sábado, 27 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editorial / Opiniões

Congresso não pode se eximir do combate ao crime organizado

Por O Globo

A cada dia fica mais urgente agenda legislativa que dê musculatura ao Estado na luta contra facções criminosas

A cada dia fica mais claro que o papel do Congresso é fundamental no combate ao crime organizado. Deputados e senadores devem imprimir agilidade à tramitação da agenda de segurança pública necessária para aumentar a força institucional do Estado nesse enfrentamento. À medida que o poder público começa a obter êxitos pontuais, fica mais urgente que a legislação seja atualizada para dar respaldo legal ao avanço de operações integradas por organismos federais, estaduais e municipais.

Os muros que nos dividem. Por Marco Aurélio Nogueira

O Estado de S. Paulo

Fazer política é construir democracia, ou seja, é saber ultrapassar os muros e ir além da indignação

Sociedades estão repletas de muros. Alguns são altos, ameaçadores e difíceis de escalar; outros são tão naturais que quase não os percebemos.

Muros separam, desde logo, classes e grupos. Os mais ricos não se misturam com os mais pobres. As classes médias flutuam entre um muro e outro. Migrantes e imigrantes distinguem-se dos locais, permanecendo, em regra, distantes deles, que não os acolhem. Muros segregam. Há inúmeros deles no mundo: Estados, fronteiras, potências, nações, territórios. A desigualdade de renda e de inclusão estampa o muro mais brutal da nossa época.

Muros variam conforme os tempos e as gerações. Em sociedades tradicionais, eles são baixos e compactos: deixam as pessoas com pouca liberdade. Os indivíduos demoram para se soltar de famílias, igrejas, hierarquias, costumes. Sociedades modernas têm muros mais fluidos, as pessoas escapam deles com facilidade, nem por isso deixam de senti-los.

Por um Brasil mais aberto, próspero e justo. Por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Permitam-me fazer-lhes uma convocação. Chega de choradeira, chega de cabeça baixa. Vamos levantar a cabeça e agir

Caríssimos leitores e leitoras, sabemos todos que a eleição de 2026 tem tudo para produzir um efeito profundo nos destinos de nosso país. Permitam-me fazer-lhes uma convocação. Chega de choradeira, chega de cabeça baixa. Vamos levantar a cabeça e agir. Não é concebível que 213 milhões de cidadãos se curvem aos desmandos de uma meia dúzia em Brasília. Isso é aceitar insulto em cima de injúria.

Minha proposta – e creio que vocês a verão como realista – é contatar 1 milhão de cidadãos sérios para que eles multipliquem esse esforço, identificando o maior número possível de pessoas igualmente sérias, atiladas, corajosas, competentes e com vocação de liderança. A ideia é motivar essas pessoas a se candidatarem a deputado federal e, onde for realista, a senador. Penso que um esforço dessa envergadura há de eleger um número suficiente, pelo menos, para modificar o “clima” que tem prevalecido na Câmara federal. É pouco? Sim, é pouquíssimo. Mas é melhor do que nada, e muito melhor que permanecer de cabeça baixa.

O bolsonarismo eduardista. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro desenvolve o seu pós-Bolsonaro – pós-Jair, para não haver dúvida. Pós-pai. A superação político-eleitoral do pai. A constituição desse movimento está explícita. Eduardo propõe uma dissidência bolsonarista, que se organiza em função do monopólio (desafiado?) do acesso à Casa Branca e da imposição do que se tornaria a pauta única da direita brasileira: a anistia, tão difícil de alcançar quanto eficaz em interditar a ascensão de liderança que não da família.

Não tem negócio. Jair Bolsonaro inelegível, incontornavelmente inelegível, todo mundo se organizando em função dessa inelegibilidade – e o bolsonarismo eduardista sustentando a agenda, a da anistia “ampla, geral e irrestrita”, que engessa a direita e lhe garante poder e centralidade sobre o espólio de Jair. Tem método.

A arma de Eduardo que Bolsonaro não controla. Por Thaís Oyama

O Globo

Filho Zero Três do ex-presidente convenceu-se de que é preferível a direita perder a eleição para Lula a vencer com Tarcísio

Eduardo Bolsonaro não é apenas o filho incontrolável de Jair Bolsonaro. O deputado do PL é também um dos líderes da gigantesca blogosfera bolsonarista que um recente estudo do Cebrap chamou de “Partido Digital Bolsonarista” — uma organização que se aproveita do abrigo de um partido institucional, o PL, para disputar o poder a partir de um feixe de influenciadores unidos em torno da figura de Jair Bolsonaro.

Eduardo busca agora pôr essa engrenagem digital — uma usina de replicação de mensagens que opera sem trégua, dispara ataques coordenados e convoca multidões num estalar de dedos — a serviço de um projeto que encanta o governo. O filho Zero Três do ex-presidente convenceu-se de que é preferível a direita perder a eleição para Lula a vencer com Tarcísio de Freitas.

