Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - A um ano da eleição presidencial de 2018, o jogo sucessório começou abafado pelo ruído dos escândalos na política. Mas um barulho chamou atenção na última semana, por se tratar do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, cujo nome foi lançado à Presidência da República pelo presidente do PSD, Gilberto Kassab. Meirelles é filiado ao PSD, mas negou ser candidato, como convém a todo político que esteja de olho na principal cadeira do Palácio do Planalto.
Meirelles já foi cogitado em outras ocasiões para a Presidência ou vice, inclusive de governos do PT. O que Kassab fez foi jogar o nome do ministro da Fazenda no jogo sucessório, o que permitirá que seu nome possa ser testado pelas pesquisas de opinião, e ao mesmo tempo abriu uma porta para a possibilidade de Meirelles reforçar a chapa de um candidato jovem e inexperiente. O alvo é claro: o prefeito de São Paulo, João Doria, que pode ser o candidato a presidente do PSDB. Kassab acredita que uma candidatura Doria vai exigir um nome sênior como parceiro - e ninguém melhor na praça que Meirelles, presidente do Banco Central nos dois mandatos de Lula e atual ministro da Fazenda.
Outros movimentos foram registrados na semana, mas a chave da sucessão presidencial é Luiz Inácio Lula da Silva, talvez o presidente (2003-2011) mais popular que o país já teve. Emparedado por cinco denúncias e uma condenação da Justiça Federal, a candidatura de Lula corre riscos, sobretudo se a condenação for mantida em segunda instância, pois neste caso será enquadrado na lei da ficha limpa, tornando-se inelegível.
O que abalou os alicerces da candidatura Lula foi o depoimento de seu ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda). O ex-ministro incriminou Lula no esquema de corrupção da Petrobras, disse que ele autorizou que dinheiro da compra de sondas pela Petrobras fosse usada na campanha de Dilma Rousseff em 2010 e de quebra confirmou que era para o Instituto Lula um terreno da construtora Odebrecht. Como Palocci era um "de dentro", integrante do chamado núcleo duro dos governos do PT, a pressão sobre Lula foi às alturas.
Mas Lula não é de desistir facilmente e prefere escrever o seu próprio enredo. E não está sozinho. Ele tem a seu lado a nova Executiva Nacional do PT, presidido pela senadora Gleisi Hoffmann (PR), escolhida a dedo. A estratégia do ex-presidente é diferente e nem sempre assimilada pelos que o cercam e querem uma definição já para dezembro, a fim de dar tempo para o partido colocar e trabalhar uma nova candidatura.
Em resumo, a estratégia de Lula é a seguinte: o PT não tem e nem pode ter um Plano B. Não é que no final de junho, época das convenções e data provável da primeira sentença em segunda instância, vá ser muito tarde para criar um candidato. O problema é que esse calendário é imprevisível. Ninguém sabe o que vai acontecer. Nem do lado do PT nem do lado dos adversários, a direita, como se diz no partido.
Não sendo um processo eleitoral previsível com um calendário previsível, Lula prevê que o percurso deve ser acidentado, sujeito a mudanças, a "golpes" e ao aprofundamento da crise fiscal. Há muita chuva e trovoada no caminho até a eleição. Nesse contexto, o que Lula pretende? Se expor o máximo possível, por entender que quanto mais se expõe a identificação dele com o povo, principalmente o povo mais pobre, deixa menos espaço - não é que vá impedir - para o "golpe" contra ele, que pode ser o impedimento de sua candidatura ou até a adoção do semiparlamentarismo.
De qualquer forma, o campo político de Lula, pela primeira vez, criou um fato político positivo, a Caravana que percorreu o Nordeste e deve depois seguir para o Sul e o Norte do país. A Caravana tirou o ex-presidente exclusivamente da página de polícia dos jornais. E essa é a estratégia que petistas avaliam que já incomoda os adversários, tanto que na sequência das Caravanas o Ministério Público entrou com novas denúncias contra o ex-presidente.
O limite de Lula provavelmente será o limite dos adversários. No campo oposto à esquerda, os partidos se movimentam para aumentar seu cacife na mesa das negociações da sucessão presidencial.
Se o candidato do PSDB for Geraldo Alckmin, como tudo indica no momento, a lógica de Kassab diz que o figurino do vice deve ser o de um nome júnior vindo do Nordeste, como o jovem prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM). O prefeito é bem avaliado na Bahia, poderia disputar o governo do Estado, mas o governador Rui Costa (PT) também é aprovado pela população baiana e forte candidato à reeleição, com o apoio de Luiz Inácio Lula da Silva, que é endeusado na Bahia.
Presidente do PSD, ministro das Comunicações, Ciência, Tecnologia e Inovação, Kassab é reconhecido como um dos políticos mais hábeis em Brasília. Suas análises e cenários políticos em geral costumam ser confirmados na prática. Em princípio, o ministro, ex-prefeito de São Paulo, está com Geraldo Alckmin. Mas como a grande maioria do PSD - e do DEM, que também tem um acordo preliminar com Alckmin - vê o avanço de João Doria como algo irresistível, ao qual o PSDB não terá como se opor.
Pode ser, muito embora Henrique Meirelles sempre tenha pensado mais alto. Ocorre que Meirelles não é propriamente um campeão de votos. Também não é do Nordeste, uma condição sempre colocada sobre a mesa quando se discute a formação da chapa. O passaporte de Meirelles para 2018 está atrelado ao futuro do governo Michel Temer, especialmente aos êxitos na economia, que começa a apresentar resultados, apesar da crise política, mas dificilmente ao ponto de ter o mesmo impacto que o Plano Real teve em 1994 na eleição de Fernando Henrique Cardoso.
No campo da esquerda, concorrente do PT, o PSB já teve três conversas com o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Ayres Britto e uma com o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa. No PDT, Ciro Gomes poderia ser uma alternativa para o PT, caso Lula não possa concorrer, mas seus ataques recentes ao ex-presidente colocaram Lula na defensiva. À primeira vista, os partidos se movem como se fossem todos apresentar candidatos no primeiro turno, como aconteceu em 1989. Mas essa não é ainda uma situação tão clara: ao contrário de 1989, que foi uma eleição solteira, a disputa presidencial de 2018 será casada com a eleição de governadores, senadores e deputados federais e estaduais - o que favorecerá as grandes legendas.
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