o malsucedido gabinete britânico de Liz Truss, que durou poucas semanas, dada sua incompetência, a formação trazida à luz por Lula e Gleisi seria a primeira na História mundial a se escudar no lugar de fala como critério político. Mais pela simbologia, pouco pelo crédito ou credenciais.

Irapuã Santana - Mentira, pobreza e orçamento

O Globo

A história recente tem mostrado que o Brasil tem plenas condições de combater a pobreza, mas simplesmente não quer

Dois governos, de espectros políticos distintos, mentiram para nós no ano de 2022.

Em julho, o Congresso aprovou uma PEC para ter uma injeção no Orçamento de R$ 41 bilhões, com a justificativa de combater a fome no Brasil. Seis meses depois, há um novo furo no teto de gastos de mais R$ 145 bilhões, sob o argumento de socorrer os mais vulneráveis.

Segundo a Instituição Fiscal Independente (IFI), o aumento do Bolsa Família elevaria o custo em R$ 51,8 bilhões. Ora, e os R$ 93,2 bilhões para onde vão?!

É preciso deixar uma coisa clara: não falta dinheiro para o governo combater a pobreza, mas sim vontade efetiva.

Talvez por isso, José Guilherme Merquior disse em 1987 que “a verdade é que temos, ao mesmo tempo, Estado de mais e Estado de menos”. Prova disso é que, segundo o relatório de 2021 sobre o Panorama Social da América Latina, elaborado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), antes da pandemia, em 2019, 22,5% do PIB brasileiro era dedicado a gastos sociais.

Daniela Chiaretti - Com ênfases precisas, discurso contemporâneo sobre meio ambiente

Valor Econômico

Presidente falou em desmatamento zero, separou bioeconomia de empreendimentos da sociobiodiversidade e deu a real medida do desafio climático

O texto lido no plenário do Congresso foi o mais contemporâneo dos discursos de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O petista falou em desmatamento zero sem qualificar se é legal ou ilegal, separou bioeconomia dos empreendimentos da sociobiodiversidade, deu a real medida do desafio climático e a régua da diplomacia brasileira - na base de “um diálogo ativo e altivo” com os EUA, a União Europeia e a China.

“Nenhum outro país tem as condições do Brasil para se tornar uma grande potência ambiental, a partir da criatividade da bioeconomia e dos empreendimentos da sociobiodiversidade”, disse Lula no Congresso Nacional.

A separação é importante. Bioeconomia é um termo amplo que pode incluir produtores de álcool e florestas de eucalipto. A sociobiodiversidade fala aos produtores de castanhas e coletores de óleo de copaíba.

É o agronegócio e a indústria de um lado, o agricultor familiar e as comunidades quilombolas de outro. Lula incluiu todo mundo.

Alex Ribeiro - Promessa é de desenvolvimentismo com responsabilidade

Valor Econômico

Faltaram os detalhes sobre como vai compatibilizar as duas coisas

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em seu primeiro discurso no cargo, prometeu um Estado desenvolvimentista e nacionalista com responsabilidade fiscal e monetária. O que faltou foram os detalhes sobre como vai compatibilizar as duas coisas.

No recado mais direto ao mercado financeiro, chamou o teto de gastos públicos de uma “estupidez” e indicou que vai extingui-lo. Apesar da frase de impacto, isso já estava na conta da maioria. Desde a eleição, o Banco Central e o mercado já haviam se conformado que a regra fiscal será substituída por uma nova, provavelmente que envolva uma trajetória de superávits primários que coloque a dívida pública em trajetória sustentável.

Bruno Carazza* - O que os discursos sinalizam para o futuro

Valor Econômico

Contra herança maldita, a aposta em propostas do passado

Cada época traz consigo os sonhos e os desafios de cada geração. Primeiro presidente eleito democraticamente desde 1960, Fernando Collor iniciou seu discurso de posse perante o Congresso Nacional exaltando a conclusão do longo processo da transição democrática. Olhando para frente, delineou as demais diretrizes de seu autointitulado projeto de reconstrução nacional: “A inflação como inimigo maior, a reforma do Estado e a modernização econômica, a preocupação ecológica, o desafio da dívida social e a posição do Brasil no mundo contemporâneo.”

As preocupações tinham razão de ser. Lá fora, o mundo vivia o contexto da queda do Muro de Berlim e o fim da União Soviética. Por aqui, Collor prometia “liquidar” a hiperinflação reduzindo o tamanho do Estado e aplicando um choque de liberalização econômica sobre o setor privado.

