segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Opinião do dia – Luiz Sérgio Henriques*

Pode ser que um terceiro fantasma tenha, agora, aparecido em nosso relato. Ambíguo, multiforme, o populismo será um espectro capaz de variadas encarnações e, por isso mesmo, de difícil apreensão conceitual. Há mesmo um bom argumento que rejeita seu uso por causa destas suas múltiplas figuras, que vão dos governantes “nacional-populares” da América Latina até Berlusconi ou mesmo Trump. O fato é que, em nossos dias, importantes teóricos voltaram a pôr em circulação a “razão populista”, que invariavelmente tenta desagregar, segundo a lógica feroz de amigos versus inimigos, o consenso em torno das instituições democráticas. O que diferenciaria o populismo progressista daquele reacionário seria a escolha atilada dos inimigos: as elites em vez dos imigrantes, por exemplo.

Em tempos difíceis, como os que temos vivido aqui e agora, o que se requer é uma esquerda que majoritariamente não pense só na afirmação de suas próprias razões, mas seja capaz de levar em conta o conjunto da sociedade, aceitando a espinhosa – e interminável – missão da persuasão permanente. E reconheça, por isso, que apostar na cisão simplória entre o povo e seus inimigos pode acarretar tragicamente “a ruína comum das classes em luta”. Como temos visto, construir esse tipo de esquerda não é nada fácil.

-----------------------
*Tradutor e ensaísta, é um dos organizadores das obras de Gramsci, “O terceiro fantasma”, O Estado de S. Paulo, 17/9/2017

'A Reconstrução do Brasil' | Fernando Henrique Cardoso

- O Estado de S.Paulo

Em prefácio, FHC diz que livro 'A Reconstrução do Brasil' é 'estrada a percorrer'

Entre setembro do ano passado e janeiro de 2017, o Estadão publicou uma extensa série de matérias sobre a agenda de reformas que o Brasil tem de enfrentar para reconquistar um futuro coletivo melhor para os cidadãos e cidadãs que aqui vivem e trabalham. Ao reuni-las em um livro, o jornal oferece à sociedade um diagnóstico dos desafios nacionais e um mapa da estrada que o País terá de percorrer para superá-los neste e nos próximos mandatos presidenciais.

O livro vem em boa hora. Quis a história que os 30 anos da Assembleia Constituinte que resultou na Constituição de 1988 coincidissem com a retomada do debate público e da iniciativa do governo em relação a mudanças institucionais marginalizadas nos três mandatos presidenciais anteriores ao atual. Postergadas a partir de 2003 e substituídas por políticas econômicas destruidoras do equilíbrio fiscal e da capacidade de crescimento da economia a partir de 2010, essas reformas se tornaram não apenas necessárias para assegurar um futuro melhor, mas também urgentes para resgatar o Brasil da profunda e prolongada crise econômica legada pelo ciclo petista. O presidente Michel Temer compreendeu que sua breve passagem pela Presidência deveria estar dedicada à missão histórica e reiniciar o processo de reformas, a começar por aquela que maior dificuldade política representa, a da Previdência. Merece crédito por isso.

Irresponsabilidade | Denis Lerrer Rosenfield

- O Estado de S.Paulo

O STF deixou a decisão sobre a denúncia contra Temer para Janot, que é um dos pivôs da crise

O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot, no seu estertor, decide criar um clima de instabilidade no País, sabendo que as chances de sua denúncia prosperar na Câmara dos Deputados são próximas de zero. Sabe-se de antemão derrotado, mas procura produzir o máximo de prejuízos antes de partir. A sua irresponsabilidade é tanto mais grave por expor um comportamento errático, que termina prejudicando a sua própria instituição e, em particular, a Operação Lava Jato.

Sua peça de acusação ao presidente Michel Temer mais parece uma obsessão. Dá a impressão de ser movido por razões psicológicas, com viés político-ideológico, na medida em que este se encaixa melhor ao politicamente correto vigente em setores da mídia e da opinião pública. Sua peça tem muito mais um perfil de suposta ciência ou história política do que jurídica. Produziu uma narrativa para convencer. Trabalha com suposições, ouvir dizer, delações de mentirosos contumazes, criminosos que lideram organizações empresariais e ilações dos mais diferentes tipos, sem apresentar as provas materiais correspondentes. Aliás, em termos de “ilações”, caberia a pergunta por que teria ele aplicado ao presidente da República a teoria do “domínio de fato”, quando não mostrou precisamente nenhuma prova material direta ou indireta contra ele. Onde estão as contas no exterior? Onde estão os e-mails comprometedores, e assim por diante. A pergunta é tanto mais pertinente porque seria muito melhor aplicada a ele mesmo. Não sabia das atividades duplas de seu ex-braço direito Marcelo Miller? Sentiu-se “ludibriado”? Ora, ora! A resposta é pueril. Foi igualmente noticiado que outros dois procuradores estariam envolvidos nesta manobra. Não seria ao menos razoável concluir essas investigações antes de apresentar um nova denúncia contra o presidente da República? Ou, talvez, muito mais correto teria sido transferir essas investigações à Polícia Federal, evitando o espírito corporativo do próprio Ministério Público Federal.

Todos reféns | Ricardo Noblat

- O Globo

“Há esforço para comprometer a honra de Temer.” Moreira Franco, ministro da Secretaria-Geral da Presidência

Antonio Palocci está para Luiz Inácio Lula da Silva assim como Geddel Vieira Lima e Rocha Loures estão para Michel Temer, Marcello Miller para Rodrigo Janot e Ricardo Saud para os irmãos Batista — Joesley e Wesley. O que eles disserem à Justiça poderá, no extremo, virar o país pelo avesso, ou na melhor das hipóteses apenas aumentar a octanagem da crise política que se arrasta desde o final de 2014.

EM CONVERSA NA SEMANA passada com a ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal Federal, o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, observou com ar grave sobre o que o futuro possa reservar ao país: “Daqui para as eleições de 2018 se passarão cem anos”. É tempo suficiente para que aconteça tudo ou nada. Ninguém é senhor da crise.

