quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Ataques de Lula e do PT ao BC desafiam a lógica

O Globo

Principal culpado da disparada do dólar e dos juros é o desdém dos petistas pela gravidade da crise fiscal

Não há justificativa para o ataque contínuo do PT à política monetária do Banco Central (BC). Pela gravidade do momento, é hora de seriedade. Depois de enfrentar o terraplanismo na saúde durante o governo passado, os brasileiros são agora alvo de teses fantasiosas na economia, vindas de uma gestão que simplesmente se recusa a assumir a responsabilidade pela incerteza que semeou nos mercados ao recusar promover um ajuste fiscal na medida necessária.

O recrudescimento dos ataques ao BC nos últimos dias começou com o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em entrevista ao Fantástico, Lula retomou suas críticas à alta dos juros. “A única coisa errada nesse país é a taxa de juros”, disse. “Não há nenhuma explicação. A inflação está quatro e pouco, é uma inflação totalmente controlada. A irresponsabilidade é de quem aumenta a taxa de juros todo dia, não é do governo federal”. A explicação, obviamente, está clara para qualquer um que leia a ata do Comitê de Política Monetária do BC: as expectativas inflacionárias se deterioraram diante das repetidas declarações e atitudes de Lula e de seu governo diante da crise fiscal. O remédio recomendado pela ciência econômica nesses casos é subir os juros.

Economia brasileira está presa em círculo vicioso da quase estagnação - Luiz Carlos Bresser-Pereira*

Folha de S. Paulo

Juros altos e câmbio apreciado desestimulam investimentos, privilegiam rentistas e limitam o desenvolvimento do país

Um dia desses, um dos meus filhos me perguntou por que o governo Lula estava privatizando estradas de rodagem que são monopolistas e, por isso, não devem ser privatizadas. Não seria esse governo neoliberal? Ou neoliberal progressista, acrescentei parafraseando a filósofa americana Nancy Fraser.

Não, o presente governo é social-progressista e desenvolvimentista: defende uma diminuição da desigualdade e a intervenção do Estado na economia para aumentar o investimento público e promover o investimento privado. Não obstante, esse governo não tem alternativa senão privatizar as rodovias que exigem investimentos para os quais não tem recursos. O Brasil está preso no círculo vicioso da quase estagnação.

Entendo por quase estagnação o fato de um país não realizar o "catch-up" —o fato de seu crescimento per capita ser quase sempre inferior aos dos Estados Unidos, de forma que o padrão médio de vida dos brasileiros se afasta cada vez mais do padrão americano. Apesar de um desempenho econômico razoável neste ano e nos dois últimos anos, nada aconteceu de novo na economia brasileira que nos permita afirmar que escapamos da quase estagnação, inclusive porque a taxa de investimento continua muito baixa.

Congresso, o dinheiro acabou! - Felipe Salto

O Estado de S. Paulo

Até quando o País aguentará que certas saúvas sigam trabalhando para acabar com o crescimento econômico e a normalidade dos mercados? 

A festa acabou, o povo sumiu e anoite esfriou, parafraseando Carlos Drummond de Andrade. Entretanto, o Congresso Nacional continua coma faca no pescoço do ministro da Fazenda, na busca por mais e mais emendas parlamentares e benesses. É preciso aprovar as ações de ajuste fiscal e retomar a responsabilidade com o dinheiro público.

A farra com as emendas parlamentares chegou ao limite de ensejara atuação do próprio Supremo Tribunal Federal( STF ), a partir da correta decisão do ministro Flávio Dino. Ela obriga à transparência e delimita os parâmetros para organizar o coreto. Contudo, em plena votação do pacote de ajuste fiscal, as lideranças do Congresso partilham na penumbra vultosos recursos públicos – antes, vale dizer, bloqueados pela atuação do STF.

Ataque de ilusão e ataque especulativo - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Parece haver exagero em preço de dólar e taxas de juros, mas os motivos são outros

Há quem tente ganhar dinheiro com a perspectiva de desvalorização ainda maior do real. Quem invente operações financeiras engenhosas para tentar faturar com a variação frequente e grande do dólar ("volatilidade"). Há até operações automatizadas ("robôs") que permitem identificar essas oportunidades.

É verdade também que, a julgar pelas condições econômicas do Brasil, dólar a R$ 6,27 parece exagero, assim como Selic a 17% ao ano, como se vê no atacadão do mercado de dinheiro.

Se há exagero, há necessariamente "ataque especulativo"? Não.