Bruno Boghossian - Lula exibe antibolsonarismo e apelo social

Folha de S. Paulo

Ainda que descarte revanche, presidente usa rejeição a Bolsonaro em primeiro plano para preservar apoio

Nas palavras escolhidas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo que ele pretende fazer nos próximos anos teve quase tanto peso quanto os tempos que ficam para trás. Os primeiros discursos do novo presidente mostram que o antibolsonarismo será uma arma política relevante para o petista durante o mandato.

Ao inaugurar seu terceiro governo, Lula exibiu algumas de suas principais ferramentas para governar. A rejeição a Jair Bolsonaro (PL) terá papel central na preservação de apoio político, enquanto um discurso centrado em apelos sociais será um ponto-chave para implementação de sua plataforma.

Durante a campanha, o antibolsonarismo ajudou Lula a expandir seu eleitorado para além da esquerda e agregar forças políticas distantes do campo de influência do PT, principalmente no segundo turno.

O próprio presidente reconheceu a utilidade da ferramenta. Em seu pronunciamento no Congresso, o presidente disse ter compreendido desde o início que deveria ser candidato "por uma frente mais ampla" do que seu campo político e declarou que "essa frente se consolidou para impedir o retorno do autoritarismo ao país".

Celso Rocha de Barros - A terceira posse de Lula

Folha de S. Paulo

Posse foi festa que democracia merecia após quatro anos em cativeiro

O golpe perdeu, o Olavo morreu, o Jair fugiu, e o Brasil voltou a ter um presidente digno de cantar o hino nacional brasileiro.

Cantou-o com entusiasmo, como cantou a multidão que foi a Brasília assistir à terceira posse presidencial de Lula. Foi uma festa bonita, a começar porque o Jair não foi. Em seu lugar, uma comitiva entregou a faixa presidencial a Lula. Foi, sem dúvida, o momento mais bonito da posse. A comitiva representava um país que é, ao mesmo tempo, diverso, culturalmente rico e melhor do que Jair Bolsonaro no desempenho de absolutamente qualquer tarefa.

Resta torcer, enfim, para que o desastre Jair Bolsonaro vacine o povo brasileiro contra novas experiências autoritárias. Afinal, não é possível que este palhaço não seja capaz de vacinar ninguém contra nada.

Marcus André Melo* - O STF sem Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Quem perde e quem ganha com a alteração regimental da corte?

A dinâmica institucional futura no país dependerá do que vai acontecer com o recente protagonismo hiperbólico do STF. A decisão do ministro Gilmar Mendes autorizando gasto para o Bolsa Família fora do teto constitucional introduziu novo padrão de intervenção da corte na área fiscal, jogando por terra boas práticas em torno de regras fiscais e "hard-budget constraints".

Foi uma liminar, mas seus efeitos sobre o jogo político são claros. Há muitas decisões similares fora da seara fiscal protagonizadas pelo ministro Alexandre de Moraes. Na mesma semana, o STF anunciou mudanças substantivas no seu regimento interno, às vésperas da investidura do novo presidente.

Eliane Cantanhêde - Agenda de ‘reconstrução’ e diversidade na posse

O Estado de S. Paulo

Sem golpe, atentado terrorista e Jair Bolsonaro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o seu terceiro mandato num dia de sol, festivo, desfilando no Rolls-royce e dizendo que tomou posse pela primeira vez em 2003 com uma palavra-chave – mudança –, e agora adotou outra: reconstrução. É a diferença de receber o governo de Fernando Henrique Cardoso ou de Bolsonaro, que lhe deixou uma terra arrasada e não fez falta. Quem passou a faixa presidencial para Lula foram representantes da diversidade brasileira, que foram entregando a faixa um para o outro até chegar ao peito do presidente eleito, diplomado e agora empossado pelas mãos de uma mulher negra, de 33 anos, catadora desde os 14. Veio pela segunda vez o Hino Nacional. Lula chorou.

Em cerimônias cheias de simbologia e emoção, com muita gente e alegre cantoria, Lula esteve todo o tempo ao lado de sua mulher, Janja, do seu vice, Geraldo Alckmin, e da mulher dele, Lu, repetindo, assim, a demonstração de força e cumplicidade que também deu ao seu primeiro vice, José Alencar. Se a intenção era apresentar seu governo como “frente ampla”, isso não estava em sintonia com as multidões maciçamente de vermelho.

