O Estado de S. Paulo
Lula e os agentes econômicos não concordam sequer sobre o que são os fatos
Lula se considera numa queda de braço com “o
mercado”, que é para ele um sujeito oculto agindo das sombras para sabotar seu
governo. Pretende prevalecer apostando no próprio instinto, nas memórias que
são pura imaginação de mandatos anteriores e na imensa estima pela própria
sagacidade política.
Na verdade, Lula está brigando com os dados de uma realidade que ele percebe de maneira totalmente diversa dos agentes econômicos. Estes obedecem a expectativas que são o valor estimado de seus ativos no futuro. Consideram que vão perder dinheiro com as decisões políticas que moldam a atual política fiscal/econômica.
É sempre um problema perigoso para o
personagem político quando não percebe que a realidade impedirá que se realize
sua visão política. É o ponto ao qual vamos chegar – nas expectativas dos
agentes de mercado, manifestadas nos juros futuros, já chegamos.
O mundo lá fora (economia mundial) e aqui
dentro (relações de forças entre os poderes) mudou substancialmente desde o
Lula 1, o período no qual estacionaram as memórias do presidente. O primeiro
fator ele nunca controlou, o segundo deixou sob controle do Legislativo, que
nem sequer a aliança com o Judiciário consegue contornar.
A visão política que Lula tem da economia é a
de que seu principal motor é o incentivo ao consumo, via transferência de renda
e oferta de crédito. Além dos “planos” setoriais desenhados, dirigidos e
financiados pelo Estado. Essa combinação, na visão de Lula, produz o motor
perpétuo da popularidade e vitórias eleitorais.
Como explicar, então, que as expectativas dos
agentes de economia se alinhavam com essa fórmula acima décadas atrás e agora
não mais? É a constatação de que fatores fundamentais, como demografia,
produtividade estagnada e sistema político disfuncional impedem hoje a
realização da “visão política” da economia da qual Lula é incapaz de se
libertar.
Lula deixou claro antes de se eleger que
insistiria no que levou ao desastre dilmista, que ele não percebe como
consequência de sua fórmula mas, sim, como a interrupção forçada de uma
trajetória vitoriosa – um “golpe”. Ao reiterar, como faz todo dia, que não
abandona a rota habitual, Lula diz aos agentes econômicos que não existe acordo
com eles sobre sequer o que são os fatos. O que ele disputa é que exista uma
“lei da gravidade” em matéria de política econômica, que exista uma “verdade”
que se deva respeitar. De fato, as categorias nas quais Lula opera são
exclusivamente políticas. E nelas, como diriam os velhos marxistas, visões
políticas fracassam quando não existem as condições objetivas para sua
realização.
É isso que os agentes econômicos enxergam, e
Lula não.
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