quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Merval Pereira - De volta ao futuro

O Globo

Querer exercer uma liderança global em meio ambiente é uma ambição saudável de Lula, mas é um péssimo sinal a volta da megalomania lulista de querer ser um negociador internacional

A presença do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva na COP27, no Egito, antes mesmo de ele assumir o cargo para o qual foi eleito em outubro, contrasta com a primeira decisão do atual presidente brasileiro, que cancelou a reunião do clima que seria realizada no Brasil em 2019.

A reivindicação de que uma reunião seja na Amazônia ainda durante o mandato de Lula tem uma simbologia óbvia. Informa o interesse do futuro governo brasileiro de dar um cavalo de pau na diretriz do país para retomar o protagonismo que sempre foi nosso nesse campo.

Querer exercer uma liderança global em meio ambiente é uma ambição saudável de Lula, já que, efetivamente, o mundo depende do que fará o Brasil nesse tema, depois de ter sido governado por quatro anos por um negacionista das mudanças climáticas.

Mas é um péssimo sinal a volta da megalomania lulista de querer ser um negociador internacional — na imaginação de alguns petistas mais afoitos, até na guerra da Ucrânia. Não deu certo na negociação nuclear com o Irã e provavelmente não daria certo no atual momento.

Malu Gaspar - Está na hora de soltar o Cabral

O Globo

Na última sexta-feira, Sérgio Cabral quase saiu da cadeia. O Tribunal de Justiça do Rio lhe concedeu um habeas corpus no processo em que é acusado de cobrar propinas de empreiteiras que construíram o Complexo Petroquímico do Rio pela Petrobras. Segundo a decisão, Cabral podia passar para a prisão domiciliar, desde que não houvesse mais nenhuma ordem de prisão válida contra ele.

O oficial de Justiça fez uma pesquisa, não achou nada e foi para o Batalhão Especial Prisional (BEP) soltar o ex-governador. Nesse meio tempo, alguém lembrou que havia ordens de prisão assinadas por Sergio Moro, contra as quais a defesa ainda está recorrendo ao STF.

Só que, com o sistema da Justiça fora do ar, elas não apareciam na busca. Cabral, portanto, não podia ser liberado. Já era noite quando o oficial de Justiça foi embora levando o documento sem serventia.

Ricardo Mendonça - Lula, o jato e potenciais conflitos de interesse

Valor Econômico

Membros do STF, do BC e do TCU foram à NY às custas do Lide

A viagem do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva ao Egito no jato de um bem sucedido empresário do ramo da saúde suscitou uma relevante discussão sobre conflitos de interesse.

Lula venceu a eleição, mas ainda não exerce o cargo de presidente e nem sequer foi diplomado. A rigor, portanto, ele não foi à COP27, a Conferência do Clima, como representante do governo brasileiro. Pelo prestígio e pelo cargo que irá assumir em janeiro, o petista cumpre uma agenda típica de chefe de Estado em Sharm el-Sheikh, a cidade sede do encontro. Mas chefe de Estado ele não é.

Não há dúvida de que teria sido melhor evitar a aeronave do empresário. Mas só uma cabeça muito obtusa pode defender que, no atual patamar de polarização, o petista, em nome da impessoalidade, deveria se arriscar num voo comercial. O PT poderia financiar via Fundo Partidário, mas não tem essa obrigação e alega não dispor dos recursos. Caberia ao governo brasileiro fornecer o transporte ao presidente eleito?

Ninguém enxergaria problema nisso se Lula estivesse prestes a suceder um presidente que, em elevado clima de transição, tivesse tido a inteligência política de convidá-lo para uma participação conjunta na importante conferência.

Luiz Carlos Azedo - Lula propõe aliança estratégica com o agronegócio

Correio Braziliense

Emerge da COP27 uma nova institucionalidade ambiental, na qual o Brasil precisa se inserir, pois ditará os rumos das relações comerciais e das cadeias globais de produção

A reforma agrária, a velha bandeira da esquerda brasileira, que remonta ao debate sobre a industrialização na década de 1930, partia da premissa de que monocultura agrícola, inclusive a agromanufatura açucareira, era uma das causas do nosso subdesenvolvimento. Havia até então a concepção de que somente a eliminação dos grandes latifúndios poderia desenvolver o capitalismo no campo, o que na verdade já existia desde o fim da escravidão. Achava-se que éramos um país de agricultura feudal.

Essa compreensão, por exemplo, ignorava o fato de que o Convênio de Taubaté havia mudado completamente a relação do Brasil com o mercado mundial de café, sendo um fator decisivo para a própria industrialização, principalmente em São Paulo, cujos cafeicultores acumularam muito capital e priorizaram os investimentos em atividades produtivas, em vez do patrimonialismo que predominou em outras regiões do país.

