quarta-feira, 1 de outubro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Capitulação do Hamas é chave em plano de Trump

Por O Globo

Ainda que proposta seja realista dadas as circunstâncias, é incerto como reagirá o grupo terrorista

O plano de 20 pontos para acabar com a guerra em Gaza apresentado na Casa Branca pelo presidente americano, Donald Trump, ao lado do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, representa um avanço inegável. É certo que, no detalhe, desperta dúvidas sobre viabilidade e implementação. Também é verdade que nenhum dos envolvidos no conflito sairá plenamente satisfeito com os termos. Mas trata-se de uma proposta realista dentro das circunstâncias, cujos maiores benefícios imediatos seriam a libertação dos reféns israelenses e o alívio para a população palestina. Inspirada em ideias do ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, ela expõe as dificuldades que cercam a solução duradoura do conflito, mas ao mesmo tempo traz esperança.

Paz entre Poderes não é para já. Por Vera Magalhães

O Globo

STF esteve e continua sob insidioso e ininterrupto ataque, a partir até dos EUA, inflamado por um deputado

Luiz Edson Fachin não chegou a ser original ao centrar seu discurso de posse na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) pregando harmonia entre os Poderes e que o Judiciário, por assim dizer, adote uma postura de maior comedimento institucional. Além de não ser inédita, trata-se de uma plataforma praticamente impossível de cumprir e, no momento atual, questionável do ponto de vista da defesa da própria Corte.

Quem for ler a fala de Fachin à luz do que o STF fez nos últimos anos depreenderá de muitas das 19 páginas uma crítica, se não direta, ao menos parcial a decisões, tomadas de posição e iniciativas do colegiado e de colegas que o antecederam no comando do tribunal. Para não falar de atos do próprio agora presidente.

Foi Fachin quem relatou a ADPF 572, ajuizada pela Rede Sustentabilidade contra o inquérito das fake news, relatado por Alexandre de Moraes, uma das principais fontes das críticas que alegam usurpação de prerrogativas por parte do Supremo.

Ele fez um voto, que saiu vencedor, pela constitucionalidade do inquérito, determinando medidas para “sanear” alguns aspectos. Só que o inquérito já mudou de nome e objeto, mas segue aberto até hoje. Para ser coerente com sua fala em prol da volta aos fundamentos da atuação do STF, a discussão em torno do encerramento desse feito seria primordial.

Fachin mostrou a que veio. Por Elio Gaspari

O Globo

O ministro cortou a festa e condenou os espetáculos

O ministro Edson Fachin assumiu a presidência do Supremo Tribunal Federal ao seu estilo, com um discurso longo, tedioso e até descuidado. Misturou num mesmo parágrafo seu compromisso com a liberdade de imprensa e com o “bem-estar dos servidores”. Ainda assim, disse a que veio, com boas notícias. Por exemplo:

— A prestação jurisdicional não é espetáculo. Exige contenção.

Ou:

— Assumo aqui compromisso de uma gestão austera no uso dos recursos públicos pelo Judiciário. A diretriz será a austeridade.

Fora do mundo das palavras e promessas, Fachin resgatou a tradição de Rosa Weber e cancelou a pajelança com que lobistas festejam posses. Há registro de eventos com a presença de magistrados para provar uísques, na Europa, com patrocínio de um banco mambembe.

Suprema precarização. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Tribunal decidirá se motoristas e entregadores têm vínculo trabalhista com plataformas

Ao assumir a presidência do Supremo, o ministro Edson Fachin afirmou duas vezes que o Judiciário deve proteger o direito ao “trabalho decente”. Hoje o discurso será submetido ao primeiro teste prático.

Fachin escolheu iniciar sua gestão com o julgamento de recursos apresentados pelas empresas Uber e Rappi. As plataformas querem derrubar decisões da Justiça do Trabalho que reconheceram vínculo com motoristas e entregadores. Os casos terão repercussão geral — ou seja, a decisão do Supremo valerá para todos os processos que discutem a chamada uberização no país.

A visão de Fachin sobre o STF na crise política. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Novo presidente do Supremo fez em seu discurso uma forte defesa da independência judicial

Considerando que o ceticismo é atitude fundamental para quem busca sobreviver no ambiente muitas vezes hostil de Brasília, com frequência é preciso evitar cair na tentação de classificar como “coincidência” qualquer sequência aleatória de fatos. No entanto, chamam atenção alguns movimentos que ocorreram antes, durante e depois da posse dos ministros Edson Fachin na presidência do Supremo Tribunal Federal (STF) e Alexandre de Moraes na vice.

Poucas horas antes da solenidade realizada na segunda-feira (29), o presidente do Congresso, senador Davi Alcolumbre (União-AP), pediu à Corte que o número das bancadas estaduais na Câmara não fosse alterado para as próximas eleições. A despeito da decisão da própria Corte para que a redistribuição das cadeiras fosse feita nesta semana de acordo com o censo, Alcolumbre defendeu que isso só ocorresse para o pleito de 2030. Uma tentativa de reduzir a insatisfação dos deputados, que pressionavam pela derrubada do veto ao projeto que aumentava o número de deputados e, assim, driblava a determinação do STF.

