O Globo
Sua indicação pelo governo Bolsonaro foi
por mérito, e não compadrio político
Há assuntos que têm natureza de Estado, não
de governos. É o caso da candidatura de Ilan Goldfajn à presidência do Banco
Interamericano de Desenvolvimento (BID). Faço a observação na condição de quem
foi persistente crítico do atual governo e declarou publicamente voto em Lula na
eleição presidencial, em conjunto com muitos outros que não integram a família
petista, mas entenderam que ele era a melhor alternativa para superar os
desastres da era Bolsonaro.
A indicação de Goldfajn pelo governo
Bolsonaro foi por mérito, e não compadrio político. Muito poucos possuem as
qualificações comprovadas de Goldfajn como economista, exercidas com grande
competência na presidência do Banco Central.
Solapar sua candidatura, que tem grande potencial de viabilidade, em função de seus méritos e de seu percurso, não é do interesse do Brasil. É, no entanto, o que ocorreu com a manifestação de prócer da família petista. Pode significar que o Brasil corre o risco de perder a oportunidade de exercer a presidência do BID, na lógica da alternância dos compromissos dos integrantes de um banco em cuja criação o país teve papel decisivo — uma expressão da diplomacia econômica de desenvolvimento do governo JK.
Quem teve a experiência de participar de
processos de deliberação de instâncias multilaterais na escolha de seus
dirigentes, como é meu caso, sabe que a erosão do respaldo interno de uma
candidatura abre oportunidade para candidaturas de outros membros ao BID.
Entendo que Goldfajn na presidência do BID
será mais benéfico para o futuro do governo Lula que qualquer outro. Será
benéfico para os países latino-americanos — válida preocupação do presidente
eleito — porque contribuirá com sua larga visada para a superior convergência
de seus caminhos. Será relevante para a diplomacia econômica do próximo governo
Lula, que deverá fazer ajustes e reavaliações que provêm, no plano externo, das
transformações do sistema internacional e, no plano interno, dos desdobramentos
de uma eleição que foi fruto de uma coligação de apoio abrangente, distinta das
características do exclusivismo das anteriores vitórias do presidente Lula.
*Celso Lafer, professor emérito da USP, foi ministro das Relações Exteriores
2 comentários:
Segundo Elio Gaspari, Goldfain e Mantega possuem unanimidades: não há economista ou analista de respeito que se reporte positivamente a Mantega; não há economista ou analista de respeito que se reporte negativamente a Goldfain.
Alguém lembra a opinião/posição do colunista sobre a indicação do grande economista Abraham Weintraub para a diretoria do Banco Mundial? Alguém sabe se pra ele era assunto de natureza de Estado ou de governo? Só por curiosidade... Também deve ter sido por mérito, provavelmente...
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