William Waack - O muro ficou estreito

O Estado de S. Paulo

Lula ainda não decidiu entre velha e nova política externa para seu governo

No domingo, dia 30, Lula tinha acabado de ganhar a eleição, mas era essencial que governos dos países centrais reconhecessem a vitória o mais rápido possível, ajudando a torná-la um fato consumado incontestável. Foi então que o presidente francês ligou.

Passava das duas da manhã de segunda-feira, 31 de outubro, em Paris e era o próprio Macron que estava do outro lado da linha. Mas Lula nem ficou sabendo. Integrantes da velha-guarda do PT, Celso Amorim à frente, controlaram as demandas internacionais pelo presidente eleito. Deram preferência a Cuba, Bolívia e Argentina. E o secretário-geral da ONU recebeu o mesmo tratamento dispensado a Macron, ou seja, ficou para o dia seguinte.

Eugênio Bucci* - O lábaro estiolado

O Estado de S. Paulo

Os golpistas que sequestraram e estiolaram as cores nacionais ainda vão dar muito trabalho. As instituições que se preparem

No feriado de 15 de novembro, data da Proclamação da República, subiu um pouco o número de pedestres que se concentram em frente a quartéis de algumas cidades brasileiras para requisitar um golpe de Estado. Tem sido assim desde que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) proclamou o resultado das urnas, dando a vitória a Luiz Inácio Lula da Silva. A turma que não se conforma exige que as baionetas anulem a eleição. Uma das faixas desfraldadas em São Paulo, diante da sede do Comando Militar do Sudeste, ao lado da Assembleia Legislativa, anteontem, resumiu bem o espírito do pessoal: “Nação brasileira implora por socorro – SOS Forças Armadas”.

Míriam Leitão – Acertos na COP e problemas aqui

O Globo

Lula envia o recado certo na Egito. No Brasil, problemas o esperam Na volta, vai enfrentará o xadrez na montagem do ministério e delírios golpistas

O presidente eleito Lula demonstrou no forte discurso na COP27 que amadureceu sua compreensão sobre o tema. Ele já havia sido um bom governante no combate ao desmatamento, mas desta vez chegou falando em “emergência climática”, em como o clima passou a ser central. Lula disse que não medirá esforços para combater o desmatamento, defendeu indígenas, propôs aliança mundial contra a fome, uma parceria com o agronegócio, fez cobranças aos países ricos, convidou a COP para vir para o Brasil e indicou que pode vir a criar uma coordenação “do mais alto perfil” para o tema, referindo-se talvez à Autoridade Climática.

— Em dez minutos de discurso fez mais pelo meio ambiente do que Bolsonaro em toda a vida. Falou de forma direta, sem rodeios, ao ponto. Falou o que interessava na questão interna, e também foi direto ao ponto ao se dirigir aos países ricos. Ele cobrou promessa dos outros, mas fez suas próprias promessas — afirmou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.

Maria Hermínia Tavares* - Uma voz nova no planeta

Folha de S. Paulo

Na esfera climática, o país é crucial para o destino da vida na Terra

Dois Brasis fazem parte da numerosa delegação que foi a Sharm El-Sheikh, no Egito, para a COP27 (27ª Conferência das Partes). Patrocinado pela ONU, o encontro reúne lideranças dos quatro cantos do mundo para discutir o desafio comum das mudanças climáticas. O Brasil do presidente vencido nas urnas, nos estertores de seu desgoverno, foi cumprir tabela, encerrando, com um murmúrio, quatro anos de desmantelamento da imagem da nação.

O outro Brasil, representado por governadores e demais autoridades subnacionais; personalidades ligadas à defesa do meio ambiente; organizações da sociedade civil; empresários e — sobretudo — pelo presidente eleito, compareceu para mostrar o quanto se avançou na percepção dos inúmeros riscos ambientais aqui presentes e nas propostas para enfrentá-los. Desde 2019, amadureceu a consciência da importância da defesa do patrimônio ambiental para o desenvolvimento e a projeção externa do país.

Bruno Boghossian - Lula faz política interna no Egito

Folha de S. Paulo

Passagem pela COP27 dá impulso antecipado ao petista em meio a incertezas domésticas

Lula viajou 10.000 km para fazer política interna. Dias antes de embarcar para o Egito, o presidente eleito explicou a um aliado que a ideia de um giro internacional no período de transição e no início do mandato seria importante para reposicionar o país no mundo. O petista indicou, no entanto, que sua principal aposta está nos efeitos domésticos que pode colher nesse prazo.

Uma pista já havia aparecido no discurso após a vitória nas urnas. Ao lançar o slogan da política externa de seu terceiro mandato ("o Brasil está de volta"), Lula apontou que pretendia recuperar credibilidade internacional para obter a confiança de investidores estrangeiros.