Felipe Moura Brasil - Já viste que um mito teu fugiu à luta

O Estado de S. Paulo

Em mensagem no Tiktok, ‘paulop1983’ faz mais oposição ao novo governo do que o bolsonarismo raiz

O melhor discurso da transição não foi de Jair Bolsonaro, nem de Lula. Foi de “paulop1983” no Tik Tok.

No sábado, 31, um dia após a viagem de Bolsonaro para Miami e horas antes do discurso de Hamilton Mourão como presidente em exercício, ele disse em vídeo:

“Acabou, gente. O que nós, bolsonaristas, vamos precisar, a partir de segunda-feira (2/1/23), é procurar um psiquiatra. Porque nós ficamos doentes por causa dessa desgraça desse Bolsonaro. É um desgraçado, covarde, que fugiu. Agora, está todo mundo com essa doença aí, ó.

Quem quiser ganhar dinheiro, abre uma clínica de psiquiatria. Vai ficar rico, de tanto bolsonarista que vai ter de procurar um psiquiatra. Porque ficou todo mundo doente, não pensa mais, só ‘Bolsonaro, Bolsonaro, Bolsonaro’.”

William Waack - Discurso alinhado às ‘ideias gerais’ do petismo

O Estado de S. Paulo

Não há nada surpreendente no primeiro discurso do presidente Lula. Está perfeitamente em linha quanto à tática política, que é a de se apresentar como salvador. E alinhado ao que se pode chamar de “ideias gerais” do petismo. Lula diz assumir um país destruído por regime autoritário que dilapidou o patrimônio público, tem responsabilidade por genocídio na pandemia, foi criminoso, negacionista e obscurantista. Lula inicia o mandato, disse, “frente a adversários inspirados no fascismo”.

O extremo lógico desse raciocínio abre caminho para dizer que a enorme oposição ao PT e a Lula – cujo espectro é imensamente mais amplo do que o bolsonarismo – é oposição a quem pretende “reconstruir em bases sólidas a democracia”. É arriscado como tática política num país profundamente dividido.

Denis Lerrer Rosenfield* – Um libertino

O Estado de S. Paulo.

Não é função estatal corrigir costumes seja em nome da moral, da religião ou do que considera como ‘saúde’

A Fábula das Abelhas ou Vícios Privados, Benefícios Públicos, de Bernard de Mandeville, obra clássica do início do século 18, vem a ser publicada no Brasil graças a uma primorosa edição da Topbooks com o patrocínio do Liberty Fund. Uma grande lacuna de pensamento será, assim, preenchida. Esse primeiro tomo, ao qual se seguirá um segundo no próximo ano, é constituído pela Fábula e por uma série de observações nas quais o autor desenvolve toda a sua filosofia moral e política. Diria que é um autor incontornável, sobretudo levando em consideração os valores morais reinantes na sociedade brasileira e as tentativas políticas e morais de reformá-los.

Isso porque Mandeville se inscreve na linha dos pensadores libertinos do século 17, que são propriamente livres-pensadores, sem nenhum apego a convenções ou a qualquer tipo de preconceito. Hoje, diríamos que são politicamente incorretos, críticos sagazes e sarcásticos do que as pessoas consideram, sob influências religiosas e éticas, como virtudes.

Discurso na posse | Lula: 'democracia para sempre'

Esta é a íntegra do discurso de posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Congresso Nacional.

“Pela terceira vez compareço a este Congresso Nacional para agradecer ao povo brasileiro o voto de confiança que recebemos. Renovo o juramento de fidelidade à Constituição da República, junto com o vice-presidente Geraldo Alckmin e os ministros que conosco vão trabalhar pelo Brasil.

Se estamos aqui, hoje, é graças à consciência política da sociedade brasileira e à frente democrática que formamos ao longo desta histórica campanha eleitoral.

Foi a democracia a grande vitoriosa nesta eleição, superando a maior mobilização de recursos públicos e privados que já se viu; as mais violentas ameaças à liberdade do voto, a mais abjeta campanha de mentiras e de ódio tramada para manipular e constranger o eleitorado.

Nunca os recursos do estado foram tão desvirtuados em proveito de um projeto autoritário de poder. Nunca a máquina pública foi tão desencaminhada dos controles republicanos. Nunca os eleitores foram tão constrangidos pelo poder econômico e por mentiras disseminadas em escala industrial.

Apesar de tudo, a decisão das urnas prevaleceu, graças a um sistema eleitoral internacionalmente reconhecido por sua eficácia na captação e apuração dos votos. Foi fundamental a atitude corajosa do Poder Judiciário, especialmente do Tribunal Superior Eleitoral, para fazer prevalecer a verdade das urnas sobre a violência de seus detratores.