Bandeiras. Por Eduardo Affonso

O Globo

Manifestações provaram que a esquerda continua hábil em se achar dona de pautas que são de todos os democratas

Domingo, 21 de setembro, manifestações país afora. Há quem diga que demonstraram a força da esquerda — eu diria que provaram que a esquerda continua hábil em se achar dona de pautas que são de todos os democratas. Teria sido uma ótima oportunidade de unir o país —como nas Diretas Já, no Fora Collor, no ouro de Rebeca Andrade. Não deu — mas foi bonita a festa, pá: não é todo dia que se junta tanta gente contra a impunidade (lembrou a campanha da finada Ficha Limpa). E, ainda por cima, ouvindo Chico, Gil, Caetano e Djavan — vestidos de verde, amarelo, azul e branco. Copacabana estava colorida, esperançosa, embandeirada.

O elo perdido. Por Flávia Oliveira

O Globo

A quantidade de gente Brasil afora tornou visível a indignação sugerida no mundo virtual

Os holofotes, não sem motivo, se voltaram para os discursos de abertura da Assembleia Geral da ONU, em que Luiz Inácio Lula da Silva foi firme contra o tarifaço e a agressão dos Estados Unidos à soberania nacional, e Donald Trump indicou disposição para o diálogo com o brasileiro. Mas foi no dia seguinte, quarta-feira, numa reunião com líderes do mundo democrático, que o presidente da República tocou numa ferida que, faz tempo, dói. A democracia, ele disse, errou com a sociedade civil. Foi nesse vácuo que a extrema direita encontrou terreno fértil para se espalhar.

O efeito manada na PEC da Blindagem revela muito sobre o Congresso. Por Roberto Fonseca

Correio Braziliense

Entenda como a pressão popular enterrou a PEC da Blindagem. A reação nas ruas foi o que salvou os deputados

A cena política brasileira na última semana escancarou um vício recorrente em Brasília: o efeito manada. Trata-se da prática em que parlamentares seguem a orientação dos líderes sem avaliar, de fato, as consequências políticas e eleitorais das escolhas. Foi exatamente o que se viu na tramitação da já enterrada PEC da Blindagem, cuja aprovação na Câmara acabou seguida por um arrependimento em massa. Diante da reação popular, muitos deputados correram às redes sociais para pedir desculpas e tentar se descolar do próprio voto.

A proposta, como se sabe, buscava recriar um regime de privilégios processuais extintos há mais de duas décadas, impondo voto secreto em casos de prisão e submetendo ações penais a um filtro corporativista. Era um retrocesso evidente que, na prática, livraria congressistas e líderes partidários da investigação de crimes graves, erguendo um verdadeiro escudo de impunidade. Não por acaso, recebeu apelidos nada elogiosos como "PEC da Imoralidade", "PEC da Bandidagem", "PEC do Escudo da Corrupção", entre tantos outros.

A política externa americana. Por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

Os diplomatas concorreram para que houvesse o encontro "ocasional" de Lula e Trump nos bastidores da Assembleia Geral da ONU. Há muitos interesses comerciais em jogo

A possibilidade de encontro entre Donald Trump e Lula em algum momento nos próximos dias demonstra uma singular característica da política externa dos Estados Unidos. O presidente e sua equipe de assessores definem solitariamente a política externa. No caso, ocorreram encontros secretos das assessorias brasileira e norte-americana. Tudo correu ao largo da diplomacia formal. Lá, existe um serviço de relações exteriores composto por pessoal rigorosamente selecionado dentro de universidades e treinados em cursos específicos no Departamento de Estado. Mas nem sempre é chamado a oferecer sua contribuição.

Idas e vindas da democracia. Por Marcus Pestana

O mundo dá voltas e o destino prega peças. Não deixa de ser irônica a atual conjuntura. Há 50 anos, nós, democratas e progressistas, lutávamos pela redemocratização. Hoje é a direita brasileira, que dava suporte à ditadura militar, que esbraveja “abaixo a ditadura”, “anistia já”. É claro que as duas situações não possuem nenhum paralelo.

Nos anos de 1970, a partir da anticandidatura de Ulysses Guimarães à presidência da República, em 1973, e da esmagadora e inesperada vitória do MDB nas eleições de 1974, tomaram forma a frente e a agenda democráticas.

Alinhavada por setores da esquerda democrática, concebeu-se uma estratégia que previa três passos: anistia ampla, geral e irrestrita; constituinte livre e democrática e eleições diretas para a presidência da República. Em torno dessa plataforma uniram-se conservadores democratas, liberais, trabalhistas, democratas-cristãos, social-democratas e a esquerda democrática.

Vitórias de Lula duram até 2026? Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Presidente se beneficia de erros cometidos pela direita bolsonarista e pelo centrão

Eleitores que não se alinham nem ao PT nem a Bolsonaro deverão mais uma vez definir o pleito

Animado por sua proverbial boa sorte, Lula acumula vitórias recentes que dão fôlego à sua candidatura reeleitoral. As boas notícias para os petistas resultam de uma combinação de erros da direita bolsonarista (as trapalhadas de Dudu em Washington) e do centrão (a PEC da Blindagem) com alguns acertos da gestão.

