O Globo
No Egito, Lula será visto como chefe de
Estado. No Brasil o Orçamento continua enrolado
Dois eventos brasileiros ocorriam em Sharm
el-Sheikh. No estande Brazil Hub, da sociedade civil, estavam representantes do
futuro governo como Marina, Izabella Teixeira, Randolfe Rodrigues, Joenia
Wapichana. Foram assistir pessoas de diversos países, organizações e empresas.
Havia espaço para 80 pessoas, apareceram 500. A segurança da ONU teve que ser
chamada para abrir um corredor em frente ao Brazil Hub porque a aglomeração
impedia a passagem. No pavilhão oficial do Brasil, às moscas, o ministro
Joaquim Leite dava uma palestra para vinte pessoas sobre suas propostas. Este
ano ,o governo Bolsonaro decidiu que não fala de Amazônia, apenas de energia.
O presidente eleito Lula, que desembarca hoje no Egito, já é considerado o evento político mais importante dessa Conferência da ONU para o Clima. Doze chefes de estado pediram reuniões bilaterais, além da presidente da Comissão Europeia, e do secretário geral da ONU. E a lista cresce. Isso tem o significado claro: para o mundo, Lula já é chefe de Estado.
Enquanto isso no Brasil, há enormes
obstáculos a remover antes de o governo começar. O senador Marcelo Castro,
relator do Orçamento, avisou ontem que entende da seguinte forma a solução para
o imbróglio do orçamento: o valor do Bolsa Família será colocado acima do teto
de gastos para sempre. Serão ao todo R$ 175 bilhões.
– Entendi que a PEC vai excepcionalizar o
Bolsa Família, porque a sociedade brasileira pactuou que precisa desse programa
para socorrer os milhões de pobres. Portanto, não tem condicionantes, nem
prazos. Ele é perene. Não é por um ano, nem por quatro. Se a gente está de
acordo que isso precisa ser colocado fora do teto, é para sempre — me disse o
senador, ontem à noite.
Mas há muita discussão dentro do novo
governo. A administração que acaba é contra, alega que tem que ser menor e
apenas por um ano. Tudo só ficará esclarecido amanhã quando for divulgada a
proposta da PEC. Se for da forma como o relator imagina, o resto do trabalho
será para remanejar o valor atual do Auxílio Brasil para todos os outros itens
onde falta dinheiro.
— Tirando-se para fora do teto os R$ 105
bilhões atualmente previstos, esses recursos vão ser usados para cobrir os
buracos em todos os outros pontos do orçamento. Mas eu vou querer que o governo
me mande tudo detalhadinho para essa distribuição — explicou Castro.
Não será fácil consertar esse orçamento.
Uma reunião na quinta-feira da semana passada na casa do senador Rodrigo
Pacheco já mostrou isso. Houve muita divergência sobre como e o que fazer para
que o Brasil possa começar no ano que vem tendo um orçamento.
Outro ponto de tensão na relação entre o
governo que sai e o que entra tem a ver com a questão climática. Ontem, o
vice-presidente Geraldo Alckmin exigiu as informações sobre o desmatamento. Os
dados do Prodes, que mediu o desmatamento de agosto de 2021 a julho deste ano,
estão prontos, mas o governo Bolsonaro os escondeu, como fez no ano passado. O
plano é divulgar depois da Conferência do Clima. Um abuso. Mais um.
Os brasileiros que estão no Egito dizem que
estão cercados de expectativa e alegria. O que mais ouvem é “o Brasil voltou”.
Nesse ambiente é que Lula desembarca. O Brasil sempre foi grande nas
negociações diplomáticas do clima, é o quinto maior emissor de gases de efeito
estufa, e tem a maior parte da maior floresta tropical. Bolsonaro nunca foi
numa COP, enxotou a conferência que seria realizada no Brasil em 2019. Lula,
como eu antecipei nessa coluna, no dia 6 de novembro, vai convidar a COP-30, de
2025, para ser realizada no Brasil.
Apesar desse bom ambiente para o Brasil, a
Conferência em si vai mal. Um dos pontos concretos é financiamento. Na COP-15,
em 2009, em Copenhague, foi fechado um acordo em que os países ricos
desembolsariam US$ 100 bilhões por ano para os países pobres e vulneráveis a
partir de 2020. Não estão cumprindo o combinado. O debate sobre o aumento das
ambições das metas acionais também patina. A guerra criou uma crise de energia
que está elevando as emissões da Europa. O Brasil nem pode atuar nesse impasse.
O governo atual sempre sabotou os acordos. Lula, apesar de ser recebido com
toda a alegria, não pode negociar. Só em 47 dias ele será presidente. O Brasil
está entre o vácuo e a expectativa de poder.
Um comentário:
Sim,um chefe de estado.
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