LULA TINHA UM PROBLEMA para ser candidato à vaga de Temer: o risco de a segunda instância da Justiça confirmar a sentença de Sergio Moro que o condenou a nove anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Passou a ter dois problemas desde que Palocci o apontou como chefe de organização criminosa. Ao jurídico juntou-se o entrave político. Combinação indigesta.

Nada de novo no front | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Governo, já faz tempo, deixou de governar

Michel Temer volta às cordas. Desta feita, tem companhia graúda. No outro 'corner', Lula se defende como pode das bofetadas desferidas por Palocci. Para ambos, o que resta é estender a luta, evitar o nocaute e aguardar a derrota honrosa por pontos.

O Procurador Geral da República cumpriu sua promessa e lançou sua última flecha. A Folha de São Paulo, na primeira página de sua edição de sexta-feira, minimizou a investida: "A denúncia, que não apresenta fatos relevantes novos, é a segunda de Rodrigo Janot contra o presidente". No dia seguinte, em editorial e matérias assinadas, bateu na mesma tecla. Sem novidades, a flecha teria sido desferida às pressas. Tanto assim que, no domingo, sequer marcou presença na primeira página.

Significativamente, no dia seguinte à denúncia, a agenda pública do presidente o levou a um hospital, onde, marchando a passos largos, mostrando vitalidade para evitar ser confundido com um paciente terminal, ignorou a imprensa. O 'estadista' só se manifesta com a proteção do púlpito, texto e gestual ensaiados. De improviso,

Guerra conflagada | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

A Procuradoria-Geral da República amanhece sob novo comando. Assume Raquel Dodge, indicada pelo presidente Michel Temer, sai Rodrigo Janot, algoz do peemedebista nos últimos meses.

Janot avisou que não iria à posse porque não fora convidado. Dodge diz que o chamou por e-mail, assim como fez com todos os procuradores.

A Folha desta segunda-feira (18) mostra que o tiroteio dentro da PGR deve continuar: depois de ficar preso por 76 dias, a pedido de Janot, o procurador Ângelo Villela quebra o silêncio e, em entrevista à repórter Camila Mattoso, afirma que o colega construiu a delação da JBS para derrubar Temer com o objetivo de impedir a nomeação de Dodge, espécie de líder de grupo político antagônico.

Lambança e desequilibrio | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

O escândalo em torno do ex-procurador Marcello Miller, cuja atuação nos dois lados do balcão no caso JBS é cada vez mais difícil de refutar, sugere avanço do mal degenerativo que acometeu a colaboração premiada no Brasil.

O poder que acusa não deveria interferir na produção de provas judiciais pelo candidato a delator. Autorizar que se cruze essa linha vermelha é expor o cidadão ao arbítrio dos flagrantes armados, típicos de regimes autoritários e aparelhos investigativos indolentes e descontrolados.

Deixar de punir com a anulação das provas esse desvio, uma vez comprovado, seria favorecer a disseminação pelo país dos conluios entre investigadores estatais e réus desesperados. Se o estímulo a pular a cerca é sedutor o suficiente para atingir a Procuradoria-Geral da República, essa tentação não será menor nos 27 órgãos acusadores estaduais.

Paz, desenvolvimento e democracia | Michel Temer

- O Globo

Levaremos ao plenário da ONU boas notícias: os primeiros dados disponíveis para o último ano indicam queda de mais de 20% do desmatamento na Amazônia

Levaremos boas notícias ao plenário da ONU. Amanhã, terei novamente a honra de representar o Brasil na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Ali, cada país expõe sua visão de mundo, seu diagnóstico sobre os desafios globais, suas propostas para enfrentá-los. No caso do Brasil, o momento reveste-se de importância singular: por tradição, nosso país tem o privilégio, a cada ano, de ser o primeiro a discursar perante as Nações Unidas.

Levaremos à ONU aquelas que são opções fundamentais da sociedade brasileira — a paz, o desenvolvimento, e a democracia e os direitos humanos.

Tentando ver além das nuvens | Gaudêncio Torquato

- Blog do Noblat

Nuvens plúmbeas, pesadas, impedem que se descubra se haverá algum raio de sol brilhando nos horizontes do amanhã. Quando este amanhã está muito distante, lá pela primavera de 2018, querer enxergar o ambiente será um exercício de adivinhação.

O máximo que se pode garantir é que rebentos da natureza, como os ipês amarelo e roxo de São Paulo, darão um colorido à metrópole, que chamará a atenção ainda pela inclinação do eleitorado da capital e do Estado (9 milhões e 33 milhões, respectivamente) a votar nos candidatos que se submeterão às urnas no dia 5 de outubro.

Há muita fumaça a cobrir os céus nos próximos meses, resultantes de fogueiras acesas no terreno da política, algumas com capacidade de queimar perfis, deixando-os fora do pleito, como é possível inferir nos casos de Luiz Inácio Lula da Silva e Aécio Neves. Hoje, é forte a hipótese de que estariam fora do jogo eleitoral por estarem envolvidos na Operação Lava Jato.

Como o Brasil é o país do imponderável, é possível que Lula drible as condenações que pesarão sobre ele e volte ao ringue. Difícil, mas não impossível. Tentemos, sob densa teia de coisas imponderáveis, fazer algumas projeções, contando com o acervo de informações de que se dispõe e que nos permite fazer um exercício de interpretação.

Sem estelionato | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

Bomba fiscal está armada e soluções terão de ficar claras na campanha de 2018

Lula ou mais provavelmente seu plano B, Alckmin, Doria, Ciro, Marina, Bolsonaro e agora Meirelles. A cada dia que passa, mais estica a lista de candidatos a candidatos à Presidência da República em 2018. Uns ainda procuram um partido para chamar de seu, outros tentam disfarçar sua cobiça pela cadeira de Temer, mas todos já se articulam para a campanha eleitoral, independentemente das regras que venham a vigorar lá na frente. Assentada a poeira das escolhas partidárias, e confirmadas as candidaturas, entrarão em cena as grandes interrogações resumidas a “quem vai fazer o que”. E a grande dúvida, à exceção óbvia de Meirelles, é como cada um deles pretende administrar o monumental imbróglio das finanças públicas, que certamente vai delimitar a ação de quem estiver no comando do Planalto.