A péssima recepção ao plano fiscal do governo agravou uma situação ruim que vinha desde abril. O impacto do fracasso de público do pacote, que elevou dólar e juros, causou acidentes (perdas de dinheiro, reversão de planos de investir etc.). Que isso tenha acontecido no dezembro seco de dólares piorou a situação. Há um dominó em queda, bola de neve, o nome que se dê: problemas que se realimentam.

Dólar bate novo recorde e assusta o governo – Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A saída iminente do secretário especial do Tesouro e Orçamento, Rogério Ceron, que pediu demissão do cargo no Ministério da Fazenda, contribuiu também para as especulações

O dólar comercial bateu novo recorde nesta quarta-feira e fechou vendido a R$ 6,267, o maior nível nominal da história. Para os analistas de mercado, o temor de que o pacote de corte de gastos proposto pelo governo federal seja desfigurado no Congresso, que negaceia sua aprovação, por causa das emendas parlamentares ainda não liberadas pelo Palácio do Planalto, fez a moeda norte-americana disparar novamente.

Outro fator que alavancou a alta do dólar foi a redução de juros nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em 0,25 ponto. O dólar comercial teve alta de 2,82%, vendido a R$ 6,267, a maior desde 10 de novembro de 2022. O dólar futuro está sendo cotado acima de R$ 6,30.

Disparada do dólar e natureza da crise – Míriam Leitão

O Globo

Não é uma crise fiscal baseada em números. Basta ver as projeções do mercado para a dívida e o déficit no começo e no fim do ano

O país vive uma crise de credibilidade, com erros de análise do mercado, alguns momentos de pura especulação e falhas de comunicação do governo. Não da comunicação oficial, mas sim das falas que reforçam percepções mais pessimistas. Em geral, como tenho escrito aqui, não há razões concretas para tanta deterioração de expectativas. Não é uma crise fiscal em si, baseada em números. Basta comparar o que o mercado esperava dos indicadores fiscais e de dívida pública no começo e no fim dos dois últimos anos. Ainda que haja estruturalmente necessidade de ajuste fiscal.

Malu Gaspar- O Rei do lixo e o império das emendas

O Globo

Na manhã do último dia 10, vizinhos de um condomínio de classe média alta de Salvador presenciaram uma cena insólita. Um homem abriu a janela dos fundos de um apartamento e atirou para fora uma sacola com mais de R$ 220 mil divididos em maços gordos de notas de R$ 100. Naquela mesma hora, a Polícia Federal (PF) batia na porta da frente. Poucos minutos depois, o dono do dinheiro, o vereador Francisco Nascimento, da cidade de Campo Formoso (BA), saía dali para a cadeia. Desde então, gabinetes do Congresso e da Esplanada dos Ministérios entraram em modo pânico.

Francisco é primo do líder do União Brasil na Câmara dos DeputadosElmar Nascimento, e um dos alvos de uma operação que apura o desvio de recursos de programas do Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Tudo dinheiro de emendas parlamentares, incluindo as do orçamento secreto.

Além do dinheiro do vereador, foram interceptados pela PF também o avião alugado por um dos chefes do esquema — o empresário José Marcos de Moura, conhecido como Rei do Lixo na Bahia, que pousou em Brasília levando R$ 1,5 milhão em dinheiro vivo e uma pilha de documentos.

A semana que dita o mercado de valores de 2026 - Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

A volatilidade vai se materializar e pressionar juro, câmbio e inflação. É esta base que ditará o mercado de apelos eleitorais, do combate à corrupção à estabilidade da economia

“Não adianta nada a gente fiscalizar o governo federal se a gente não fiscaliza também a nossa Casa (...) Se o salário que ganha aqui, mais os benefícios e privilégios, não são suficientes, pede pra sair em vez de ficar fazendo sacanagem (...) Vocês estão com pânico, não é, seus canalhas? (...) Desviar dinheiro público e ainda fazer obra superfaturada”. Cleiton Gontijo de Azevedo, o Cleitinho (Republicanos-MG), subiu à tribuna do Senado na terça para se dirigir aos colegas.

Cleitinho é de uma família de médios comerciantes do interior, base do populismo de direita que ascendeu em 2018 e quase vencia em 2022. Nas duas eleições, o senador foi de Jair Bolsonaro. Quando o Senado votou a indicação de um dos seus algozes, Flávio Dino, para o Supremo Tribunal Federal, Cleitinho votou contra. Isso não o impediu de defender o ministro nesta terça: “Flávio Dino está correto e tem meu apoio”.