Queridos amigos e amigas,

Ao retornar a este plenário da Câmara dos Deputados, onde participei da Assembleia Constituinte de 1988, recordo com emoção os embates que travamos aqui, democraticamente, para inscrever na Constituição o mais amplo conjunto de direitos sociais, individuais e coletivos, em benefício da população e da soberania nacional.

Entrevista | Pepe Mujica / Ex-presidente do Uruguai: 'Espero que militares brasileiros percebam que convém pacificar'

Por Janaína Figueiredo / O Globo

No Brasil para a posse de Lula, ex-presidente uruguaio diz que frente ampla do novo governo 'reafirma democracia republicana diante do autoritarismo’

Aos 87 anos, o ex-presidente do Uruguai José Pepe Mujica, que governou de 2010 a 2015, pretendia pegar um voo via Buenos Aires para chegar a Brasília e presenciar a posse hoje de seu amigo, Luiz Inácio Lula da Silva. Mudou de planos quando foi convidado pelo presidente uruguaio, o conservador Luis Lacalle Pou, para integrar a comitiva oficial, junto ao também ex-presidente Julio Maria Sanguinetti (1985-1990 e 1995-2000). Um gesto de civilidade política que contrasta com uma posse na qual o presidente que sai decidiu não passar a faixa para o que assume.

— De certa forma, [a decisão de Bolsonaro] reflete as enormes dificuldades que Lula enfrentará — disse Mujica ao GLOBO.

Questionado sobre as tensões entre Lula e o mundo militar, o ex-presidente da Frente Ampla de esquerda, que foi guerrilheiro e esteve 13 anos preso durante a última ditadura em seu país (1973-1985), afirmou que é fundamental conversar e relacionar-se com as Forças Armadas. Segundo Mujica, "os militares são parte de nossa sociedade e expressam as contradições de nosso povo. Temos de pedir a eles um certo grau de participação na estabilização do Brasil".

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Unir o Brasil não será tarefa trivial para novo governo

O Globo

Lula acerta ao transmitir mensagem de democracia e união nacional, mas terá de enfrentar obstáculos enormes

Em seu primeiro discurso no cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se dirigiu não só aos militantes, mas aos milhões de brasileiros que escolheram seu nome e também aos derrotados: “Assumo o compromisso de reconstruir o país e fazer de novo um Brasil de todos e para todos”. Lula afirmou não ter “ânimo de revanche”. “Ao ódio, responderemos com amor; à mentira, com a verdade; ao terror e à violência, responderemos com a lei”, disse. Depois de vestir a faixa presidencial, foi mais enfático: “Não existem dois ‘Brasis’. Somos um único país, um único povo, uma grande nação”.

É louvável a mensagem de união nacional depois de uma eleição vencida por margem estreita em ambiente polarizado. O desafio de unir o Brasil, porém, não será trivial. A discórdia e as paixões políticas desmedidas são um veneno. A preocupação de Lula é mais que pertinente, mas há uma distância razoável entre discurso e prática. Mais que tudo, será preciso entender que o ex-presidente Jair Bolsonaro só pôde florescer num ambiente já polarizado, onde o maior responsável pelo discurso do “nós contra eles” não era outro senão o próprio PT. A estratégia do morde e assopra — um dia prega a paz, no outro demoniza os opositores — não funcionará. Para serenar os ânimos, será essencial consistência.

Poesia | William Shakespeare - O amor e a amizade

 

Música | Canta, Canta minha gente - Martinho da Vila e convidados

 

domingo, 1 de janeiro de 2023

Merval Pereira - Um novo caminho

O Globo

O destino dá agora a Lula chance de fechar (?) seu ciclo político de maneira diferente daquela que o levou para a prisão

Começa hoje mais um capítulo da formidável saga de vida de um nordestino que chegou à presidência da República num país injusto e desigual graças a um senso político nato inigualável. Como toda saga, a de Lula teve necessariamente altos e baixos, e sua ação marcou a história do país, para o bem e para o mal. Por tramas do destino, que nem sempre lhe foi favorável, saiu da cadeia para voltar ao poder representando, mesmo para aqueles que nunca haviam votado nele, a alternativa viável para a defesa da democracia.

