quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Bolsonaro e Braga Netto - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Ação do general dependia de atuação complementar que cabia necessariamente ao capitão

Braga Netto era o operador da sociedade golpista formada por militares e Jair Bolsonaro. A missão começou cedo. Meses após assumir o Ministério da Defesa, em 2021, ele deu sinal verde para o patético desfile de blindados que deveria pressionar o Congresso a aprovar o voto impresso. No mesmo ano, indicou o general que trabalhou para tumultuar a fiscalização das urnas no TSE.

Bolsonaro escolheu Braga Netto como vice quando o general já havia apertado os primeiros botões da conspiração. Em meados de 2022, o presidente contava mais com a esperança de virar a mesa do que com a crença de ganhar no voto. A chapa formalizou o núcleo da organização criminosa que, de acordo com a PF, tentaria um golpe de Estado.

Se Bolsonaro era a cara do golpe, Braga Netto atuava como responsável por decisões logísticas e ações ostensivas para levar à ruptura que beneficiaria o então presidente e os militares que haviam acumulado poder naqueles anos.

A função desempenhada por Braga Netto naquela divisão de tarefas fez com que ele deixasse pelo caminho mais impressões digitais do que Bolsonaro. O general coordenou a "rataria" que se dedicava à trama que incluía o assassinato de autoridades. Segundo o tenente-coronel Mauro Cid, ele também entregou uma sacola com o dinheiro para bancar protestos e atentados.

Os desdobramentos do plano terrorista, no entanto, dependiam de uma atuação complementar que cabia necessariamente a Bolsonaro. O decreto de estado de sítio em que o presidente trabalhou nas semanas finais de governo era uma peça fundamental para implantar o estado de exceção que garantiria a permanência do grupo no poder.

A tentativa de separar os passos de cada um levou a alguns esforços ridículos. Ainda antes da prisão de Braga Netto, um dos advogados de Bolsonaro quis emplacar a tese de que o capitão era inocente e seria traído por generais que comandariam um gabinete de crise após o golpe. O doutor fez um favor ao reconhecer o peso das provas, mas se esqueceu de ler os papéis apreendidos. Eles diziam que o tal gabinete seria instalado na esteira do decreto assinado por Bolsonaro e deveria assessorar o presidente.

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