Thiago Amparo - Clima além da COP no Brasil

Folha de S. Paulo

Presidente eleito precisa mostrar que não é só de discursos que a sua política climática será feita

A fala do presidente eleito Lula na COP27 é nada menos do que uma aula de política externa estadista cujo primor resta cristalino em suas linhas e entrelinhas — é um discurso marcado pelo equilíbrio de opostos, que evita o confronto, mas mantém a contundência. Nada disso poderia ser feito, aliás, sem a liderança de Marina Silva. Pena que o grupo de transição na área internacional não reflita a pluralidade que fez possível este momento na COP.

Vinicius Torres Freire - Governo paga caro pela transição

Folha de S. Paulo

Juros na praça do mercado dão salto grande; Senado diz que PEC não passa como está

Se o governo quisesse tomar dinheiro emprestado nesta quarta-feira (16), pagaria muito mais do que na quarta passada, um dia antes do "Lula Day", como dizem os povos dos mercados. As taxas de juros deram um salto no mercado de títulos da dívida pública. Foram ao pico recente, de julho passado, e estão no nível mais alto desde o início do desastroso 2016.

O governo, o Tesouro Nacional, não precisa tomar dinheiro emprestado durante esses tumultos. Pode (ainda) esperar por uns dias, por um preço melhor. Se o caldo engrossar por mais tempo, o Tesouro acaba tendo de engolir a coisa. Isto é, pagar taxas de juros mais altas para cobrir a despesa para a qual não há receita e para rolar a dívida que vence, grosso modo.

Ruy Castro - Os novos subversivos

Folha de S. Paulo

Em 1964, a subversão foi pretexto para um golpe; em 2022, pode ser de novo

É tocante: homens, mulheres e crianças fantasiados de verde-amarelo e enrolados em bandeiras, ajoelhados e de mãos postas diante dos quartéis, implorando que os militares salvem o Brasil. Esta salvação consiste em impedir, a sabre e cavalo, a posse do presidente eleito e manter no poder o derrotado, parece que ainda em exercício. Como a alternância do poder pelo voto direto é uma condição da democracia e, segundo a Constituição, o Brasil é um estado democrático de direito, é acintoso que se pregue aberta e impunemente um golpe de Estado. Mas o que espanta é que os quartéis ouçam toda essa subversão e fiquem em silêncio.

Celso Lafer* - Goldfajn é boa opção para Lula

O Globo

Sua indicação pelo governo Bolsonaro foi por mérito, e não compadrio político

Há assuntos que têm natureza de Estado, não de governos. É o caso da candidatura de Ilan Goldfajn à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Faço a observação na condição de quem foi persistente crítico do atual governo e declarou publicamente voto em Lula na eleição presidencial, em conjunto com muitos outros que não integram a família petista, mas entenderam que ele era a melhor alternativa para superar os desastres da era Bolsonaro.

A indicação de Goldfajn pelo governo Bolsonaro foi por mérito, e não compadrio político. Muito poucos possuem as qualificações comprovadas de Goldfajn como economista, exercidas com grande competência na presidência do Banco Central.

Solapar sua candidatura, que tem grande potencial de viabilidade, em função de seus méritos e de seu percurso, não é do interesse do Brasil. É, no entanto, o que ocorreu com a manifestação de prócer da família petista. Pode significar que o Brasil corre o risco de perder a oportunidade de exercer a presidência do BID, na lógica da alternância dos compromissos dos integrantes de um banco em cuja criação o país teve papel decisivo — uma expressão da diplomacia econômica de desenvolvimento do governo JK.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Discurso de Lula na COP27 resgata papel do Brasil

O Globo

Presidente eleito errou feio ao aceitar carona em jatinho de empresário, mas falou o que se esperava dele

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva errou feio ao aceitar a carona no avião de um empresário envolvido na Operação Lava-Jato para Sharm el-Sheikh, no Egito, onde acontece a conferência do clima das Nações Unidas, a COP 27. A atitude mostra que não apenas a extrema direita acampada diante dos quartéis vive numa realidade alternativa. As amizades do PT com empresários estão na raiz de escândalos de corrupção que o Brasil não esqueceu — e nem deveria.

É uma pena, pois a presença de Lula na COP27, além de bem-vinda, é essencial para resgatar o Brasil dos escombros a que foi lançado pela diplomacia errática e pela política ambiental devastadora do governo Jair Bolsonaro. Em seu discurso, Lula falou o que se esperava. Prometeu lutar contra o desmatamento ilegal, cuidar dos povos indígenas e dar cidadania aos habitantes da região. Em tempos normais, seria um discurso previsível. Depois de quatro anos de destruição da Amazônia sob Bolsonaro, foi um alívio.

Poesia | Manuel Bandeira - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Joyce Cândido e Luanda Cozetti em Lisboa - Samba em prelúdio (Vinícius de Moraes e Baden Powel)

 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Sergio Fausto* - Desintoxicação política

O Estado de S. Paulo

Extensa e complexa, a agenda de normalização do País deve ser enfrentada com serenidade, mas com firmeza

Levará tempo para dissipar o veneno que impregnou a atmosfera política brasileira nos últimos anos. A boa gestão da economia pelo futuro governo é condição necessária para que isso ocorra. Mas não é condição suficiente.