A mesma democracia que seu partido e as alianças que forjou, paradoxalmente, feriram ao permitir um ambiente de corrupção política na tentativa de controlar o Congresso. Ser a alternativa a um governante perverso e incompetente não seria em si grande coisa, mas o fato é que sua vitória para um terceiro mandato só ocorreu por ter sido ele o único candidato capaz de reunir em torno de si forças da sociedade que o tornaram majoritário sem que seu partido o fosse, e sem que muitos dos que votaram nele tenham superado restrições graves por conta do mensalão e do petrolão.

Míriam Leitão - O recomeço da democracia

O Globo

Bolsonaro já é passado, mas seus crimes ficarão como cicatrizes na democracia. Lula assume e ocupa posição inédita na história do país

Quando estiver hoje no Congresso sendo investido no cargo de presidente da República, pela terceira vez, Lula estará assumindo uma posição inédita na história do Brasil e estará atingindo o ápice de uma saga pessoal e política. Ninguém antes dele foi presidente três vezes. Ninguém no Brasil transpôs em tempo tão curto dois polos extremos que vão da prisão ao Planalto. Nenhuma história política brasileira tem tantos inesperados. Na primeira vez em que ele assumiu, a crônica da época destacava o impressionante trajeto da infância pobre ao posto mais alto da República. Desta vez, fica demonstrada a sua incrível capacidade de se reconstruir.

Não serão anos fáceis os que virão. O governo enfrentará o campo minado por armadilhas, rombos e conflitos espalhados pela administração que se encerrou. O último capítulo foi tão lamentável quanto o próprio governo. Jair Bolsonaro fez uma live cheia de ambiguidades em vez de um balanço formal de seu governo, falou apenas para seus seguidores e não para o país, pegou o avião presidencial e foi para Miami. O aparato que existe para apoiar viagens oficiais do presidente foi usado para a fuga dos seus deveres constitucionais. Antes de mais esse uso indevido dos recursos dos contribuintes ele deixou nova prova de que cometeu crime contra a democracia. “Como foi difícil ficar dois meses calado trabalhando para buscar alternativas”. Isso é confissão de que conspirou. Que alternativa constitucional existe para um derrotado nas eleições que entregar o poder ao vitorioso?

Bernardo Mello Franco – Desafios de volta

O Globo

Presidente enfrentará extrema direita organizada e Congresso mais hostil; ministério indica disposição de devolver país ao século XXI

Quando subir a rampa do Planalto pela terceira vez, na tarde deste domingo, Lula concluirá mais um capítulo de uma biografia marcada pelo improvável. Mas a volta ao poder, depois de 580 dias na cadeia, será apenas o ponto de partida para novos desafios.

O petista já reconheceu que herdará um país mais pobre e mais dividido do que em 2003. Aliados acrescentam que o período de lua de mel, que costuma facilitar o início de todo governo, deve durar menos que o habitual.

Além de enfrentar uma extrema direita organizada, Lula terá que lidar com um Congresso mais hostil — além de contrariado com o fim do orçamento secreto. Nesse cenário, a aposta na distribuição de ministérios pode não surtir os mesmos efeitos do passado.

Políticos próximos ao presidente alertam que a luta pela governabilidade não será travada só na Câmara e no Senado. Lula precisará cuidar da popularidade e cultivar o clima de frente ampla que impulsionou sua vitória no segundo turno. Para isso, a promessa de “união e reconstrução” não poderá se limitar a um slogan publicitário.

Dorrit Harazim - Sem réquiem

O Globo

O presidente em fuga jamais compreendeu que a política não é uma profissão — ela deveria ser, no mundo ideal, a dedicação temporária de alguém a sua comunidade

Uma fascinante obra-prima renascentista pintada há mais de 500 anos pelo holandês Hieronymus Bosch mora no segundo andar da ala Richelieu do Museu do Louvre, em Paris. Batizado de “Nau dos insensatos”, o quadro a óleo sobre madeira é parte original de um tríptico que acabou separado ao longo dos séculos. Dizem os estudiosos que a “Nau” de Bosch foi inspirada na pena satírica de um humanista alemão do mesmo período, Sebastian Brant, que escrevera em verso uma paródia da Arca de Noé. Na alegoria de Brant, o mundo era a nau, e seus habitantes/viajantes não se importavam para onde eram levados. Agiam desprovidos de razão, inclusive o capitão — se é que havia um a bordo.

