Folha de S. Paulo
Se Bolsonaro sempre apostou no golpismo,
não há por que acreditar que fará oposição de forma civilizada
Por quatro anos, Jair
Bolsonaro se dedicou a tumultuar o ambiente político. Tentou atropelar
as regras do jogo, atacou
órgãos de controle, atuou para deslegitimar adversários, alimentou
personagens extremistas de seu campo, espalhou desinformação, buscou corroer a
confiança nas eleições e nutriu ameaças recorrentes de um golpe militar.
Se Bolsonaro usa essas ferramentas enquanto
tem o poder nas mãos, não há por que acreditar que ele passará à oposição de
maneira civilizada. Mesmo antes da saída do presidente do cargo, o bolsonarismo
dobrou a aposta em sua rede de mentiras, na deterioração do sistema democrático
e numa investida permanente contra as instituições.
Um dos marcos da nova etapa é a sustentação da falsa teoria de que a derrota de Bolsonaro nas urnas foi provocada por uma conspiração contra o capitão. Ainda que o presidente tenha recomendado que manifestantes golpistas desbloqueassem rodovias, ele e seus companheiros na cúpula das Forças Armadas fizeram questão de validar protestos nas portas dos quartéis.
Nesse caminho, o bolsonarismo tende a fazer
uma oposição política que transcende o governo eleito e põe em destaque aquele
que foi forjado como seu principal inimigo: o Supremo Tribunal
Federal. Os ataques à atuação da corte já se provaram capazes de manter
apoiadores do presidente mobilizados, tanto nas ruas como no Congresso.
O método de Bolsonaro se mostrou inútil
para governar o país. Produziu um desastre administrativo e fabricou a
unificação de seus críticos. A agitação, no entanto, cumpriu uma função
política que ele pretende transportar para a oposição.
Interessa agora a Bolsonaro fazer uma boa
dose de pressão sobre Lula, renovar as cores de seu figurino antissistema e
preservar o barulho entre seus apoiadores pelos próximos quatro anos. O
objetivo não é apenas manter a relevância política do capitão, mas tornar um
eventual retorno ao poder algo parecido com uma missão revolucionária.
Um comentário:
Deus nos livre!
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