Um historiador francês, Ernest Labrousse, ao se debruçar sobre a crise que abalou a França em 1789, resultando na Revolução Burguesa de 14 de julho daquele mesmo ano, chegou à conclusão, após um alentado estudo com base em séries estatísticas, que o nível de vida havia melhorado durante um determinado momento e que um recuo abrupto das forças produtivas frustrou as massas camponesas. Ou seja, para encurtar: a produção de trigo caiu consideravelmente às vésperas da Revolução, traindo as expectativas de melhoria de vida por parte dos trabalhadores do campo, a imensa maioria da população da época. E quem diz trigo fala em pão. Não por acaso, as rebeliões camponesas na França eram conhecidas como "Le peuple se lève" ou "Le pain se lève". Em tradução livre: O levante dos pães ou O povo se subleva.
Segundo Labrousse, as crises políticas estouram quando o desenvolvimento das forças produtivas deixam de corresponder às expectativas das massas. Isso não ocorre em período de prosperidade e tampouco de miséria aguda, ambos desfavoráveis às mudanças sociais. No primeiro período, as massas se acomodam; no segundo, sequer vislumbram mudanças, permanecendo imobilizadas. O historiador recorreu à Estatística, que começava precisamente a se desenvolver no século XVIII na França, para estabelecer as leis do processo revolucionário.
Essas considerações vieram à minha cabeça quando alguns estudos, como os da economista Zeina Latif, apontam que a produtividade do trabalho cresceu em média 1,9% ao ano entre 1985 e 2022. Ocorre que, para a mesma fase, a remuneração do trabalhador aumentou apenas 0,4% em média. Quando vejo que o pacote fiscal do atual governo propõe a contenção do aumento do salário mínimo, limitado a 2,5% de ganho real, creio ter entendido o recado. Ou seja, a transferência de renda do Capital para o Trabalho pode esperar mais um pouco.
É o caso de se perguntar: até quando?
*Historiador.
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