Folha de S. Paulo
Ação do general dependia de atuação
complementar que cabia necessariamente ao capitão
Braga Netto era o operador da sociedade golpista formada por militares e Jair Bolsonaro. A missão começou cedo. Meses após assumir o Ministério da Defesa, em 2021, ele deu sinal verde para o patético desfile de blindados que deveria pressionar o Congresso a aprovar o voto impresso. No mesmo ano, indicou o general que trabalhou para tumultuar a fiscalização das urnas no TSE.
Bolsonaro escolheu Braga Netto como vice quando o general já havia apertado os primeiros botões da conspiração. Em meados de 2022, o presidente contava mais com a esperança de virar a mesa do que com a crença de ganhar no voto. A chapa formalizou o núcleo da organização criminosa que, de acordo com a PF, tentaria um golpe de Estado.
Se Bolsonaro era a cara do golpe, Braga Netto
atuava como responsável por decisões logísticas e ações ostensivas para levar à
ruptura que beneficiaria o então presidente e os militares que haviam acumulado
poder naqueles anos.
A função desempenhada por Braga Netto naquela
divisão de tarefas fez com que ele deixasse pelo caminho mais impressões
digitais do que Bolsonaro. O general coordenou a "rataria" que se
dedicava à trama que incluía o assassinato de autoridades. Segundo o
tenente-coronel Mauro Cid,
ele também entregou uma sacola com o dinheiro para bancar protestos e
atentados.
Os desdobramentos do plano terrorista, no
entanto, dependiam de uma atuação complementar que cabia necessariamente a
Bolsonaro. O decreto de estado de sítio em que o presidente trabalhou nas
semanas finais de governo era uma peça fundamental para implantar o estado de
exceção que garantiria a permanência do grupo no poder.
A tentativa de separar os passos de cada um levou a alguns esforços ridículos. Ainda antes da prisão de Braga Netto, um dos advogados de Bolsonaro quis emplacar a tese de que o capitão era inocente e seria traído por generais que comandariam um gabinete de crise após o golpe. O doutor fez um favor ao reconhecer o peso das provas, mas se esqueceu de ler os papéis apreendidos. Eles diziam que o tal gabinete seria instalado na esteira do decreto assinado por Bolsonaro e deveria assessorar o presidente.
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