Ex-presidente americano se reuniu com vários políticos do partido que já se lançaram ou pretendem se lançar na disputa presidencial de 2020; doadores democratas também tentam decidir quais candidatos apoiar nas primárias do partido
Alexander Burns, The New York Times | O Estado de S. Paulo
WASHINGTON - Neste mês, apoiadores financeiros do ex-presidente americano Barack Obama tiveram uma série de encontros secretos com vários pré-candidatos democratas à presidência dos EUA. As reuniões foram organizadas por David Jacobson e John Phillips, embaixadores no Canadá e na Itália durante a gestão Obama.
O ex-presidente não teve nenhum papel no evento que aconteceu, no entanto, sob a sombras de sua personalidade: enquanto aspirantes à presidência como Kamala Harris, Cory Booker, Amy Klobuchar e Sherrod Brown se apresentavam, os doadores questionavam em voz alta se o ex-presidente poderia sinalizar uma preferência na disputa, segundo três pessoas ouvidas sob condição de anonimato pelo The New York Times.
David Axelrod, ex-estrategista-chefe de Obama, afirmou que o grupo não deveria esperar tal diretiva. "Eles me perguntaram sobre o endosso de Obama e eu respondi: 'não imagino que ele o fará'", explicou. Axelrod ressaltou, no entanto, que essa trata-se de sua opinião sobre a situação e não de uma declaração como porta-voz de Obama.
Ela está em sintonia, porém, com o que o líder democrata tem dito para amigos e para os próprios pré-candidatos: que ele acha que não deve envolver-se nas primárias do partido e prefere que haja uma disputa de ideias.
A ex-primeira-dama Michelle Obama também não pretende apoiar qualquer um dos candidatos democratas na disputa interna do partido, segundo uma pessoa próxima a ela. Essa posição do casal Obama valeria até mesmo para o ex-vice-presidente Jor Biden.
Apesar de Obama preferir a neutralidade nessa disputa, ele continua a ser o modelo mais convincente de sucesso a nível nacional do partido e a moldar o tipo de mentalidade e estratégia para os pré-candidatos presidenciais entre os democratas.
Ele já aconselhou mais de uma dúzia de pré-candidatos sobre o que ele acha ser preciso para derrotar o presidente Donald Trump. Durante essas conversar informais, em seu escritório na capital americana, Obama ofereceu uma combinação de conselhos de apoio e advertências sóbrias.
De acordo com sete pessoas que conversaram diretamente com ele ou foram informadas sobre o conteúdo das reuniões, Obama ainda expressa sua frustração por não ter previsto a vitória de Trump especialmente por ter lidado, durante anos, com populistas de direita.
Ele sugeriu aos candidatos evitar a retórica desanimadora e divisiva de Trump sobre a mudança econômica e a transmitir uma mensagem competitiva que pode ressoar até mesmo em áreas de tendência republicana, atraindo eleitores rurais e outras comunidades que tendem a desconfiar dos democratas.
Obama também indicou aos candidatos sua preocupação com possíveis disputas internas do partido durante as primárias e pediu que eles evitem atacar uns aos outros, especialmente em questões pessoais, o que poderia ajudar Trump. Ele também deu a entender que vê um espaço para um democrata mais moderado, dada a abundância de liberais na corrida.
As primárias democratas serão uma espécie de teste para o tipo de política de Obama e até mesmo para sua influência dentro do partido. Ele é reverenciado por muitos e suas conquistas como o Obamacare, o acordo climático de Paris e os regulamentos que ele impôs aos bancos e às empresas de carvão são considerados importantíssimos pela maioria dos liberais.
Mas o partido de Obama também se movimentou claramente para a esquerda em questões centrais de política desde que seu mandato terminou, e algumas facções desprezam a abordagem de busca de consenso que Obama adotava quando era presidente. Ou seja, a disputa pode depender, em parte, da vontade dos eleitores democratas de favorecer a melhoria gradual do legado de Obama ou a busca de mudanças políticas mais radicais.
Para alguns partidários de Obama de longa data, há uma certa ironia no fato de os democratas desejarem que ele atue como um líder partidário da velha guarda e revele seu candidato favorito.
Rufus Gifford, um dos principais arrecadadores de fundos de Obama, e que foi embaixador na Dinamarca, sugeriu que a diversidade dos candidatos democratas era uma consequência da presidência pioneira de Obama. Ele disse que o disputa aberta para 2020 é uma homenagem ao ex-presidente, mesmo que isso tenha deixado eleitores e doadores com dificuldades ao analisar suas opções.
"Você olha para o número de mulheres, a diversidade racial, a diversidade de experiências, os diferentes níveis de serviço público - acho que muito disso pode e deve ser atribuído ao legado de Barack Obama", disse Gifford.
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