Elio Gaspari - A direita explosiva quis voltar

O Globo

Se o primeiro atentado da 'Direita explosiva' tivesse sido investigado e seus autores punidos na letra da lei e dos regulamentos, o Brasil, a Justiça e as Forças Armadas teriam lucrado

As delinquências confessadas por George Washington de Oliveira Sousa, gerente de um posto de gasolina no Pará, militante acampado diante do Quartel General do Exército, em Brasília, mostram que ele pretendia praticar um ato terrorista na capital. Pelo plano, explodiriam um caminhão de combustível nas proximidades do aeroporto. Outra bomba interromperia o fornecimento de energia de Taguatinga. Assim, dariam “início ao caos que levaria à decretação do estado de sítio”.

Bomba num pátio, corte de energia, caos... Mark Twain já ensinou: A História não se repete, mas rima.

Oliveira Sousa está preso e revelou ter articulado o crime com pelo menos três pessoas. Esse atentado, impedido pela ação da polícia civil de Brasília, bem como inúmeras ameaças, injetaram tensão na festa da posse do presidente Lula.

Nos anos 60 e 70 do século passado, o país teve um terrorismo de esquerda, com o sequestro de quatro diplomatas estrangeiros e a morte de dezenas de pessoas. Foram executados um empresário, um delegado, um capitão do exército americano e um major alemão, confundido com um capitão boliviano. A ditadura enfrentou esse surto com desproporcional violência. A tortura tomou-se política de Estado e foi seguida por uma diretriz de extermínio.

Em 1981, extinto o surto terrorista e dois anos depois da anistia, explodiu uma bomba no colo de um sargento do DOI do I Exército (atual Comando Militar do Leste). Ele acompanhava um capitão, seu superior. Era o atentado do Riocentro. Se as coisas corressem como se supõe que havia sido planejado, aquela bomba explodiria no estacionamento enquanto outra, jogada na estação de energia, cortaria a luz do show que se realizava no pavilhão. O episódio do Riocentro provocaria um caos e, quem sabe, levaria à decretação de medidas de emergência.

Celso Rocha de Barros* - PT é quem sobrou para resolver velhos problemas e os criados por Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Com Lula no Planalto, partido criado nos anos 80 terá agora como um dos desafios reorganizar a democracia brasileira

Partido dos Trabalhadores é o maior vencedor de eleições presidenciais da história do Brasil. Ganhou 5 das 8 eleições da Nova República. Ficou em segundo lugar em todas as que perdeu. Esteve em todos os segundos turnos.

Os outros dois maiores vencedores, o velho PSD (1945-1964) e o PSDB, somados, venceram 4 vezes.

Entre os partidos que disputaram com o PT até hoje, dois acabaram (o PRN de Collor e o PSL de Bolsonaro). O PSDB, maior rival dos petistas, é hoje uma sombra do que já foi: perdeu as fortalezas de São Paulo e Minas Gerais para direitistas mais radicais e sua bancada no Congresso tem o mesmo tamanho da do PSOL.

Depois de 1989, quando o PT iniciou seu processo de moderação programática, o partido só perdeu eleições presidenciais para o Plano Real, uma imensa realização tucana; e quando Sergio Moro, em um julgamento irregular, impediu Lula de concorrer em 2018.

A capacidade de sobrevivência do PT é ainda mais impressionante tendo em conta o tamanho da crise que atingiu o partido em 2015-2018.

Bruno Boghossian - O fracasso de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Depois de governo ruinoso, ele terá que enfrentar o futuro sem cargo pela primeira vez em décadas

Por quatro anos, Jair Bolsonaro se dedicou a um único projeto: permanecer no cargo com poderes ampliados. Em sua chorosa despedida do governo, o presidente em fuga se viu obrigado a fazer uma melancólica admissão de seu fracasso.

O ciclo de Bolsonaro tem a marca de um político que deixou de lado o papel de governante para trabalhar pela própria autoridade. Ele ignorou funções básicas da administração do país para transformar a máquina pública numa ferramenta a favor de seus desejos.

Bolsonaro só se interessou pela gestão da economia quando precisou evitar a deterioração de seu poder e ganhar sobrevida na disputa eleitoral. Levou adiante a política de armas porque pretendia intimidar opositores e só insistiu num discurso de liberdade para justificar seus delírios autoritários.

Hélio Schwartsman - O desastre bate à porta

Folha de S. Paulo

Livro enumera mega-ameaças à nossa espreita

Se você ficou patologicamente animado com o fim do governo Bolsonaro e a chegada de uma administração não extremista, um bom antídoto literário é "Megathreats" (mega-ameaças), de Nouriel Roubini.