‘Big techs’ pedagiam tudo, diz Haddad. Por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Projeto de lei propõe que Cade seja o “xerife” da atuação das big techs no Brasil

“Estamos criando uma regulação para impedir práticas anticoncorrenciais, porque senão as big techs jantam todo mundo”, afirmou o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, em entrevista ao podcast Três Irmãos, na semana passada. “Elas [as big techs] pedagiam tudo. Quer usar esse dispositivo? Pedágio. Quer usar esse outro? Tem que fazer um contrato de exclusividade comigo. Aí, o empresário fala: ‘cara, todo meu lucro tá indo para esses serviços de informática’.”

Ele falava sobre o Projeto de Lei 4.675/2025, protocolado no último dia 18, que regula os aspectos econômicos da atuação das big techs. O texto é fruto de um trabalho desenvolvido por sua equipe durante dois anos e meio.

O PL propõe que o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), que regula a concorrência entre empresas no Brasil, seja o “xerife” da atuação das big techs. Será criada nele a Superintendência de Mercados Digitais, que vai monitorar de perto as plataformas que faturam mais do que R$ 5 bilhões por ano aqui ou R$ 50 bilhões globalmente. Além desse critério quantitativo, há um recorte qualitativo: o serviço precisa ter relevância sistêmica na economia.

Aumento de 390% no Fundo Eleitoral para 2026 é tapa na cara da sociedade. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Para blindar seus mandatos financeiramente, deputados e senadores da Comissão Mista de Orçamento aprovaram aumento de R$ 1 bilhão para R$ 4,9 bilhões para o Fundo Eleitoral

A proposta de quase quintuplicar o Fundo Eleitoral, aprovada pela Comissão de Orçamento da Câmara, avança em direção à consolidação de uma “partidocracia” nefasta ao país. A Comissão Mista de Orçamento do Congresso (CMO) aprovou ontem, de forma simbólica, um aumento de 390% (R$ 3,9 bilhões) da reserva prevista na peça orçamentária para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC) para 2026. O “Fundão” abastece campanhas eleitorais em todo o país com dinheiro público.

O princípio da “paridade de armas” na disputa eleitoral simplesmente não existe mais, não é respeitado. Afora o “Fundão” anabolizado, que em tese poderia ser distribuído democraticamente pelos partidos entre candidatos com mandato e sem mandato, existe também a montanha de dinheiro de emendas parlamentares, que chegam em média a R$ 50 milhões para cada parlamentar.

Um SNE Efetivo. Por Cristovam Buarque

Correio Braziliense

O SNE e o novo PNE apresentam boas intenções, prometem mais recursos, mas carecem de objetivos audaciosos e ações concretas que implantem a rede de escolas públicas para a educação de qualidade para todos

Ao longo dos últimos 70 anos, o Brasil adotou 22 programas voltados para a educação básica — da Merenda Escolar, em 1955, ao Pé-de-Meia, em 2025 — incluindo dois Planos Nacionais de Educação (PNEs), com vigência de 10 anos cada. Com esses programas, avançamos rumo à quase universalização das matrículas nas séries iniciais do ensino fundamental. No entanto, progredimos insuficientemente quanto ao número de alunos que concluem a educação básica com formação capaz de atender às exigências do mundo contemporâneo. Apesar dos avanços, nesse período três lacunas se ampliaram: entre ricos e pobres, entre a educação no Brasil e em outros países, e a desconexão entre o que ensinamos e o que precisa ser ensinado.

Paz de conveniência. Por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

Estive no Oriente Médio por duas vezes. Em uma delas, em abril de 2023, depois de visitar a fronteira com a Faixa de Gaza e ver a cerca por onde o Hamas invadiu o sul de Israel em 7 de outubro do mesmo ano, conheci Ofir Libstein. O político israelense que administrava o Conselho Regional de Sha'ar HaNegev, região vizinha ao enclave palestino, era responsável por 9,3 mil moradores de 12 comunidades do "envelope". Vi em Libstein um visionário e um pacifista. Ele e colegas vislumbravam um futuro de coexistência pacífica entre judeus e palestinos.

A semente seria plantada nas crianças dos dois povos. Libstein ajudou a fundar o "Bridging", um programa que convidava 25 jovens de Gaza a passarem um dia no sul de Israel e aprofundarem o contato por meio de diálogos e experiências. Libstein foi morto por militantes do Hamas ao tentar defender o kibbutz onde morava e proteger os quatro filhos, abrigados em um quarto seguro.

O estilo Lula de ‘fritar’ ministros. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

O problema do presidente é a dificuldade para demitir, deixando o ‘fogo amigo’ se espalhar

A um ano das eleições de 2026, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar o Centrão em banho-maria. Na prática, Lula aguarda a saída de ministros e integrantes desse grupo, após o ultimato dado pela cúpula do União Brasil e do PP, sem de fato acreditar que haverá grandes baixas na equipe.