Lula e Temer apressam cenários para eleições | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Sem condições para crescer, Brasil flerta com o improviso

O segundo depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz federal Sérgio Moro e a apresentação da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer, na semana passada, lançaram diretrizes prematuras, mas primordiais, para 2018. Os dois eventos e a tensão por eles provocada apressam a construção de cenários eleitorais.

Um Lula mais defensivo e agressivo, em depoimento ao juiz federal, para alguns mostrou-se fragilizado demais para disputar a Presidência da República pela terceira vez. Para outros, Lula é carta que sairá do baralho somente se a sentença de Moro por crime de corrupção e lavagem de dinheiro no processo do tríplex do Guarujá (SP) for acatada pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal (TRF4), a segunda instância judicial da Lava-Jato, até agosto de 2018, período em que os partidos registram as candidaturas. Em meados de julho, Lula foi condenado a 9 anos e seis meses de prisão em regime fechado.

Finalmente, o consenso chegou | Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

Maior crescimento trará um aumento de arrecadação do governo federal da ordem de R$ 150 bilhões anuais

A divulgação pelo Banco Central de sua estimativa para a variação do PIB no último mês de julho consolidou a certeza de que a recuperação cíclica da economia faz parte agora do metabolismo da economia brasileira. Foi um número muito forte e, mais uma vez, deixou a comunidade dos analistas sem explicações. O IBC-BR variou entre julho e junho 0,41%, contra uma média de projeções de 0,10%. Este número juntou-se a vários outros indicadores já conhecidos, aumentando a certeza de que 2018 será um ano em que a volta do crescimento chegará de forma inconteste - embora desigual - aos brasileiros depois de três anos terríveis.

A volta do crescimento e a melhora do sentimento de bem-estar econômico da sociedade são fatores importantes para que tenhamos nas eleições de 2018 a possibilidade de construir um governo responsável e que tenha condições para levar adiante uma agenda de mudanças na economia e na política. Com a economia crescendo algo perto de 4% ao ano no período das eleições, o espaço para a demagogia - à direita e à esquerda - se reduz muito. Por outro, fortalece os candidatos - sejam eles quais forem - que se apresentarão com a agenda de continuidade de uma política econômica correta e da busca de reformas estruturais.

Neste sentido, usando a imagem muito feliz do ex-presidente FHC, a verdadeira pinguela para dias melhores foi a recuperação cíclica que estamos vivendo. O governo Temer, apesar dos gravíssimos problemas políticos que está vivendo, foi fundamental para a construção desta pinguela por ter dado força e liberdade à equipe econômica liderada por Henrique Meirelles. O novo governo a ser eleito em 2018 vai herdar uma situação macroeconômica invejável e que permitirá uma ação de mais longo prazo. Vejamos os principais indicadores ao iniciar-se o novo governo:

Democracia é liberdade – Editorial | O Estado de S. Paulo

A irresponsável tentativa de criminalização generalizada da política condenada neste espaço na quarta-feira passada ameaça a democracia e a liberdade, uma vez que nada substitui a política – e os representantes do povo – no papel de mediar os conflitos de interesse, inevitavelmente existentes no seio da sociedade, em benefício da preservação do interesse coletivo. Democracia é isso. Não se trata aqui de calar a discussão sobre se e até que ponto o instituto da representação popular está funcionando no País. Esta é, afinal, a questão central no ambiente de crise e desesperança que aflige os brasileiros. Mas, antes de tudo, é preciso firmar a convicção de que, a despeito dos enormes problemas de disfunção do sistema político brasileiro – e a corrupção não é o único –, é no regime da liberdade, e apenas nele, que se encontram os mecanismos capazes de promover a correção dos desvios e equívocos que protegem privilégios e promovem injustiças.

Um sintoma claro de insidiosa ameaça à democracia e à liberdade é uma peça de propaganda apócrifa, mas obviamente patrocinada por saudosos do regime militar, que circula nas mídias sociais. No alto, encimadas pelo texto “Governo militar 1964-1985 – 21 anos, nenhum ladrão”, as fotos dos cinco generais que ocuparam a Presidência da República naquele período. Abaixo: “Democracia – 31 anos, todos ladrões” e as fotos de seis dos sete presidentes eleitos depois da retirada dos militares. Por razões não explicadas, a peça omite a foto do presidente Itamar Franco.

O remédio é veneno – Editorial | O Globo

Depois que o estatismo e os gastos causaram a crise, usar as mesmas políticas é um desatino

Parte do debate econômico brasileiro costuma ser contaminada por projetos ideológicos, o que impede que argumentos sejam ouvidos, que a própria realidade exerça seu papel pedagógico. Neste período de grande turbulência, iniciado de forma mais nítida em 2014, ano da campanha de reeleição de Dilma, e que vem até hoje, em que a economia se recupera, mas não na velocidade desejada, fica exposta de maneira nítida esta característica. O esgarçamento da situação política e econômica aguçou o Fla-Flu na sociedade. Mas, em algum momento, verdades indiscutíveis se imporão. Entende-se, porém, que a militância, de perfil religioso, messiânico e sectário — à direita e à esquerda —, seja refratária a reconhecer erros.

A presidente Dilma cometeu estelionato eleitoral ao se reeleger com uma proposta estatista, mas já sabendo que esta via era equivocada. Tanto que ela sofreu impeachment — ao descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal e ainda manipular as contas públicas —, enquanto ministros seus buscavam aplicar um arremedo de ajuste fiscal, termo demonizado por ela e o PT.

O futuro da JBS – Editorial | Folha de S. Paulo

Quando veio à tona a bombástica delação da JBS, em questão de horas surgiu também a desconfiança de que os irmãos Joesley e Wesley Batista haviam aproveitado seu conhecimento prévio dos fatos divulgados para lucrar em transações financeiras.

Ao lado da injustificável imunidade penal então concedida aos dois empresários, a suspeita do uso de informação privilegiada –que evoluiu para investigações da Polícia Federal e da Comissão de Valores Mobiliários (CVM)– concorreu para fomentar a repulsa geral aos termos do acordo de delação firmado com o Ministério Público.

Recorde-se que os mercados de ações e câmbio viveram um terremoto em 18 de maio, dia seguinte à primeira notícia da famigerada conversa entre o presidente Michel Temer (PMDB) e Joesley Batista.

