terça-feira, 7 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais /Opiniões

Conversa entre Lula e Trump representa um bom começo

Por O Globo

Depois da quebra do gelo, negociação entre Brasil e Estados Unidos deve se concentrar em interesses comuns

Foi um avanço inegável a conversa de 30 minutos entre os presidentes do Brasil, Luiz Inácio da Silva, e dos Estados UnidosDonald Trump, nesta segunda-feira por videoconferência. Mais de dois meses depois de Trump ter oficializado a sobretaxa de 50% para as exportações brasileiras, enfim o gelo se quebrou, dando início a negociações. A esperança é que sejam produtivas. No mínimo, a conversa, resultado do breve contato que ambos mantiveram durante a Assembleia Geral da ONU no mês passado, representou uma bem-vinda distensão.

Entre os pontos abordados, Lula pediu a Trump que reveja o tarifaço e as sanções a autoridades brasileiras. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que acompanhou a conversa, afirmou que o diálogo foi positivo. O vice-presidente, Geraldo Alckmin, considerou o contato melhor do que se esperava. Lula e Trump, segundo nota do Palácio do Planalto, concordaram em manter um encontro em pessoa e trocaram telefones para estabelecer via direta de comunicação. Lula reiterou a Trump o convite para que participe da COP30, em Belém, e disse a ele considerar o contato direto “uma oportunidade para restauração de relações amigáveis de 201 anos entre as duas maiores democracias do Ocidente”. Lembrou, por fim, que o Brasil é um dos três países do G20 com que os Estados Unidos mantêm superávit na balança de bens e serviços. Trump afirmou que a ligação foi “muito boa” e que a conversa “focou principalmente na economia e no comércio entre os dois países”. Disse que os dois se reunirão “num futuro não muito distante”, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. “Nossos países se darão muito bem juntos”, concluiu.

Negócios à parte. Por Merval Pereira

O Globo

Não se espere que qualquer dos dois governos mude de posição ideológica, mas que encontrem um caminho de negociação benéfico para os interesses comerciais dos dois lados.

A conversa telefônica de Lula com Trump é um evidente sinal de que o governo brasileiro superou com galhardia o obstáculo formidável que as manobras bolsonaristas em Washington colocaram no caminho da relação dos dois governos, numa tentativa de se aproveitar da ignorância americana sobre o que se passa em nosso país para inviabilizar o governo petista. Claro que apenas em momentos incomuns dois brasileiros sem o menor compromisso com o país, e sem a menor importância política, poderiam ter chegado a tanto. Incomum este momento pela figura que está à frente do governo americano. Trump pretende descontar em alguns meses os anos em que ficou no poder anteriormente e não sabia como manipular os cordéis do verdadeiro poder da Casa Branca, controlado — soube-se no decorrer do governo e sobretudo depois — por servidores públicos que tinham a exata noção do dever.

O roteiro certo em hora difícil. Por Míriam Leitão

O Globo

Conversa entre Lula e Trump foi da forma que a diplomacia desejava: diálogo à distância, clima sereno e possível encontro em terreno neutro

Aconteceu como a diplomacia brasileira queria. Uma conversa à distância, um clima sereno, palavras construtivas e a expectativa de um encontro em terreno neutro, que pode ser a Malásia. O temor era de que se a primeira reunião fosse presencial, antes de as arestas serem aparadas, o risco seria de tudo desandar. Outro perigo era de um telefonema sem preparação prévia. A chance de diálogo entre os presidentes Donald Trump e Lula aumentou muito a partir da conversa de ontem.

O guerreiro na era Trump. Por Fernando Gabeira

O Globo

Imagino generais que se preparam para guerras sofisticadas terem de rever seus planos para estourar bocas de fumo

Há dois meses, neste espaço, mencionei um livro que poderia ajudar a compreender Trump. O livro é “Male fantasies” (“Fantasias masculinas”), de Klaus Theweleit. É um estudo profundo sobre a psicologia dos Freikorps, um exército voluntário que esmagou o movimento operário, integrando-se mais tarde às tropas nazistas.

Constato que exagerei nas expectativas. Mais de um século é tempo suficiente para muitas mudanças. Essa é a conclusão que tiro do encontro de 800 oficiais de alta patente com Trump, na base da Marinha em Quantico, Virgínia.

