quarta-feira, 24 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Oferta de Trump abre caminho, mas exige cautela

Por O Globo

Apesar de haver razão para ceticismo, diálogo dele com Lula pode aliviar crise entre Brasil e Estados Unidos

Foi surpreendente, e ao mesmo tempo alvissareira, a declaração do presidente americano, Donald Trump, na 80ª Assembleia Geral da ONU cogitando um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana que vem. “Na verdade, ele gostou de mim, eu gostei dele. Tivemos uma química excelente”, disse Trump em seu discurso. Os dois se encontraram na antessala reservada, logo depois de Lula abrir a Assembleia. A conversa durou menos de um minuto, mas foi o suficiente para quebrar o gelo. Ainda que haja motivo para ceticismo quanto aos resultados, a oferta de diálogo deveria ser prioridade para Lula.

Ela acaba com 55 dias de agravamento nas tensões entre as duas maiores democracias das Américas. No fim de julho, os Estados Unidos anunciaram um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros e sanções contra autoridades, com a intenção de influenciar o julgamento de Jair Bolsonaro por golpe de Estado e as regras impostas às plataformas digitais. Lula não tentou falar com Trump, mas todos os esforços do governo brasileiro para abrir negociações não deram em nada. Nesta semana, os americanos impuseram novas sanções contra brasileiros. A reunião entre os dois pode abrir caminho à solução da crise mais grave já registrada entre Brasil e Estados Unidos.

Hora de deixar a 'química' de lado. Por Vera Magalhães

O Globo

Caso encontro se confirme, Itamaraty, Planalto e equipe econômica precisam prepará-la com profissionalismo e pragmatismo

Na era do imediatismo, até a Assembleia Geral da ONU vira reality show. O contraponto absoluto entre os discursos de Lula e Donald Trump na abertura do encontro, ontem, foi rapidamente deixado de lado e substituído pelo frisson com a declaração final do presidente dos Estados Unidos de que havia se encontrado com o brasileiro por alguns segundos e forte “química” havia acontecido entre eles.

Trump e o anti-Trump. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Presidentes divergem em tudo, mas combinaram conversa na semana que vem

Num momento em que líderes mundiais medem palavras para não melindrar Donald Trump, o presidente do Brasil desembarcou em Nova York com outra estratégia.

Lula foi à ONU disposto a confrontar a Casa Branca. Sem citar o nome de Trump, bateu firme no isolacionismo, na perseguição a imigrantes e no apoio ao massacre de palestinos em Gaza. Também demarcou diferenças em temas como crise climática, desigualdade tributária e regras de comércio.

Sociedade vibrante é boa notícia. Por Zeina Latif

O Globo

Em que pese o antagonismo político no país, existe algo mais profundo que é a baixa confiança da sociedade nas instituições

Economistas com frequência subestimam os fenômenos sociais. Porém, muitas vezes são ingredientes centrais para a análise da conjuntura econômica e a construção de cenários. Os comportamentos da sociedade refletem o quadro econômico, mas também mudanças de crenças e novos anseios. Assim, podem impactar decisões de consumo e investimento, bem como influenciar a política. O crescimento dos evangélicos, por exemplo, só agora entra no radar dos economistas. As manifestações populares precisam também ser analisadas.

Depois de perder o monopólio das ruas, bolsonarismo perdeu também o da interlocução. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

O interesse demonstrado pelo presidente Donald Trump por um encontro com seu colega brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na Assembleia Geral da ONU, em Nova York, é o 4º revés seguido para o bolsonarismo

Depois de perder o monopólio das ruas, o bolsonarismo agora perdeu também o monopólio da interlocução com Donald Trump. O interesse demonstrado pelo presidente americano por um encontro com seu colega brasileiro, sobre quem disse ter rolado uma “química excelente” nos poucos segundos em que se cruzaram ― "Ele parece um cara legal, eu gostei dele e ele gostou de mim" ―, é o quarto revés seguido para o bolsonarismo.

O primeiro foram as manifestações de domingo (21), que mostraram a impopularidade do combo anistia/PEC da Blindagem e o potencial do presidente Lula, ainda que esteja no poder, captar o voto antissistema que moveu o bolsonarismo. No mesmo dia dos discursos dos dois presidentes na Assembleia Geral da ONU, o Conselho de Ética da Câmara abriu um processo contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) por agir contra o Brasil.

Lula atinge objetivos no câmbio e emprego. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Governo federal alcança dois marcos considerados cruciais na economia

Incertezas em relação à robustez do sistema elétrico assombram qualquer governo. Isso aconteceu com Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Na última disputa pela Prefeitura de São Paulo, as seguidas crises no fornecimento de luz também se tornaram tema central do período eleitoral. Em Brasília, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passaram a acompanhar com atenção o tema, tendo em vista um potencial problema para a campanha à reeleição. Comemoram, por outro lado, o fato de o governo federal ter alcançado dois objetivos considerados cruciais na economia.

