quinta-feira, 17 de novembro de 2022

Celso Lafer* - Goldfajn é boa opção para Lula

O Globo

Sua indicação pelo governo Bolsonaro foi por mérito, e não compadrio político

Há assuntos que têm natureza de Estado, não de governos. É o caso da candidatura de Ilan Goldfajn à presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Faço a observação na condição de quem foi persistente crítico do atual governo e declarou publicamente voto em Lula na eleição presidencial, em conjunto com muitos outros que não integram a família petista, mas entenderam que ele era a melhor alternativa para superar os desastres da era Bolsonaro.

A indicação de Goldfajn pelo governo Bolsonaro foi por mérito, e não compadrio político. Muito poucos possuem as qualificações comprovadas de Goldfajn como economista, exercidas com grande competência na presidência do Banco Central.

Solapar sua candidatura, que tem grande potencial de viabilidade, em função de seus méritos e de seu percurso, não é do interesse do Brasil. É, no entanto, o que ocorreu com a manifestação de prócer da família petista. Pode significar que o Brasil corre o risco de perder a oportunidade de exercer a presidência do BID, na lógica da alternância dos compromissos dos integrantes de um banco em cuja criação o país teve papel decisivo — uma expressão da diplomacia econômica de desenvolvimento do governo JK.

Quem teve a experiência de participar de processos de deliberação de instâncias multilaterais na escolha de seus dirigentes, como é meu caso, sabe que a erosão do respaldo interno de uma candidatura abre oportunidade para candidaturas de outros membros ao BID.

Entendo que Goldfajn na presidência do BID será mais benéfico para o futuro do governo Lula que qualquer outro. Será benéfico para os países latino-americanos — válida preocupação do presidente eleito — porque contribuirá com sua larga visada para a superior convergência de seus caminhos. Será relevante para a diplomacia econômica do próximo governo Lula, que deverá fazer ajustes e reavaliações que provêm, no plano externo, das transformações do sistema internacional e, no plano interno, dos desdobramentos de uma eleição que foi fruto de uma coligação de apoio abrangente, distinta das características do exclusivismo das anteriores vitórias do presidente Lula.

*Celso Lafer, professor emérito da USP, foi ministro das Relações Exteriores

2 comentários:

Mais um amador disse...

Segundo Elio Gaspari, Goldfain e Mantega possuem unanimidades: não há economista ou analista de respeito que se reporte positivamente a Mantega; não há economista ou analista de respeito que se reporte negativamente a Goldfain.

Anônimo disse...

Alguém lembra a opinião/posição do colunista sobre a indicação do grande economista Abraham Weintraub para a diretoria do Banco Mundial? Alguém sabe se pra ele era assunto de natureza de Estado ou de governo? Só por curiosidade... Também deve ter sido por mérito, provavelmente...