Ainda que tenhamos escapado por um triz (1,8 ponto percentual dos votos) do pior, o Brasil é só um pedaço não muito importante de um mundo bastante interconectado que está, na visão do autor, profundamente encrencado.

Nos dez primeiros capítulos, Roubini identifica dez problemas e mostra por que são mega-ameaças. No caso de vários deles, como mudança climática, crises de endividamento, estagflação, guerra fria EUA-China, os perigos são mais ou menos autoevidentes, o que não impede Roubini de descrever, com riqueza de detalhes, algumas das piores implicações.

Muniz Sodré* - Reconstrução pessoal

Folha de S. Paulo

Eleição não é vitória partidária, e sim do voto contrário a um caráter negativo e favorável a outro

Suprema autoridade judiciária desculpou-se ao presidente eleito por não lhe ter permitido, quando ainda em detenção, despedir-se do irmão morto. Não foi gesto institucional, mas pessoal. Na melhor das hipóteses, repercussão moral de recomendação recente do papa Francisco sobre "vigilância do coração".

Entidade nenhuma é agente moral, isso é apanágio de pessoas, como salienta o linguista e ativista Noam Chomsky.

O mesmo juízo aplica-se a partido político: um programa de melhor distribuição de justiça social ou de retidão de conduta não lhe atribui disposição de alma. Instituições podem guiar-se por princípios equitativos, mas são constituídas por pessoas, às quais cabe agência moral.

Luiz Carlos Azedo - Lula toma posse com a responsabilidade de reforçar a democracia

Correio Braziliense

Em um país dividido e com profundos problemas sociais, presidente assume a responsabilidade de reforçar a democracia

Apesar de todas as tensões — e ainda as teremos por um tempo —, a vida do país mudou da água para o vinho desde 30 de outubro, quando foi eleito Luiz Inácio Lula da Silva, que assumirá a Presidência da República neste domingo de Ano-Novo. Faz parte do jogo a má vontade com Lula de formadores de opinião e de integrantes da elite econômica, cuja maioria apoiou e votou no presidente Jair Bolsonaro.

Entretanto, a justa comparação não é com suas expectativas, diante dos quatro anos de retrocesso político, obscurantismo, negacionismo e disparates; é entre um governante cuja reeleição nos levaria para um “regime iliberal”, na linha de Orban (Hungria), Putin (Rússia), Erdogan (Turquia) e outros presidentes autoritários, e o ambiente democrático proporcionado pela simples vitória de Lula, com apoio das forças democráticas do país.

Eliane Cantanhêde - O Brasil mudou, ou voltou

O Estado de S. Paulo

Hoje é dia de festa e volta à normalidade, com o que há de bom, ruim e incógnitas

O Brasil mudou. Fecha-se o capítulo da gestão indigna e criminosa na pandemia, ofensas estéreis entre os Poderes, confronto federativo sistemático, desastroso desmanche de políticas e órgãos públicos. Abre-se o capítulo da normalidade, com o que há de bom, ruim, incógnitas e a complexa busca de diálogo e consensos.

Ao sair do Alvorada pela porta dos fundos e abandonar o cargo, o País e seus próprios seguidores antes da posse do sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, Jair Bolsonaro deixou no ar: valia a pena entrar com uma ação para impedir que você, leitor, leitora, pagasse avião, equipe e luxo na viagem pessoal de Bolsonaro a Orlando?

Melhor deixá-lo levar sua insignificância para bem longe, virar essa página e garantir uma festa alegre e colorida na posse. Passou, acabou, é recolher os escombros e reconstruir a administração pública, os princípios e relações republicanas. Com muita expectativa, mas condições adversas. Uma confluência perigosa.

Vera Rosa - Mesmo com guinada ao centro, petistas ainda serão mais influentes

O Estado de S. Paulo

Alexandre Padilha na articulação política e Fernando Haddad na chefia da Economia estão na restrita cota de confiança de Lula

Vinte anos após subir pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto, em 2003, Luiz Inácio Lula da Silva assume neste domingo, 1º, o terceiro mandato à frente do governo com desafios que vão além da economia. Do “Lulinha paz e amor” à “jararaca”, o presidente que chega agora ao poder diz ter passado por um “processo de ressurreição” e, munido de um discurso conciliador, chamou políticos de centro para compor o Ministério. Os nomes mais influentes da equipe, porém, ainda são do PT.

