O Globo
Na última sexta-feira, Sérgio Cabral quase
saiu da cadeia. O Tribunal de Justiça do
Rio lhe concedeu um habeas corpus no processo em que é acusado de cobrar
propinas de empreiteiras que construíram o Complexo Petroquímico do Rio pela
Petrobras. Segundo a decisão, Cabral podia passar para a prisão domiciliar,
desde que não houvesse mais nenhuma ordem de prisão válida contra ele.
O oficial de Justiça fez
uma pesquisa, não achou nada e foi para o Batalhão Especial Prisional (BEP)
soltar o ex-governador. Nesse meio tempo, alguém lembrou que havia ordens de
prisão assinadas por Sergio Moro,
contra as quais a defesa ainda está recorrendo ao STF.
Só que, com o sistema da Justiça fora do ar, elas não apareciam na busca. Cabral, portanto, não podia ser liberado. Já era noite quando o oficial de Justiça foi embora levando o documento sem serventia.
Cabral governou o Rio de 2007 a 2014.
Denunciado por corrupção e lavagem de dinheiro, foi preso em 2016. Condenado em
23 ações, acumula pena de 425 anos e 20 dias.
Seu hábito mais famoso era pedir aviões e
helicópteros de empresários para viagens internacionais ou passeios de férias.
Em 2009, ele pegou emprestado o jato do então bilionário Eike Batista para ir
a Copenhague,
com o prefeito Eduardo Paes,
acompanhar a escolha da sede da Olimpíada.
Quando perguntaram se ele não considerava um problema ético viajar no avião de um empresário, Cabral respondeu: "Imagina. Ele é um empresário que quer o bem do Rio".
Eike também não achou nada demais. Anos
depois, Cabral confessou ter pagado US$ 2 milhões a delegados do Comitê
Olímpico para comprar os votos que trouxeram os jogos para o Rio. Eike, por sua
vez, confessou ter pagado US$ 16 milhões a Cabral, disfarçados por um contrato
falso de venda de uma mina de ouro.
Desde então, o país passou por várias
reviravoltas. A credibilidade da Lava -Jato foi pelos ares com a Vaza-Jato e a
adesão de Moro ao governo Jair
Bolsonaro. O ex-juiz foi considerado parcial pelo STF,
que cancelou suas decisões e as de instâncias superiores que as confirmaram.
Políticos que estavam presos foram soltos,
incluindo o sucessor de Cabral, Luiz Fernando Pezão (MDB). Lula não
só foi reabilitado, como acaba de se eleger presidente pela terceira vez.
Bolsonaro e seus aliados agora dizem
que Lula foi
liberado por armação do STF e
que ele não poderia ter se candidatado. Só esquecem que, nessa onda, o Supremo
também cancelou todas as decisões que embasaram as investigações contra Flávio
Bolsonaro (PL-RJ) por desvio de dinheiro público na popular
rachadinha.
Nesse contexto, talvez seja mesmo
implicância demais cobrar de Lula por
ter ido ao Egito participar da Conferência das Nações Unidas para o Clima no
jato do empresário José Seripieri, o Júnior. Dono da operadora de planos
QSaúde, Júnior é um bilionário cheio de amigos poderosos a quem gosta de
emprestar aeronaves, convidar para passear de iate e para visitar sua casa em
Angra dos Reis.
Em 2020, ele fechou um acordo com a
Procuradoria-Geral da República de Augusto
Aras e confessou diversos crimes, entre eles corrupção. A delação está
em sigilo, mas a multa é pública: R$ 260 milhões. Seus negócios dependem
fundamentalmente de decisões da Agência Nacional de Saúde Suplementar, a ANS,
cujos membros são nomeados pelo presidente da República.
Também deve ser implicância cobrar do
petista explicações sobre os dias que passou na Bahia na casa de um deputado,
dono de uma empresa de ônibus que presta serviços ao governo do estado
comandado pelo PT.
Afinal, como explicou o senador eleito pelo
PT do Piauí Wellington
Dias, não há regra que o impeça de pegar carona. Afinal, ele ainda não
tomou posse e, portanto, é um cidadão comum. Não importa que o artigo 317 do
Código Penal classifique como corrupção passiva solicitar ou receber vantagem
indevida “ainda que fora da função ou antes de assumi-la”. Segundo o senador, o
PT não tem dinheiro para fretar uma aeronave, mesmo tendo recebido R$ 78
milhões neste ano do fundo partidário.
"Alguém dá uma carona, qual é o
problema?", disse o piauiense.
Dias tem razão. O cancelamento de tantos
casos e decisões judiciais é quase um imperativo para que o cidadão “desveja”
tudo o que viu, “desleia” tudo o que leu e “desouça” tudo o que ouviu nos
últimos anos. Nada aconteceu no Brasil, portanto não há com que se preocupar.
Os delatores ainda não pediram o dinheiro de volta, mas esse dia há de chegar. Só não chega o dia de Cabral sair da cadeia, logo ele que já está há seis anos preso. Está na hora de corrigir isso.
4 comentários:
Um cidadão comum tão favorecido por megaempresários... Quando estes vão me oferecer uma passagenzinha de ônibus pra eu conhecer o Rio de Janeiro e passear por algumas das suas tão belas praias?
Se fosse pobre morreria esquecido na prisão. Mais justiça aí,
Lula na berlinda.
Ao invés de soltar o Cabral, seria melhor PRENDER O BOLSONARO!
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