Folha de S. Paulo
Argumento da idade poderá tirar petista da
disputa; capitão reformado já está legalmente impedido de concorrer e poderá
estar preso
Em 2026 poderemos ter uma eleição
presidencial sem Lula e Jair
Bolsonaro.
Pelo lado de Lula, a situação é delicada. Até
onde a vista alcança, ele terá condições objetivas de concorrer à reeleição,
mas a idade poderá revelar-se um empecilho. O episódio de
hemorragia cerebral por que ele passou está fortemente
relacionado à idade.
Se os EUA servem de prévia, foi o número de velas no bolo que inviabilizou a candidatura de Biden. Aliás, o próprio Lula disse várias vezes na campanha de 2022 que estaria velho demais para um quarto mandato.
E o problema é que Lula não tem sucessor óbvio no PT. Para manter-se como
líder inconteste do partido, ele trabalhou ativamente para que não surgisse
nenhum. O mais perto que há de um candidato natural é Fernando
Haddad, mas, por ocupar a posição de ministro da Fazenda, sua
viabilidade eleitoral está indissociavelmente ligada ao desempenho da economia.
E é o próprio Lula e as alas mais ideológicas do PT que vêm contribuindo para
turvar o cenário que favoreceria Haddad.
Já nas hostes bolsonaristas, a ausência do
capitão reformado é quase uma certeza. São irrisórias as chances de ocorrer uma
reviravolta judicial que lhe restitua o direito de pleitear cargos eletivos. É
mais verossímil imaginá-lo atrás das
grades do que na chapa presidencial.
Resta saber qual será o nome da direita na
disputa. Pode ser alguém tão ruim quanto Bolsonaro. Pense em Eduardo
Bolsonaro ou em Pablo Marçal.
Mas também pode ser um candidato que abrace a pauta conservadora, mas não os
elementos antissistema da agenda bolsonarista.
Na democracia, devemos estar prontos a
aceitar a vitória de ideias que desprezamos, desde que haja compromisso com a
manutenção das regras do jogo e com um núcleo básico de direitos e garantias —o
pacote liberal.
Infelizmente, não dá para descartar cenários
ainda mais distópicos. Imagine uma teocrática presidenta Michelle
Bolsonaro convocando cadeia de rádio e TV e falando em línguas
com a população.
O fundo do poço sempre pode ter um alçapão. Os americanos estão prestes a
passar por ele.
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