Condições objetivas - William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula e os agentes econômicos não concordam sequer sobre o que são os fatos

Lula se considera numa queda de braço com “o mercado”, que é para ele um sujeito oculto agindo das sombras para sabotar seu governo. Pretende prevalecer apostando no próprio instinto, nas memórias que são pura imaginação de mandatos anteriores e na imensa estima pela própria sagacidade política.

Na verdade, Lula está brigando com os dados de uma realidade que ele percebe de maneira totalmente diversa dos agentes econômicos. Estes obedecem a expectativas que são o valor estimado de seus ativos no futuro. Consideram que vão perder dinheiro com as decisões políticas que moldam a atual política fiscal/econômica.

De quem é a culpa - Merval Pereira

O Globo

Se alguém colaborou para que os militares entrassem na ilegalidade na volta ao poder, esse alguém foi Bolsonaro, a que poucos resistiram ou reagiram quando ele apresentou seus planos autocráticos

O comandante do Exército, general Tomás Paiva, vem sendo pressionado para se manifestar oficialmente sobre as prisões dos militares determinadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente a do general de Exército Braga Netto. Não apenas oficiais da reserva, que costumam ser mais histriônicos, mas também os da ativa consideram que o Exército brasileiro é maltratado pela Justiça.

O relato dos que estiveram com o comandante, porém, diz que ele não considera haver nenhuma ação extraordinária contra o Exército, diante do que já foi descoberto e do que presumidamente ainda será revelado pelas investigações. Ele se preocupa, sim, com a família militar em polvorosa, muitos temendo que a qualquer momento a Polícia Federal (PF) chegue a suas portas. Militares que, de uma maneira ou de outra, estiveram envolvidos nos preparativos para a sedição têm de se preocupar, mas não qualquer militar.

Mix de estratégias golpistas na gestão do ex-presidente – Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

Tentativas de ‘backsliding’ foram frustradas pelas organizações de controle e pela sociedade civil

Tem sido argumentado que as democracias no século 21 não mais morreriam por meio de golpes militares. De acordo com essas novas interpretações, democracias se fragilizariam por um processo muito mais insidioso de erosão paulatina das estruturas e instituições democráticas, chamado de democratic backsliding, paradoxalmente a partir de eleições democráticas de líderes carismáticos, porém com tendências autocráticas.

Contrariando essa nova tendência internacional, o ex-presidente Jair Bolsonaro, em conluio com oficiais de alta patente do Exército brasileiro, teria supostamente tentado um golpe à moda antiga. Essas são as conclusões das investigações que compõem o extenso relatório da Polícia Federal (PF) que revela um esquema golpista militar clássico, com planos inclusive de sequestrar e de matar o então recém eleito presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, seu vice-presidente, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes.

Nós, o Congresso e os militares - Raul Jungmann*

Correio Braziliense

É hora de entender que militares demandam rumos e, se o sistema político se faz ausente e nós não exercemos nenhum diálogo, regamos, todos, a semente da instabilidade

No dia 25 de agosto de 2010, lá pelo fim da tarde, uma discreta comemoração estava em curso no gabinete do ministro da Defesa, Nélson Jobim. O motivo: fora aprovada a Lei Complementar 136, que instituiu a Política e a Estratégia Nacional de Defesa, além do Livro Branco da Defesa Nacional. 

No dia, poucas notas a respeito na imprensa — porém, pela primeira vez na nossa história, estava criado um laço entre as nossas Forças Armadas, a Defesa Nacional e o povo brasileiro, por meio de seus representantes no Congresso Nacional. 

As Forças Armadas não são autônomas, tanto que declarar a guerra e fazer a paz são competências exclusivas do parlamento. Porém, faltava ao Congresso o instrumento necessário para, em diálogo com os militares, determinar que Forças Armadas queremos, como um país com crescente importância no contexto global democrático.

Bolsonaro e Braga Netto - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Ação do general dependia de atuação complementar que cabia necessariamente ao capitão

Braga Netto era o operador da sociedade golpista formada por militares e Jair Bolsonaro. A missão começou cedo. Meses após assumir o Ministério da Defesa, em 2021, ele deu sinal verde para o patético desfile de blindados que deveria pressionar o Congresso a aprovar o voto impresso. No mesmo ano, indicou o general que trabalhou para tumultuar a fiscalização das urnas no TSE.