Indústria automobilística na rota da modernidade – Editorial | Valor Econômico

Da disseminação dos carros elétricos ao possível uso de veículos sem condutores, a indústria automotiva global vive um momento de transformações profundas. No Brasil, as discussões têm sido feitas com olhos no retrovisor. Temas que já deveriam estar superados, como o grau de protecionismo às montadoras instaladas no país e a complexidade do sistema tributário, continuam ocupando a pauta do governo e do setor privado. Basta observar a discrepância do noticiário: enquanto fabricantes como a Volvo e países como a China anunciam planos concretos de tirar das ruas os motores a combustão, aqui o dilema é como atender às exigências da Organização Mundial do Comércio (OMC), que condenou recentemente o programa Inovar-Auto e uma série de outras políticas industriais por violações às regras internacionais de comércio.

O ‘decoro’ do PT – Editorial | O Estado de S. Paulo

O visível nervosismo de Lula da Silva em seu mais recente depoimento ao juiz federal Sérgio Moro mostra que o ex-presidente parece saber que as inconfidências de Antonio Palocci, que foi seu ministro e braço direito, podem ser decisivas para mandá-lo para a cadeia. Palocci não foi o primeiro petista a apontar o dedo para Lula e acusá-lo de corrupção da grossa, mas, em todas as outras ocasiões, as denúncias haviam sido feitas no âmbito interno do PT – e lá quem manda, desde sempre, é o demiurgo de Garanhuns. Pela primeira vez, Lula está sendo acusado por um petista de alto coturno fora daquela instância de araque, que só existe para condenar os que ousam contrariar o chefão. Desta vez, o juiz não é um sabujo de Lula, e sim um magistrado com disposição para levar em conta as provas que constam nos autos. Eis por que Lula, sempre muito confiante, não consegue esconder o desconforto.

Janot tinha pressa para tirar Temer e barrar Dodge, afirma procurador

Camila Mattoso | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador da República Ângelo Goulart Villela, 36, afirma que Rodrigo Janot fez o acordo de delação com a JBS com o objetivo de derrubar o presidente Michel Temer e impedir a nomeação de Raquel Dodge para substituí-lo no comando da Procuradoria-Geral da República.

Ele contou que presenciou uma conversa em que Janot (a quem chama pelo primeiro nome, Rodrigo) afirmou: "A minha caneta pode não fazer meu sucessor, mas ainda tem tinta suficiente para que eu consiga vetar um nome". "Ele tinha pressa e precisava derrubar o presidente", diz. "O Rodrigo tinha certeza que derrubaria", afirma.

Villela concedeu à Folha no sábado (16) sua primeira entrevista após deixar a prisão, no dia 1º de agosto, onde ficou por 76 dias sob suspeita de vazar à JBS informações do Ministério Público. "A desonra dói muito mais que o cárcere", disse.

Alvo da Operação Patmos, de 18 de maio, ele foi denunciado por corrupção passiva, violação de sigilo funcional e obstrução de Justiça.

Em sua delação, Joesley Batista, da JBS, disse que Villela teria recebido uma "ajuda de custo" de R$ 50 mil por mês para vazar informações. Depois, porém, afirmou não saber se o dinheiro chegava ao procurador.

O advogado Willer Tomaz seria o intermediário. A Polícia Federal monitorou em maio um encontro de ambos com Francisco Assis e Silva, advogado e delator da empresa.

Villela integrava a força-tarefa da Operação Greenfield, que investiga um suposto esquema de uso irregular de recursos de fundos de pensão.

Na entrevista, ele nega ter recebido propina e diz que se aproximou da JBS para negociar uma delação. Relata sua amizade com Janot e afirma que o ex-procurador-geral chamava Dodge de "bruxa" em conversas reservadas.

*
• Folha - Por que o sr. ficou esse tempo todo em silêncio?

Ângelo Goulart Villela - A prudência, diante de tudo que estava acontecendo comigo, o procedimento heterodoxo de apuração que eu estava sendo submetido pelo meu acusador, recomendava que ficasse quieto até que acabassem as flechas ou os bambus.

• O sr. recebeu propina da JBS?

Jamais. Nunca estive com Joesley, com Wesley, nem por telefone. Com Francisco Assis e Silva [diretor jurídico do grupo] tive dois contatos. Nunca recebi valor nem promessa de vantagem. O meu interesse era de liderar um acordo da maior empresa que a gente estava investigando. Os dividendos que receberia seriam profissionais, de reconhecimento.

Raquel assume com promessa de "discrição"

Por Claudia Safatle | Valor Econômico

BRASÍLIA - Ao assumir hoje o comando da Procuradoria Geral da República, Raquel Dodge vai imprimir um novo modelo de gestão focado na discrição e no equilíbrio das funções do Ministério Público.

O organograma da PGR, com a criação de quatro secretarias, dá a dimensão da mudança que Dodge pretende fazer após as mais recentes administrações, até aqui muito envolvidas no combate à corrupção. Na estrutura do gabinete da procuradora serão agregadas duas secretarias de Função Penal Originária do STF (Supremo Tribunal Federal), que abrigará o grupo da Lava Jato, e do STJ (Superior Tribunal de Justiça), além das secretarias de Direitos Humanos e Defesa Coletiva, para tratar das minorias, e a de Função Constitucional.

Isso não significa, segundo assessores, que a PGR agora estará menos centrada no combate à corrupção. Esta também estaria sendo reforçada com a escolha de nomes de maior experiência, argumentam.

Cenário na CCJ é mais favorável a Temer do que na primeira denúncia

Por Raphael Di Cunto e Marcelo Ribeiro |

BRASÍLIA - Com um cenário diferente daquele enfrentado na análise da primeira denúncia, o governo deve se deparar com menos dificuldades para se desvencilhar da segunda denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o presidente Michel Temer na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados.

Se na primeira denúncia Temer e seus aliados foram pegos de surpresa com o número de integrantes que defenderam o recebimento da acusação na CCJ, o que obrigou os partidos aliados do pemedebista a trocarem mais de duas dezenas de deputados da comissão para evitar uma derrota, desta vez o colegiado já está com a composição armada para sustar a denúncia. A formação é hoje praticamente a mesma daquela vez, quando Temer venceu por 40 a 25 na comissão.