A impregnação vem de longe, ao menos desde 2014, quando se fez “o diabo” para reeleger Dilma e, em seguida, para apeá-la do poder. O processo ganhou intensidade e escala sem precedentes nos últimos quatro anos e atingiu seu ponto de saturação máximo nesta campanha eleitoral. As cenas vistas nos últimos dias mostram aonde chegou o delírio promovido pelo autoritarismo bolsonarista.

O ovo da serpente começou a ser chocado quando a disputa normal entre as forças democráticas se tornou uma luta destrutiva entre “nós” e “eles” e se acirrou a competição por mais recursos privados para o financiamento da atividade política, com as consequências conhecidas. A Lava Jato saiu dos trilhos, mas os esquemas de corrupção eram reais. A dura travessia do mandato presidencial que agora se encerra deve servir de lição definitiva para que o erro e o pecado não se repitam.

Vera Magalhães - COP27 é antessala do desafio de Lula

O Globo

Presidente eleito concentra expectativa, mas tem de fugir de velhos vícios

A ida de Luiz Inácio Lula da Silva à COP27, no Egito, é a melhor síntese, até aqui, das enormes expectativas e dos complexos desafios apresentados diante do petista para seu terceiro mandato. Os olhos dos líderes mundiais estão todos voltados para o presidente eleito, como se Jair Bolsonaro, cujo paradeiro é incerto e irrelevante, a esta altura, já fosse página virada.

Prova disso foi o discurso melancólico, de fim de feira, proferido pelo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, em que, em tom irônico e ressentido, voltou a minimizar a emergência climática ao chamar os discursos de “ufanistas" e “populistas”.

A verdade é que ele era um estranho naquele ninho, designado a participar de uma cúpula para a qual seu chefe nunca deu a mínima, que dirá agora, quando está num misto de negação e incentivo velado ao golpismo que tomou as ruas desde que foi derrotado por Lula, a estrela da festa egípcia.

Elio Gaspari - Lula nos dias de encantamento

O Globo

No Egito, o Brasil livrou-se de um encosto

Lula desceu gloriosamente em Sharm el-Sheikh. Ele vive alguns dos melhores dias de sua vida. Chegou à COP27 colocando o Brasil de volta no mundo e deixou para trás um país com a esperança de melhores dias. Quando voltar, encontrará os velhos e os novos problemas. Os velhos não foram criados por ele, assim como os novos não serão do governo que vai embora.

Lula ainda não anunciou seu ministério, e a arrogância de Guido Mantega criou-lhe problema ao insinuar um veto do novo governo ao nome do economista Ilan Goldfajn à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Mantega foi ministro da Fazenda durante o consulado petista, e Goldfajn foi presidente do Banco Central durante o governo de Michel Temer.

Formam uma rara dupla. Não se conhece quem fale bem da passagem de Mantega pela Fazenda, nem quem fale mal de Goldfajn no Banco Central.

Mantega deu sua canelada em Goldfajn enquanto dizia que não seria ministro do novo governo e era confundido como um dos integrantes da equipe de transição:

— Eu saio dessa vanguarda e fico na retaguarda, ajudando com conselhos e tudo mais...

Põe retaguarda nisso. Mantega não seria ministro nem integrava formalmente a equipe de transição porque, por decisão do Tribunal de Contas da União, está impedido de ocupar função pública até 2030.

Bernardo Mello Franco - Toffoli viu o filme errado

O Globo

Ministro mostra desconhecimento e ofende Argentina ao criticar julgamento de torturadores

Depois de chamar o golpe de 1964 de “movimento”, Dias Toffoli resolveu criticar a Argentina por julgar e punir os carrascos da ditadura militar. Na segunda-feira, o ministro do Supremo disse que o país vizinho “ficou preso no passado, na vingança, no ódio e olhando para trás, no retrovisor, sem conseguir se superar”.

“Nós não podemos nos deixar levar pelo que aconteceu na Argentina”, pontificou, em palestra a empresários brasileiros em Nova York. “Não vamos cair nessa situação em que infelizmente alguns vizinhos nossos caíram”, prosseguiu.

Para além da ofensa aos argentinos, que já condenaram 1.088 responsáveis por crimes contra a humanidade, as declarações revelam desconhecimento sobre a História e o papel da justiça de transição.

Luiz Carlos Azedo - O general e a gênese do golpismo castrense

Correio Braziliense

Desde de 1964, nunca houve tanta agitação a favor de um golpe militar como a que estamos assistindo desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Ontem, Dia da Proclamação da República, seria apenas mais um dia em que gente muito fanática, defensora de uma intervenção militar, protestasse à porta dos principais comandos militares do país, entre os quais os do Planalto, em Brasília — onde reside a maioria dos generais de quatro estrelas —, e no Rio de Janeiro, que abriga o maior contingente militar do país. Seria apenas mais um dia de vigília bolsonarista, não fosse o Twitter do general Eduardo Villas Boas, uma indiscutível liderança militar, endossando as manifestações golpistas e pondo mais lenha na fogueira.