Em recente conversa com sindicalistas, Lula afirmou que, para ter governabilidade, precisa dialogar até com a extrema-direita. “Eu aprendi muito com o impeachment da Dilma”, argumentou ele, numa referência à presidente Dilma Rousseff, que teve o mandato cassado pelo Congresso, em 2016. “Fora da política não há solução. Quem não conversa, não governa”, emendou.

Celso Ming - O que esperar de 2023

O Estado de S. Paulo

Ano novo, governo novo, mas tendências da política econômica, nem tanto. Todos os indícios apontam para um crescimento medíocre em 2023. As economias líderes devem enfrentar recessão ou forte desaceleração, puxadas pela ressaca da covid e pela crise energética, que produziram inflação e obrigaram os maiores bancos centrais a puxar os juros para cima. As projeções do FMI são de crescimento de 1,0% do PIB dos Estados Unidos, de 0,5% da área do euro e de 4,4% da China. Aqui no Brasil, os analistas inquiridos pelo Boletim Focus não preveem mais do que avanço de 0,75%.

Em parte, esse passo lento está determinado pela música tocada no salão global. Mas há certas bolas de ferro que vêm tolhendo o avanço da economia brasileira. Como o Banco Central tanto alertou no último Relatório de Inflação, a principal delas é o rombo fiscal que vai sendo determinado pelo forte aumento das despesas públicas.

O Banco Central promete juros altos em boa parte do ano. É forte a pressão sobre o crédito e sobre a dívida pública que terá de incorporar mais despesas com juros no passivo total.

Cristovam Buarque* - A trégua Pelé

Blog do Noblat / Metrópoles

Na partida de Pelé, percebe-se a grandeza de um gênio da humanidade. Ao contrário, a partida de Bolsonaro mostra a mediocridade dele

Quis a história que coincidissem a partida de Pelé, um herói que nos orgulha, e a fuga de Bolsonaro, um calhorda que nos envergonha. Esta coincidência permite constatar a diferença entre grandeza e mediocridade.

Na partida de Pelé, percebe-se a grandeza de um gênio da humanidade. Ao longo de 65 anos, dos 17 aos 82 de idade, ele acumulou gestos, falas, comportamentos, genialidades em sua área de atuação, que lhe permitiram ser um símbolo de perfeição e excelência reconhecido mundialmente. Graças à sua grandeza, a história de Pelé permanece.

Ao contrário, a partida de Bolsonaro mostra a mediocridade de suas últimas falas e do voo de fuga em seguida. Mostra a covardia e a molecagem como tratou o povo brasileiro atè o final de seu mandato. Ao fugir, em avião da Força Aérea permite suspeita de que levou contrabando, protegido pelo manto da presidência no último dia do mandato.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

O melhor que Lula pode fazer pela democracia

O Globo

Sua posse representa a vitória contra ameaças autoritárias, mas erros na economia podem realimentar os riscos

Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito para o terceiro mandato empunhando a bandeira da democracia. Sua posse hoje marca a vitória inequívoca das instituições sobre as ameaças autoritárias dos últimos anos. Mas o governo Lula também começa sob a égide de preocupações graves, que terão impacto na própria estabilidade democrática se não forem levadas a sério.

A maior delas é a incerteza econômica. Os primeiros passos do novo governo, antes mesmo da posse, já resultaram num aumento de gastos públicos estimado em 2,5% do PIB. Como o Estado brasileiro tem funcionado com um déficit estrutural — receitas menos despesas recorrentes — na casa dos 2% do PIB, há necessidade premente de ajuste fiscal, do contrário a explosão inevitável da dívida pública porá em risco a estabilidade da moeda. O próprio Fernando Haddad, novo ministro da Fazenda, reconheceu ao GLOBO que será preciso “arrumar a casa” nos três primeiros meses de governo.

Lula sabe bem o significado da inflação para aqueles que mais defende, os pobres. Tanto que, na campanha eleitoral, falava o tempo todo em pôr o pobre no Orçamento. Por óbvio, ninguém pode ficar inerte diante do flagelo da pobreza. Mas os pobres foram apenas um pretexto usado na PEC da Transição para romper o teto de gastos. Financiar o programa de transferência de renda sofrível herdado do governo Jair Bolsonaro custaria R$ 52 bilhões além do já previsto no Orçamento. Só que a PEC autorizou até R$ 168 bilhões em gastos além do teto. Parte será consumida em aumentos salariais para a elite do funcionalismo, garantia de piso salarial a profissionais de enfermagem e outras despesas que nada têm a ver com a redução da miséria.

Poesia | Murilo Mendes - O Filho do Século

 

Música | Jorge Aragão - Reflexão