Após a análise do primeiro pedido de investigação ocorreram apenas três trocas para devolver os antigos representantes de PSD, PR e PMDB à CCJ, e que saíram justamente porque não garantiram o voto a favor do governo. Esses partidos, contudo, estão dispostos a reverter as alterações, se isso for necessário, para ajudar o presidente. Embora seja uma nova acusação, o que deve levar a uma nova avaliação dos deputados, a percepção geral na Câmara é que não houve conteúdo novo e que grande parte da peça já era conhecida. Com isso, o governo não deve passar por momentos de sufoco como aconteceu na votação anterior.

PSD lança Meirelles para negociar aliança com PSDB

Por Raymundo Costa | Valor Econômico

BRASÍLIA - A um ano da eleição presidencial de 2018, o jogo sucessório começou abafado pelo ruído dos escândalos na política. Mas um barulho chamou atenção na última semana, por se tratar do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, cujo nome foi lançado à Presidência da República pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab. Meirelles é filiado ao PSD, mas negou ser candidato, como convém a todo político que esteja de olho na principal cadeira do Palácio do Planalto.

Meirelles já foi cogitado em outras ocasiões para a Presidência ou vice, inclusive de governos do PT. O que Kassab fez foi jogar o nome do ministro da Fazenda no jogo sucessório, o que permitirá que seu nome possa ser testado pelas pesquisas de opinião, e ao mesmo tempo abriu uma porta para a possibilidade de Meirelles reforçar a chapa de um candidato jovem e inexperiente. O alvo é claro: o prefeito de São Paulo, João Doria, que pode ser o candidato a presidente do PSDB. Kassab acredita que uma candidatura Doria vai exigir um nome sênior como parceiro - e ninguém melhor na praça que Meirelles, presidente do Banco Central nos dois mandatos de Lula e atual ministro da Fazenda.

Outros movimentos foram registrados na semana, mas a chave da sucessão presidencial é Luiz Inácio Lula da Silva, talvez o presidente (2003-2011) mais popular que o país já teve. Emparedado por cinco denúncias e uma condenação da Justiça Federal, a candidatura de Lula corre riscos, sobretudo se a condenação for mantida em segunda instância, pois neste caso será enquadrado na lei da ficha limpa, tornando-se inelegível.

O que abalou os alicerces da candidatura Lula foi o depoimento de seu ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda). O ex-ministro incriminou Lula no esquema de corrupção da Petrobras, disse que ele autorizou que dinheiro da compra de sondas pela Petrobras fosse usada na campanha de Dilma Rousseff em 2010 e de quebra confirmou que era para o Instituto Lula um terreno da construtora Odebrecht. Como Palocci era um "de dentro", integrante do chamado núcleo duro dos governos do PT, a pressão sobre Lula foi às alturas.

Poemeto do “que” | Graziela Melo

Tantas vidas
se passaram
tantas águas
desabaram...

Barcos que
navegaram e
naufragaram!!!

Sonhos
que engendrei
se esfumaram

e os ressonhei!

Por quantas ruas
vaguei!
nos bares por onde
andei

botecos
aonde entrei
te busquei!!!

Esquinas
onde espreitei
teus olhos
nunca encontrei

sempre que
os procurei!!

Mas nunca
os esquecerei!!!

Jorge Aragão - Falsa consideração

domingo, 17 de setembro de 2017

Opinião do dia - John Locke

Se o homem é tão livre no estado de natureza como se tem dito, se ele é o senhor absoluto de sua própria pessoa e de seus bens, igual aos maiores e súdito de ninguém, por que renunciaria a sua liberdade, a este império, para sujeitar-se à dominação e ao controle de qualquer outro poder? A resposta é evidente: ainda que no estado de natureza ele tenha tantos direitos, o gozo deles é muito precário e constantemente exposto às invasões de outros. Todos são tão reis quanto ele, todos são iguais, mas a maior parte não respeita estritamente, nem a igualdade nem a justiça, o que torna o gozo da propriedade que ele possui neste estado muito perigoso e muito inseguro.

---------------------
John Locke (1632-1704) foi um filósofo inglês e ideólogo do liberalismo, “Segundo Tratado Sobre o Governo”, Editora Martin Claret, 2002.

O terceiro fantasma | *Luiz Sérgio Henriques

- O Estado de S.Paulo

A falta de protagonismo de uma esquerda forte e responsável pode se arrastar por vários anos

Espectros e assombrações, de acordo com sua natureza evanescente, costumam rondar cenários de terra devastada, como é o caso da política brasileira, trazendo presságios e reminiscências mais ou menos distantes e, no entanto, úteis para nossa ponderação. De fato, a devastação é grande demais: líderes e partidos, de governo ou da oposição, parecem dissolver-se no ar, arruinados por denúncias às vezes imprevistas ou transformados em alvo de acusações que os tratam, respectivamente, como delinquentes ou “organizações criminosas” imprestáveis para o funcionamento de uma democracia normal.

Tendo em vista as prosaicas malas abarrotadas de dinheiro ou os sofisticados softwares de propina, não se pode dizer que se trata de calúnias saídas do nada. Mas o fato é que, ao lado do aspecto investigativo-judicial, é preciso voltar os olhos para toda a imensa crise de representação que assim se estabelece, dando ouvidos à assombração italiana dos anos 90 do século passado e à argentina da virada de século. A evolução política daqueles dois países é o que nos interessa de perto; judicialmente, respeitado o processo legal, que os mortos enterrem os mortos. De todo modo, não haverá muito a fazer se e quando condenados, sejam eles quem forem e seja qual for a narrativa persecutória que preferirem.

Haia 110 anos |*Celso Lafer

– O Estado de S. Paulo

A conferência de 1907 é um antecedente importante das posições multilaterais do Brasil

Há 110 anos ocorria a 2.ª Conferência de Paz de Haia. Ela foi significativa e teve desdobramentos importantes. Cabe lembrá-los hoje, na medida em que o analista contemporâneo reflete sobre a experiência histórica, levando em conta, à luz das inquietações do presente, a dimensão civilizatória do Direito das Gentes.