O desafio da dupla renovação do PT - Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Liderança construída por Lula ultrapassa de longe as fronteiras dos partidos da esquerda

O futuro do PT está em discussão dentro e fora do partido. Os magros resultados das eleições municipais e a incerteza quanto a uma nova candidatura de Lula em 2026 imprimem sentido de urgência ao debate sobre os rumos da agremiação que é o centro de gravidade das esquerdas no país. As questões a enfrentar não são simples.

A primeira delas é que o partido sempre foi menor que seu líder. Raízes nos sindicatos e nos movimentos sociais nunca lhe deram maioria eleitoral. Permanece, inabalável, a distância entre os votos obtidos pela legenda para cargos subnacionais, assim como nas disputas para o Congresso, e aqueles mobilizados por Lula, quando perdeu e ganhou contendas presidenciais, em nome próprio ou ao fazer sua sucessora.

Ainda estamos aqui - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Filme soma-se a uma linha de outras obras sobre os horrores da ditadura civil-militar

"O filme "Ainda Estou Aqui" tem comovido milhões de brasileiros e estrangeiros. A história do desaparecimento de Rubens Paiva, cujo corpo jamais foi encontrado e sepultado, sublinha a dor imprescritível de milhares de pais, mães, irmãos, filhos, sobrinhos, netos, que nunca tiveram atendidos os seus direitos quanto aos familiares desaparecidos. Nunca puderam velá-los e sepultá-los." Este é um trecho da correta decisão do Mininstro Flavio Dino do STF, nesta semana.

Lula, imorrível ou a cavalo como El Cid – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

O bolsonarismo, com ou sem Bolsonaro, irá em frente. Já o lulismo não tem nenhum sucessor à vista

As ziquiziras de saúde de Lula acordaram os últimos distraídos para uma preocupação: a falta de opções no espectro democrático na vacância do titular. Há uma carência de nomes na esquerda, na centro-esquerda e até no campo liberal. A direita e a extrema direita, ao contrário, apesar do rabo entre as pernas pelos processos de golpismo contra Bolsonaro e asseclas, tornarão competitivo qualquer um que apresentem no lugar de seu inelegível e, em breve, condenado mito. O bolsonarismo, com ou sem Bolsonaro, irá em frente. O resto do Brasil terá de contar com Lula. Não há opções viáveis nas suas proximidades.

Nota sobre a História, com uma pitada de conjuntura - Ivan Alves Filho*

A situação brasileira é objeto de preocupação e isso não é de hoje. Digo mais uma vez: a redemocratização vem frustrando o país. Um presidente que golpeou a Constituição para se reeleger, dois presidentes presos, dois afastados por impeachment e um tornado inelegível. Crise nas ruas em 2013, Lava Jato em 2014, invasão da Praça dos Três Poderes em 2023. São fatos irrefutáveis, independentemente da opinião que se tenha sobre eles. Vale dizer, estamos sentados em cima de um barril de pólvora. Só não vê quem não quer.

Livro | E.P. Thompson en Chile - Ana Amélia C. de Melo e Fernando de la Cuadra*

Texto da Contracapa*

Edward Palmer Thompson (1924-1993) pode, sem dúvida, ser considerado um daqueles historiadores que fundaram a perspectiva da história social inglesa, juntamente com Eric Hobsbawn, Raymond Williams, Christopher Hill, Rodney Hilton e George Rudé, entre outros. Esta abordagem enfatiza a visão através da qual os processos históricos são construídos a partir de sujeitos populares, que irrompem “de baixo” na formação de movimentos e expressões de rebelião que constituem um campo fecundo de análise historiográfica. No entanto, E. P. Thompson não foi apenas um historiador proeminente, foi também um intelectual militante comprometido com causas em favor da paz, do desarmamento e da luta antinuclear. Foi também um veemente combatente antifascista e este livro surge precisamente do seu inspirado poema dedicado ao camarada Salvador Allende, após tomar conhecimento do Golpe de Estado e da morte do presidente no Palácio La Moneda.

Poesia | Desencanto, de Manuel Bandeira

 

Música - Mônica Salmaso - A Violeira

 

quarta-feira, 18 de dezembro de 2024

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Congresso precisa endurecer medidas de pacote fiscal

O Globo

Diante da tibieza do Executivo com a economia, responsabilidade dos parlamentares se tornou maior

Em vez de enfraquecer as medidas do pacote fiscal, o Congresso precisa endurecê-las. Os sinais são evidentes. Ninguém pode alegar que não vê a escalada do dólar e das expectativas de inflação, resultados óbvios da falta de credibilidade do governo para promover um ajuste nas contas públicas em que todos consigam acreditar.

