O Estado de S. Paulo
Lula quer que vice eleito assuma cada vez mais protagonismo, para desespero do PT
A viagem de Luiz Inácio Lula da Silva ao
Egito, onde participa da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP27),
é a primeira de um roteiro internacional que o presidente eleito quer fazer
após assumir o governo. Lula diz que vai “religar o Brasil ao mundo”, cuidar da
política, da economia, de pautas ambientais e do combate à fome. Para desespero
do PT, a ideia é mesmo delegar grande parte da agenda administrativa a Geraldo
Alckmin.
Ex-tucano com perfil de centro, Alckmin não será um vice decorativo. Não foi à toa que Lula o escolheu para coordenar o gabinete da transição, à revelia dos petistas. Quer agora, porém, que o copiloto deixe de ser “telegráfico” e vire uma espécie de portavoz do novo governo. A ordem provoca ciúmes no serpentário da transição, onde faltam diretrizes e sobram disputas. Coube a Alckmin, por exemplo, minimizar o erro de Lula ao pegar carona em um jato do empresário José Seripieri Filho para a COP-27.
Acostumado a anotar tudo o que julga
importante, o futuro vice trabalha em modo analógico. Na semana passada, foi
fotografado pelo Estadão carregando uma folha de papel sulfite, rabiscada com
nomes a serem anunciados para a equipe.
Desde o tempo em que era governador de São
Paulo, Alckmin tem o hábito de andar com um caderno universitário nas mãos.
Possui vários exemplares guardados, como se fossem relíquias. Neles, faz
apontamentos a respeito de assuntos sobre os quais pretende se debruçar.
É assim até hoje. “O que você propõe para a
reforma fiscal?”, perguntou ele, ontem, ao tomar café numa padaria com o
secretário da Fazenda de São Paulo, Felipe Salto. O economista apresentou,
então, uma proposta de mudança que combina limite para dívida pública, meta de
resultado primário, teto de gastos e fundo de reserva. Tudo foi anotado por
Alckmin em um cadernão de capa azul. Salto é cotado para ocupar a Secretaria do
Tesouro.
Lula, por sua vez, sempre pede que
auxiliares registrem o teor de suas conversas no computador. Mas não é muito
ligado ao mundo digital. “Se o governo tiver uma comunicação analógica, sua
mensagem nunca chegará à população”, diz André Janones (MG). O deputado
recorreu à tática de guerrilha nas redes sociais para enfrentar Jair Bolsonaro
sob o mantra fake news com fake news se paga.
“É preciso criar um Ministério para Assuntos Religiosos, isso sim”, aconselhou o deputado Pastor Sargento Isidório (MG). “Ou eles se preocupam com isso agora, ou vão chorar mais tarde.” Pelo sim, pelo não, Lula já começou a ler a Bíblia do Executivo, que ganhou de presente, com mensagens evangélicas e dicas para formação de equipes. Os alquimistas estão mesmo chegando...
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