segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Poderá ficar pior - Almir Pazzianotto Pinto


"Se o povo é analfabeto,
só os ignorantes estarão
em termos de o governar"
Ruy Barbosa

A essência do regime democrático reside no voto. É pelo sufrágio secreto e direto, de igual valor para todos, que se concretiza a soberania popular, expressão consagrada no artigo 14 da Constituição. Em situações extremas, quando grave crise põe em xeque as instituições, fazendo-as perder credibilidade, o direito de eleger governantes acaba sucumbindo à revolução popular ou é abatido por golpe de Estado. No Brasil tivemos a Revolução de 30, que desaguou na ditadura de Getúlio Vargas, e o golpe de 64, desfechado pelas Forças Armadas.

O regime implantado em 1964 estrangulou o Estado democrático. Em janeiro de 1985, depois de 21 anos de ditadura, o candidato do governo, Paulo Maluf, foi derrotado no Colégio Eleitoral por Tancredo Neves, do PMDB, que tinha José Sarney como vice. Em 1990 o povo voltou às urnas e deu a vitória a Fernando Collor de Mello. Seguiram-se na Presidência da República, pelo voto direto, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Para as novas gerações, democracia é conquista recente, em processo de aprendizagem, circunstância que faz o País pagar caro pelo noviciado.

A Constituição de 1988 restaurou as liberdades democráticas. Não nos ensinou, porém, como exercê-las, livres da corrupção e do carreirismo. Bastam o mensalão e o horário eleitoral para ver o estágio em que nos encontramos. Em vez de mensagens consistentes, objetivas, que transpirem sinceridade, o que se assiste é a uma espécie de circo mambembe, com momentos de Escolinha do Professor Raimundo. Demagogos tentam nos convencer de que são infalíveis e aptos a operar milagres. A exigência da ficha limpa trouxe enorme progresso. Não bastará, entretanto, para impedir a presença de elevado número de despreparados, iletrados e corruptos, que usam de todos os recursos para se elegerem prefeito e vereador. É a proliferação bacteriana de tipos como Zé do gás, Chico ambulante, Mulher Pera, Denise massagista, sargento Júlio, pastor Tobias, dr. Aristóbulo, Helena da lotérica, Zuleica cartomante, à procura de bom emprego e mordomias.

A responsabilidade pela mediocridade dominante cabe a poderosos dirigentes partidários, cujo objetivo é a vitória, pouco importando o preço a pagar. Legendas são negociadas de conformidade com a lei da oferta e da procura. O malabarismo eleitoreiro é patético. Favores são trocados entre velhos inimigos, como se viu quando Lula e Fernando Haddad desembarcaram no jardim da mansão de Maluf para lhe renderem vassalagem em troca de segundos na televisão. A fotografia estampada nos jornais me fez recordar, decepcionado, o altivo sindicalista que lutou contra a ditadura e fez do combate à corrupção bandeira de luta. Aliados em São Paulo e no Paraná podem ser adversários em Minas, Mato Grosso, Pernambuco, segundo as conveniências locais. Sindicatos e igrejas não ficaram à margem do processo, sendo explorados como currais eleitorais.

Minúsculas legendas, que agrupam meia dúzia de frustrados, insistem em marcar presença, sem chances de eleger um só prefeito ou vereador. Servem-se do dinheiro público para formular, pelo rádio e pela TV, soluções desvairadas, divorciadas da frieza orçamentária. Pretendem transformar o Brasil em vasto acampamento de servidores públicos, mantidos pelo Tesouro. Inspiram-se no falido modelo cubano e na ditadura venezuelana, e ignoram o elevado grau de rejeição entre o eleitorado.

O povo, tal como anotou Aristides Lobo no episódio da Proclamação da República, assiste a tudo bestializado, atônito, surpreso. A Constituição, no afã de ser exemplo de democracia, escancarou as portas a todos os estilos de abusos. Além de sujeito a horário político, o brasileiro é obrigado a votar. E à míngua de candidatos que o convençam, tenta encontrar alguém que represente menor perigo, anula o voto, vota em branco ou vai gozar o "feriado" e justificar a ausência.

Em São Paulo o quadro é preocupante. Na impossibilidade de formar juízo seguro, o paulistano talvez eleja quem mais abusou da demagogia. Muitos votarão por palpite e obrigação legal, mas sem convicção. Quanto à Câmara Municipal, o cenário é desértico. Nada indica que tenhamos avançado no terreno da qualidade. A carência de nomes e a multiplicação de pretendentes conhecidos pelo apelido, sem currículo, surgidos do nada indicam que continuaremos na mesma, sem Legislativo independente e sem o órgão cujo dever seria colaborar com o Executivo nas boas iniciativas, mas disposto a mantê-lo sob rígida fiscalização.

Eleições municipais são a antevéspera de 2014. É por meio delas que os partidos procuram lançar bases locais de apoio para disputas futuras. Em troca de favores agora recebidos, prefeitos e vereadores serão porta-vozes de candidatos a deputado estadual e federal, senador, governador, presidente, independentemente do mérito e de acordo com a bolsa de cada um. Aqui reside o perigo. Foi a partir dos municípios que o PT, em poucos anos, chegou à Presidência da República, de onde não pretende sair.

Se quisermos erradicar a corrupção e impedir a presença de tiriricas na vida pública, devemos começar já com criterioso uso do voto. Se assim não for, dentro de dois anos se repetirá o espetáculo circense, com resultados previsíveis.

Vem-me à lembrança velho morador de Capivari, no interior paulista, a quem cidadão proeminente se queixava da caótica situação política da cidade e do País. Com a experiência acumulada em muitos anos de vida, respondeu o homem do povo: "Não se aborreça, vai ficar pior..."

Almir Pazzianotto Pinto, advogado, foi Ministro do Trabalho, Presidente do Tribunal Superior do Trabalho,

Fonte: O Estado de S. Paulo

Morre aos 95 anos, em Londres, o historiador Eric Hobsbawm


Segundo a família, ele morreu em um hospital da capital britânica após enfrentar uma longa doença

LONDRES - Morreu nesta segunda-feira, 1, aos 95 anos, Eric Hobsbawm, considerado um dos maiores historiadores do século 20. O jornal britânico Guardian disse que a família confirmou que Hobsbawn sofria longamente de pneumonia.

Segundo a filha do escritor marxista, Julia Hobsbawm, ele morreu no começo da manhã de segunda no hospital Royal Free de Londres, onde estava internado, disse a Efe. Entre suas obras mais importantes estão "História do século 20, 1914-1991" e "Guerra e paz no século 21".

É dele também a série composta pelos livros "A era das revoluções", "A era do capital", "A era dos impérios" e "Era dos extremos". Seu último livro, "Como mudar o mundo", uma coleção de ensaios, foi publicado no ano passado 2011.

A vivência de Hobsbawm como aluno durante a década de 1930 na Alemanha ajudou a consolidar suas visões de esquerda. Em 1936, na Inglaterra, ele entrou para o Partido Comunista, do qual foi integrante durante décadas, apesar de ter se desiludido com a União Soviética.

Hobsbawm publicou o primeiro de três livros cobrindo o "longo século 19" em 1962, em que abrange o período 1789-1914. No segundo volume, "Era dos extremos", tratou do período até 1991. Hobsbawn nasceu na Alexandria, no Egito, em 1917, filho de pais judeus. Ele cresceu em Viena e em Berlim, mudando-se para Londres em 1933, mesmo ano em que Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha. O historiador deixa a mulher, três filhos, sete netos e um bisneto.

