Presidente adota tom ameno para encerrar crise com ex-ministro e evitar que ele se volte contra o governo
Jair Bolsonaro demitiu o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, após crise que começou na quarta-feira. Para tentar amenizar o mal-estar e evitar que ele aja contra o governo, o presidente gravou vídeo em que agradece a “dedicação” e o “comprometimento” do ex-ministro. No fim da noite, porém, fonte próxima a Bebianno disse que ele estava insatisfeito porque o presidente não publicou o vídeo nas redes sociais, conforme teria sido combinado. Sobre a demissão, Bolsonaro diz que houve divergências a respeito de “questões relevantes”. Bebianno cai após embate público com Carlos Bolsonaro, que o chamou de “mentiroso”. Antes disso, seu nome foi citado em denúncias sobre esquema de desvio de dinheiro do Fundo Partidário do PSL para candidaturas laranjas. O temor é de que a crise envolvendo o ex-ministro contamine votações importantes, como a reforma da Previdência. O general da reserva Floriano Peixoto substituirá Bebianno e será o oitavo ministro militar.
Após demissão, Bolsonaro sugere trégua a Bebiano
- O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Às vésperas de enviar a proposta de reforma da Previdência ao Congresso, o presidente Jair Bolsonaro tentou ontem encerrar a grave crise que há quase uma semana abala o governo e anunciou a demissão do ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno. A queda de um de seus principais auxiliares, no entanto, está longe de representar o fim da turbulência no momento em que o Palácio do Planalto precisa fortalecer a articulação política no Congresso.
Em uma tentativa de amenizar o impasse, o presidente gravou um vídeo e combinou de postá-lo nas redes sociais, agradecendo a “dedicação e o comprometimento do senhor Bebianno”. Foi uma estratégia acertada na última hora, para evitar que o ex-auxiliar saísse “atirando”. A mensagem, porém, não havia sido publicada nas contas de Bolsonaro até a noite de ontem, o que irritou o agora ex-ministro, segundo uma fonte próxima a ele.
Como revelou o Estado, o general da reserva Floriano Peixoto substituirá Bebianno, que era até hoje o único interlocutor do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Planalto. Atual secretário executivo da pasta, Peixoto será agora o oitavo ministro militar na Esplanada.
Na mensagem divulgada para aliados, Bolsonaro usou um tom apaziguador, de trégua, para se referir ao ex-auxiliar, a quem chamou de “senhor Gustavo Bebianno”. “Comunico que desde a semana passada diferentes pontos de vista sobre questões relevantes trouxeram a necessidade de uma reavaliação”, afirmou o presidente no vídeo, sem especificar as divergências. “Avalio que pode ter havido incompreensões e questões mal entendidas de parte a parte, não sendo adequado prejulgamentos de qualquer natureza”, completou ele, ao desejar a Bebianno “sucesso em sua nova jornada”. Antes, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, disse que a exoneração do ministro ocorrera por “razões de foro íntimo.”
Ex-coordenador da campanha de Bolsonaro e responsável por levá-lo para o PSL, Bebianno caiu após um ruidoso embate público com o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente. Na semana passada, Carlos chamou o então chefe da Secretaria-Geral de “mentiroso” por ele ter dito que havia conversado três vezes com Bolsonaro. Bebianno tentava com isso negar que estivesse isolado por causa de uma crise, mas foi desmentido por Carlos e pelo próprio presidente.
O clima azedou de vez após Bolsonaro ser informado de que o ministro deixara vazar para interlocutores mensagens de áudio com conversas privadas entre os dois. Antes disso, o nome de Bebianno também havia sido citado em denúncias sobre um esquema de desvio de dinheiro do Fundo Eleitoral do PSL para patrocinar candidaturas laranjas, em 2018.