O ex-comandante do Exército poderia ter ficado na dele, mas não: decidiu surfar os protestos para reafirmar sua liderança junto aos descontentes com a derrota do presidente Jair Bolsonaro e, talvez, na tropa que está na ativa. “A população segue aglomerada junto às portas dos quarteis pedindo socorro às Forças Armadas. Com incrível persistência, mas com ânimo absolutamente pacífico, pessoas de todas as idades, identificadas com o verde e o amarelo que orgulhosamente ostentam, protestam contra os atentados à democracia, à independência dos poderes, ameças à liberdade e as dúvidas sobre o processo eleitoral”, afirma.

Vera Rosa - Alckmin no serpentário da transição

O Estado de S. Paulo

Lula quer que vice eleito assuma cada vez mais protagonismo, para desespero do PT

A viagem de Luiz Inácio Lula da Silva ao Egito, onde participa da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27), é a primeira de um roteiro internacional que o presidente eleito quer fazer após assumir o governo. Lula diz que vai “religar o Brasil ao mundo”, cuidar da política, da economia, de pautas ambientais e do combate à fome. Para desespero do PT, a ideia é mesmo delegar grande parte da agenda administrativa a Geraldo Alckmin.

Ex-tucano com perfil de centro, Alckmin não será um vice decorativo. Não foi à toa que Lula o escolheu para coordenar o gabinete da transição, à revelia dos petistas. Quer agora, porém, que o copiloto deixe de ser “telegráfico” e vire uma espécie de portavoz do novo governo. A ordem provoca ciúmes no serpentário da transição, onde faltam diretrizes e sobram disputas. Coube a Alckmin, por exemplo, minimizar o erro de Lula ao pegar carona em um jato do empresário José Seripieri Filho para a COP-27.

Paul Krugman* - Trump é fraco, mas o Partido Republicano é ainda mais

O Estado de S. Paulo.

Comparação Biden é visto como líder fraco. Trump foi percebido após deixar o poder como forte por republicanos

Depois do decepcionante desempenho nas eleições parlamentares de meio de mandato, as elites republicanas parecem ter decidido que Donald Trump é seu maior problema. O império das comunicações de Rupert Murdoch tem criticado o ex-presidente. Muitos doadores estão agrupando-se em torno do governador da Flórida, Ron Desantis. Mas Trump não se renderá sem alarde. Trump conseguirá garantir sua indicação apesar das hesitações das elites? Se não conseguir, o homem que jamais mostrou nenhuma lealdade ao seu partido – e nenhuma lealdade a não ser a si mesmo – passará a sabotar os republicanos? Falemos do quão excepcional é alguém como Trump dominar um dos dois maiores partidos políticos dos EUA e reter uma base substancial. Não estou falando do fato de Trump adotar visões políticas repreensíveis, nem a respeito de ele ter empreendido várias ações, incluindo uma tentativa de reverter o resultado de uma eleição nacional, que podem ser descritas como sediciosas. A maior parte do Partido Republicano não vê problema nisso.

Hélio Schwartsman - O tamanho da transição

Folha de S. Paulo

Num Congresso dominado pelo centrão, sai bem mais barato negociar uma emenda constitucional

Não há dúvida de que o Congresso precisa dar ao governo Lula uma folga orçamentária, que inclua mais uma mexida no moribundo teto de gastos. O Orçamento para 2023, do jeito que está, não para em pé. A solução que se aventa é excluir do limite do teto as despesas com o Bolsa Família. A dúvida é se essa licença deve valer só para o próximo ano ou para todo o mandato do petista.

Lula e seus aliados gostariam que prevalecesse o prazo mais longo. Há um bom argumento a favor dessa tese. Num Congresso dominado pelo centrão, sai bem mais barato negociar uma emenda constitucional (que exige maioria de 3/5 para ser aprovada) uma única vez do que fazê-lo anualmente, o que resultaria em quatro mordidas com preços variáveis. Quanto mais difícil a situação política do governo, mais cara a aprovação.

Bruno Boghossian - Bolsonarismo na oposição

Folha de S. Paulo

Se Bolsonaro sempre apostou no golpismo, não há por que acreditar que fará oposição de forma civilizada

Por quatro anos, Jair Bolsonaro se dedicou a tumultuar o ambiente político. Tentou atropelar as regras do jogo, atacou órgãos de controle, atuou para deslegitimar adversários, alimentou personagens extremistas de seu campo, espalhou desinformação, buscou corroer a confiança nas eleições e nutriu ameaças recorrentes de um golpe militar.