Fonte: Agência EFE

Em BH, campanha mais agressiva

Os dois principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte aumentam o tom das críticas, apesar de prometerem manter postura mais propositiva

Alice Maciel, Alessandra Mello, Felipe Canêdo e Daniel Camargos

As campanhas dos dois principais candidatos à Prefeitura de Belo Horizonte – o ex-ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Patrus Ananias (PT) e o prefeito Marcio Lacerda (PSB) –, que até então evitaram posições mais agressivas, esquentam nesta reta final. Com um discurso mais acalorado, o candidato do PT demonstrou no fim de semana que vai intensificar os ataques, enquanto seu adversário mantém a postura de deixar as críticas mais contundentes aos petistas para seu principal cabo eleitoral, senador Aécio Neves (PSDB).

A partir de hoje, os dois candidatos reduzem as atividades de corpo a corpo para se dedicar à preparação para os debates, entre eles o que a TV Alterosa faz amanhã à noite. Promete apimentar as eleições na capital um vídeo que circula na internet desde sexta-feira à noite, onde o candidato a vice na chapa do prefeito, o deputado estadual Délio Malheiros (PV), aparece em entrevista gravada na véspera das convenções dizendo que estará com quem estiver contra Lacerda e fazendo críticas à gestão do prefeito. "Semana que vem eles estarão na Praça Sete com projeto de sondagem furando um buraco dizendo que é o início da obra do metrô", afirma o deputado no vídeo. A campanha petista estuda colocar as imagens no programa eleitoral gratuito.

Entre os que defendem essa estratégia, o candidato a vice-prefeito, Aloísio Vasconcelos (PMDB) é quem está fazendo maior pressão. Patrus está resistente. Marqueteiros da campanha pretendem avaliar por meio de pesquisa o impacto das imagens nos eleitores. Até o início da noite de ontem, as visualizações do vídeo no YouTube já somavam 34 mil acessos. As imagens estão se espalhando nas redes sociais e por e-mails.

Do outro lado da disputa, as informações são de que ainda não foi cogitada mudança alguma no programa eleitoral de Lacerda caso os petistas resolverem usar o vídeo na televisão e que em pesquisa interna ficou comprovado que as imagens não surtem impacto entre os eleitores. A campanha do PSB nega que, em troca, vá colocar no ar a gravação, feita antes da campanha, em que a presidente Dilma Rousseff diz durante visita a Belo Horizonte que Lacerda é um dos melhores prefeitos do país. No sábado, tanto Délio quanto Lacerda afirmaram não ter visto as imagens. O prefeito amenizou o conteúdo das imagens, contudo, ressaltando que "críticas aconteceram no passado", que o PT estava na prefeitura e que Délio era adversário dos petistas.

Hoje, Lacerda vai ao tradicional Café Nice, na Praça Sete, enquanto Patrus faz caminhada no Aglomerado Morro das Pedras, Região Oeste. Patrus aposta na militância para ultrapassar Lacerda, enquanto o socialista aposta na imagem do senador Aécio Neves, que deverá participar de, pelo menos, dois atos de campanha ao longo da semana. As duas chapas ainda não definiram o que será feito no ato final, que deverá acontecer no sábado.

Na rua Em encontro com representantes de movimentos pela promoção da igualdade racial no Bairro Padre Eustáquio, na Região Noroeste, Lacerda aproveitou para tentar ganhar os votos dos indecisos. Lacerda ressaltou que o número de pessoas que não decidiram em quem votar a uma semana do pleito agora é menor do que há quatro anos. Ele lembrou a criação do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial durante seu mandato e garantiu aos presentes: "Vocês olham para essa minha cara aqui de gringo, mas eu já fiz pesquisa genética. Eu tenho herança africana e indígena também e me orgulho muito disso".

Patrus buscou votos em Venda Nova, junto com o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel (PT), onde fez carreata e prometeu implantar um Instituto Federal de Educação e Ciência e Tecnologia. Ele reforçou os feitos durante sua gestão (1993-1996) e disse que, diferentemente dele, o atual prefeito não está inovando. "Há uma diferença (entre ele e Lacerda) no campo ético, no campo dos valores republicanos e sobretudo de respeito à população de BH", acrescentou. Pimentel disse acreditar em segundo turno.

Imagens e fatos de última hora

Fatos e declarações na reta final da campanha podem mudar uma eleição que já era dada como certa ou consolidar a vitória de um favorito. Não é preciso ir longe para buscar histórias que ilustrem esse tipo de situação. Na última disputa pela Prefeitura de Belo Horizonte, o candidato Marcio Lacerda (PSB) venceu o primeiro turno por uma diferença de apenas três pontos percentuais para o segundo colocado, o deputado federal Leonardo Quintão (PMDB), mas acabou sendo eleito de forma folgada (59,12% a 40,88%). Um dos fatos que modificaram a campanha foi um vídeo em que Quintão aparecia fazendo campanha para o pai, Sebastião Quintão (PMDB), em Ipatinga, no Vale do Aço, e dizia que iria ganhar e "chutar a bunda" dos petistas. Após mostrar as imagens, o locutor do programa de Lacerda perguntava: "É isso que a gente quer para Belo Horizonte?".

Fonte: Estado de Minas

Num mea-culpa, PT admite “autoanálise” , em Recife


Vice de Humberto Costa no Recife, João Paulo reconheceu ontem que o partido precisa fazer uma “profunda análise” do processo eleitoral logo após as eleições

Manoel Guimarães

Candidato a vice-prefeito na chapa puro-sangue do PT no Recife, encabeçada por Humberto Costa, o deputado federal João Paulo fez um “mea-culpa” e reconheceu ontem que seu grupo precisa, após as eleições, fazer um “profunda análise” do processo eleitoral e do próprio PT. Segundo o petista, que ontem comandou a agenda de campanha do PT numa caminhada no Alto do Pascoal, reconhecer a importância de um exame do que ocorreu no partido também reside na postura adotada pelo prefeito João da Costa (PT) na eleição, um dos responsáveis pela cizânia que se tornou a candidatura petista neste ano, que só foi definida pela direção nacional do partido em junho, às vésperas das convenções, após uma controvertida prévia que terminou anulada.

João da Costa, inclusive, tornou-se alvo de críticas da propaganda eleitoral de Humberto. Na última semana, o candidato dividiu o tempo do programa eleitoral entre questionamentos à postura do correligionário e críticas à Parceria Público-Privada (PPP) da Compesa, na tentativa de atingir o candidato do PSB, Geraldo Julio. De acordo com João Paulo, essa linha que vem sendo adotada no guia deve pautar a reta final da campanha eletrônica.

“O PT nacional, a partir dos problemas no Recife, escolheu outro candidato, e ele (o prefeito) não apoiou, colocando-se claramente no apoio a Geraldo Julio. Isso fez com que Humberto realçasse mais um sentimento que percebemos durante toda a campanha. Talvez tenhamos levado muito tempo para tomar essa decisão, mas antes tarde do que nunca”, avaliou João Paulo. “Não acredito que a linha da campanha mude muito na orientação do programa eleitoral. Até o final da campanha, será mantê-la do jeito que está”, completou.

Atrás de recursos

O deputado justificou a ausência de Humberto Costa no último domingo de campanha. O petista foi a São Paulo acompanhar uma cirurgia do governador de Sergipe, Marcelo Déda (PT), que luta contra um câncer. Além do motivo pessoal, Humberto iria aproveitar a viagem para contatos com a cúpula nacional do PT. Isso porque existe uma expectativa de liberação de recursos para a campanha do Recife, uma queixa antiga dos petistas nos últimos meses.

“Estamos cumprindo o que essencialmente teríamos que cumprir: intensificando as agendas, as caminhadas, a animação da militância. Precisamos agora de um reforço mais financeiro da nacional para esta reta final e há perspectivas de chegar um apoio, mas estamos aguardando”, informou João Paulo.

Fonte: Jornal do Commercio (PE)

Em Porto Alegre, Villaverde faz carreata e mantém a confiança em segundo turno


Sobre a caçamba de uma kombi amarela, apinhada pela presença de candidatos a vereador, Adão Villaverde (PT) liderou carreata ontem por bairros da zona norte de Porto Alegre.

