- Folha de S. Paulo
Estudo de Marc Morgan, do World Wealth and Income Database, instituto de pesquisa codirigido pelo economista Thomas Piketty, mostra que a desigualdade de renda no Brasil não caiu entre 2001 e 2015. Isso joga um pouco de água na propaganda petista, mas não significa que, sob Lula, o país não tenha enriquecido, melhorando também a situação dos pobres.
O resultado não me surpreende. Reduzir a desigualdade parece ser mais difícil do que se presumia. O próprio best-seller de Piketty, "O Capital no Século 21", traz pistas empíricas disso, embora o economista defenda que, com os mecanismos tributários adequados, dê para avançar.
Outros autores são mais pessimistas. Walter Scheidel ("The Great Leveler") sustenta que a desigualdade só cai de forma notável diante de grandes catástrofes sociais como epidemias e guerras. Gregory Clark ("The Son Also Rises") analisou a repetição de sobrenomes em cargos e profissões de prestígio ao longo de vários séculos em vários países e concluiu que a própria mobilidade social é um fenômeno mais raro do que gostaríamos de acreditar.
Onde isso nos deixa? Penso que se põe ênfase demais no combate à desigualdade econômica. Até existem razões pragmáticas para que se tente reduzir a discrepância de renda e não só a miséria. Sociedades menos desiguais tendem a ser menos violentas e mais coesas. Mas o fato é que é possível reduzir a pobreza mesmo sem alterar a concentração de renda.
O filósofo Harry Frankfurt ("On Inequality") defende que é só a eliminação da pobreza que representa um desafio moral para a sociedade. Não é difícil demonstrá-lo. Bill Gates é milhares de vezes mais rico do que eu. Mas, como não passo grandes privações por falta de dinheiro, esse desequilíbrio não encerra nenhuma injustiça a cobrar reparação. Desconfio que a população percebe isso, ou a administração Lula não teria feito o sucesso que fez.
Nenhum comentário:
Postar um comentário