Se Bolsonaro usa essas ferramentas enquanto tem o poder nas mãos, não há por que acreditar que ele passará à oposição de maneira civilizada. Mesmo antes da saída do presidente do cargo, o bolsonarismo dobrou a aposta em sua rede de mentiras, na deterioração do sistema democrático e numa investida permanente contra as instituições.

Um dos marcos da nova etapa é a sustentação da falsa teoria de que a derrota de Bolsonaro nas urnas foi provocada por uma conspiração contra o capitão. Ainda que o presidente tenha recomendado que manifestantes golpistas desbloqueassem rodovias, ele e seus companheiros na cúpula das Forças Armadas fizeram questão de validar protestos nas portas dos quartéis.

Recluso após derrota, Bolsonaro planeja viagens pelo país mirando eleições municipais

PL quer aproveitar capital político para aumentar número de prefeituras

Jussara Soares /O Globo

Brasília - Recluso no Palácio da Alvorada desde a derrota nas urnas, Jair Bolsonaro tem discutido com aliados seu futuro fora da Presidência da República a partir de 2023. Pela primeira vez em 34 anos, não estará à frente de um mandato político, mas, apesar disso, não ficará sem função. Terá um cargo no PL e pretende viajar pelo país já de olho na disputa do Palácio do Planalto em 2026. Antes, deve ajudar a eleger aliados nas eleições municipais de 2024.

Embora seja o primeiro presidente a não conseguir se reeleger, Bolsonaro deixará o cargo com um capital que representa quase metade do eleitorado do país — ele teve 49,1% dos votos contra 50,9% de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente eleito. Também contará com uma tropa aliada de pelo menos cem parlamentares no Congresso, que surfaram na onda do bolsonarismo para se eleger.

— Não foi Lula que ganhou, foi Bolsonaro que perdeu. Agora, ele também não é apenas uma oposição, é líder de uma massa. Ele vai andar o país, porque sabe que é o maior líder de direita que este país já teve. Além disso, com seu capital político, vai conseguir que seus aliados no Congresso pressionem o governo Lula — disse o pastor Silas Malafaia, líder da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e amigo do presidente.

Relatórios identificam líderes de atos em apoio a Bolsonaro

Políticos e donos de estandes de tiro estão entre financiadores

Rayssa Motta, Fausto Macedo / O Estado de S. Paulo.

Políticos, policiais e ex-policiais, servidores públicos, sindicalistas, empresários do agronegócio e donos de estandes de tiro lideram e financiam atos com mensagens antidemocráticas e em apoio a Jair Bolsonaro (PL) pelo País. É o que mostram relatórios enviados pelas polícias Civil, Militar e Federal e pelo Ministério Público nos Estados ao Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido do ministro Alexandre de Moraes. Os documentos identificam líderes dos atos, donos de veículos usados para bloquear vias e responsáveis pela infraestrutura das manifestações, como carros de som e banheiros químicos. Eles não são acusados de crimes, mas poderão ser investigados criminalmente. As concentrações na frente de comandos militares foram engrossadas ontem, durante o feriado da Proclamação da República. Em São Paulo, manifestantes se ajoelharam e rezaram.

Relatórios enviados pelas polícias Militar, Civil e Federal e pelo Ministério Público nos Estados ao Supremo Tribunal Federal (STF) indicam o perfil dos líderes e financiadores dos protestos com mensagens antidemocráticas que resultaram em bloqueios de estradas após as eleições e concentrações próximas a instalações das Forças Armadas pelo País.

Os documentos foram produzidos por ordem do ministro Alexandre de Moraes e reúnem fotos, levantamentos sobre os alvos e detalhes a respeito do trabalho em curso para desmobilizar as manifestações. As primeiras informações foram divulgadas pelo site SBT News. A reportagem do Estadão teve acesso aos documentos encaminhados pelos órgãos de segurança ao STF.

Bolsonaristas fazem atos antidemocráticos em pelo menos 8 capitais e em Brasília

Mais de duas semanas após o resultado da eleição, manifestantes saem de casa no feriado e ocupam portas de quartéis com "apelo" às Forças Armadas

Por O Globo

Rio de Janeiro - Dezesseis dias após o fim da eleição, que definiu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) novo presidente, grupos bolsonaristas voltaram a se reunir em frente a quartéis e áreas militares pelo país para protestar contra o resultado. Em maior e menor escala, os atos antidemocráticos são realizados neste feriado em pelo menos oito capitais brasileiras, além do Distrito Federal, e cidades como Vila Velha (ES), Ribeirão Preto (SP), Joinville (SC) e Dourados (MS).

Nos atos, o verde e amarelo são as cores predominantes, e os bolsonaristas cantam o hino nacional e fazem apelo para que as Forças Armadas "salvem o Brasil", sob o discurso de que houve fraude nas urnas. A alegação, no entanto, contraria relatórios do Ministério da Defesa, do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Ordem dos Advogados (OAB) que afirmam não terem encontrado qualquer indício de fraude nas urnas eletrônicas e no processo eleitoral.