Apesar da distância que o separa do segundo turno, de acordo com as pesquisas, Villaverde insistiu no discurso da "virada" e, durante o percurso, abriu sorrisos a cada cumprimento que recebia de populares. Nas ruelas do Rubem Berta, os petistas resumiram o tom para a última semana de campanha.

– Esta é a cidade real, com esgoto correndo a céu aberto. A cidade maquiada do Fortunati não existe – bradou uma candidata a vereadora, referindo-se aos programas de TV do prefeito e candidato à reeleição.

Na semana final, o PT deve bater nas fragilidades da gestão José Fortunati (PDT). É o caminho escolhido para desgastar a imagem do prefeito, ganhar votos, ultrapassar Manuela D"Ávila (PC do B) e forçar o segundo turno.

Hoje, às 14h30min, Villaverde fará caminhada no centro de Porto Alegre ao lado da ex-senadora Marina Silva.

Fonte: Zero Hora (RS)

Rio de Janeiro - Tropas federais ocupam 28 favelas para eleições


Três mil homens do Exército e da Marinha começam hoje a entrar nas favelas da Zona Oeste do Rio e também do Complexo da Maré, para dar apoio às equipes do Tribunal Regional Eleitoral. A operação terá início nas favelas Gardênia Azul, em Jacarepaguá, Muquiço, em Deodoro, e Fogo Cruzado, na Maré. A ação abrangerá 28 comunidades sob influência do tráfico e de milicianos. Para o presidente do TRE, Luiz Zveiter, a última semana é a mais crítica. Os militares permanecerão nesses locais das 8h às 18h

Tropas chegam ao Rio

Três mil militares ocuparão, até o final das eleições, 28 favelas na capital

Marcio Beck

A partir de hoje, três mil homens do Exército e da Marinha, além de 500 agentes e delegados da Polícia Federal, ocuparão, das 8h às 18h, um total de 28 favelas não pacificadas no Rio, até o próximo sábado, véspera das eleições. Por dia, dois mil homens do Exército ocuparão quatro favelas da Zona Oeste em que há presença de milícias, segundo o presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), desembargador Luiz Zveiter; e mil da Marinha se concentrarão em uma comunidade, sempre no Complexo da Maré. Já no domingo, dia da votação, todas as 28 comunidades serão ocupadas pelas tropas federais. Sexta-feira, o TRE inaugura um centro de controle informatizado, por meio do qual será monitorada a movimentação das tropas.

O anúncio foi feito pelo presidente do TRE-RJ após reunião, na tarde de ontem, com representantes das forças federais e estaduais. Os representantes militares não quiseram falar com a imprensa. Apesar de a programação para a data da votação não estar totalmente definida - o que ocorrerá ao longo da semana, em novas reuniões -, ele não descarta a possibilidade de mais reforços para a capital, além do efetivo que será enviado a Magé, Campos, Itaboraí, Cabo Frio, Rio das Ostras, Macaé e São Gonçalo. O comandante da Polícia Militar, Erir Ribeiro Costa Filho, adiantou que a corporação atuará com 15 mil homens no dia da votação.

- Vai ter sempre um juiz, junto com os fiscais (do TRE), e vamos fazer a limpeza dessas áreas, das propagandas irregulares, deixando bem claro que o Exército e a Marinha não estão vindo para ocupar espaço da segurança pública do estado. O objetivo é focado exclusivamente na área do Tribunal Regional Eleitoral - afirmou Zveiter.

Ainda que o propósito principal das ações durante a semana seja o combate à propaganda irregular, os militares poderão prender pessoas por outros crimes, se houver flagrante. Já no dia das eleições, disse Zveiter, a preocupação das tropas federais será, sobretudo, inibir a boca de urna:

- Todo os que estiverem tentando fazer boca de urna serão presos. Queremos dar tranquilidade à população, com maior amplitude em alguns municípios, e no restante do estado pelas forças estaduais, para o eleitor poder votar sem problema. A última semana é a mais crítica. É quando eles (os candidatos) farão as maiores irregularidades para obter o voto no dia 7.

O primeiro contingente do Exército, composto por militares de quartéis do estado do Rio, sairá da 1ª Divisão da Vila Militar às 10h, em direção à Gardênia Azul, em Jacarepaguá, e à favela do Muquiço, em Deodoro. Também participarão dois helicópteros vindos do Comando de Aviação do Exército, em Taubaté, São Paulo. O efetivo da Marinha partirá às 13h do Batalhão Riachuelo, na Ilha do Governador, com destino ao Complexo da Maré, para ocupar a favela Fogo Cruzado. Zveiter informou que acompanhará pessoalmente o início da operação.

O presidente do TRE-RJ não quis comparar o aparato de segurança para esta disputa ao empregado na eleição municipal passada, e criticou o planejamento feito há quatro anos:

- Não quero falar de 2008, porque o projeto foi, para mim, desagradável. O Exército e a Marinha têm uma previsão constitucional muito mais importante do que ir a evento para garantir (a segurança de) candidato que vai fazer comício. Então, vamos esquecer (a eleição de) 2008, tirar do papel essa tal de Operação Guanabara. Vamos a esta operação, de 2012, eleições limpas e tranquilas.

Na quinta-feira, ao saber que os demais municípios do estado teriam reforço apenas no dia da eleição, Zveiter cogitou dispensar as tropas federais. A presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia, minimizou o episódio e disse que Zveiter é "um bom parceiro".

Fonte: O Globo

Serra crítica Dilma na véspera de ato por Haddad


Presidente participa hoje de comício; tucano diz que ela usou o governo para ajudar a candidatura petista

O candidato tucano à Prefeitura, José Serra, afirmou que a presidente Dilma Rousseff "usou o governo" para beneficiar o candidato petista na véspera da presidente desembarcar em São Paulo para participar de comício de Fernando Haddad, candidato do PT. Serra referia-se à escolha de Marta Suplicy para ministra da Cultura logo depois de ela ter anunciado apoio ao petista.

"Nós não usamos governo para fazer aliança em eleição como o que foi feito em SP", disse Serra, que estava acompanhado do governador Geraldo Alckmin (SP). Haddad insiste nas críticas à proposta sobre tarifa de ônibus do líder das pesquisas, Celso Russomanno, que não fez campanha pública ontem em razão do nascimento de sua filha.

Em comício, Serra diz que Dilma "usa governo como propriedade privada"

Candidato tucano investe contra a presidente na véspera de sua participação em evento da campanha de Haddad em SP

Felipe Frazão e Julia Duailibi

Na véspera do desembarque da presidente Dilma Rousseff em São Paulo para participar de um comício de Fernando Haddad (PT), o candidato tucano à Prefeitura, José Serra, afirmou no domingo, 30, que ela "usou o governo" para beneficiar o candidato petista. Chegou a citar o filme O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, para atacar o fato de Haddad ser apadrinhado pela presidente e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Aqui não tem ninguém apadrinhado. O último filme que eu vi com esse título é do começo dos anos 1970, O Poderoso Chefão ("The Godfather", que significa o padrinho, em tradução literal). Não precisamos de padrinho", disse Serra durante discurso na Vila Matilde, zona leste. Ele estava acompanhado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), cuja imagem é bastante usada na campanha.

Referindo-se a uma frase dita em 12 de setembro - "Dilma vem meter o bico em São Paulo" -, o tucano afirmou: "Quando eu disse que a presidente da República errou, não disse que errou porque deu palpite na eleição aqui. Ela não é de São Paulo, conhece pouco São Paulo."

No discurso, Serra também bateu no fato de a senadora Marta Suplicy (PT) ter sido nomeada para o Ministério da Cultura, antes ocupado por Ana de Hollanda, após começar a apoiar a candidatura de Haddad. "Demitir uma ministra e nomear outra ministra só para ter o apoio interno dentro do PT para um candidato a prefeito é usar governo como se fosse propriedade privada."

Dilma sobe nesta segunda-feira, 1, no palanque de Haddad às 19h na zona leste. Lula também participa do comício.