De forma unânime, o Banco Central (BC), acossado pela alta da inflação, deu um choque nos juros: elevou a Selic em 1 ponto, para 12,25% ao ano. Mais: sinalizou que em três meses o percentual poderá chegar a 14,25%. A última vez em que a Selic foi alçada a tal patamar foi em 2015, quando Dilma Rousseff era presidente, o país debatia a urgência de um ajuste fiscal, e a economia estava prestes a registrar dois anos duríssimos de recessão. Não dá para repetir os mesmos erros.

General preso não faz democracia - Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

A democracia tem razões para sentir otimismo com a prisão de um general golpista, mas deve entender que generais presos não fazem tropa democrática

Há uma parede na sede do Correio Braziliense onde estão as páginas mais criativas e expressivas já publicadas pelo jornal. Neste domingo, a primeira página com a palavra "Preso" acima da foto do general Braga Netto merece ir para esse panteão de manchetes. Em uma palavra, todo um discurso: "as instituições civis são capazes de prender um general quatro estrelas que conspirava contra a democracia". O discurso e a manchete seriam ainda mais fortes se tivessem colocado a foto do general fardado. Ao escolher a foto com traje civil, o Correio teve o cuidado de não expor as Forças Armadas. O mesmo cuidado os democratas devem ter ao comemorar o fato de um militar golpista estar preso, sabendo que um general preso não faz a democracia. 

A ruína dos generais palacianos – Elio Gaspari

O Globo

O general Walter Braga Netto fez uma correta carreira militar. Chegou a general de quatro estrelas e começou a perder-se em 2018, quando foi jogado na função de interventor na segurança pública do Rio de Janeiro.

Logo nos primeiros dias, outro general foi inspecionar um quartel de batalhão da PM, e a guarda que o recebeu não lhe deu continência. Ninguém desconfiou de que o gesto teatral da intervenção acabaria em fracasso. No Planalto, dizia-se que havia sido “um golpe de mestre”. Certo, golpe de mestre-sala de escola de samba.

Viviam-se dias estranhos de renascimento da vivandagem nos quartéis, e o ex-capitão Jair Bolsonaro elegeu-se presidente da República. Encheu a administração de generais, coronéis e oficiais amigos. E lá foi Braga Netto. Tornou-se chefe da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa da eventual reeleição de Bolsonaro.

Nessa nova encarnação, pouco tinha do oficial que ralou nos quartéis. Mandava recados de que, se o voto não fosse impresso, não haveria eleição. Houve, e ele perdeu. Deu-se a armações impróprias com o chefe da ajudância de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid. Meteu-se em redes sociais ativando ódios e fofocas. Finalmente, segundo Cid, entregou dinheiro “do pessoal do agro” para algo que a Polícia Federal sustenta ter sido uma tentativa de golpe a ser desfechado em dezembro de 2022.

Bernardo Mello Franco – A ditadura de Mourão

O Globo

De olho em espólio de Bolsonaro, Mourão defende golpistas e ataca STF

O general Hamilton Mourão resolveu apontar sua garrucha contra o Supremo. Da tribuna do Senado, ele acusou a Corte de perseguir “quem se atreve a ser de direita”. “No Brasil, o Estado de Direito se tornou um Estado de juristas ou até mesmo uma ditadura da toga”, discursou.

De ditadura, Mourão entende. Sempre defendeu a de 1964, a ponto de chamar de herói o notório torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra. A novidade é o sotaque gaúcho que ele adotou recentemente para caçar votos no Rio Grande do Sul.

No discurso de ontem, o senador disse que o Estado democrático de Direito estaria em “franca degeneração”. A culpa, claro, seria dos ministros do Supremo. “Os próprios guardiões da Carta Magna não a respeitam”, trombeteou o general. Deve preferir a Justiça Militar, conhecida por aliviar com acusados de farda.

Crise do clima é efeito não previsto do capitalismo – Roberto DaMatta

O Globo

As mais brilhantes previsões geopolíticas são forçadas a realizar um tradicional ‘ouça, pare e olhe’ para a dinâmica da Terra

Todas as sociedades humanas evitam inesperados. Suas rotinas fabricam hábitos e costumes que, inutilmente, pretendem controlar o imprevisto entre o cultural e o natural irredutível — a cabeça e o pé, o lado direito e o esquerdo, o negro da noite e a claridade do dia, o Sol e a Lua, as enchentes, os terremotos, as tempestades e, acima de tudo, o silêncio da morte e a paz enternecedora do esquecimento.

