domingo, 28 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lula precisará ser hábil em conversa com Trump

Por O Globo

Ele deve evitar que discussão enverede para Bolsonaro e se concentrar em comércio e temas da agenda bilateral

Ainda em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que, com exceção da soberania nacional e da democracia, “não tem limite” a conversa com o presidente americano, Donald Trump. Foi um evidente exagero. Os limites são claros. Serão ditados pela realidade de países com interesses nem sempre convergentes e de governos com inclinações ideológicas antagônicas. Apesar disso, o Brasil deve fazer o possível para alcançar um acordo com os americanos. A tentativa de golpe perpetrada por Jair Bolsonaro já causou dano demais. O tarifaço e as sanções só alimentam o antiamericanismo. É preciso trabalhar com afinco para superar as tensões. A mera perspectiva do encontro com Trump é sinal de que, até o momento, a estratégia de Lula tem dado certo.

Nação e imperialismo. Por Luiz Sérgio Henriques

O Estado de S. Paulo

A superação do ideário ‘nacional-popular’, bem como do anti-imperialismo unilateral, habilita-nos a uma visão atualizada do cosmopolitismo

Nenhuma dúvida: o pessimismo da razão autoriza um olhar melancólico sobre o mundo em que vivemos. A inteligência artificial e demais frentes do avanço tecnológico convivem com programas políticos regressivos, e os protagonistas desses dois âmbitos, a tecnologia e a política, se misturam de forma incompreensível e cada vez mais perigosa. Diz-nos a razão, esta dama de temperamento cético, que uns e outros, reforçando-se mutuamente, preparam-nos um ambiente de acordo com as piores projeções das antiutopias, nas quais o velho homem e a sociedade de sempre surgem negativamente renovados.

Entrevista: Adam Przeworski: Anistia a Bolsonaro seria um desastre e encorajaria novos golpes

Por Ivan Martinez Vargas / O Globo

Professor da Universidade de Nova York afirma que punição à tentativa de ruptura é necessária para coibir novas ofensivas e avalia que crise global é da esquerda, não da democracia

O cientista político Adam Przeworski, pesquisador sobre a democracia, avalia que uma anistia a Jair Bolsonaro seria “um desastre”. Professor emérito da Universidade de Nova York, o polonês radicado nos Estados Unidos afirma que a condenação do ex-presidente e de militares de alto escalão por tentativa de golpe de Estado é um sinal da força das instituições brasileiras. Segundo ele, não há crise global da democracia, mas um enfraquecimento da esquerda. Partidos de extrema direita, diz ele, podem ser democráticos.

Qual o significado do julgamento de Jair Bolsonaro para a democracia brasileira?

Matar o pai. Por Merval Pereira

O Globo

Sem uma anistia ampla, Eduardo Bolsonaro não voltará à política, muito menos ao Brasil, onde será preso ao desembarcar, pois o processo sobre obstrução à Justiça certamente será encerrado com sua condenação

A luta desvairada do quase ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro pela anistia “ampla, geral e irrestrita” não é a favor de seu pai, ou dos condenados pela tentativa de insurreição de janeiro de 2023, mas a seu favor pessoal. Sem uma anistia desse quilate, ele não voltará à política, muito menos ao Brasil, onde será preso ao desembarcar, pois o processo sobre obstrução à Justiça certamente será encerrado com sua condenação, tantas são as provas dadas por ele mesmo ao longo do tempo.

Diz a lenda antiga que os deuses, quando querem destruir uma pessoa, primeiro as enlouquecem. Eduardo e seu parceiro Paulo Figueiredo estão nesse processo de enlouquecimento que os faz perder a noção de suas forças, as avaliando além da realidade. O mesmo processo faz com que Eduardo Bolsonaro se sinta capaz de ser candidato à presidência da República, quando ninguém, nem mesmo seu pai, o quer nessa posição.

Cartas marcadas. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Marcelo Freitas defende anistia a golpistas e impeachment de Alexandre de Moraes

Em 2 de setembro, o Supremo Tribunal Federal começou a julgar Jair Bolsonaro e seus comparsas na tentativa de golpe. Do outro lado da Praça dos Três Poderes, um deputado de terno marrom subiu à tribuna para defender os réus e espinafrar a Corte.