Coube ao ex-governador Alberto Goldman (PSDB) vincular Haddad - a quem chamou de rapaz "novo e engomadinho" - ao caso do mensalão, afirmando que o STF já decidiu que houve desvio de dinheiro público e que os beneficiários fazem parte da base do governo federal. "Pessoas ligadas ao atual candidato do PT", disse. "Essa semana o STF vai decidir quem foram aqueles que organizaram essa quadrilha."

O candidato petista, por sua vez, direciona suas críticas ao líder nas pesquisas, Celso Russomanno (PRB), que no domingo não teve agenda pública - na sexta-feira nasceu sua filha Katherine. Após carreata na zona leste, Haddad relacionou a proposta do adversário de criar tarifa de ônibus proporcional à distância percorrida a aumento do "desemprego na periferia". "Nenhum empregador que mora perto vai contratar alguém que mora longe. Ele vai aumentar os custos da empresa dele desnecessariamente", disse o petista, que também criticou o uso da religião na campanha.

Os tema esteve presente também no comício tucano. O vereador Gilson Barreto (PSDB) disse que Deus não vai referendar para administrar a cidade "um pastor chamado Edir (Macedo), que se intitula dono de um candidato fraco". A cúpula do PRB é formada por integrantes da Igreja Universal do Reino de Deus, fundada por Edir Macedo.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Miséria no país caiu só 5,5% em dois anos


A pobreza extrema ainda atinge 8 milhões de pessoas no país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2011 do IBGE. A queda foi de apenas 5,5% frente a 2009, quando o Brasil tinha 8,5 milhões de miseráveis. Segundo especialistas, a possibilidade de erradicação da miséria até 2014, meta anunciada pelo governo Dilma Rousseff, é remota

Fim da miséria ainda longe

Pobreza extrema no Brasil caiu só 5,5% de 2009 a 2011 e atinge 8 milhões de pessoas

Demétrio Weber, Antonio Gois

O DRAMA PERSISTE

BRASÍLIA e RIO - O número de miseráveis no Brasil caiu 5,5%, de 2009 a 2011, período que cobre o fim do governo Lula e os primeiros meses do mandato da presidente Dilma Rousseff. Em setembro de 2011, havia no país 8 milhões de pessoas na extrema pobreza, conforme estimativa preliminar informada ao GLOBO pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Os dados foram calculados com base na última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad 2011), do IBGE. É a primeira pesquisa que vem a público sobre a redução da miséria durante o governo Dilma, que assumiu o cargo com a promessa de erradicar a pobreza extrema até o fim de 2014.

Como utiliza dados de setembro de 2011, a estimativa ainda não capta efeitos do Brasil sem Miséria e do Brasil Carinhoso, programas lançados pela presidente. Mas especialistas acreditam que Dilma corre o risco de terminar o mandato sem cumprir sua principal promessa de acabar com a pobreza extrema.

De acordo com o ministério, o número de miseráveis caiu de 8.520.271, em 2009, para 8.054.775, em 2011, uma diminuição de 465 mil pessoas no universo de extremamente pobres, conforme a Pnad. O governo considera miserável quem tem renda mensal familiar de até R$ 70 por pessoa.

Em números absolutos, mantido esse ritmo, seriam necessários oito anos para fazer cair pela metade o total de extremamente pobres no Brasil. Assim, para conseguir uma queda de 50% em três anos, até 2014, o governo precisaria quase que triplicar a velocidade verificada no biênio 2009-2011.

- A possibilidade existe, mas é remota - diz o administrador Ricardo Teixeira, coordenador do curso de Gestão Financeira da Fundação Getulio Vargas.

Rafael Osório, coordenador de Estudos de Previdência, Assistência Social, Desigualdade e Pobreza do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que a atual rede de proteção social não basta para acabar com a miséria:

- Estamos no rumo certo. O que já foi feito é muito bom, mas não suficiente. Precisamos de mais, como discutir a expansão do Brasil Carinhoso para a faixa de 7 a 14 anos - diz Osório.

Especialistas admitem que é praticamente impossível zerar a pobreza extrema. Situação semelhante ocorre com a mortalidade infantil, pois todos os países registram mortes de bebês. O governo discute a fixação de um percentual residual de miséria, isto é, um patamar "tolerável" que, uma vez atingido, permitiria ao país dar por erradicada a pobreza extrema.

País antecipou meta da ONU

Dilma lançou o Brasil sem Miséria em junho do ano passado. A iniciativa ampliou o Bolsa Família, carro-chefe da política social, com o acréscimo de 1,3 milhão de beneficiados na faixa de 0 a 14 anos. O pagamento extra, porém, só começou em setembro, e o MDS avalia que pode não ter sido captado pela Pnad.

Em maio de 2012, o Brasil Carinhoso turbinou novamente o Bolsa Família, aumentando o valor dos repasses em 2 milhões de lares onde havia crianças de até 6 anos. Conforme o GLOBO revelou em junho, o Brasil Carinhoso elevou o teto do Bolsa Família para R$ 1.332, valor pago mensalmente a uma família de 19 pessoas. Em média, os repasses são de R$ 149,88.

Segundo o ministério, o orçamento do Bolsa Família é de R$ 20 bilhões, em 2012, o equivalente a 0,45% do PIB (Produto Interno Bruto, soma dos bens e serviços produzidos no país, num ano). O programa atende a 13,7 milhões de famílias ou cerca de 55 milhões de pessoas.

A Pnad é uma pesquisa por amostragem realizada anualmente. Só não ocorre uma vez por década, quando o IBGE faz o censo, com entrevistas em quase todos os domicílios do país. Os resultados do censo tendem a ser mais confiáveis, enquanto o ponto forte da Pnad são as comparações de um ano para outro ou num período mais curto do que uma década.

O censo de 2010 indicou a existência de 16,2 milhões de miseráveis ou 8,5% da população, o dobro do indicado pela Pnad. Mas, de acordo com Osório, do Ipea, não é possível comparar dados do censo e da Pnad, já que as metodologias são distintas. A Pnad indica tendências e variações ano a ano. Foi com base na Pnad de 2008 que o governo Lula anunciou que conseguiu antecipar a meta de um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU, que previa a redução pela metade, até 2015, dos índices de miséria de 1990. E será com base na Pnad que Dilma saberá se cumpriu ou não a promessa de erradicar a miséria até 2014.

Fonte: O Globo

Recuo no comércio é estratégia? - Rubens Ricupero


Brasil perdeu a capacidade de negociação de acordos comerciais, multilaterais ou de qualquer outro tipo

Ninguém notou a mais importante mudança da política externa da presidente Dilma em relação ao governo Lula: o abandono das negociações da Rodada Doha da Organização Mundial de Comércio (OMC).

Não é que se tenha anunciado isso de modo formal. Mas, ao aumentar as tarifas de uma centena de produtos, o governo sinalizou que, no fundo, já não acredita mais na possibilidade de conclusão da rodada. Com efeito, a fim de ganhar algo nas negociações, o Brasil precisaria não só se abster de agravar a proteção, mas teria de efetuar reduções adicionais nas tarifas de manufaturas.

Era o que o governo Lula havia aceito em julho de 2008 quando, junto com a Europa, lideramos a última tentativa séria de garantir o êxito da rodada, abortada pelos EUA, Índia e China. Desde então nos retraímos e agora ingressamos em zona controvertida: praticamente voltamos as costas à estratégia de dar prioridade às negociações multilaterais da OMC, seguida por todos os governos brasileiros das décadas recentes. No governo Lula, a posição de privilegiar a OMC a fim de obter ganhos em agricultura se tornou uma das razões principais da credibilidade conquistada pelo país nos foros internacionais.