No Rio de Janeiro, os manifestantes se reúnem desde a manhã desta terça em frente ao Palácio Duque de Caxias, no centro da capital, próximo a Central do Brasil. O local recebe diariamente manifestantes antidemocráticos, no entanto, o feriado levou mais pessoas para a região. A Avenida Presidente Vargas chegou a ficar com o acesso fechado nos dois sentidos no início da tarde.

Nilson Teixeira - Ruídos na comunicação de Lula

Valor Econômico

Reação negativa dos preços dos ativos pode ser revertida até antes do anúncio da equipe de governo e das estatais

O presidente eleito tem usado seus discursos para enfatizar que a principal missão do seu governo será a eliminação da miséria e a redução da pobreza nos próximos anos. Essa escolha é ainda mais justificável no caso de Lula devido à enorme dianteira da sua votação frente ao resultado do candidato incumbente entre a população das regiões mais carentes e os eleitores de menor renda. O discurso de Lula em 10 de novembro, proferido no calor da emoção para “pessoas mais qualificadas do ponto de vista político”, se norteou provavelmente por essa diretriz.

Mesmo assim, a interpretação da maioria dos participantes de mercado foi de que o presidente eleito criticou possíveis restrições impostas ao combate à pobreza pelo controle da inflação e das contas públicas. Os comentários contribuíram para a forte alta dos juros, a expressiva depreciação cambial e o enorme recuo dos preços da maioria das ações, movimento contrário ao dos preços dos ativos no exterior, que aumentavam bastante no mesmo dia, após a divulgação de uma inflação ao consumidor nos Estados Unidos inferior à prevista pelo mercado.

Os aliados do presidente eleito tiveram uma interpretação mais favorável sobre o discurso e a maioria entendeu o forte recuo dos preços dos ativos locais como uma reação contrária ao presidente por parte dos participantes de mercado. Certamente, não se tratou disso.

Responsabilidade social e fiscal vão juntas, não há oposição, diz Persio Arida

Para economista, países que olharam mais para um dos lados da equação tiveram problemas

Mariana Ribeiro / Valor Econômico

O economista Persio Arida, parte da equipe de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse há pouco que responsabilidade fiscal e social “vão juntas” e que é preciso avançar nas duas frentes.

 “Não há oposição”, disse Arida no Lide Brazil Conference, em Nova York, nos Estados Unidos. O economista afirmou que há diversos casos de países que olharam mais para um dos lados da equação e tiveram problemas.

Arida havia sido questionado sobre declarações recentes de Lula a respeito da responsabilidade fiscal que levaram à reação negativa do mercado. Arida disse que, por pertencer ao grupo de transição, não poderia fazer comentários mais aprofundados sobre o tema.

Fernando Exman - Surpresas que a equipe econômica reserva

Valor Econômico

Deve-se olhar o perfil do secretariado e a diretoria do BC

As expectativas se concentram no anúncio do novo ministro da Fazenda, e é natural que seja assim: desde a campanha, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se esquiva quando é perguntado sobre o assunto. Mas é recomendável manter as atenções, também, nos demais postos da equipe econômica. Inclusive nos escalões inferiores.

Parte do suspense pode terminar quando Lula retornar do Egito, onde participa da cúpula do clima, a COP27. Contudo, aliados do petista lembram como, em 2002, ele adiou o máximo possível o chá de revelação durante a gestação do seu primeiro ministério.

Naquele ano, Lula só tornou público o nome do chefe da equipe econômica no dia 10 de dezembro. E o anúncio saiu em uma espécie de ato falho, durante uma visita à capital dos Estados Unidos.

Daniel Rittner - Para o Brasil ser feliz de novo

Valor Econômico

Alguns pesquisadores colocam o dinheiro como fator que influencia a felicidade dos indivíduos e da sociedade - até certo ponto

Jornalista de formação e diplomata de carreira, auxiliar da ex-primeira-ministra social-democrata da Suécia por anos, Karin Wallensteen chegou há cerca de três meses no Brasil para comandar a embaixada do país nórdico. Foi um regresso ao lugar onde ela já havia morado e trabalhado entre 2004 e 2006, como primeira-secretária, mas que não conseguiu visitar por uma década e meia. Na volta, algumas surpresas. Boas e ruins.

As surpresas positivas de Karin começaram a bordo do avião. Depois de anos ouvindo falar sobre crises econômicas, esperava o entorno de Brasília dominado por favelas. “Deu para ver muitas comunidades pobres, certamente, mas menos miséria do que eu temia”, notou.