O mistério da vez da IA. Por Pedro Doria

O Globo

Sora 2, o novo modelo de vídeo da OpenAI, é melhor e mais surpreendente do que as outras inteligências artificiais

Sora 2, o novo modelo de vídeo da OpenAI, é melhor e mais surpreendente do que as outras inteligências artificiais que fazem vídeo por aí. Nada de extraordinário. A cada dois meses, mais ou menos, surge um modelo de vídeo novo melhor e mais surpreendente dentre os que existem. Em agosto, saiu o Seedance, da ByteDance, dona do TikTok. Dava um controle incrível a quem pensa o vídeo sobre diversos planos — frente, trás, um traveling. Em maio, saiu o Veo 3, do Google, que permitia pela primeira vez que os vídeos tivessem voz. Tudo indica que seguirá sendo desse jeito. Ainda assim, Sora 2 levanta algumas questões novas em que vale mergulhar.

Aproximação entre Lula e Trump tem uma pedra no caminho: Marco Rubio. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Interlocutor de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo, que articularam o tarifaço sobre as exportações brasileiras e as sanções às autoridades brasileiras, comandará as negociações

A conversa telefônica entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump deu início a negociações que podem redefinir o eixo das relações entre Brasil e Estados Unidos. O telefonema, ocorrido após meses de tensão comercial e desconfiança política, foi “cordial, mas tenso”, segundo assessores. Há disposição para o diálogo, mas também uma consciência clara de que os dois líderes partem de posições ideológicas e estratégicas muito antagônicas. Será necessário um reposicionamento de ambos.

De qualquer forma, foi passo decisivo para equacionar impasses acumulados desde o anúncio, por parte do governo norte-americano, de tarifas de até 50% sobre o aço e o alumínio brasileiros. Para Washington, a taxação foi uma resposta à política industrial brasileira, vista como protecionista. A Casa Branca, entretanto, sinalizou disposição para rever as medidas caso o Brasil ofereça contrapartidas em temas como regulação digital, biocombustíveis e investimentos em semicondutores.

A paz vai parar a matança em Gaza? Por Ricardo Pires

Correio Braziliense

Há exatos dois anos, o Hamas fez seu ataque ignóbil e prestou o último serviço à direita israelense, abrindo caminho para a total destruição da Faixa de Gaza

Israel matou cerca de 66 mil palestinos, a maioria, mulheres e crianças, na Faixa de Gaza. Dois milhões de pessoas são empurradas de um lugar a outro, feito gado, e morrem por bombas, famintas, pisoteadas, sob escombros, como se fossem baratas. É difícil haver tanto terror e violência por parte de um Estado contra um povo indefeso, só comparável ao cerco nazista a 350 mil judeus no Gueto de Varsóvia, nos anos de 1940.

O ataque do Hamas a Israel em 7 de outubro de 2023 é crime bárbaro, totalmente condenável. Mas também é crime gravíssimo condenar e dizimar todo um povo pelos atos de um grupo terrorista. Por suas ações em Gaza, Israel foi acusado de cometer crimes de genocídio e contra a humanidade e crime de guerra, segundo resolução aprovada pela Associação Internacional de Acadêmicos de Genocídio (IAGS) em 1º de setembro último. Não há como entender a omissão da "civilização cristã ocidental" por dois anos diante dessa matança insana.

Fundos de índice e bancos ‘sombra’. Por Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

Valor Econômico

As estripulias do mercado financeiro encontraram seu destino na crise de 2007/2008

No labirinto chamado mercado financeiro, o investidor ao entrar e caminhar na miríade de inovações descobre os ETFs, fundos de índices e bancos sombras, estes administrados no Brasil e no mundo pelas Sombras das Fintechs.

O investidor se depara com as portas dos bancos sombras (shadow banks). São instituições não bancárias que fazem crédito às sombras do setor bancário. E vivem leve e soltas da regulação e fiscalização das autoridades monetárias.

A bandeira de pior custo-benefício da história. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Telefonema de Trump a Lula mostra avanço na aproximação e escancara o erro do bolsonarismo em fazer do presidente americano sua âncora

É uma incógnita o quórum da manifestação bolsonarista desta terça em Brasília em pleno horário comercial (16h), mas uma aposta dá pra fazer: depois do telefonema entre os dois presidentes, Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, não deverá haver bandeira americana. Aquela de 36 metros estendida em frente ao Masp no dia da Pátria foi a de pior custo-benefício da história.

