quarta-feira, 27 de agosto de 2025

Oposição de resultados, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

União Progressista fortalece o centrão e enfraquece Bolsonaro na definição dos rumos da direita

Sobre o cinismo oposicionista da federação denominada União Progressista, dona de ministérios e cargos importantes no governo do PT, muito já se falou e falaremos mais um pouco adiante.

Outro aspecto dessa junção do PP com o União Brasil, contudo, merece atenção. Serão 109 deputados e 14 senadores em via de serem 15, tornando-se a maior bancada do Congresso. Parlamentares em amplíssima maioria identificados com o centrão. Na Câmara, ultrapassam o PL de Jair Bolsonaro que, assim, perde o privilégio daquela condição.

Além disso, juntos, PP e União terão em caixa R$ 1,151 bilhão dos fundos eleitoral e partidário, considerados os últimos repasses de dinheiro público. Surge, aí, a possibilidade de uma modificação significativa no equilíbrio de forças no Parlamento e fora dele.

Perde muito mais o bolsonarismo que o petismo. Este já tem como dada sua função meramente utilitária de meio de acesso ao aparelho estatal. Aquele, no entanto, ainda guarda alguma cerimônia no trato do ex-presidente como guia genial da direita.

Isso pode mudar. Ainda é cedo para afirmar com certeza, embora seja possível aventar a hipótese de que se fortaleça nesse campo o descolamento da liderança e orientação de Bolsonaro nas articulações para a disputa presidencial de 2026.

A manutenção da palavra do ex-presidente como determinante para decisões da direita já é considerada um estorvo em voz baixa. Reclamos que tendem a ganhar decibéis com a provável condenação no Supremo e os atritos promovidos pela prole do capitão.

O oposicionismo de resultados, expresso na presença de indicados dos novos federados na máquina pública, não deixa de ser um reforço à União Progressista. O comando de quatro ministérios, controle de diretorias da Caixa Econômica Federal e de boas cadeiras na Codevasf são ativos assaz interessantes para a formação de robustas bancadas na eleição parlamentar.

Para isso, precisam mais da condescendência pragmática do governante que de obediência às ordens do oponente.

 

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