Em terra firme, percebeu como os aeroportos brasileiros se modernizaram em 16 anos, graças ao investimento privado no setor. “Muitos se parecem até com terminais europeus”, disse a embaixadora. Finalmente, em suas reuniões na Esplanada dos Ministérios, veio uma satisfação: “Quando eu servi no Brasil, pela primeira vez, havia bem menos negros no governo”. Karin não se referia a ministros, mas aos servidores em geral, que fazem a máquina pública girar. Frisou que isso não significa, nem de longe, igualdade racial ou um suposto alívio no racismo. Sem exageros ou reflexões forçadas. Só lhe pareceu, olhando assim de soslaio, alguma evolução.

Cristovam Buarque* - Pisos e tetos

Correio Braziliense, 15.11.22

Lula tem razão quando lembra que muitos defendem o teto de gastos para evitar a volta da inflação, sem defesa de piso social, para assegurar todo brasileiro com alimentação satisfatória, escola de qualidade, atendimento de saúde, moradia com saneamento, garantia de emprego e renda com moeda estável. Tanto quanto a desigualdade como a educação de base é oferecida, a maior causa da pobreza é a desvalorização da moeda que rouba o valor dos salários pagos aos trabalhadores. Há décadas a inflação faz parte da arquitetura de concentração de renda, que os economistas, empresários e políticos impõem ao povo brasileiro. Mas a estabilidade da moeda é insuficiente se os governos não fizerem os investimentos sociais necessários.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Brasil não tem como escapar de debate sobre regra fiscal

O Globo

Proposta de técnicos do Tesouro é um excelente início para uma conversa essencial no novo governo

É bem-vinda a proposta de novo arcabouço fiscal de técnicos do Tesouro Nacional. As ideias do texto, inspiradas no debate global sobre contas públicas, começaram a ser discutidas ainda no governo Michel Temer e deverão enriquecer um diálogo de que o Brasil não tem como escapar em 2023.

Ao acabar, o governo Bolsonaro terá estourado o teto de gastos em três de seus quatro anos. Se a pandemia serviu de justificativa no início, o Congresso se encarregou de aproveitar o pretexto para transformar em prática recorrente as emendas constitucionais como forma de rompê-lo. O governo eleito quer adotar o mesmo expediente para poder gastar mais R$ 175 bilhões por quatro anos — um cheque de R$ 700 bilhões cujos fundos ninguém sabe dizer de onde virão. Na campanha eleitoral, o teto de gastos foi torpedeado de todos os lados, mas até agora os vitoriosos nada sugeriram para substituí-lo.

Poesia - Carlos Pena Filho - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Teresa Cristina - O Orvalho vem caindo / Um Pierrot apaixonado (Noel Rosa)

 

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Merval Pereira -O futuro em discussão

O Globo

Em seminário em Nova York, ministros do STF deixam claro que a instituição será um agente importante na retomada democrática do país

O seminário promovido em Nova York pelo grupo Lide, que reuniu nada menos que cinco ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), deu sinais importantes sobre o presente e o futuro do país.

Parte do presente, um país dividido e radicalizado manifestava-se histericamente em frente ao Harvard Club e na caça a ministros pela cidade. O futuro desenhou-se durante os debates, onde se viu um grupo inusualmente unido em defesa da democracia, com uma visão de futuro que privilegia a luta contra a desigualdade em suas diversas facetas e a preocupação com a questão climática, que pode vir a se transformar num ativo social e econômico do país. Também a demarcação das terras indígenas e a proteção dos povos originários serão tema prioritário para o Supremo.

Um Supremo unido pelo espírito de corpo que os ataques sofridos suscitaram parece caminhar para uma ação mais propositiva na defesa da democracia, sintetizada pela luta contra as desigualdades sociais. As ações, embora agressivas e violentas, dos bolsonaristas golpistas levaram vários ministros a realçar a necessidade de o Estado brasileiro atender às demandas básicas da sociedade.

Míriam Leitão - País entre o vácuo e a expectativa

O Globo

No Egito, Lula será visto como chefe de Estado. No Brasil o Orçamento continua enrolado

Dois eventos brasileiros ocorriam em Sharm el-Sheikh. No estande Brazil Hub, da sociedade civil, estavam representantes do futuro governo como Marina, Izabella Teixeira, Randolfe Rodrigues, Joenia Wapichana. Foram assistir pessoas de diversos países, organizações e empresas. Havia espaço para 80 pessoas, apareceram 500. A segurança da ONU teve que ser chamada para abrir um corredor em frente ao Brazil Hub porque a aglomeração impedia a passagem. No pavilhão oficial do Brasil, às moscas, o ministro Joaquim Leite dava uma palestra para vinte pessoas sobre suas propostas. Este ano ,o governo Bolsonaro decidiu que não fala de Amazônia, apenas de energia.

O presidente eleito Lula, que desembarca hoje no Egito, já é considerado o evento político mais importante dessa Conferência da ONU para o Clima. Doze chefes de estado pediram reuniões bilaterais, além da presidente da Comissão Europeia, e do secretário geral da ONU. E a lista cresce. Isso tem o significado claro: para o mundo, Lula já é chefe de Estado.