Valor Econômico
Presidente falou em desmatamento zero,
separou bioeconomia de empreendimentos da sociobiodiversidade e deu a real
medida do desafio climático
O texto lido no plenário do Congresso foi o
mais contemporâneo dos discursos de posse do presidente Luiz Inácio Lula da
Silva.
O petista falou em desmatamento zero sem
qualificar se é legal ou ilegal, separou bioeconomia dos empreendimentos da
sociobiodiversidade, deu a real medida do desafio climático e a régua da
diplomacia brasileira - na base de “um diálogo ativo e altivo” com os EUA, a
União Europeia e a China.
“Nenhum outro país tem as condições do
Brasil para se tornar uma grande potência ambiental, a partir da criatividade
da bioeconomia e dos empreendimentos da sociobiodiversidade”, disse Lula no
Congresso Nacional.
A separação é importante. Bioeconomia é um
termo amplo que pode incluir produtores de álcool e florestas de eucalipto. A
sociobiodiversidade fala aos produtores de castanhas e coletores de óleo de
copaíba.
É o agronegócio e a indústria de um lado, o agricultor familiar e as comunidades quilombolas de outro. Lula incluiu todo mundo.
“Vamos iniciar a transição energética e
ecológica para uma agropecuária e uma mineração sustentáveis, uma agricultura
familiar mais forte, uma indústria mais verde”, seguiu, na mesma toada.
“Nossa meta é alcançar desmatamento zero na
Amazônia e emissão zero de gases do efeito estufa na matriz elétrica, além de
estimular o reaproveitamento de pastagens degradadas. O Brasil não precisa
desmatar para manter e ampliar sua estratégica fronteira agrícola”. Foi um
recado forte a ruralistas atrasados.
A Amazônia subiu a rampa com Lula, de
braços dados com o cacique caiapó Raoni, talvez a liderança indígena mais
famosa do mundo. Depois, no discurso no Parlatório, o presidente falou ao povo
sobre a importância de preservar a floresta e mudança climática, de diversidade
e desigualdade.
“Os povos indígenas precisam ter suas
terras demarcadas e livres das ameaças das atividades econômicas ilegais e
predatórias”, disse.
“Eles não são obstáculos ao desenvolvimento
- são guardiões de nossos rios e florestas, e parte fundamental da nossa grandeza
enquanto nação”, reforçou.
A proteção ambiental foi relacionada à
economia, em uma perspectiva de quem entende que o presente e o futuro são da
economia de baixo carbono.
“O mundo espera que o Brasil volte a ser um
líder no enfrentamento à crise climática e um exemplo de país social e
ambientalmente responsável, capaz de promover o crescimento econômico com
distribuição de renda, combater a fome e a pobreza, dentro do processo
democrático”, disse.
Lula anunciou que o Brasil voltará ao
protagonismo internacional, e relacionou o esforço ambiental com a vinda de
investimentos.
Falou na “retomada da integração
sul-americana”, a partir do Mercosul e revitalização da Unasul.
“O Brasil tem de ser dono de si mesmo, dono
de seu destino. Tem de voltar a ser um país soberano. Somos responsáveis pela
maior parte da Amazônia e por vastos biomas, grandes aquíferos, jazidas de
minérios, petróleo e fontes de energia limpa”, seguiu
Há 20 anos, ao assumir pela primeira vez, Lula falou em mudança. Citou o meio ambiente apenas uma vez, de modo quase protocolar. O mesmo para os indígenas. A mudança ocorreu, fortemente, no mundo, no Brasil e nele.
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