Não há sociedade sem ideias sobre nascer, morrer, sobre a injustiça e as causas dos acidentes e doenças que subvertem as classificações. Tudo o que vivemos como básico ou essencial — aquilo que elege os populistas — é alvo de um mitológico e religioso reconhecimento em toda coletividade humana. Todas têm protocolos para a sovinice, o poder e, principalmente, para os inesperados — para o que atravessa as classificações que ordenam o Universo. Para os eventos individuais ou coletivos, incidentais e inesperados, que ameaçam — como ensinaram Durkheim e Mauss — a ordem estabelecida, a estrutura.

Aprovação da reforma tributária reduz incertezas - Luiz Carlos Azedo


Correio Braziliense

Muitos investidores ainda não acreditam que as medidas propostas sejam suficientes para conter o avanço da dívida pública no longo prazo

Num dia em que o dólar disparou mais uma vez, chegando a R$ 6,20, o que obrigou o Banco Central (BC) a fazer duas intervenções no mercado de câmbio, a Câmara dos Deputados concluiu a aprovação da reforma tributária e, assim, acalmou o mercado. Nesta terça-feira, foram US$ 3,29 bilhões vendidos em duas operações para frear a cotação da moeda norte-americana e desacelerar a desvalorização do real. Mesmo assim, o dólar fechou em alta de 0,02%, cotado a R$ 6,0956.

Entretanto, a notícia boa foi que a Câmara concluiu a votação da reforma tributária, aprovada por 324 votos a favor contra 123. Essa decisão reduz as incertezas econômicas, que pareciam uma tempestade perfeita, porque o Senado havia aumentado a carga tributária com novas isenções, e permanece o impasse na votação do pacote fiscal do governo, que ainda corre risco de desidratação.

Em dezembro, sempre há uma alta sazonal do dólar, por causa da remessa de lucros das empresas estrangeiras para o exterior, porém essa tendência foi anabolizada pelo comportamento do governo e do Congresso. A inflação acima da meta, o deficit além do previsto no arcabouço fiscal e o impasse para aprovação do pacote de cortes de gastos e da reforma tributária impactaram fortemente o mercado. O resto ficou por conta da especulação financeira mesmo.

Câmara aprova texto-base do projeto de lei complementar do pacote fiscal por 318 votos a 149

Por Raphael Di CuntoMarcelo RibeiroJéssica Sant'Ana / Valor Econômico

Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira (17) o texto-base do projeto de lei complementar (PLP) do pacote fiscal por 318 votos a 149 – 61 a mais do que o necessário para que fosse votado. Os parlamentares ainda precisam analisar emendas ao texto, os chamados "destaques”, mas o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) decidiu adiar para quarta-feira (18) essa etapa (leia ao final desse texto).

A versão aprovada foi a do deputado Átila Lira (PP-PI), relator do projeto, que desidratou parte das medidas propostas pela equipe econômica do governo Lula (PT). Apenas os partidos de oposição, PL e Novo, se posicionaram contra a proposta.

Ele retirou do projeto os artigos que permitiam à União limitar o uso de créditos tributários por parte das empresas, caso o governo federal registrasse déficit primário a partir de 2025. Esses créditos são usados pelas empresas para abater impostos devidos.

“Esta questão vai de encontro aos contribuintes que já realizaram o seu planejamento tributário, dentro da legalidade, com base nesses valores”, escreveu o relator. A limitação dos créditos era o ponto mais polêmico do texto.

O parlamentar lembrou que o governo já tentou, no ano passado, impedir que créditos de Pis/Cofins pudessem abater tributos devidos de outra natureza, como previdenciária. A medida provisória, contudo, foi devolvida pelo Congresso Nacional, o que, segundo o relator, “demonstra a discordância do Parlamento em relação a esta temática”.

O relator também mudou um artigo do projeto para deixar claro que o superávit financeiro dos fundos públicos que será liberado apenas poderá ser usado para abater a dívida pública.

Haddad e o trabalho de Sísifo - Vera Magalhães

O Globo

A pedra que o ministro tenta fazer chegar ao cume de uma montanha, mas sempre rola ao ponto de partida, é o ajuste fiscal

Tal qual Zeus fez com Sísifo, de acordo com a mitologia grega, Lula parece ter condenado Fernando Haddad a um trabalho extenuante física e psicologicamente para que, toda vez que ele esteja chegando ao objetivo, começar tudo de novo. A pedra que o ministro da Fazenda tenta fazer chegar ao cume de uma montanha, mas que sempre rola ao ponto de partida, é o ajuste fiscal.