O presidente sabe que não terá apoio integral do Centrão nem do MDB na campanha, mas espera conquistar pedaços desses partidos. O que ele não quer é um casamento de papel passado dos “aliados” de conveniência com o bolsonarismo. Pelos cálculos do Planalto, de 18 a 20 ministros devem sair no início de abril para concorrer às eleições. Diante dessa expectativa, o presidente fará agora apenas pequenas mudanças na equipe.

O enigma do PIB. Por Fábio Alves

O Estado de S. Paulo

Quem pode dizer com algum grau de certeza, hoje, se a maior economia do mundo está fraca ou forte?

Não são apenas os dirigentes dos principais bancos centrais do mundo que estão inseguros em determinar em que ponto está, de fato, o nível da atividade econômica em seus países – algo crucial para calibrar a política monetária. Analistas e investidores também parecem estar no escuro, uma vez que os dados ora apontam para resiliência inesperada no consumo e investimento, ora mostram perda de fôlego do mercado de trabalho.

Tome-se o exemplo dos Estados Unidos. Quem pode dizer com algum grau de certeza, na fotografia de hoje, se a maior economia do mundo está fraca ou forte, diante de números recentes de atividade aparentemente conflitantes?

O que Lula pode tirar de Trump neste mundo de império americano sem freio. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Um acordo bem-sucedido com os EUA aumentaria a confusão nas direitas extremas

Governo do Brasil vai negociar mais do que crise comercial e ataques políticos

Um encontro bem-sucedido entre Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump causaria novos embaraços para as direitas, pelo menos para a extrema direita e para bolsonaristas em geral.

Decerto as redes bolsonaristas parecem capazes de engolir quase qualquer ficção —Jair Bolsonaro lá aparece como defensor da vida e da família. Mas seria difícil elaborar o insucesso da vassalagem de Trump e do MAGA, a reviravolta em tese simpática a Lula e o fracasso da conspiração dos Bolsonaro e sua bandeira americana na avenida Paulista.

Trump inventa um plano para a paz em Gaza, e o mundo finge acreditar. Por Rui Tavares

Folha de S. Paulo

Entre ilusões coloniais e cálculos políticos, palestinos continuam à espera de que acordo possa desbloquear futuro

Conjunto de pontos tem lacunas em sua implementação e, em cada uma delas, uma hipótese de o fazer descarrilar

Por um lado, a situação em Gaza é tão desesperadora que dá vontade de acreditar em qualquer nesga de uma solução, por rebuscada que seja. Por outro lado, não deixa de espantar ver líderes mundiais, em particular aqui na Europa, fazer de conta que existe um plano de Donald Trump para Gaza minimamente credível.

"Sim, por favor, qualquer coisa que pare com a matança", diz o coração. A memória, desafortunadamente, tem obrigação de desconfiar.

Fachin semeia em solo infértil. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Novo presidente do Supremo proferiu palavras certas no momento necessário à contenção

Resta saber se nos três Poderes em disfunção haverá ouvidos dispostos a compreender a mensagem

Em matéria de carta de intenções, o discurso inaugural de Luiz Edson Fachin na presidência do Supremo Tribunal Federal incluiu as melhores. A estreia sem festejos excessivos, com prestígio ao coral da casa, fez jus ao apelo à contenção.

Palavras, gestos e recados certos no momento necessário. Primazia ao colegiado, atenção à segurança jurídica, senso de dever em detrimento da sensação de poder, reprovação a privilégios, resistência à tentação do espetáculo midiático, elogio à austeridade —estava tudo lá e mais a frase síntese: "Ao direito o que é do direito, à política o que é da política".

O país precisa de uma direita republicana. Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Há direita republicana com regras, freios e responsabilidade

Conservador pode escolher ordem com garantias, não exceção iliberal

Há duas forças interessadas em borrar a distinção entre direita republicana e extrema direita: a própria extrema direita e setores da esquerda radical. A primeira precisa convencer o eleitor de direita de que sua única alternativa política real é uma plataforma iliberal. A segunda prefere reduzir tudo à sua direita a um rótulo único —"fascismo"— porque isso simplifica o conflito, rende mobilização moral e dispensa distinguir adversários legítimos de inimigos da democracia.

Ao país, porém, essa diferença faz falta: sem direita republicana reconhecida, cresce o espaço para aventuras iliberais.

Trump dá uma dentro com plano para Gaza. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Proposta de paz do presidente americano tem problemas, mas é chance de parar carnificina

Se acordo avançar, haveria governo palestino formado por tecnocratas e sem participação do Hamas

Não costumo perder oportunidades de criticar Trump, então, hoje, para variar, vou elogiar seu plano de paz para o Oriente Médio. A proposta tem inúmeros problemas, mas oferece uma chance palpável de interromper a carnificina em Gaza. Não desperdiçá-la é um imperativo moral.

Poesia | Ser ou não ser, de William Shakespeare

Música | Paulinho da Viola - Foi um rio que passou em minha vida