A conferência de 1907, da qual o Brasil participou ativamente, tendo Ruy Barbosa como chefe da delegação, foi o primeiro grande ensaio da diplomacia multilateral no século 20. Representou o momento inaugural da presença brasileira nos grandes foros internacionais. Um dos seus desdobramentos para a política externa brasileira foi a constante importância que passou a ser atribuída ao multilateralismo como um dos caminhos da inserção internacional do País.

As duas conferências de Haia, a de 1898 – da qual o Brasil, embora convidado, não participou – e a de 1907, tiveram um caráter inovador no campo das relações internacionais. Foram conferências multilaterais que não lidaram com a organização da ordem internacional de um pós-guerra.

Igualdade, pobreza e moral | Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Estudo de Marc Morgan, do World Wealth and Income Database, instituto de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, mostra que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. Isso joga um pouco de água na propaganda petista, mas não significa que, sob Lula, o país não tenha enriquecido, melhorando também a situação dos pobres.

O resultado não me surpreende. Reduzir a desigualdade parece ser mais difícil do que se presumia. O próprio best-seller de Piketty, "O Capital no Século 21", traz pistas empíricas disso, embora o economista defenda que, com os mecanismos tributários adequados, dê para avançar.

A festa que merecemos | Cacá Diegues

- O Globo

Em meu livro “Vida de cinema”, publicado em 2014 pela Editora Objetiva, começo um de seus capítulos dizendo o seguinte. “O Brasil saía de longa ditadura para a esperança de um horizonte democrático. No primeiro Rock in Rio, realizado na Barra da Tijuca em janeiro de 1985, reunindo mais de 100 mil pessoas durante uma semana para ouvir grandes estrelas internacionais do rock, as bandas brasileiras empunhavam bandeiras nacionais, coisa que se tornara malvista, desde que os militares haviam imposto rituais patrióticos nas escolas do país.

Ninguém se importava com a lama que as chuvas de verão deixavam no terreno preparado às pressas para o evento. Muito menos com o cheiro de urina provocado pela cerveja, pelos banheiros precários ou pelos espectadores que desabafavam por ali mesmo, no chão de terra. Depois de tanto samba de protesto e tantos filmes cívicos de resistência, a festa inaugural da democracia brasileira seria um show de rock’n’roll”.

Vou me lembrar sempre do Rock in Rio de 1985 como aquela “festa inaugural”, um projeto de introdução ao que esperávamos que se tornassem os anos que haveriam de logo vir.

Em vez disso, vivemos período tenebroso de superinflação e moratória da dívida externa, de farsas cívicas que foram coroadas com a eleição de Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente a suceder aos ditadores militares, eleito pelo voto universal e direto, sob as bênçãos da nova Constituição democrática e “cidadã”. Dois anos depois, o presidente eleito pela maioria do povo brasileiro seria apeado do poder, condenado ao impeachment pela corrupção generalizada dele e de seus pares.

Primavera, quem diria | Fernando Gabeira

- O Globo

Nas circunstâncias nacionais, parece uma heresia lembrar que está chegando a primavera. Mas, além de boa notícia, é algo de que estou seguro. Algo que posso anunciar nas segundas-feiras, quando tento prever os fatos da semana, num programa de rádio. Em nosso processo histórico tão imprevisível, a constância das estações do ano é um bálsamo.

Claro que poderia melhorar as previsões. Garotinho já foi preso três vezes. Dava para prever a época em que seria preso de novo. Mas, se contasse com a prisão de Garotinho, o imprevisível, o realismo fantástico me surpreenderia. Garotinho foi preso apresentando um programa de rádio. O locutor que LHE sucedeu naquele momento disse que Garotinho tinha perdido a voz. Os médicos recomendaram silêncio. Ele poderia voltar amanhã ou daqui a alguns dias.

A prisão de Garotinho foi a única que teve uma versão para as crianças. No plano mais amplo, tempestades se formam e, pela primeira vez, pressenti um quadro mais completo. Com as gravações de Joesley Batista e documentos de uma advogada da JBS, entregues por seu ex-marido, a empresa insinua relações promíscuas com o Poder Judiciário.

Aliás, o próprio Joesley já tinha definido a situação ao afirmar, num dos áudios, que o Congresso foi atingido pela delação da Odebrecht e a ele cabia denunciar Temer e o STF. Os dados que havia num dos áudios, no qual se gravou o ex-ministro José Eduardo Cardozo, eram tão problemáticos que o procurador Marcello Miller previa até cadeia para quem os mencionasse. Mas a gravação não foi destruída, e sim enviada para o exterior. Sinal de que Joesley ainda conta com ela no seu poder de barganha.

Quando a máfia briga | Vera Magalhães

- O Estado de S.Paulo

Antonio Palocci era o elo que levava o dinheiro das empreiteiras a Lula

Nos filmes de máfia sempre existe aquele momento de tensão em que um lugar-tenente ou alguém menos expressivo na hierarquia começa a dar sinais de que vai roer a corda e ajudar os investigadores ou se bandear para o grupo rival. Na ficção, esse conflito geralmente acaba em morte, mas às vezes resulta na implosão da organização.

No enredo de gângsteres que a Lava Jato revela ao Brasil em temporadas cada vez mais eletrizantes, por ora não se teve ainda – o que é até de certa forma surpreendente, dada a profundidade e a extensão das revelações – casos de queima de arquivo, ou mesmo tentativas de. Mas a implosão das organizações criminosas pelo “pio” de suas figuras proeminentes tem sido e tende a ser o grande complicador para os capos políticos.

Agora questionada pela razão, mais ou menos óbvia, de que não produziu provas materiais, a delação de Delcídio do Amaral foi a primeira nessa categoria de colaborações. Ex-presidente da CPI dos Correios, ex-líder do governo Dilma Rousseff, frequentador assíduo do Instituto Lula e interface do PT com a Petrobrás por décadas, Delcídio sempre foi um insider.

Sob as barbas do PT | Bernardo Mello Franco

- Folha de S. Paulo

A segunda denúncia contra Michel Temer não deveria despertar tanto entusiasmo no PT. A acusação fragiliza o presidente, mas deixa claro que o "quadrilhão" do PMDB da Câmara deve parte de seus lucros aos governos Lula e Dilma.

