Folha de S. Paulo
Juros sobem sem limite, a espera de notícia
fiscal boa; BC alerta bancos sobre crédito
O Banco Central quer
ajuda do governo Lula a fim de esfriar a economia —diminuir consumo e
investimento. Diz ainda que bancos precisam tomar cuidado com a concessão de
crédito.
O pedido ao governo foi explícito, de modo
não muito comum, e está na exposição de motivos da
decisão sobre a taxa Selic, na semana passada, conhecida
como "Ata do Copom (Comitê de Política Monetária)".
A "desaceleração" é necessária para um "reequilíbrio" da economia (evitar superaquecimento, inflação, alta daninha do déficit externo etc.). Para tanto, política monetária (juros "do BC") e fiscal (gastos do governo), precisam ser "harmoniosas". É o óbvio, mas dito de modo enfático.
Além de providência necessária a fim de
conter a inflação, um anúncio do governo quanto a despesas seria um modo também
de conter a alta ora
descontrolada de dólar e de taxas de juros, segundo pessoas que
operam negociações grandes no mercado de câmbio e
juros. É possível que a aprovação
integral do plano fiscal do governo, ora no Congresso, diminua um
tanto a tensão. Mas a situação tenderia a se estabilizar em um nível alto de
degradação.
As
intervenções do BC no câmbio servem apenas para conter altas
súbitas, exageradas, pontuais, do dólar (por
falta de "liquidez").
Na ata, o BC escreveu ainda que os bancos
precisam ter "cautela": a situação é de alta de juros, além de
inadimplência elevada, assim como é alta a parcela da renda dedicada a pagar
dívida e suas parcelas.
Déficit e a dívida crescendo sem limite
deixam juros e dólar sem chão. E tal descontrole contribui para aquecer a
economia de modo inflacionário, segundo o BC. "Com relação à política
econômica de forma mais geral, o Comitê manteve a firme convicção de que as
políticas devem ser previsíveis, críveis e anticíclicas", escreveu a
direção do BC no item 10 da ata.
A "Ata do Copom"
envelheceu em uma semana, mas não perdeu a razão. Envelheceu pelos fatos da
vida: as taxas de juros no mercado e o preço do dólar estão ora sem controle. A
inflação corrente cresce. A expectativa quanto à evolução de preços cresce ora
sem limite. O governo para taxas de juros cada vez mais altas para financiar
seus déficits, os juros da dívida e a dívida que vence.
O motivo de fundo apareceu em maio, quando o
governo mudou sua meta fiscal. No início de abril, a taxa de juros de um ano no
mercado era de 9,86% ao ano (descontada a inflação esperada, uma taxa real de
6,2%). Nesta segunda, estava em 14,92% (taxa real de 9,8%). Nesta terça, o
governo tomando dinheiro emprestado, com vencimento em maio de 2027, com a taxa
de juros de 8,27% mais a inflação.
O anúncio de um plano mirrado de contenção de
despesas, em novembro, não contribuiria para conter a degradação financeira.
Para piorar, foi anunciado ao lado de um plano de isenção de IR, que poderia
agravar ainda mais a situação e indicou que o governo não estava lá muito
cônscio do tamanho do problema. O risco de que o pacote ainda seja diminuído
por um Congresso indócil, no atropelo, jogou mais sal na ferida.
Os juros estão nos níveis mais altos desde o
colapso de 2015-2016.
Dezembro é um mês propício a variações
frequentes e grandes do dólar: menos dinheiro na praça, mais remessas de
empresas estrangeiras. Com a desconfiança na intenção do governo de ajustar as
contas, o caldo entornou.
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