segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Finalmente, o consenso chegou | Luiz Carlos Mendonça de Barros

- Valor Econômico

Maior crescimento trará um aumento de arrecadação do governo federal da ordem de R$ 150 bilhões anuais

A divulgação pelo Banco Central de sua estimativa para a variação do PIB no último mês de julho consolidou a certeza de que a recuperação cíclica da economia faz parte agora do metabolismo da economia brasileira. Foi um número muito forte e, mais uma vez, deixou a comunidade dos analistas sem explicações. O IBC-BR variou entre julho e junho 0,41%, contra uma média de projeções de 0,10%. Este número juntou-se a vários outros indicadores já conhecidos, aumentando a certeza de que 2018 será um ano em que a volta do crescimento chegará de forma inconteste - embora desigual - aos brasileiros depois de três anos terríveis.

A volta do crescimento e a melhora do sentimento de bem-estar econômico da sociedade são fatores importantes para que tenhamos nas eleições de 2018 a possibilidade de construir um governo responsável e que tenha condições para levar adiante uma agenda de mudanças na economia e na política. Com a economia crescendo algo perto de 4% ao ano no período das eleições, o espaço para a demagogia - à direita e à esquerda - se reduz muito. Por outro, fortalece os candidatos - sejam eles quais forem - que se apresentarão com a agenda de continuidade de uma política econômica correta e da busca de reformas estruturais.

Neste sentido, usando a imagem muito feliz do ex-presidente FHC, a verdadeira pinguela para dias melhores foi a recuperação cíclica que estamos vivendo. O governo Temer, apesar dos gravíssimos problemas políticos que está vivendo, foi fundamental para a construção desta pinguela por ter dado força e liberdade à equipe econômica liderada por Henrique Meirelles. O novo governo a ser eleito em 2018 vai herdar uma situação macroeconômica invejável e que permitirá uma ação de mais longo prazo. Vejamos os principais indicadores ao iniciar-se o novo governo:

Contas externas em situação de grande equilíbrio, com saldos comerciais expressivos e um déficit insignificante na conta corrente;

• Como resultado desta situação, teremos uma avaliação muito positiva em relação ao risco país, apesar das notas ainda bem baixas das agências de risco; mas, todos nós sabemos que as agências de risco estão quase sempre defasadas - para mais e para menos - em relação à avaliação dos investidores;

• Com esta situação externa favorável, a taxa de câmbio ficará ancorada e os riscos de uma desvalorização cambial de maior porte muito difícil de ocorrer;

• Pelo contrário, caso as primeiras pesquisas eleitorais reflitam uma possibilidade de vitória de um candidato com uma plataforma pró-mercado, o movimento do real será de valorização em função da situação da conta corrente e da maciça entrada de capitais de investimento externo que deverá se seguir pós eleições;

• No campo da inflação, com a existência ainda de um hiato do produto e redução dos mecanismos de indexação, também teremos um período inicial do novo governo com muita tranquilidade;

• Além disto, nesta situação, o Banco Central terá todas as condições de agir com sucesso, caso qualquer distúrbio maior ocorra;

• O mercado de trabalho estará também bastante favorável, com os níveis ainda altos de desemprego agindo como um inibidor para movimentos de elevação dos salários acima dos índices de produtividade.

Mesmo a questão central de nosso desequilíbrio macroeconômico - as contas públicas - deverá refletir algum alívio com o aumento da arrecadação de impostos em função da maior atividade econômica. Avaliações de hoje nos permitem falar em um aumento da arrecadação no governo federal de algo como R$ 150 bilhões anuais.

Encerrando, o acompanhamento, por várias décadas, da economia brasileira me ensinou que uma de suas características mais marcantes é a extrema dependência do estágio do ciclo econômico a cada momento da história. São várias as razões para esta dependência, como o caráter ciclotímico de nossos agentes econômicos, sempre variando do excesso de confiança no futuro e depressão nos momentos de crise. Por isto o risco do populismo é tão grande, como ocorreu no segundo mandato de Lula e no período Dilma.

Este comportamento é magnificado pelo fato de, como não temos poupança interna, termos uma dependência muito forte da entrada de capitais externos para equilibrar nossas contas cambiais. Desta forma, os movimentos de euforia e depressão afetam fortemente a taxa de câmbio e acabam por aumentar a intensidade dos ciclos de expansão e crise.

Neste sentido, o fato de um novo governo assumir o poder na fase de contração do ciclo econômico, com a crise mais aguda já controlada, é uma marca fundamental para o seu sucesso. Isto ocorreu no primeiro mandato do presidente Lula e sabemos os resultados positivos que desta situação particular decorreram. Certamente poderemos repetir esta situação favorável em 2019.

Outro fator que me torna otimista para o futuro é que a agenda de reformas estruturais, que serão necessárias para transformar a recuperação cíclica de hoje em um movimento mais perene, é hoje conhecida da opinião pública. Nos últimos anos de crise este debate foi muito rico no Brasil e a grande maioria das reformas tem hoje um maior conhecimento de todos.
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Luiz Carlos Mendonça de Barros, engenheiro e economista, é presidente do Conselho da Foton Brasil. Foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.

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