O procurador Rodrigo Janot fez um breve histórico da aliança. Ela começa em 2006, quando o petismo teve que recompor sua base no Congresso depois da crise do mensalão.

O PMDB do Senado, comandado por Renan e Sarney, já era lulista desde criancinha. Faltava a ala da Câmara, que esperou o presidente se reeleger para negociar a adesão.

Os jornais da época registraram a euforia de Temer e seus amigos denunciados pela Lava Jato. "União assim, só para apoiar o Tancredo contra a ditadura militar", celebrou o então deputado Henrique Eduardo Alves, hoje preso em Natal.

Corrida maluca | Merval Pereira

- O Globo

A provável barração na Justiça eleitoral da candidatura presidencial do ex-presidente Lula devido à Lei da Ficha Limpa, caso venha a ser confirmada sua condenação no Tribunal Regional Federal da 4ª Região, está alterando a corrida presidencial na quantidade de potenciais candidatos e no alinhamento ideológico.

Ciro Gomes, o candidato escolhido pelo PDT, já abriu mão de um acordo com o PT e, sobretudo, do apoio de Lula, a quem vem criticando cada vez com mais desembaraço. As acusações de Antonio Palocci a Lula, que deverão se transformar em uma delação premiada com mais detalhes e, sobretudo, provas, acabaram com as esperanças da esquerda de ter Lula como candidato.

Já não é mais segredo que o PT, confirmada a inviabilidade de Lula, deve lançar o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad ou o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, como maneira de não virar um partido do segunda linha, apoiando candidato alheio do grupo da esquerda, cujo preferido já foi Ciro Gomes.

Mas o PT já não é uma aliança bem vista em parte da esquerda, e Lula, a cada revelação, perde a força de seu apoio, o que está levando Ciro Gomes a esconjurá-lo publicamente. Sem Lula na disputa, a corrida ficará aberta a todo tipo de candidato, enfraquecendo apenas um, o prefeito de São Paulo, João Doria, que se organizou desde o início de seu projeto para ser conhecido pelo eleitorado como o antiLula, embora ainda lhe reste uma identificação de gestor não político, que tem boa acolhida em parte do público que busca o novo pelo novo.

O divisor de águas | Luiz Carlos Azedo

- Correio Braziliense

É ingenuidade acreditar que a crise ética não será o divisor de águas das eleições de 2018, somente os enrolados na Operação Lava-Jato apostam nisso piamente

Há uma corrida contra o tempo na política brasileira entre aqueles que fazem parte do atual sistema de poder, cujo vértice é ocupado pelo presidente Michel Temer; e os que pretendem constituir uma outra alternativa em 2018. No primeiro caso, a força principal é o PMDB, núcleo de uma grande aliança que sofre forte desgastes por causa da Operação Lava-Jato. No segundo, podemos identificar Jair Bolsonaro (PRB-RJ), à direita; o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), à esquerda; e um enorme espaço vazio entre esses dois, aberto pela crise do PSDB, na qual se digladiam o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o prefeito da capital, João Doria. Os senadores Aécio Neves (MG) e José Serra (SP) já estão fora da disputa pela candidatura presidencial tucana por causa da Lava-Jato.

Nessa corrida, a grande aposta do governo Temer é o desempenho da economia, que emite sinais de recuperação da produção industrial, registra inflação abaixo da meta e uma significativa redução da taxa de juros. A cada alta nas ações da bolsa e novos indicadores positivos, governistas batem o bumbo. E alardeiam que a recessão ficou para trás, o que é verdade, e a retomada vigorosa do crescimento econômico já está garantida, o que é um certo exagero, porque ela ainda é muito baixa: projeta-se 0,6% do PIB neste ano, segundo o último boletim Focus, do Banco Central. Nessa perspectiva, fala-se em uma taxa de crescimento de 3% no ano da eleição, o que daria ao presidente Temer cacife para concorrer à reeleição ou fazer o seu sucessor no pleito de 2018.

Joesley tenta enganar | Míriam Leitão

- O Globo

O empresário Joesley Batista ainda não entendeu o que fez de errado e o que o levou à prisão. Ele disse na sexta-feira que está preso porque delatou o poder. Joesley está preso por corrupção, por ter comprado políticos para usufruir de vantagens. Se não confessasse, quando o fez, seria preso de qualquer maneira porque estava sendo investigado em cinco operações.

Além disso, ele teve ganhos indevidos até com a delação, o que levou seu irmão Wesley à prisão. Só se explica isso por alguma compulsão de querer levar vantagem em tudo, inclusive na tormenta em que o país entrou após a sua delação. Eles sabiam que o dólar subiria e que as ações iriam cair. E fizeram suas apostas no cassino em que sempre estiveram acostumados a jogar. O Ministério Público e a Polícia Federal calculam que eles ganharam US$ 100 milhões com as operações. Para eles, isso é ninharia, mas está cobrando um alto preço.

Joesley dizia que a hipótese de sua prisão ou do seu irmão iria ser uma tragédia para a empresa, porque sem eles não seria possível administrar a companhia. O mercado financeiro reagiu com alta nas ações quando eles foram presos, derrubando a ideia de serem insubstituíveis.

Consolida-se a recuperação | José Roberto Mendonça de Barros

- O Estado de S. Paulo

A continuidade do crescimento dependerá muito da eleição de 2018

Escrevi recentemente (20/8) que a economia brasileira teima em melhorar. Uma bateria de dados recentes sugere que isso está acontecendo rapidamente. De fato, o IBC-Br, indicador conhecido como a prévia do Banco Central para o PIB, cresceu 0,41% em julho, além de uma revisão para mais do índice estimado em junho. Com isso, o terceiro trimestre do ano se inicia com arrasto positivo de 0,70%, que se soma a resultados positivos em outras áreas relevantes.

Como calculou Fernando Montero, as vendas do comércio restrito mostram um “carry-over” de 0,9%; as vendas do comércio ampliado, 1,7%; e da produção industrial, 1,4%. Tudo isso é consistente com a projeção da MB de 0,1% do PIB no terceiro trimestre em relação ao segundo e de 0,4% no quarto trimestre em relação ao terceiro.