Por que então a mudança súbita? Não se trata, obviamente, de capricho ou ideologia. A explicação é que a crise de competitividade, sobretudo da indústria, atingiu seu ponto crítico. O Brasil perdeu a capacidade de negociar acordos comerciais, multilaterais ou de qualquer tipo. Como viabilizar acordos que exigem concessões se essas vão expor mais setores que mal se mantêm de pé apesar das doses de anabolizantes?

É por isso que se supõe que o retrocesso (pois é disso que se trata) seja de ordem tática. Isto é, que se destina a ganhar tempo para que se recupere a competitividade. De nada serve pretender que são medidas de defesa comercial. Essas últimas -antidumping, taxas compensatórias- só podem ser aplicadas com processo regulamentado pela OMC.

A ação brasileira não foi ilegal, mas teve caráter unilateral, não obedeceu ao formato das medidas de defesa e certamente violou o compromisso adotado pelo G20 para não agravar o nível de proteção.

Falta autoridade moral a Washington para protestar, pois a administração Obama deve ser o governo americano com menor contribuição à liberalização do comércio mundial. Porém, o ponto não é esse. Se o governo brasileiro entendeu que não tinha alternativa a dar esse grave passo, certamente o terá feito por dispor de estratégia coerente. Estratégia não só para melhorar as condições de competitividade, como começou a fazer parcialmente com redução de juros, correção do câmbio e anúncios sobre eletricidade e infraestrutura.

Se o esforço der certo, ainda será necessário ao Brasil ampliar seus mercados. Ao abrir, para isso, mão da OMC, só nos sobra o combalido Mercosul, que não convence ninguém como estratégia global. Será que temos mesmo essa estratégia?

Fonte: Folha de S. Paulo

Sampa - Caetano Veloso

Algumas fantasias - José Carlos Capinan


I

É noite, tudo é mistério, eu vejo
Há quem chore, há quem ligue a chave de ignição
Entretanto em meu coração fortemente chove
Chove chove chove
Enquanto chove, choro e relampeja
Se despem e se despedem todos os amantes
As chaves de ignição acendem os trovões
Apagam-se as velas e assim seja

VII

Os carros são cada ano mais potentes
E capazes de desenvolver velocidades surpreendentes
São capazes de atirar quilômetros animais árvores
gente
Não sei porque a vida se faz tão urgente

VIII

Sou político
E nem sei o que possa dizer com isso
Mas é da época ser político
E há vários políticos
E cada um tem a sua verdade política
E a sua maneira política de ser político
E cada político tem o seu melhor mundo a oferecer
Sou político e também penso que talvez tenha um mundo
Mas nem por isso, talvez somente fantasie inútil
E acredite poder alterar esse inexorável rumo.

Fui tão político às vezes que desdenhei as formas
E contestei as normas
E confessei ridículas as pétalas de rosas
Fui tão político às vezes que fiz da beleza uma coisa perigosa
E tão político às vezes que tornou-se a noite pavorosa
Fui tão político às vezes que se desfizeram as minhas
mãos amorosas
E tão político às vezes que pensei entender a guerra
O chumbo e a pólvora
Fui tão político às vezes que despendi mil impossíveis horas
Dissolvendo em amnésia todas as memórias

As máquinas são políticas
As poéticas são políticas
As canções são políticas
Mas eu desconfio que alguma coisa possa deixar de ser

domingo, 30 de setembro de 2012

OPINIÃO DO DIA – Joaquim Barbosa: ‘o mensalão maculou a República’ (LIII)


 Lavagem de dinheiro é hoje uma preocupação mundial. Há uma vasta concentração planetária no sentido do combate a esse crime. Não se pode, portanto, tomar esse crime 'à la légère' [de modo leve]. O caso tratado nos autos trata de dolo direto [intenção de cometer crime]. [...] A afirmação [de que não houve lavagem] é equivocada.

O que importa é a engrenagem utilizada para tornar oculta a origem do dinheiro, para tornar oculto um grande esquema de corrupção. [...] Acreditaram [os políticos] piamente que Marcos Valério e o Banco Rural haviam se transformado em Papai Noel e decidido distribuir dinheiro nas praças de Belo Horizonte e Brasília.

Joaquim Barbosa, ministro-relator no processo 470 (mensalão) no STF. Voto do dia 27/9/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
Disputa por prefeituras tem 640 candidatos ‘sujos’
No mensalão, chega a vez de Dirceu e Genoino
PCB também quer indenização
Juros do comércio na mira do governo

FOLHA DE S. PAULO 
Mensalão terá segunda fase de investigações
Paulistano rejeita influência religiosa na disputa eleitoral
Após 20 anos, Carandiru não terá perícia nas armas de PMs

O ESTADO DE S. PAULO 
Na reta final, Russomanno já pensa no segundo turno
Pesadelo da prisão volta para Dirceu
Usina eólica está pronta, mas não produz energia
‘O clima político muda na Argentina’

CORREIO BRAZILIENSE
Grevistas de aluguel
Buriti Alegre, a terra onde Delúbio é rei

ESTADO DE MINAS 
Cotas levam mais alunos ao exterior

ZERO HORA (RS) 
A fórmula para acertar na escolha do vereador

JORNAL DO COMMERCIO (PE) 
Geraldo fica próximo de vitória no primeiro turno

O que pensa a mídia - editoriais de alguns dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

No mensalão, chega a vez de Dirceu e Genoino


Começa esta semana a fase mais importante do julgamento. A cúpula do PT, formada pelo ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio, entra na mira do relator Joaquim Barbosa. Os três são acusados de corrupção ativa

Cúpula petista entra na mira do relator

Barbosa começa esta semana voto que pode condenar José Dirceu, Genoino e Delúbio por corrupção ativa

Jailton de Carvalho

UM JULGAMENTO PARA A HISTÓRIA

BRASÍLIA Sete anos depois das primeiras denúncias, chegou a hora de o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado José Genoino e o ex-tesoureiro Delúbio Soares, três peças-chaves da eleição do ex-presidente Lula em 2002, prestarem contas à Justiça. O relator do processo do mensalão, ministro Joaquim Barbosa, começará a ler nesta semana o voto sobre os três e os demais réus acusados de corrupção ativa - a parte mais eletrizante do julgamento, na definição do ministro Marco Aurélio Mello.

Dirceu e Genoino não escondem o receio de uma eventual condenação ou até mesmo da prisão, embora aleguem inocência. Delúbio, segundo interlocutores, seria o menos aflito entre os três.

- Todo mundo que está vivo pode ser preso. Eu posso ser preso hoje, você também. Mas nós, em primeiro lugar, temos convicção da absolvição. Em segundo lugar, ainda que viéssemos a pensar na eventual condenação, não teríamos nenhuma providência a tomar, a não ser esperar - tenta minimizar Luiz Fernando Pacheco, advogado de Genoino.

O ex-deputado tem acompanhado o julgamento em sua casa, em São Paulo. Há duas semanas, foi internado às pressas com ameaça de infarto. Fumante inveterado, pareceu não suportar a pressão. Mas, após passar por sessão de cateterismo, recebeu alta com a recomendação de manter a calma, parar de fumar e fazer exercícios físicos.

- Não há hipótese nenhuma de eu falar com a mídia - disse Genoino, na quinta-feira. - Meu estado é bom, você sabe disso. Fale com o Pacheco, pois eu não falo sobre esse assunto nem que você me torture num pau de arara.

A tensão também acompanha Dirceu às vésperas do julgamento. Segundo pessoas que acompanham a rotina do ex-ministro, Dirceu não para na frente da TV para assistir às sessões do STF. Acha que é muito sofrimento ver como os ministros votam e, a partir daí, imaginar como votarão no caso dele. Mas, diferentemente de Delúbio e Genoino, conversa frequentemente com amigos, aliados e advogados para se informar sobre o processo e traçar cenários.

No início do julgamento, Dirceu e amigos trabalhavam com três possibilidades: absolvição, condenação e condenação com prisão. A absolvição parecia a hipótese mais forte. Mas, depois dos votos implacáveis de Barbosa, Dirceu sentiu que o perigo ronda no ar.