Lula disse que falaram do comércio entre os dois países, Trump confirmou. O presidente brasileiro disse ter mencionado a cúpula da Asean, na Malásia, como uma oportunidade de encontro, o convidou para vir à COP30 e se dispôs a ir aos EUA. Trump não excluiu nenhuma das possibilidades e colocou um ponto de exclamação depois de dizer que os dois países “vão trabalhar juntos”.

Trump cai na real e bolsonarismo perde. Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Brasil e EUA ‘vão se dar bem juntos’, sem ‘caça às bruxas’, ‘censura’, ‘comércio desleal’ e... Bolsonaro

Se o encontro nada casual entre Trump e Lula na abertura da Assembleia Geral da ONU selou o cessar-fogo entre EUA e Brasil, ou melhor, dos EUA contra o Brasil, a conversa de meia hora entre os dois presidentes, ontem, foi mais do que uma ótima surpresa para o governo brasileiro e a indústria nacional: abriu uma avenida de negociações e acertos bilaterais.

Lula considerou a conversa “excepcional”, mas quem consolidou essa sensação no governo, no Brasil, nos EUA, quiçá mundo afora, foi o próprio Trump, antes tão belicoso, agora simpático com Lula e acenando com uma aproximação para valer: “Nossos países vão se dar muito bem juntos”, divulgou pela internet, após a conversa, que classificou como “ótima”.

A direita brasileira. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O senador Ciro Nogueira, pretendido porta-voz de Jair Bolsonaro, deu uma entrevista – e pronto. Buummmm! O que disse ao Globo, somado às reações imediatas que provocou, mapeia um vestiário rachado. Implodido, para ser exato. O rei está nu; pelados, os príncipes; desiludidos, os donatários. (Enquanto isso, Lula conversou com Trump – e sem que os monopolistas da Casa Branca soubessem.) Exposta a desorganização da direita neste pós-Bolsonaro. Cada um (filhos, inclusive) com o seu projeto pessoal de superação a Bolsonaro – todos sabedores do que seria “o melhor” para Jair e sempre “em defesa” de Jair, o grau de seu encostamento a depender do aliado.

Colhendo resultados. Por Paulo Hartung

O Estado de S. Paulo

Este é o chamado do nosso tempo: transformar desafios globais em oportunidades de inovação, prosperidade e cuidado com o planeta

Em suas mais diversas formas, reportar balanços exige um trabalho profundo e substancioso. Requer visitas atentas ao passado, permite ponderações serenas sobre o presente e incita um arguto olhar para o futuro. Ciente disso, encho-me de satisfação e esperança ao me deparar com os resultados recém-divulgados no Relatório Anual da Ibá, entidade que representa o setor de árvores cultivadas para fins industriais e de restauração de nativas.

O documento traz dados referentes a 2024 e resulta de trabalho colaborativo com empresas associadas, a consultoria ESG Tech e a startup Canopy, responsável por captar os dados de área plantada e conservada, a partir de avançada tecnologia via satélite.

Sim, é bom, mas é ruim. Por Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

Fica-se a meditar se decisões do governo não podem ser avaliadas pelo impacto, positivo ou negativo, que têm sobre a vida da população

Sim, mas... Essas palavras sintetizam boa parte da reação mais frequente que se leu, se viu ou se ouviu nos meios de comunicação à aprovação, na semana passada, pela Câmara dos Deputados – por unanimidade, esclareça-se, com certa perplexidade –, do projeto de lei de iniciativa do Poder Executivo que isenta do Imposto de Renda (IR) quem ganha até R$ 5 mil por mês e, compensatoriamente, tributa contribuintes de renda muito alta. Na essência, a mesma proposta havia gerado séria crise política quando se anunciaram estudos para sua elaboração, levando oposicionistas a preverem que, mal tendo começado, o governo Lula já estava terminando. Daí a surpresa com sua aprovação por unanimidade.

