quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Paul Krugman* - Trump é fraco, mas o Partido Republicano é ainda mais

O Estado de S. Paulo.

Comparação Biden é visto como líder fraco. Trump foi percebido após deixar o poder como forte por republicanos

Depois do decepcionante desempenho nas eleições parlamentares de meio de mandato, as elites republicanas parecem ter decidido que Donald Trump é seu maior problema. O império das comunicações de Rupert Murdoch tem criticado o ex-presidente. Muitos doadores estão agrupando-se em torno do governador da Flórida, Ron Desantis. Mas Trump não se renderá sem alarde. Trump conseguirá garantir sua indicação apesar das hesitações das elites? Se não conseguir, o homem que jamais mostrou nenhuma lealdade ao seu partido – e nenhuma lealdade a não ser a si mesmo – passará a sabotar os republicanos? Falemos do quão excepcional é alguém como Trump dominar um dos dois maiores partidos políticos dos EUA e reter uma base substancial. Não estou falando do fato de Trump adotar visões políticas repreensíveis, nem a respeito de ele ter empreendido várias ações, incluindo uma tentativa de reverter o resultado de uma eleição nacional, que podem ser descritas como sediciosas. A maior parte do Partido Republicano não vê problema nisso.

FORÇA. Falo, em vez disso, da percepção evidente de muitos republicanos de que Trump é um líder forte, quando é extraordinariamente fraco. Historicamente, políticos que almejavam a presidência tinham de parecer, bem, presidenciais. Trump chega aos 76 anos como um adolescente mimado, levado e turrão. Mas o que se sobressai a respeito dele na presidência é sua incapacidade em fazer qualquer coisa. Sobre políticas domésticas, Trump concorreu em 2016 como um republicano diferente, capaz de romper com a ortodoxia do partido em relação a cortes de impostos antigoverno. As únicas grandes iniciativas em políticas domésticas de Trump foram os esforços fracassados em repelir o Obamacare e o tema-padrão republicano de cortar impostos sobre empresas e fortunas. O presidente Joe Biden não conseguiu tudo o que pretendeu em políticas domésticas, mas aprovou uma grande legislação de infraestrutura e, na Lei de Redução da Inflação, obteve tanto um financiamento sem precedentes para combater as mudanças climáticas quanto um fortalecimento significativo na assistência médica. E a surpreendente demonstração de força dos democratas nas eleições de meio de mandato provavelmente garantirá que o sucesso dessas políticas perdurem. No exterior, Biden reuniu e manteve unida a coalizão em apoio à Ucrânia, que possibilitou à nação invadida resistir ao ataque da Rússia – um enorme sucesso em política externa, que evoca o papel dos EUA anterior a Pearl Harbor, como “arsenal da democracia”. E a política de Biden em relação à China, centrada em restrições a exportações projetadas para minar as ambições tecnológicas de Pequim, é bem mais agressiva do que qualquer coisa de Trump. Ainda assim, Biden é retratado com frequência como fraco e obtuso, enquanto Trump foi percebido como um “líder forte” por 90% dos republicanos no dia em que relutantemente deixou a função. Como isso é possível? O culto à personalidade de Trump pode ter sido possibilitado em parte por forças além da política.

Afinal, nós costumávamos esperar comportamentos dignos tanto de capitães da indústria quanto de políticos. Mas nestes dias, talvez porque uma cultura de celebridades infecte tudo, líderes empresariais são levados a sério até mesmo quando parecem incapazes de evitar exibições de egoísmo e insegurança (como Elon Musk). Até poucos dias atrás, a Fox News, maior fonte de informações para grande parte da base republicana, dava a Trump o tipo de cobertura beatificadora que se espera de um meio de imprensa estatal em uma ditadura. Agora, essas mesmas elites querem Trump fora da jogada. Ainda que possam ser capazes de negar-lhe a indicação, elas provavelmente não conseguirão evitar pagar um enorme preço por sua covardia no passado. 

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