Delúbio Soares, porém, mesmo diante do risco de sofrer uma pesada condenação, permanece impassível. Na última quinta-feira, o ex-tesoureiro atendeu uma ligação do GLOBO, mas disse que não falaria sobre o julgamento.

- Como vai você? É um prazer falar com você, mas quem está falando a meu respeito sobre o processo é o doutor Arnaldo Malheiros. Estou atendendo você com muito respeito, você me ligou, eu agradeço muito, mas quem fala por mim é o doutor Arnaldo. Você está fazendo seu trabalho, eu respeito, mas eu não vou falar - disse Delúbio.

Malheiros já avisou a Delúbio o risco de condenação e prisão. A maioria dos réus julgados até o momento foi condenada e nada indica uma mudança de rumo nas votações. Mas ele segue aparentemente tranquilo. Recentemente, o jornalista Ricardo Kotscho, ex-assessor de Lula, ligou para Delúbio pensando que ouviria um longo desabafo. Mas o ex-tesoureiro disse que queria encontrá-lo para comer uma bisteca num restaurante que os dois costumavam frequentar.

Fonte: O Globo

Entre a firmeza e o destempero, um futuro desafiador


Amigos e até rivais tentam erguer blindagem para evitar tensões na gestão de Barbosa à frente do STF

Chico Otavio

A cada nova diatribe, cresce a inquietação sobre o futuro do ministro Joaquim Barbosa. Com a aposentadoria do presidente do Supremo, ministro Ayres Britto, em novembro, quando atinge a idade limite de 70 anos, Barbosa, na condição de vice-presidente, é o candidato natural a assumir o comando da Corte e também do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Por razões que vão da afinidade pessoal ao propósito de defender a instituição, amigos e rivais pensam em erguer uma blindagem que proteja Joaquim e, ao mesmo tempo, evite um curto-circuito entre a personalidade forte do ministro e a agenda das duas casas.

Consultados pelo GLOBO, ex-colegas de Joaquim no Ministério Público Federal e alguns dos atuais colegas do STF refletiram sobre os desafios que aguardam o relator do processo do mensalão, e prováveis ações que terão a sua marca pessoal. Eles não acreditam que o destempero do ministro seja suficiente para barrar a sua candidatura, mas procuram brechas para romper o isolamento em que se encontra e reduzir a possibilidade de futuras crises.

Apesar dos embates transmitidos ao vivo, o relacionamento com os demais ministros não preocupa tanto. Divergências e alianças são construídas e destruídas a cada novo caso, transformando ferrenhos adversários em aliados e vice-versa. O mesmo, contudo, não se pode dizer do convívio com os advogados. Além de não gostar de vê-los em seu gabinete e recusar-se a ler os seus pareceres, Joaquim não esconde dos amigos que a desenvoltura de alguns juristas ao circular nos tapetes do Supremo o incomoda muito. Esta presença, em sua gestão, tende a perder a força já fragilizada no julgamento do mensalão.

A relação com os demais poderes é outra preocupação. Joaquim tem dito que pretende discutir uma reforma política e propor mudanças que despolitizem os critérios de escolha dos futuros ministros do Supremo. Ele cogita entregar uma lista de notáveis à presidente Dilma Rousseff, de onde ela retiraria um nome a ser encaminhado ao Senado. Por outro lado, não se sabe como reagirá se, condenados os três deputados federais réus no mensalão, o presidente da Câmara Federal, Marcos Maia (PT-RS), insista que o eventual cumprimento de pena de prisão depende da chancela do Legislativo, como sugere a Constituição.

Para os colegas de Ministério Público que acompanharam a sua carreira, Joaquim é um "juiz consequencialista", estilo que busca adequar as decisões às exigências da sociedade, e pode compensar o isolamento na Corte com o calor das ruas. Ele herdará de Ayres Brito uma pauta congestionada. Além dos mais de 700 processos na fila de espera (o mais antigo é de 1988), outro número incalculável de ações está parado nos tribunais estaduais, aguardando que o STF aplique o mecanismo de Repercussão Geral (instrumento processual que permite ao Supremo julgar a tese e não caso a caso).

- Daqui a pouco, vamos ter tribunais alugando prédios para guardar os processos. É necessário dar outra dinâmica. O STF precisa se reinventar. Redimensionar os pedidos de vista, reduzir o tamanho dos julgamentos. Métodos consagrados devem ser revistos - disse um dos ministros do Supremo.

Ação Afirmativa e desigualdades

Embora não goste de associar a sua nomeação pelo presidente Lula à cor da pele, preferindo explicá-la pela consistência de sua obra, Joaquim dificilmente abandonará a linha que tem marcado a carreira, na qual se destaca a defesa da ação afirmativa, incluindo a política de cotas, com o objetivo de reduzir as desigualdades sociais. Neste aspecto, a caneta será uma aliada importante. Além de caber ao presidente do Supremo a organização da pauta de julgamentos, o relator do mensalão também terá nas mãos o controle da cesta de projetos sociais tocados pelo Conselho Nacional de Justiça.

Desde os tempos de Procuradoria Regional da República no Rio de Janeiro, é notória a falta de jogo de cintura de Joaquim. Poucos colegas estranharam quando o relator acusou o revisor Ricardo Lewandowski de fazer vista grossa para as provas produzidas na denúncia que resultou no processo do mensalão.

Os atuais colegas do STF acreditam que as chances de êxito do futuro presidente vão depender da equipe de assessores que montar. Também apostam que crescerá a influência do ministro Luiz Fux, que vem atuando como uma espécie de conciliador, muitas vezes usando uma linguagem bem carioca a que Joaquim Barbosa está acostumado e gosta de ouvir.

Outra expectativa diz respeito ao CNJ, que passou por recente crise provocada pela briga entre o então presidente, Cezar Peluso, e a corregedora Eliana Calmon. O novo corregedor, ministro Francisco Falcão, embora mais discreto, já avisou que pretende atuar com rigor contra os desvios de conduta. Uma questão delicada, defendida ferrenhamente pelas entidades classistas, é o valor do salário. Embora nunca tenha dito publicamente como pensa o assunto, Joaquim já deu mostras suficientes de que não tem compromisso com o corporativismo.

Apesar de tantas dúvidas sobre o futuro mandato, uma certeza alinha o discurso dos profissionais consultados: terminada a gestão à frente do STF e do CNJ, ele se aposentará.

Fonte: O Globo

Mensalão terá segunda fase de investigações


O Supremo Tribunal Federal iniciou novo capítulo no caso do mensalão. O ministro Joaquim Barbosa autorizou abertura de inquérito para investigar repasses do esquema para pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel. O inquérito também vai averiguar repasses para pessoas ligadas aos deputados Benedita da Silva (PT-RJ) e Vicentinho (PT-SP)

MENSALÃO - O JULGAMENTO

STF autoriza abertura de nova fase nas investigações

Objetivo é examinar repasses descobertos pela PF após início da ação principal

Pessoas ligadas ao ministro Fernando Pimentel e a outros políticos petistas receberam recursos

Flávio Ferreira


BRASÍLIA - O ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, autorizou a abertura de um inquérito para investigar repasses feitos pelo esquema para pessoas ligadas ao ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e a outros políticos petistas.


O novo inquérito, a ser instaurado na Justiça Federal em Belo Horizonte, também vai investigar repasses a pessoas que trabalharam com os deputados Benedita da Silva (PT-RJ) e Vicentinho (PT-SP), além de dezenas de outras pessoas e empresas que receberam dinheiro do esquema.

Essas pessoas não são parte do processo que está em julgamento no Supremo desde o início de agosto, porque os repasses só foram descobertos pela Polícia Federal quando a ação principal já estava em andamento no STF.