“Gostaria de registrar minha perplexidade em razão de um julgamento que nos parece ter efetivas cartas marcadas”, esbravejou o parlamentar. Ele manifestou “apreço” e “respeito” pelos acusados e disse que a denúncia “nem sequer deveria estar sendo discutida”. Acrescentou que a provável condenação seria “uma vergonha” — para o Judiciário, não para os golpistas.

O autor do discurso foi Marcelo Freitas, dublê de deputado e delegado de polícia. Integrante da bancada da bala, ele despontou na onda bolsonarista de 2018, que encheu o Congresso de militares e meganhas. Agora será relator do processo contra Eduardo Bolsonaro no Conselho de Ética.

Um resistente. Por Dorrit Harazim

O Globo

Dados do morticínio divulgados pelo Ministério da Saúde de Gaza não são mera propaganda do Hamas

Na sessão de sexta-feira da Assembleia Geral da ONU, algumas centenas de delegados de países-membros retiraram-se do plenário quando Benjamin Netanyahu subiu à tribuna. Já era esperado. E não foi a primeira vez. Em anos anteriores, porém, a debandada costumava ser inferior em número, e seu impacto político menor. Desta vez alinharam-se ao Brasil pesos pesados da diplomacia ocidental, que poucos dias antes haviam, por fim, reconhecido a Palestina como Estado independente. Portanto não ouviram quando o primeiro-ministro israelense qualificou esse reconhecimento como “completa loucura”, comparando-o a presentear a organização terrorista Al-Qaeda, logo depois do atentado do 11 de Setembro, com um Estado situado a pouco mais de 1 quilômetro de distância de Nova York.

‘Esbarrão casual’. Por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Aproximação de Trump e Lula é abandono de Bolsonaro e afeta Tarcísio?

A reunião entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva, provavelmente nesta semana, pode resultar numa guinada estonteante não apenas nas relações entre EUA e Brasil, mas na própria política interna brasileira. Trump extrapolou limites para defender Jair Bolsonaro e obteve o efeito oposto. Se a reunião com Lula for minimamente satisfatória, pode significar (ou ser assimilada como) o abandono do ex-presidente.

A ótima reportagem de Felipe Frazão no Estadão, com os bastidores do encontro de Trump e Lula, deixa evidente que não foi um esbarrão casual no acesso ao púlpito da ONU, mas um movimento diplomático muito bem articulado pelos dois países, com Mauro Vieira e Geraldo Alckmin na linha de frente.

A química entre países pode ser mais complexa. Por Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Mas os fatos, como comprovam também as tarifas comerciais, podem ser perigosamente mais complicados

Atal química entre as pessoas, citada pelos presidentes Lula e Trump depois de seu encontro na ONU, pode ser importante para indivíduos. Mas o relacionamento entre países parece mais complicado, especialmente quando se trata da famigerada ordem mundial, com tantos interesses – políticos, econômicos e até religiosos – distintos e às vezes conflitantes. Aí se torna mais evidente uma diferença entre o governante americano e o brasileiro, e também entre o americano e dezenas de autoridades de todos os continentes.

O que querem negociar EUA e Brasil. Por Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento

A disposição de Donald Trump de se reunir com Lula segue um padrão de comportamento adotado pelo presidente americano desde o seu primeiro mandato, calcado por seu desejo de manter a iniciativa. Além disso, pesa o interesse de resolver a questão das tarifas de forma favorável aos EUA.

A hostilidade de Trump em relação ao Brasil de Lula atingiu um ponto de esgotamento. O governo brasileiro deixou claro que não pode reverter decisões da Justiça em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro e às redes sociais. Não pode e nem quer, já que a resistência à pressão impulsionou a popularidade de Lula.

O BC e os juros exorbitantes. Por Celso Ming

O Estado de S. Paulo

Persistem as críticas à política monetária (política de juros) do Banco Central -- embora sejam menos agressivas quando partem de integrantes do governo depois que o presidente Lula encaminhou a nomeação do presidente, Gabriel Galípolo e a de outros membros da diretoria.

