segunda-feira, 29 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Solução para os Correios é privatizar enquanto é tempo

Por O Globo

Modelo está pronto e ainda há interessados. Com acúmulo de prejuízos, em breve não haverá mais

Uma das primeiras medidas de Luiz Inácio Lula da Silva ao voltar ao Planalto foi retirar os Correios da lista de privatizações. A justificativa alegada foi a opção pelo saneamento da Empresa de Correios e Telégrafos (ECT), de modo que pudesse ser mantida como empresa pública para cumprir sua “função social”. Diante da previsível resistência corporativa numa estatal com 85 mil funcionários, profundamente deficitária, cujos cargos são loteados politicamente, nada foi feito. A atividade postal básica — entrega diária de correspondência em todo o território nacional — não é cumprida sequer em bairros de elite do Rio.

Na mesma toada: mais gastos, mais impostos. Por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

O governo ainda está precisando de truques para cumprir a meta de déficit zero neste ano

O noticiário tem sido dominado pela política. Faz sentido. Não é todo dia que um ex-presidente é condenado a 27 anos de prisão num julgamento televisionado ao vivo. Além disso, já está na pauta a eleição nacional de 2026, com os eventuais candidatos em plena campanha.

As questões econômicas tornam-se secundárias, e isso até ajuda o governo na busca por mais arrecadação. Mas basta olhar mais de perto, e lá está a equipe econômica naquela mesma toada: elevando os gastos e procurando impostos para fechar as contas, tanto as deste ano como as de 2026.

Temos alguns exemplos.

Dentro do bunker. Por Demétrio Magnoli

O Globo

Eleitorado democrata nos EUA praticamente circunscreve-se às elites detentoras de diploma de educação superior

‘A classe trabalhadora é um grupo racista, xenófobo, misógino, ultrarreligioso e ignorante. A esquerda só pode recapturá-lo incorporando seus pontos de vista e desistindo de seus próprios valores de tolerância, equidade e empatia. O fato de que isso é intragável é a razão por que a humanidade sempre regressa a seu estado mais vil, autoritário e patriarcal.’

Os diagnósticos acima não partem de algum conhecido pensador, mas de um leitor de esquerda, no espaço de comentários do New York Times, junto a uma coluna de opinião sobre a perda da classe trabalhadora pelo Partido Democrata. São relevantes precisamente porque o leitor afirma com clareza aquilo que quase nunca fica explícito nos textos coreografados de líderes ou ideólogos. O leitor delineia uma visão profundamente pessimista sobre o futuro e reconhece implicitamente que os valores da esquerda pós-moderna a inviabilizam eleitoralmente.

COP30, o clima e a favela. Por Preto Zezé

O Globo

Transição ecológica, para ser justa e efetiva, deve começar onde o Estado não chega, ou só chega com repressão e descaso

As mudanças climáticas são, antes de tudo, uma crise urbana. Nas cidades se concentram os efeitos mais visíveis e violentos da emergência climática: enchentes arrastam vidas e histórias, ondas de calor sufocam bairros sem verde, deslizamentos escancaram o abandono das favelas, e a precariedade do saneamento se transforma em vetor de doenças.

Se o impacto é urbano, a solução também precisa ser. O problema é que muitas cidades ainda tratam a pauta ambiental como distante, técnica, restrita a conferências e relatórios em inglês. Mas ela está no esgoto a céu aberto, na rua que alaga, na falta de sombra, no transporte precário, no lixo acumulado onde deveria haver praça, cuidado e vida.

A crise climática tem CEP. E esse CEP costuma ser de favela.

Busão 0800: de Beagá para o Brasil. Por Bruno Carazza

Valor Econômico

Viabilidade financeira de projeto de gratuidade de transporte público tem grande potencial eleitoral se nacionalizado em Brasília

“Eu pego meu balaio lá pra Zona Norte, com mais uma hora estou chegando lá. É o meu único meio de transporte, com sorte eu consigo até sentar. Ai, seria tão bom, se eu morasse no São Bento, na Savassi, no Anchieta ou no Sion.”

“No Balanço do Balaio” é um samba cheio de suingue lançado pelo cantor e compositor mineiro Vander Lee, falecido precocemente em 2016. Narrada de modo cômico, a canção retrata as agruras do usuário de ônibus (“balaio”, na gíria belorizontina) no deslocamento entre a região central e a periferia da cidade: a superlotação, a falta de conforto, o trânsito pesado, a qualidade precária dos veículos e o tempo de vida perdido no transporte casa-trabalho-casa diário.

Com alívio nos preços de alimentos, melhora poder de compra do mínimo. Por Sergio Lamucci

Valor Econômico

Aumenta o poder de compra do salário mínimo em relação ao valor da cesta básica, mas nível de preços da comida continua elevado

Com o recuo dos preços de alimentação no domicílio, o poder de compra do salário mínimo em relação ao valor da cesta básica tem melhorado nos últimos meses. A deflação de alimentos é um alívio em especial para os mais pobres, que gastam uma parcela maior da renda com esses produtos. Essa trégua dos preços da comida parece contribuir para a moderada recuperação recente da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No entanto, como as cotações de alimentos subiram muito de 2019 para cá, o impacto pode ser modesto, dado o elevado nível de preços desses produtos, mesmo com a queda de junho para cá.