Se não fosse assim, qual o sentido de o presidente da República, horas depois de ter alta de uma intercorrência gravíssima que o levou a operar a cabeça e deixou todo o país sobressaltado, voltar a dar declarações estéreis sobre a alta dos juros, justamente no domingo que antecederia a última semana útil do ano? Lula considera que o problema de seu governo é de comunicação e está prestes a trocar o ministro responsável pela área, mas não se dá conta de que esses ruídos que causam avalanches muitas vezes partem dele próprio.

No rumo da dominância fiscal - Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Parece que os instrumentos usados pelo governo para debelar a crise não estão funcionando como o esperado

No jogo eletrônico Minecraft existe uma dimensão chamada “Mundo do End”. Lá, não há dia nem noite. Relógios e bússolas não funcionam. Para sair desse mundo, é preciso derrotar um dragão.

Parece que é para lá que estamos indo, a julgar pelo comportamento do dólar na manhã desta terça-feira: atingiu a máxima histórica de R$ 6,20, apesar de o Banco Central haver despejado US$ 1,272 bilhão no mercado. Uma segunda intervenção, de US$ 2,015 bilhões, colocou a cotação na casa de US$ 6,07.

A pancada que o Comitê de Política Monetária (Copom) deu nos juros na semana passada e a ata igualmente dura divulgada ontem não conseguiram conter a alta da moeda norte-americana.

Parece que os instrumentos usados pelo governo para debelar a crise, na forma de mais juros e leilões de dólar, não estão funcionando como o esperado. Motivo apontado por agentes de mercado: incerteza quanto ao futuro da dívida pública brasileira.

É tudo culpa do Lula? – Zena Latif

O Globo

Sem compromisso republicano das lideranças do país, inclusive do setor privado, a cada dia colocamos um tijolo na parede da ingovernabilidade do Brasil

No regime presidencialista, a responsabilidade sobre os rumos da economia recai no presidente da República. Mesmo que os demais poderes cumpram papel relevante, cabe ao chefe do Executivo buscar o diálogo e soluções majoritárias.

Essa equação, porém, é mais complexa no Brasil, onde o patrimonialismo é disseminado e arraigado, beneficiando muitas corporações e grupos organizados, em um contexto de elevada desigualdade social. As muitas demandas por proteção, benefícios e privilégios, inclusive de dentro da máquina estatal, batem nas portas de todos os poderes.

Os juros dos EUA em 2025 - Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Na sua reunião de hoje, banco central americano deverá indicar o que virá no próximo ano

O último e mais importante evento macroeconômico de 2024 acontece hoje, com a decisão de política monetária nos Estados Unidos pelo Federal Reserve (Fed), quando a esmagadora maioria de investidores e analistas espera um corte de 0,25 ponto porcentual dos juros americanos para a faixa entre 4,50% e 4,25%. Mas é a sinalização sobre o que virá em 2025 o grande ponto de atenção e que terá um impacto importante sobre os mercados globais.

Com o mercado de trabalho americano ainda apertado, os gastos dos consumidores surpreendentemente resilientes e a desaceleração da inflação perdendo fôlego nos últimos meses, consolidou-se a expectativa de que o Fed irá sinalizar um número menor de reduções de juros em 2025 em comparação com o que indicou na última atualização das suas projeções macroeconômicas, em setembro.

Ódio e Nojo! - Alfredo Maciel da Silveira

Uma trabalhadora diarista que me presta serviços domésticos tem duas contas bancárias: Nubank e Cx Econômica. Não tem cartão de crédito, pois é inteligente... 

Precisou trocar a tela do smartphone. Um aparelho novo custaria R$ 850,00.

No mercado informal encontrou um "técnico" que trocava a tela por R$ 150,00. Sabe-se lá a origem da tela "nova"...

Deu tudo certo!

Claro que lhe adiantei via PIX os 150 reais.

Moral da estória. Com imenso mercado informal a economia brasileira continuará crescendo. Menos do que seria absolutamente necessário. Mas cresce! E o dinamismo do Agronegócio é induzido do exterior.

Não vejo nenhum economista desenvolvimentista assessorando o governo. Por motivos óbvios...

Na área monetário-financeira, óbvio também, não se fala de Belluzzo (como se sabe antigo conselheiro informal de Lula), ou de André Lara Resende, menos mal que este, que eu saiba, assessora o BNDES.

O problema brasileiro é a heterogeneidade estrutural.  