A nova fase do caso foi inaugurada há pouco mais de um mês, após pedido da Procuradoria-Geral da República para que fossem aprofundadas as investigações sobre o destino do dinheiro distribuído pelo PT com a colaboração do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

O requerimento cita nominalmente Pimentel, um dos principais auxiliares da presidente Dilma Rousseff, Benedita e Vicentinho, dizendo que, como eles têm foro privilegiado, a investigação deverá voltar ao Supremo "caso surjam indícios concretos de que os valores arrecadados" destinavam-se aos três.

A PF só conseguiu concluir o trabalho de rastreamento de dinheiro distribuído por Marcos Valério em 2011, cinco anos após a Procuradoria apresentar a denúncia que deu origem ao processo que está em julgamento no STF.

Seguindo o caminho do dinheiro distribuído pelo empresário, a polícia chegou a Rodrigo Barroso Fernandes, em Belo Horizonte. Na época do repasse, em 2004, ele era coordenador financeiro do comitê da campanha de Fernando Pimentel à Prefeitura de Belo Horizonte, diz a PF.

O inquérito, conduzido pelo delegado federal Luís Flávio Zampronha, apontou que Fernandes recebeu R$ 247 mil da agência SMPB, de Marcos Valério, em agosto de 2004.

Em depoimento, ele afirmou que só daria declarações em juízo, segundo a polícia. Num relatório sobre a investigação, Zampronha escreveu que Fernandes agiu assim para "encobrir o verdadeiro beneficiário" do dinheiro.

As investigações também apontaram repasses para Carlos Roberto de Macedo Chaves, que teria feito dois saques no valor de R$ 50 mil em agosto e setembro de 2003. Ele disse à PF que trabalhou como contador da campanha de Benedita em 2002.

De acordo com a polícia, a origem desse dinheiro foi o fundo Visanet, controlado pelo Banco do Brasil e por outras instituições financeiras. O fundo é apontado pela PF e pela Procuradoria-Geral da República como a principal fonte dos recursos que alimentaram o mensalão, e a maioria dos ministros do STF já concordou com essa tese.

Em relação a Vicentinho, a PF descobriu que o produtor audiovisual Nélio José Batista Costa recebeu R$ 17 mil da empresa Estratégia Marketing, de Valério, em agosto de 2004, "devido aos serviços prestados durante a campanha eleitoral do candidato Vicentinho para a Prefeitura de São Bernardo do Campo".

O pedido de abertura do novo inquérito foi feito em fevereiro e acolhido pelo ministro Barbosa em 24 de agosto. A Justiça Federal de Minas já recebeu ofício do STF, mas pediu à corte novas informações para definir qual vara criminal cuidará do caso.

Fonte: Folha de S. Paulo

Pesadelo da prisão volta para Dirceu


O julgamento de José Dirceu no mensalão deve começar quarta-feira. Quarenta e quatro anos depois que o regime militar o deportou do País, ele corre o risco de ser preso outra vez

Ciente do risco de condenação, Dirceu revive agora incertezas dos anos 1960

Preso há 44 anos em congresso da UNE, ex-ministro se angustia com julgamento no Supremo e reafirma a pessoas próximas que é inocente

Fausto Macedo e Felipe Recondo

SÃO PAULO/ BRASÍLIA - Quarenta e quatro anos depois que o regime de exceção o capturou e ele foi obrigado a deixar o País, José Dirceu de Oliveira e Silva está na iminência de ser condenado e corre o risco de voltar à prisão, agora na vigência de democracia, onde instituições como o Supremo Tribunal Federal funcionam sem a tutela do governo.

Daquela vez, em 1968, líder estudantil, foi aprisionado em Ibiúna, nos arredores de São Paulo, e seguiu para o exílio no México, depois para Cuba - trocado, ele e mais 13 companheiros da luta armada, pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick.

Aos 66 anos, Dirceu está no banco dos réus. Não é mais Carlos Henrique Gouveia de Mello, nome que adotou na clandestinidade, e a articulação que lhe atribuem agora é outra, a de mentor do mensalão, maior escândalo do governo Lula.

Nos autos da ação penal 470, é acusado de formação de quadrilha e corrupção ativa. Seu julgamento deve ter início na quarta-feira, com o voto do relator, ministro Joaquim Barbosa.

Entrevistas o ex-ministro não tem dado. Vez ou outra tem uma conversa informal com jornalistas. Experimenta noites de angústia o mineiro de Passa Quatro, onde estudou em colégio de padres franceses nos anos 1950, e que, em 2003, se tornou o ministro mais poderoso do governo petista, no comando da Casa Civil.

Ministros. Com interlocutores de Dirceu é possível constatar que certeza ele tem da condenação - até já ligou para o ex-presidente e trataram do julgamento. Reservadamente, tem comentado sobre o ministro Dias Toffoli, que advogou para o PT e não se deu por impedido. "É questão da consciência dele."

Melancólico, mantém o mesmo perfil contestador. "Não há precedentes no Supremo (da suspeição). Senão, o Gilmar Mendes tinha que se declarar impedido em uns dez casos graves que ele votou no governo Fernando Henrique. Nenhum juiz no STF se declarou impedido por qualquer tipo de relação que teve."

Dez ministros da Corte máxima examinam os termos da denúncia da Procuradoria-Geral da República. "Está suficientemente demonstrado que José Dirceu seria o mentor, o chefe incontestável do grupo, a pessoa a quem todos os demais prestavam deferência", cravou Barbosa, na ocasião em que votou pelo recebimento da denúncia.

Após quase 30 sessões, o Supremo já condenou muitos mensaleiros, até o delator da trama, Roberto Jefferson, deputado cassado, como Dirceu. Agora, chegou a vez do ex-ministro - e de José Genoino e Delúbio Soares que exerciam a presidência e a tesouraria do PT.

A expectativa é que seja condenado por corrupção ativa - a pena de reclusão vai de 2 a 12 anos, acrescida de um terço "se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional".

Mas os votos das ministras Cármen Lúcia e Rosa Weber abrem uma brecha para que ele seja absolvido do crime de quadrilha - pena de um a três anos.

Difícil saber se ele será condenado a mais de oito anos, o que implicaria regime fechado. O relator tem dito que alguns ministros começam a fazer cálculos para que as penas sejam mais baixas.

O advogado José Luís Oliveira Lima, defensor de Dirceu, entregou memoriais e fez sustentação oral. Categórico, o criminalista de tanto prestígio rechaça o libelo do procurador. "Não há uma só prova de que José Dirceu participou de compra de votos."

Do Supremo ele fala com deferência. Por aí, ora no condomínio fechado de Vinhedo, interior paulista, ora na companhia de antigos militantes, pondera. "Os jornais têm todo o direito de ter posição sobre o processo e pedir até condenação, mas eu tenho o direito também de falar que eles (jornais) estão fazendo isso. Não me queixo da imprensa, se quisesse dava entrevista toda semana."

Acredita que não está isolado. Outro dia, gabou-se. "Eu tenho apoio. Desde o dia que eu fui cassado nunca fui a um Estado sem ser recebido por governador, inclusive da oposição, prefeito, Assembleia. Porque mensalão não é visto como Zé Dirceu."

A quem o aborda sobre a compra de votos no Congresso, mantém a toada. "Não houve mensalão. Eu fui acusado de chefiar uma organização criminosa, o que não é verdade. Eu nunca conversei com Delúbio Soares, com Genoino, com Silvio Pereira, com Marcos Valério sobre isso. Eu nunca conversei sobre finanças. Eu fui ser ministro, eu saí dia 23 de novembro e deixei a presidência do PT."

Enquanto aguarda sua hora, a rotina de Dirceu tem sido protestar contra a acusação que o desconforta. "Não tem ninguém que fala "Zé Dirceu me telefonou."" Em desabafo recente, a indignação: "Eu tive sigilo bancário, telefônico e fiscal quebrado. Passei dois anos sob devassa da Receita. Recebi atestado de idoneidade da Receita. Eu vivi de salário a vida toda. Passou dois meses o Ministério Público entrou com uma ação contra mim por enriquecimento ilícito, agora arquivada no STJ. Como é que pode um País assim, gente? Tem que provar que eu era chefe de quadrilha, provar que eu fiz corrupção, que eu autorizei, eu dei dinheiro. Isso não existe, nem fiz, nem está nos autos."

