Em meio à turbulência política, governo Bolsonaro começa a dar concretude a sua pauta legislativa, que tem potencial para gerar desgaste e disputa interna
Não se sabe ao certo o que fazia Gustavo Bebianno na Secretaria-Geral da Presidência. Tampouco se entende por que a inexpressiva pasta do Turismo, comandada por Marcelo Álvaro Antônio, foi preservada na reforma ministerial.
Entregaram-se os dois postos aos representantes do PSL, partido do presidente Jair Bolsonaro, no Executivo federal. Os contemplados se envolveram em uma crise de primeiro escalão das mais precoces de que se tem notícia no país.
Nem Bebianno nem Álvaro Antônio nem seus ministérios são decisivos para o sucesso deste governo. O que importa é como se pretende superar a turbulência.
A clássica receita brasiliense para tais ocasiões é o que se convencionou chamar de agenda positiva, ou seja, a criação de uma sequência de boas notícias para disputar as atenções da opinião pública. Os hábitos de comunicação do presidente, assíduo nas redes sociais, prestam-se, aliás, a tais propósitos.
Nesta segunda-feira (18), entre muitos exemplos, ele propagandeou a expectativa de investimentos de mais de R$ 3,5 bilhões com a privatização de 12 aeroportos. Nesse caso, ele se vale, possivelmente com algum exagero, das metas de um programa legado pelo antecessor, Michel Temer (MDB).
Entretanto a estratégia de divulgação de eventos favoráveis só é sustentável, obviamente, se houver o que exibir. A tarefa se afigura árdua para um governo de neófitos, que só agora chega aos 50 dias.
Resta, claro, uma ampla e ousada agenda legislativa, que agora começa a ganhar concretude. As pautas em tela, contudo, tendem a produzir mais conflitos que louvores ao Palácio do Planalto.
Para esta terça (19) está marcado o envio ao Congresso do pacote anticrime do ministro Sergio Moro, da Justiça. No dia seguinte, Paulo Guedes, da Economia, deve apresentar a nova proposta de reforma da Previdência Social.
A proximidade das datas acaba por sugerir uma disputa, intencional ou não, entre os dois maiores expoentes da Esplanada pelas atenções do Congresso e dos articuladores políticos do Executivo.
Afinal, dificilmente haverá como contemplar de modo salomônico dois projetos tão intrincados. Um deles, provavelmente, terá de ser escolhido para receber a maior fatia da energia política disponível.
O de Moro decerto tem melhor imagem pública —a despeito de equívocos como incentivar o encarceramento sem a contrapartida de flexibilizar penas para criminosos de menor periculosidade.
Ainda assim, medidas como a criminalização do caixa dois de campanha certamente despertarão antipatias no mundo político.
A lógica econômica indica que a reforma previdenciária deveria merecer a condição de prioridade absoluta nos próximos meses —o que está longe de garantir a pacificação interna do governo.
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