Com isso, o ano corrente fecharia com uma expansão de 0,7%. Projetamos para 2018 um robusto crescimento de 3% do PIB. Se, no primeiro semestre deste ano agricultura, mineração, petróleo e exportações foram os destaques no crescimento, tanto na ótica da produção como da demanda, veremos doravante que a expansão do consumo será a variável-chave na explicação do crescimento projetado.

República de bananas | Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

Liderados pelos militares ou pela esquerda, continuamos a ter visão ufanista errada do desenvolvimento

República de bananas, para mim, sempre representou países com péssima institucionalidade. Dia sim e dia também, algum general -em geral de direita, mas às vezes de esquerda, com um bigodão, às vezes uma barba bem cultivada- tomava o poder em meio a um golpe militar.

A república de bananas se caracteriza pelas instituições frágeis.

Para boa parcela dos economistas brasileiros, o que caracteriza as repúblicas de bananas são as bananas, ou melhor, a exportação de matérias-primas.

Por esse critério, Chile, Canadá, Nova Zelândia e Austrália são repúblicas de banana.

Como em geral há relação entre desenvolvimento econômico e sofisticação tecnológica da pauta exportadora de um país -mas o que, como vimos, nem sempre é verdade-, muitos economistas brasileiros pensam que desenvolvimento econômico depende do que um país produz.

Não conhecem o trabalho espetacular do historiador Gavin Wright ("The Origins of American Industrial Success, 1879-1940", "The American Economic Review", 1990), que documentou que a pauta exportadora da economia americana até os anos 1920 era essencialmente de commodities. Ou seja, a economia americana era uma economia de bananas.

As campeãs nacionais da corrupção | Vinicius Torres Freire

- Folha de S. Paulo

Os irmãos Batista e sua JBS foram uma grande novidade no mundo das maiores empresas brasileiras deste século, um time em que mudam mais as camisas do que os jogadores. Apesar do histórico muito mais longo e notório, a Odebrecht também fez carreira rápida.

Cresceram de modo acelerado porque eram corruptas ou eram corruptas porque cresceram de modo acelerado? Difícil responder, mas há elementos para especulações razoáveis.

No começo do século, a JBS/Friboi chegava ao grupo das 400 maiores. Em meados da década de 2000, subia para a primeira divisão, o grupo das 50 maiores.

Em 2014, superou a Vale, tornando-se a segunda maior companhia, em receita líquida. A Odebrecht passou da rabeira da primeira divisão para o sétimo lugar em cerca de uma década.

Embora não seja fácil imaginar crimes que superem os feitos de JBS e Odebrecht, quantas empresas da primeira divisão teriam restos a pagar nos tribunais?

O STF escaldado – Editorial | O Estado de S. Paulo

Sempre que se falava da possibilidade de uma segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, Rodrigo Janot dava a entender que trabalhava intensamente sobre as investigações relativas ao presidente da República e, caso apresentasse uma nova acusação, ela seria muito robusta, numa espécie de coroamento do final de seu mandato como procurador-geral da República. Seria seu grand finale. Mas a peça acusatória apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF) na quinta-feira passada não acrescenta qualquer tipo de mérito ao currículo de seu autor. Tamanha é sua fragilidade que o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato na Suprema Corte, preferiu fazer um malabarismo interpretativo para não ter de enviar, monocraticamente, a peça à Câmara dos Deputados. Em decisão proferida no mesmo dia em que a denúncia foi protocolada, Edson Fachin condicionou o encaminhamento da acusação para a Câmara a uma deliberação do plenário do STF, prevista para ser adotada na próxima quarta-feira.

A princípio, o relator deveria enviar, por simples ato de ofício, a denúncia ao presidente da Câmara dos Deputados, tendo em vista que a Constituição de 1988, no art. 51, define que “compete privativamente à Câmara dos Deputados autorizar, por dois terços de seus membros, a instauração de processo contra o Presidente”.

Expectativas sobre a procuradora-geral Raquel Dodge – Editorial | O Globo

A crise contaminou de aspectos políticos a indicação por Michel Temer, mas o perfil dela não faz prever recuo no combate à corrupção

Depois que a procuradora-geral da República indicada, Raquel Dodge, passou pela sabatina no Senado, em meados de julho, por acachapantes 74 votos a 1, Rodrigo Janot distribuiu um texto na instituição em que parabenizava a sucessora e a alertava para desafios. Destacou que grupos poderosos que se beneficiam de desvios de dinheiro público lutarão para manter privilégios e barrar o combate à corrupção.

Correto o alerta, mas é certo que a sucessora de Janot conhece a estrada que percorrerá. Respeitada no MP, também qualificada, com curso de extensão em Harvard, desde 1987 no MP, Raquel passou por experiências profissionais que a credenciam à luta contra o roubo do dinheiro público. Atuante em áreas dos direitos humanos em sentido amplo (indígenas, escravidão), Dodge, em 2009, coordenou a Operação Pandora, que gerou cenas inesquecíveis em que políticos de Brasília recebiam maços de dinheiro vivo, como sempre sem escrúpulos. Entre eles, o governador, José Roberto Arruda, trancafiado a pedido de Dodge. Foi o “mensalão do DEM”.

Cronicamente desigual – Editorial | Folha de S. Paulo

Se a longa crise política e econômica fez retroceder o otimismo quanto às perspectivas do desenvolvimento brasileiro, também sofre duro golpe a crença no que se considerava uma das conquistas mais preciosas deste início de século –a redução expressiva da vergonhosa desigualdade social do país.

Estudos mais recentes , que ampliam o escopo dos dados analisados, põem em xeque a afirmação, particularmente cara às administrações petistas, de que a distância entre ricos e pobres encurtou no período da expansão acelerada da economia e dos programas de assistência social.

De início, é preciso esclarecer do que se está falando. Não resta dúvida de que os ganhos de todos os estratos aumentaram nos anos de bonança. Entretanto acreditava-se que a base da pirâmide social, e não o topo , havia se apropriado da maior parte da renda gerada.

Agora, há sinais convincentes de que a fatia dos mais abonados no Produto Interno Bruto é muito maior do que se calculava –e, pior, parece ter crescido.