O mito da pacificação. Por Carlos Pereira

O Estado de S. Paulo

A democracia não elimina crises ou conflitos; garante é que sejam resolvidos sem violência

Pacificação do quê? Pacto entre quem? Redução de penas em troca do quê? Anistia que beneficia apenas uma das partes faz sentido? O esquecimento de malfeitos só se justifica quando há ganhos mútuos e equilíbrio entre os lados em conflito.

Há exemplos virtuosos de pactos que envolveram anistia para assegurar a estabilidade em momentos de transição democrática: as negociações entre De Klerk e Mandela pelo fim do apartheid na África do Sul; o Pacto de Punto Fijo na Venezuela, entre AD, Copei e URD; ou a anistia de 1979 no Brasil. Em todos esses casos, havia riscos, ganhos e concessões recíprocas.

Há algo de novo no front. Por Roberto Amaral*

A última semana teve início promissor no domingo, 21 de setembro, pois se ouviu, a lembrar outros eventos, a voz do povo: livre, espontânea, alegre, mas trazendo para as ruas um grito reprimido de inconformismo, um rotundo não! à atonia política que parecia dominar o país, receoso de fazer frente à maré montante da extrema-direita, apresentada como história já acontecida, cantada nas ruas, recitada na imprensa, nos púlpitos, nas portas dos quartéis. As ruas e as praças, o espaço onde o povo atua e faz história, seriam agora o território privilegiado do reacionarismo.
A história parava aí.

Mas o povo, mobilizado, disse não, e com seu gesto pôs de manifesto o torpor de nossas lideranças, políticas e governantes, a anomia dos partidos, o conhecido recesso do movimento sindical.

Fracassada a intentona de janeiro de 2023, julgados e condenados os principais mandantes, articulava-se à luz do dia, no Congresso e fora dele, uma vez mais — e certamente não ainda pela última (a persistirem os vícios letais da conciliação e da impunidade) — a desmontagem do pacto político democrático conquistado com a constitucionalização em 1988, fruto dos 21 anos de resistência à ditadura instalada em 1º de abril de 1964, sustentada enquanto possível pela aliança dos militares golpistas com o grande capital e o apoio político, financeiro e estratégico dos EUA, este mesmo que hoje azucrina o governo Lula.

A democracia não sobreviveu por um triz? Por Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A conspiração pelo golpe foi abortada endogenamente e não pelas instituições de defesa da democracia

As instituições operam indiretamente quando generais dizem 'não'

Não fosse pela delação premiada de Mauro Cid não teríamos tomado conhecimento do plano e das ações associadas a um possível golpe de estado no país. O golpe foi abortado endogenamente. As instituições aos quais associamos a defesa da democracia não cumpriram nenhum papel direto no controle dessas ações. A sobrevivência da democracia não decorreu diretamente de suas ações.

A qualificação "direta" e "diretamente" nas sentenças anteriores é crítica.

Lula pode ser o presidente da tarifa zero. Por Camila Rocha

Folha de S. Paulo

PT teria trunfo imbatível para 2026, vozes de Junho de 2013 seriam ouvidas e Brasil se tornaria vanguarda mundial

Conquista no transporte alivia bolso dos trabalhadores, melhora economia local e diminui trânsito e poluição

O Brasil é o país com o maior número de cidades com tarifa zero no mundo. Graças aos protestos de Junho de 2013, 136 cidades oferecem gratuidade no transporte público todos os dias do ano.

A medida é uma verdadeira conquista, considerando que a renda gasta com transporte público diário pode superar 20% do salário mínimo. Segundo dados da Mobilize Brasil, um trabalhador que recebe R$ 1.518 compromete 21,73% de sua renda com transporte caso more em Brasília. Se for morador de Curitiba, o gasto sobe para 23,71%. Em Florianópolis, o mesmo trabalhador gasta 27% de sua renda para se locomover na cidade.

Política Econômica? Ou Economia Política? Por Alfredo Maciel da Silveira

Começo reproduzindo breve artigo de Albert Fishlow no Estadão, 20 de novembro de 2022, de quando Lula acabara de ser eleito para o presente mandato. No mesmo dia, eu me permitira fazer um resumo introdutório numa rede social.

Penso que assim exponho nossa reiterada e permanente problemática socioeconômica, reduzida à sua “expressão mais simples”, como se diz tanto na matemática quanto na sabedoria quotidiana.

Já passou da hora de acordarmos para o imperativo do crescimento acelerado e sustentável de nossa economia, base para quaisquer estratégias de mudanças estruturais rumo à justiça distributiva e equilíbrio social! Já não há piores sintomas das nossas ilusões - quanto a políticas públicas populistas conciliadas ao neoliberalismo atávico - do que a flagrante ameaça fascista que nos assalta, aqui, e nos centros do poder capitalista mundial.

Seguem meu resumo de 2022 seguido do artigo daquele grande brasilianista.

Meu resumo.

“Olhem a Taxa de Investimento do Fishlow, de 25% sobre o PIB.”

Poesia | Joaquim Cardozo - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Getúlio Cavalcanti e Maestro Spok - Cantigas de Roda