A confiança nas instituições continua a diminuir. Por Assis Moreira

Valor Econômico

A descrença nos Parlamentos foi a que mais aumentou nas últimas décadas globalmente

A confiança nos Parlamentos foi a que mais desmoronou em quase 40 anos, segundo uma pesquisa que a Organização Internacional do Trabalho (OIT) menciona em relatório publicado hoje. O documento coincide com o debate no Brasil sobre a PEC da Blindagem, que aumenta o sentimento de impunidade e provocou manifestações de protesto no fim de semana.

A OIT se apoia na Pesquisa Mundial sobre Valores (WSV, na sigla em inglês), uma rede global de cientistas sociais que estudam a mudança de valores e o seu impacto na vida social e política, com secretariado em Estocolmo, na Suécia. A WVS consiste em pesquisas em quase 100 países, incluindo entrevistas com quase 400 mil pessoas.

Um “momento mágico” entre Lula e Trump na ONU que nem eles esperavam. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Trump é ciclotímico e imprevisível; Lula é pragmático, mas não vai alinhar o Brasil automaticamente aos EUA, como fez Bolsonaro e, agora, a Casa Branca gostaria

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante seu discurso na Assembleia Geral da ONU, nesta terça-feira, disse que se reunirá na semana que vem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva para debater as retaliações que os EUA vêm aplicando ao Brasil em reação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Disse que houve “excelente química” entre ambos. A declaração pegou de surpresa tanto a comitiva brasileira quanto os assessores da Casa Branca, que não haviam previsto que ambos se encontrassem de forma tão afável nos bastidores do plenário da ONU.

“Eu estava entrando (no plenário da ONU), e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Na verdade, concordamos que nos encontraríamos na semana que vem”, disse Trump. “Não tivemos muito tempo para conversar, tipo uns 20 segundos. Ele parece um cara muito legal, ele gosta de mim e eu gostei dele. E eu só faço negócio com gente de quem eu gosto. Quando não gosto deles, eu não faço. Quando eu não gosto, eu não gosto. Por 39 segundos, nós tivemos uma ótima química, e isso é um bom sinal.”

Condenação a Bolsonaro: o eco da Carta Democrática Interamericana. Por Diego García-Sayán

Correio Braziliense

A aprovação da Carta em Lima em 2001 foi um marco normativo regional. A condenação contra Bolsonaro é, à sua maneira, uma clara validação desses princípios

Em 11 de setembro de 2001, em Lima, a Assembleia Geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) aprovou por unanimidade a Carta Democrática Interamericana. Como ministro das Relações Exteriores do Peru, coube a mim presidir essa sessão extraordinária de tanta importância. Ela reuniu os países americanos com um objetivo claro: estabelecer os princípios fundamentais que definem a democracia e comprometer-se a defendê-la diante das ameaças à ordem constitucional.

Pesava no impulso peruano a experiência sofrida derivada da autocracia gerada pelo "autogolpe" de Fujimori em 1992. Algo assim não deveria se repetir jamais. A Carta Democrática estipula que os povos das Américas têm direito à democracia e os governos têm a obrigação de promovê-la e defendê-la.

Justiça social: a chave para a prosperidade compartilhada. Por Caroline Fredrickson

Correio Braziliense

Os ODS têm servido como um roteiro para alcançar um mundo socialmente justo, pacífico e sustentável. Sobre trabalho decente e crescimento econômico, alcançamos apenas dois terços dos indicadores

Há 30 anos, 186 países se reuniram em Copenhague para a primeira Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social. À época, o encontro foi a maior reunião de líderes mundiais já realizada. Ao final da Cúpula, a mensagem era clara: os desafios enfrentados por nossas sociedades são globais, e as soluções, também.

Em resposta, os governos se comprometeram a colocar as pessoas no centro do desenvolvimento global. Reconheceram que a justiça social deve ser a base do progresso econômico, se este pretende ser sustentável. Isso significa garantir que todas as pessoas, independentemente de gênero, nacionalidade, origem ou local de nascimento, tenham o direito de viver com dignidade e de contar com igualdade de oportunidades para trabalhar, prosperar e alcançar êxito. Sociedades fundadas na equidade funcionam melhor, geram mais confiança e se fortalecem.

O dever moral do mundo. Por Rodrigo Craveiro

Correio Braziliense

Mesmo que os recentes reconhecimentos do Estado da Palestina tenham chancela pura e simplesmente simbólica, eles abrem um ambiente para que a criação de um Estado floresça

Gaza é o próprio inferno na Terra. Todos os dias recebo fotos e vídeos de crianças com os corpos despedaçados; de pais urrando de dor sobre os cadáveres dos filhos; de seres humanos transformados apenas em pele e ossos; de cidades reduzidas a pilhas de ruínas; de bombardeios a esmo; de gente desesperada, esfomeada e sem esperança. Não existe lugar pior do que a Faixa de Gaza. É a prova cabal de que vingança e ódio semeiam horror. Fechar os olhos para o que acontece em Gaza é ser cúmplice e conivente com a matança. Por desvios ideológicos, acreditar que todo palestino merece ser tratado como terrorista é falta de caráter e de informação.

