Folha de S. Paulo
Quarenta anos depois do fim da ditadura de
1965-1985, oficiais-generais golpistas são punidos
O 11
de setembro de 2025 foi uma "vitória da democracia", como
antigamente se lia em títulos gritantes dos jornais, até porque a democracia
precisava de vitórias gritadas para nos dar um pouco mais de segurança de que
sobreviveria. "Antigamente": nos anos 1990.
Além do mais, como diz o clichê, "a luta continua". Antes de pensar nas próximas ameaças, porém, é preciso ressaltar aspecto menos considerado do julgamento dos golpistas. Foram condenados quatro oficiais-generais de quatro estrelas, topo da carreira. Outros militares irão para a cadeia.
Além do capitão das trevas Jair
Bolsonaro, foram condenados o almirante-de-esquadra Almir
Garnier e os generais de Exército Braga
Netto, Paulo
Sérgio Nogueira e Augusto
Heleno. Quarenta anos depois do fim da ditadura de 1964-1985,
oficiais-generais devem ir para a cadeia por tentativa de golpe. É preciso
lembrar desse passado sempre vivo da história do país.
Não é possível dizer que a condenação de
militares e civis responsáveis por 21 anos de opressão política e social teria
sido vacina forte contra o golpismo, que ainda nos dias de hoje parece doença
crônica, não ataque viral aleatório.
Mas teria sido pelo menos tentativa de
prevenção, contragolpe imunizante, de educação para a democracia ou de evitar
que ainda na Constituição de 1988 houvesse fresta para animar golpe militar.
A condenação dos generais ainda é tentativa,
tardia, de encerrar uma história de golpes comandados por militares ou por
civis secundados por militares.
Um otimista poderia dizer que Bolsonaro não
se tornou ditador porque a maioria do Alto Comando do Exército
"votou" contra; porque o general de Exército e comandante Freire
Gomes e o tenente-brigadeiro e comandante Baptista Júnior disseram não a
Bolsonaro e a seus esbirros. Foi por um fio, na verdade.
Ainda no começo de Lula 3, o Exército
indicava o tenente-coronel Mauro Cid para chefiar o Batalhão de Ações e
Comandos, uma unidade perigosa, e seguir caminho para o generalato.
Fora "aluno brilhante" de academias
militares. Pois é. Cid e colegas estudaram como a Constituição permitiria
"intervenção militar" (golpe) na escola de pós-graduação do Exército.
É uma das ideias centrais do bolsonarismo puro.
A partir de 1945, quando começa algo parecido
com uma democracia no Brasil, a violência militar contra as instituições foi
recorrente. A ditadura de Getúlio Vargas caiu com um golpe, comandado por
alguns generais com simpatias nazistas. Houve golpes ou tentativas em 1954,
1955, 1956, 1961, 1964; golpes dentro do golpe em 1968, 1969 e 1977.
Em 1985, Tancredo Neves foi internado horas
antes de tomar posse como presidente. Naquela madrugada, perguntávamos se teria
havido ou haveria golpe.
Outra vez o otimista poderá dizer que, no
primeiro quarto do século 21, agora somos capazes de evitar o cancelamento da
democracia e, de quebra, mandamos para a cadeia candidatos a tiranos e
generais. Mas tivemos de fazê-lo.
Agravante, parcela crescente da população é
indiferente ao destino da democracia. Outra parte é adepta da destruição,
liderada por Bolsonaro, filhote da ditadura, defensor da tortura, de genocídio.
Entre um terço e dois quintos do Congresso, no mínimo, poderiam votar pela
anistia de Bolsonaro e comparsas.
Governadores de direita dos maiores estados do
país também, assim como parte do empresariado e de elites profissionais.
A "luta continua". Sem anistia.
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