A direita sequestrada por Eduardo Bolsonaro. Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Tudo caminha para Lula solucionar o problema nacional que Eduardo criou; não é a melhor ótica para a oposição

Para ser competitiva, a direita terá que superar a pauta fracassada de um deputado que abandonou seu país

O mais recente ator político a pular fora do barco do bolsonarismo é Trump. Ou ao menos é isso que sua conversa com Lula indicou. Sempre é possível que ele esteja preparando alguma armadilha, ou que no futuro mude de ideia, mas por enquanto Bolsonaro desapareceu de suas falas e, no lugar dele, está a disposição a discutir interesses econômicos de Brasil e EUA. Tudo caminha para Lula solucionar o problema nacional que Eduardo Bolsonaro criou. Não é a melhor ótica para a oposição.

Lideranças do PL e o próprio Eduardo continuam insistindo que seu plano de dobrar as autoridades brasileiras com sanções americanas vai às mil maravilhas, mas a essa altura só os fanáticos mais cegos ainda não perceberam que o navio já naufragou. Mesmo supondo que os pró-anistia consigam aprová-la no Congresso, o STF já declarou que dali não passa.

Por campanhas a pão e água. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Comissão reserva R$ 6,3 bilhões para partidos gastarem no pleito de 2026

Proposta vai na contramão do interesse público e deveria ser revista

A cada par de anos a história se repete. Parlamentares discutem o tamanho do fundo eleitoral destinado aos partidos políticos para as campanhas do próximo pleito, o montante é considerado acintosamente alto por segmentos da sociedade civil, a imprensa publica editoriais e colunas contra a proposta, que mesmo assim acaba passando.

Para as eleições de 2026, a Comissão Mista de Orçamento reservou R$ 4,9 bilhões para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, que se somariam ao R$ 1,4 bilhão do Fundo Partidário (distribuído anualmente às agremiações), perfazendo um total de R$ 6,3 bilhões.

As duas faces da Câmara. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Tentativa de limpeza de imagem não resiste a ações que desmoralizam a atividade parlamentar

Isenção do IR e projetos da área de segurança servem de biombo a toda sorte de manobras casuísticas

Câmara dos Deputados está fazendo um jogo de aparências. Na superfície, investe numa agenda popular, aprovando isenção de Imposto de Renda e urgência para medidas da área de segurança.

Tentativa de limpeza de imagem que não resiste a um olhar para a face interior da Casa. Ali suja-se a Lei da Ficha Limpa, alivia-se a barra de amotinados, avança-se no Orçamento da União sem cerimônia, urdem-se manobras casuísticas para salvar golpistas e tenta-se manter parlamentares fora do alcance da Justiça.

As relações íntimas e milionárias entre jogo do bicho e polícia. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Batalhões da PM e delegacias receberam R$ 50O mil em dois dias em 2023

Cláudio Castro reintegra agentes de segurança expulsos por ligação com bicheiros

Mais de R$ 500 mil em propina a batalhões da Polícia Militar e delegacias da Polícia Civil em apenas dois dias —6 e 9 de maio de 2023—, com o objetivo de permitir o funcionamento de bingos e máquinas caça-níquel. É o que revela a investigação do MP-RJ sobre o bicheiro Rogério Andrade.

O esquema é tão velho quanto o samba "Acertei no Milhar", de Geraldo Pereira e Wilson Baptista, gravado por Moreira da Silva em 1940. Um ano depois, o jogo do bicho, já com status de instituição nacional, foi considerado contravenção, estabelecendo a cumplicidade entre banqueiros e homens da lei.

E o projeto de nação? Por Ivan Alves Filho

O Brasil assusta. Por que afirmo isso? Por várias razões. 

Inicialmente, perdemos o projeto de nação. Ou seja, estamos sem diretriz e não sabemos para onde vamos. Não temos sequer projeto de governo. Quando muito, projetos de ordem pessoal e olhe lá.

Perdemos o que eu poderia denominar por contra elite, em estreita ligação com o movimento popular organizado. 

Não temos nem uma coisa nem outra. Tudo parece se resumir a uma disputa eleitoral cada vez menos criativa ou cada vez mais esvaziada.

Onde estão as centrais sindicais, o movimento estudantil, o campesinato organizado? Por onde passaram os nossos grandes formuladores, pessoas da qualidade de Darcy Ribeiro, Nelson Werneck Sodré, Josué de Castro, San Thiago Dantas, Alberto Passos Guimarães, Ignacio Rangel e Celso Furtado?

Poesia | De que riem os poderosos? De Affonso Romano de Sant'Anna

 

Música | Paulinho da Viola - Dança da solidão