Folha de S. Paulo
O bolsonarismo, com ou sem Bolsonaro, irá em
frente. Já o lulismo não tem nenhum sucessor à vista
As ziquiziras de saúde de Lula acordaram os últimos distraídos para uma preocupação: a falta de opções no espectro democrático na vacância do titular. Há uma carência de nomes na esquerda, na centro-esquerda e até no campo liberal. A direita e a extrema direita, ao contrário, apesar do rabo entre as pernas pelos processos de golpismo contra Bolsonaro e asseclas, tornarão competitivo qualquer um que apresentem no lugar de seu inelegível e, em breve, condenado mito. O bolsonarismo, com ou sem Bolsonaro, irá em frente. O resto do Brasil terá de contar com Lula. Não há opções viáveis nas suas proximidades.
Já foi diferente. Um jovem eleitor de hoje
achará difícil de acreditar, mas, na primeira eleição pós-democratização para
presidente, em 1989, tínhamos um largo arco de escolhas. Eram 22 candidatos.
Metade só visava um brilhareco junto aos familiares, mas os demais eram para
valer e representavam vários pensamentos políticos. E, sem carbonários à
direita ou à esquerda, ninguém chegava sequer perto das extremidades do arco.
De um lado, o sindicalista Lula, o
trabalhista Leonel Brizola, o social-democrata Mario Covas, o liberal Ulysses
Guimarães, o comunista Roberto Freire e o ambientalista Fernando Gabeira. Cada
qual com seu programa, mas todos respeitáveis e comprometidos com o Brasil.
Nenhum eleitor poderia ser crucificado por pender para qualquer deles. Lula,
Brizola e Mario Covas perderam, mas foram bem. Ulysses fracassou e Freire e
Gabeira tiveram os votos que esperavam, os dos amigos.
Do outro lado, Paulo Maluf, Guilherme Afif,
Aureliano Chaves, Ronaldo Caiado e Fernando Collor. Todos beneficiários ou
ex-funcionários da ditadura, mas que, se deixados por conta de seus interesses
pessoais, não ameaçariam as liberdades básicas.
Hoje essa ameaça é palpável e com nuances
sombrias para a democracia. O PT empurrou todos os
partidos para a direita e formou uma poderosa frente contra si próprio. E seu
líder, homem de fé, está convencido de que é imorrível. Em último caso, à falta
de melhor, irá às eleições em 2026 amarrado ao cavalo, como El Cid.
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