Fonte: O Estado de S. Paulo

O pós-mensalão - Merval Pereira


Os ministros do Supremo estão imbuídos do compromisso de aperfeiçoar os costumes eleitorais brasileiros, e tem que ser entendido nesse contexto a dureza com que estão analisando o processo do mensalão. Já o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, ao definir o caso como um atentado à democracia brasileira, havia tratado do tema nessa perspectiva institucional, e por isso ele classificou de "quadrilha" a associação de políticos e empresários para a compra de apoio no Congresso. Ao decidir por tal ação, o comando político do PT optou por desqualificar as negociações partidárias, retirando-as do plano programático para o meramente fisiológico.

Esterilizar a política, transformando-a em pura ação de compra e venda, é uma maneira de colocar em risco a paz social a que se referiram as ministras Rosa Weber e Cármem Lúcia como sendo uma das características da "quadrilha" que não detectaram no presente processo.

As ministras trataram o caso do ponto de vista estrito do cometimento de crimes previstos no Código Penal, e não levaram em consideração os aspectos institucionais a que outros ministros deram relevo.

Por enquanto, a condenação por formação de quadrilha tem a maioria dos votos já pronunciados, mas mesmo que ao final prevaleça o entendimento das ministras, isso não quer dizer que os futuros réus a serem julgados, especialmente os que compõem o núcleo político do esquema criminoso, estejam livres das acusações. Podem ser condenados por corrupção ativa como coautores.

O caráter pedagógico da atuação do Supremo Tribunal Federal pode ser mais bem entendido pelo pronunciamento da ministra Cármem Lúcia, que também é presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ao dar seu voto . Ela lamentou, às vésperas das eleições municipais, que a corrupção tenha a consequência de desiludir o eleitor, especialmente os mais jovens. Do ponto de vista filosófico, a ministra destacou que a ética é o contraponto ao caos, assim como a política é a opção civilizada à guerra.

Ao político caberia mais cuidados éticos do que ao cidadão comum, pois aquele está "cuidando da coisa de todos. E um malefício, um prejuízo no espaço político, principalmente de corrupção, significa não que alguém foi furtado de alguma coisa, mas que uma sociedade inteira foi furtada".

Na prática, a ministra chamou a atenção para a dificuldade de nosso modelo político-partidário, colocando em discussão uma questão que terá que ser enfrentada pelos políticos na era pós-mensalão.

Condenados os culpados, absolvidos os considerados inocentes, estaremos diante do desafio de reorganizar a vida política de maneira a superar mazelas expostas no processo em julgamento e que aparecerão em outros que se seguirão, do próprio esquema do mensalão em outras instâncias ou como o do PSDB mineiro.

A legislação da fidelidade partidária, por exemplo, que foi decidida no próprio STF, recebeu dos ministros tratamento mais rigoroso para a troca de partidos a partir das evidências de compra de mandatos. O financiamento de campanhas é outro assunto que precisa ser revisto sob o novo espírito de rigor que está saindo das decisões do STF.

E o próprio quadro partidário precisa ser reorganizado, com melhor avaliação sobre direitos e deveres de partidos que têm representação no Congresso e daqueles que não atingem a votação mínima.

As coligações proporcionais têm o condão de distorcer a escolha do cidadão, e sua proibição teria o efeito de reduzir o número de partidos com representação parlamentar, ou até mesmo de desestimular aventuras. Também a distribuição de tempo de propaganda eleitoral gratuita no rádio e TV, durante ou fora do período eleitoral, é outro assunto que deve ser discutido à luz da necessidade de desfavorecer essa troca de minutos de TV por apoios políticos sem base programática mínima.

Esses são assuntos paralelos ao processo do mensalão que precisam ser analisados pela classe política, que também está em julgamento neste momento. O desfile de falcatruas envolvendo as mais diversas legendas é demonstração de que alguma coisa precisa ser feita.

Fonte: O Globo

A raiz do problema - Dora Kramer


A ministra Cármen Lúcia, na sessão de quinta-feira, não levou três minutos para traduzir em concisas e precisas palavras a essência do que se passa há quase dois meses no Supremo Tribunal Federal. Disse tudo e mais um pouco.

"Meu voto não é absolutamente de desesperança na política. É a crença nela e na necessidade de que todos nós, agentes públicos, nos conduzamos com mais rigor no cumprimento das leis", declarou ela, logo após condenar um lote de réus por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em suma, o exame do processo do mensalão e mesmo as condenações não desqualificam a política. Antes mostram a importância de se qualificar o seu exercício. Seja pela melhoria dos métodos adotados, pela participação atenta do eleitorado ou pela conduta correta dos eleitos como representantes.

Na condição de presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Cármen Lúcia deu um recado que vai muito além do julgamento de uma ação penal. Alcança a raiz do problema quando aborda o modo de funcionamento do presidencialismo sob a ótica da necessidade de sustentação política no Congresso.

"Um governo que não tenha maioria parlamentar tende a não se sustentar. Ele cai ou, se não cai, pode fazer pouca coisa", disse a ministra, em resumo exato da razão pela qual as coalizões partidárias são indispensáveis a qualquer governo.

A lição veio aprendida pelos políticos de governos anteriores ao golpe de 1964, cujos fracassos deveram-se em boa medida a confrontos com o Parlamento.

Fernando Collor talvez não tivesse tido o mandato interrompido há 20 anos se contasse com apoio no Congresso e sustentação na sociedade. Como tinha o PT quando conseguiu dar a volta por cima na época em que o mensalão era só um escândalo e ainda não havia se transformado em processo judicial.

Na realidade, o caso de Collor não se enquadra no padrão das coalizões governamentais firmadas da redemocratização para cá. O sistema ali era de arrecadação de dinheiro mediante extorsão para abastecer um esquema "caseiro" de enriquecimento ilícito.

O modelo que se iniciou na Nova República sob a égide do fisiologismo e foi sendo deformado até resultar no mensalão é diferente: loteia o Estado entre partidos. Mas, como o faz sem critério programático nem qualquer exigência de obediência normas de conduta, acaba dando margem a toda sorte de ilicitudes em nome da "governabilidade".

O que vai dizendo agora o Supremo Tribunal Federal?

Não é a negação ou a desqualificação da política nem a expressão do desconhecimento por parte dos ministros sobre suas regras. O que o STF diz é que há o limite da legalidade.

Afirma e confirma que não se pode governar por atalhos ao custo da lei porque da transgressão é que nasce o risco ao Estado de direito.

Um balizamento de peso. Quem ataca o Supremo ganharia mais se não perdesse tempo com bobagem e pensasse sobre isso.

Qual é a música? De um modo geral, as pessoas têm algum apreço pelo que fazem ou dizem. O ex-presidente Lula não. Diz uma coisa num dia, fala o oposto no seguinte e ainda olha o mundo de cima, cheio de razão.

Verdade que só faz isso porque é bem-sucedido. Tem quem goste – e não é pouca gente – de ser levado assim, a cada hora para um lado: é mais fácil ser conduzido que conduzir-se pelo próprio pensamento.

Antes o mensalão era uma "farsa" a cujo desmonte ele iria se dedicar assim que deixasse a Presidência. Agora, o julgamento é "motivo de orgulho", prova inequívoca da firmeza do governo do PT no combate à corrupção.

Faltou o ex-presidente acrescentar a edição de um novo manual de conduta para seus empedernidos correligionários que insistem em comparar o Supremo a um tribunal de exceção.

Sem orientação precisa, o pessoal se perde nos argumentos e não sabe se é para atacar ou defender.

Fonte: O Estado de S. Paulo