O caráter de cada senador. Por Marcelo Godoy

O Estado de S. Paulo

O caixão de Ruy mal havia sido sepultado e a Câmara protegia bandidos em vez de atuar contra máfias

Em 19 de julho de 1999, o motorista de um Chrysler Stratus foi parado na Marginal do Pinheiros por dois investigadores da Delegacia de Roubos a Bancos. O homem, procurado pelo roubo milionário da Transpev, não reagiu. Seu nome era Marco Willians Camacho, o Marcola. O delegado que o prendeu era um jovem policial. Seu nome? Ruy Ferraz Fontes. Marcola nunca mais saiu da cadeia. Na segunda-feira retrasada, o PCC fechou essa conta. Ruy está morto.

A dor e a verdade de um julgamento. Por Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

Para quem está convencido da gravidade do crime, a transigência com as normas processuais nem sequer é vista como transigência

O julgamento de Jair Bolsonaro foi festejado por muitos como um momento histórico. Celebrou-se o resultado: pessoas que atentaram contra a democracia estão agora condenadas criminalmente. Os crimes cometidos contra o Estado Democrático de Direito não ficarão impunes.

O mesmo julgamento frustrou outros tantos. Não pelo resultado em si, disseram, mas pelo modo como foi feito. Veem uma contradição insolúvel no caso: a democracia foi defendida com meios antidemocráticos – restrições ao direito de defesa, apagamento do princípio do juiz natural e da garantia do duplo grau de jurisdição, concentração no juiz relator das funções de investigar e julgar, e do papel de vítima, uso da prisão preventiva para obter uma delação. Para essas pessoas, a contradição impede a celebração de qualquer resultado. E o imperativo cívico mais urgente é não ser conivente com os meio santir republicanos da mais alta Corte do País.

Dias de derrotas para as direitas golpistas. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Manifestações, alguns senadores, mais processos e até Trump dão ajuda ao contragolpe

PEC da Bandidagem é vital para a cúpula do centrão-direitão e não será enterrada facilmente

"É campeão! É campeão", gritavam na semana passada uns tipos que são deputados federais. Comemoravam na Câmara vitórias contra a decência mínima na política, como a PEC da Bandidagem. Aprovaram também a urgência para o projeto de anistia a Jair Bolsonaro e o resto da camarilha.

Na maratona de rasteiras, conspirações, acordões e golpes que tem sido a política do Brasil, pareciam dias de reação vitoriosa do partido da corporação parlamentar e da insurreição permanente da extrema direita.

Quem cancela agora é a direita. Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Após Charlie Kirk, grupo político repete métodos que antes atribuía à esquerda

Na próxima semana, o jogo se inverte de novo e os progressistas atacam

Nas últimas semanas, estamos assistindo à mais completa desmoralização da pretensão da direita de ser a última resistência na defesa das liberdades de fala, opinião e pensamento. Pretensão que, aliás, explica parte do seu sucesso eleitoral diante de uma esquerda progressista que se especializou em cancelamentos de ideias e pessoas e em toda a sorte de punições ao que considera ofensivo ou moralmente errado.

Desde o começo da grande virada eleitoral à direita radical, em 2016, a esquerda progressista se especializou em reivindicar censura e exclusão, enquanto a extrema direita se apresentava como defensora intransigente de certas liberdades: de expressão, opinião, imprensa e, claro, de possuir armas.

A Câmara se lambuza. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Ao juntar PEC da Blindagem com proposta da anistia, deputados serão derrotados nas duas

Erro de cálculo uniu o centro, levou milhares às ruas e deu a Lula chance de reeditar frente ampla

PEC da Blindagem está com o destino selado —morrerá na praia. Falta só definir quando e como será feito o enterro: na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, no banho-maria regimental, na rejeição do plenário ou na ilegalidade decretada pelo Supremo Tribunal Federal.

Ideal seria que a questão fosse resolvida pelos senadores, no ambiente de um Congresso interessado na defesa da própria reputação. Deixar a solução à Justiça falaria sobre a incapacidade dos políticos de atuar em prol do bom senso, no repúdio ao descaramento da Câmara.

Rematada estupidez. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Estratégia de Eduardo Bolsonaro para salvar o pai só piorou a situação da família

Prisão domiciliar parece mais longe e capacidade de influenciar eleição é declinante

Se você ou um familiar seu está prestes a ir para a cadeia, a última pessoa com a qual você deve indispor-se é o juiz de execuções penais, a quem cabe decidir sobre regime de encarceramento, concessão de benefícios etc. Esse truísmo se torna ainda mais ululante quando o local em que a prisão se cumprirá ainda está em aberto, indo de cela em presídio comum a domiciliar.

À luz dessas considerações, parece contraproducente a estratégia de Eduardo Bolsonaro de tentar salvar o pai estimulando Donald Trump a impor sanções ao Brasil e ao ministro do STF Alexandre de Moraes, que será o responsável por supervisionar o cumprimento de pena de Jair.

Confira o discurso de Lula na ONU, ontem, 23/09/2025

 

Poesia | Tecendo a Manhã, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Frevo Nº 3 - Leila Pinheiro