Lula parou de imprecar contra o BC, apesar do juro ainda estratosférico, e, mais importante, como mostrou reportagem do Estado de S. Paulo, manteve discretas conversações com o governo Trump. É possível que a "química" entre os dois presidentes produza em breve algum tipo de alívio nas sanções comerciais.

Não à blindagem tributária para partidos. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

A regulamentação da reforma precisa obrigar os que são livres da cobrança a prestar contas

Não é admissível que legendas gastem dinheiro público sem que contribuintes saibam sua destinação

Passou da hora de os partidos políticos que recebem bilhões de reais dos nossos impostos prestarem contas à sociedade. Antes mesmo da PEC da Blindagem ser aprovada de forma acachapante na Câmara e depois derrotada no Senado, os partidos conseguiram outras formas de escudo.

As emendas constitucionais 132 (reforma tributária) e 133 ampliaram as imunidades tributárias dos partidos para além dos impostos. Eles receberam anistia ampla, geral e irrestrita sobre sanções e multas tributárias.

Brasil: El impacto de las movilizaciones populares contra la impunidad. Por Fernando de la Cuadra

Clarin (Chile)

La Propuesta de Enmienda Constitucional (PEC) destinada a blindar a los parlamentarios de posibles condenas por diversos tipos de crímenes tuvo un estrepitoso fracaso en el Senado. Ahora, muchos de los diputados –incluidos algunos del PT- que aprobaron el mentado documento la semana pasada, se dicen arrepentidos de haber suscrito el mismo. El proyecto en cuestión era una aberración, ya que entregaba total impunidad al Congreso, pues exigía que la apertura de procesos contra parlamentarios tenía que tener el aval de la respectiva Casa en votación secreta.

El texto aprobado en la Cámara de Diputados era considerado insustentable, pues abría el peligroso precedente de que todos los crímenes cometidos por los parlamentarios -inclusive en el caso de crímenes hediondos- podían ser relegados al olvido, una consecuencia lógica del indudable espíritu corporativo que prima en el Poder Legislativo.

A sede do Legislativo. Por Pedro Serrano

CartaCapital

O Congresso Nacional não pode outorgar a si próprio a condição de guardião máximo da Constituição, que compete ao Supremo

A crise do Estado de Direito legalista, bem como o esgotamento do paradigma legal como única “tecnologia disciplinar”, conforme expressão de Michel ­Foucault, abriu caminho ao surgimento do que podemos chamar, vulgarmente, de Estado constitucional. Este, por sua vez, implicou o rompimento do modelo de “democracia radical”, exacerbadora da vontade majoritária.

Do mesmo modo, as ideias de supremacia e força normativa à Constituição geraram a necessidade de um órgão para regular o sistema, a jurisdição constitucional, destinada a reconhecer as fontes normativas e verificar a adequação dos seus produtos. Por essa razão, inclusive, reputa-se à Justiça constitucional a condição de possibilidade do Estado Democrático de Direito.

Shangri-lá: um paraíso imaginário. Por Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

No mundo das certezas, a economia não se move e é sempre igual, ancorada nas expectativas racionais

Shangri-lá é um paraíso terrestre fictício, um vale místico e utópico localizado nas montanhas do Tibete. No Ocidente, tornou-se sinônimo de uma utopia remota e exótica que representa o anseio por um mundo perfeito e harmonioso.

O Shangri-lá dos economistas ­mainstream é a busca das crenças neuróticas do equilíbrio. Se algo estiver fora da ordem, basta colocá-lo nos trilhos do equilíbrio.

Grande representante da dita ciência econômica, Sebastian Edwards apresentou em uma palestra no Banco de Compensação Internacional (BIS) seus argumentos a respeito da crença equilibrista.

A Palestina daqui em diante. Por Jamil Chade

CartaCapital

O reconhecimento do Estado palestino por aliados europeus de Israel é um passo importante, mas, por ora, simbólico

O massacre em Gaza gerou uma reação inesperada, até mesmo para os palestinos: uma onda de reconhecimentos por parte de governos estrangeiros da soberania da Palestina e seu status como um país independente. Durante a Assembleia-Geral da ONU, o gesto foi anunciado por diversos Estados europeus e, agora, 147 dos 193 integrantes das Nações Unidas reconhecem a Palestina. Mas, em um movimento histórico, foram as grandes potências ocidentais que tomaram a iniciativa de anunciar o reconhecimento, rompendo uma unidade no G7. Para diplomatas, a decisão do Reino Unido e da França, velhos aliados de Israel, deixou tanto Benjamin Netanyahu quanto ­Donald Trump numa situação incômoda e de crescente isolamento.

Poesia | Carta do Ausente, de Vinicius de Moraes

 

Música | MPB4, Chico Buarque - Roda Viva