Do ponto de vista do crédito, o povo é desbancarizado. Há algumas exceções, de agências públicas estaduais e municipais de desenvolvimento, que fomentam pequenos empreendedores a juros baixos.

Então p(*), qual é o alcance dessa obscena política monetária??

Empresários repassam seus custos financeiros aos preços de produtos de consumo da alta classe média. Para a alegria dos 90 mil rentistas...

Já tratei desta problemática no artigo “Quando os juros altos se tornam falsa questão”, fevereiro de 2023, aqui neste Blog:

( https://gilvanmelo.blogspot.com/2023/02/alfredo-maciel-da-silveira-quando-os.html#more )

Não aguento mais o governo enredado na p(*) do BC.

Sobre o BC e o "Mercado", sinto-me como Ulisses Guimarães por ocasião da promulgação de nossa Constituição, sobre a Ditadura:

"__Ódio e nojo"!

Duas teorias em confronto - Nelson Rosas Ribeiro[i]

Apesar de toda a complexidade da realidade local e internacional, há duas questões que ocupam o centro dos debates: o COPOM com a taxa de juros Selic, por um lado, e o crescimento ou resiliência da economia, por outro. As duas grandes questões não são apresentadas como opostas o que esconde o verdadeiro problema. 

A elevação da inflação, medida pelo IPCA-15, para novembro, mostrou um crescimento de 0,62%. Anualizado até este mês, isto representaria 4,47% acima do teto da meta de 4,5%. O Banco Central (BC) entrou em pânico. A Selic, que já havia sido aumentada de 10,75% para 11,25%, passou a ser estimada em valores em torno dos 13%. 

O “mercado”, faminto de juros, já urra exigindo novos aumentos. Aponta como causa da inflação o crescimento da economia, promovido pela política fiscal expansionista do governo, as políticas sociais, com a transferência de renda, os aumentos do salário-mínimo, o aumento do emprego etc. Segundo o BC, tudo isto provoca o aumento da demanda e este aumento é o responsável pelo crescimento da inflação. Justificam com a velha e caduca lei da oferta e procura, que eu chamo de “lei do Biu de Riachão de Bacamarte”: quando a procura aumenta, os preços sobem. 

BC quer ajuda do governo para esfriar economia - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Juros sobem sem limite, a espera de notícia fiscal boa; BC alerta bancos sobre crédito

Banco Central quer ajuda do governo Lula a fim de esfriar a economia —diminuir consumo e investimento. Diz ainda que bancos precisam tomar cuidado com a concessão de crédito.

O pedido ao governo foi explícito, de modo não muito comum, e está na exposição de motivos da decisão sobre a taxa Selic, na semana passada, conhecida como "Ata do Copom (Comitê de Política Monetária)".

A "desaceleração" é necessária para um "reequilíbrio" da economia (evitar superaquecimento, inflação, alta daninha do déficit externo etc.). Para tanto, política monetária (juros "do BC") e fiscal (gastos do governo), precisam ser "harmoniosas". É o óbvio, mas dito de modo enfático.

Lula vai sem gordura para a frigideira - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Presidente atravessa o ano com popularidade estável, mas tem dois problemas pela frente

A popularidade de Lula atravessou com alguma estabilidade mais um ano de um mandato que se dá num cenário bem diferente de seus governos anteriores. Pelo mundo, democracias enfrentam uma onda de desânimo com seus líderes, e a cristalização de posições políticas torna raras as grandes mudanças de opinião em relação a governos.

A nova pesquisa do Datafolha mostra que o petista sustenta uma certa solidez. Num quadro parecido com o final do ano passado, Lula tem a aprovação de cerca de um terço do país e a reprovação de outro terço. O restante diz que a gestão é regular. Ninguém no Planalto pode ficar confortável com o resultado.

Uma eleição sem Lula e Bolsonaro? - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Argumento da idade poderá tirar petista da disputa; capitão reformado já está legalmente impedido de concorrer e poderá estar preso

Em 2026 poderemos ter uma eleição presidencial sem Lula e Jair Bolsonaro.

Pelo lado de Lula, a situação é delicada. Até onde a vista alcança, ele terá condições objetivas de concorrer à reeleição, mas a idade poderá revelar-se um empecilho. O episódio de hemorragia cerebral por que ele passou está fortemente relacionado à idade.

Se os EUA servem de prévia, foi o número de velas no bolo que inviabilizou a candidatura de Biden. Aliás, o próprio Lula disse várias vezes na campanha de 2022 que estaria velho demais para um quarto mandato.