Quase sempre essas críticas se limitam a afirmar que os juros aos níveis atuais, de 15% ao ano, são exorbitantes, que encarecem demais o crédito, que derrubam a atividade econômica e o emprego. Mas nenhum desses críticos sugere a adoção de critério diferente do vigente para definição dos juros básicos (Selic). Nem chega a reconhecer que, para os juros baixarem, é preciso estancar sua principal causa, a gastança do governo que empurra o rombo e a dívida pública e semeia desconfiança.

Jovem dirigente do PCB, Magrão foi executado com injeção de matar cavalo. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Familiares e amigos não tiveram o direito de realizar um funeral digno para Montenegro, cuja história acabou tão clandestina quanto fora a sua atuação política após o golpe militar

Cinquenta anos após o assassinato, aos 32 anos, a memória de José Montenegro de Lima, o Magrão, jovem dirigente do PCB sequestrado e torturado pelos órgãos de segurança do regime militar, será resgatada por seus velhos amigos, militantes políticos, pesquisadores e representantes de entidades de defesa dos direitos humanos na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, na próxima segunda-feira (29/09), às 18h30, num ato político cuja síntese é a pergunta sem resposta até hoje: "Cadê o Magrão?".

Familiares e amigos de Montenegro não tiveram o direito de realizar um funeral digno para ele, cuja história acabou tão clandestina quanto a sua atuação política após o golpe militar de 1964. Responsável pelo trabalho do PCB com a juventude, sua importante atuação na criação da juventude do antigo MDB e na reorganização do movimento estudantil e do movimento cultural, sobretudo cineclubista, foi um contraponto à atuação de outros jovens que optaram pela luta armada.

Ratinho e o desarranjo das direitas. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Governador do Paraná é balão de ensaio e boi de piranha, mas atrai adeptos da frente ampla

Direita está em confusão, mas a articulação política ainda é para lançar Tarcísio

Empresários que participam desses jantares políticos ficaram animados com Ratinho Junior, do PSD, governador do Paraná, que nesta semana foi lançado candidato no circuito São Paulo-Brasília. Ratinho por ora é candidato a balão de ensaio e, decerto, a boi de piranha ou a boneco de manobra diversionista das direitas. As direitas precisam desconversar enquanto dão sedativos aos Bolsonaro e tentam esconder Tarcísio de Freitas (Republicanos) enquanto lavam o governador de São Paulo da lama política que ele tem atirado na testa desde o início de julho.

Trump e Lula. Por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Ao contrário do prometido pelos extremistas, Lula só se deu bem e Bolsonaro só se deu mal após tarifaço

Narrativa de que o Brasil seria um barril de pólvora prestes a explodir não resistiu ao confronto com fatos

Donald Trump quer conversar com Lula. Não se sabe sob quais condições, ou com qual grau de sinceridade, ou com qual objetivo.

Mas uma coisa parece clara: já há canais de comunicação entre os governos brasileiro e americano que não passam pelos aliados extremistas de Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo na Casa Branca.

Como surgiu essa brecha? Nos últimos meses, gente ligada ao governo brasileiro e a empresários de vários setores trabalharam para abri-la.

Mas outra coisa também pode ter acontecido: Trump pode ter percebido que a turma de Eduardo e Figueiredo mentiu para ele.

Afinal, se a história contada pelos bolsonaristas fosse verdade, o tarifaço teria produzido efeitos exatamente opostos aos que produziu até agora.

Unidade floresce na dor da maioria. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

A indignidade da blindagem foi compreendida como barreira a qual o país não pode ultrapassar

A reação mostrou que há pautas convergentes passíveis de serem construídas no ambiente de atritos

A reação avassaladora à ideia dos 353 deputados que pretenderam incluir na Constituição um dispositivo protetor de malfeitorias, remete à antiga constatação de Luiz Inácio da Silva (PT) sobre a existência de "300 picaretas" no Congresso, mas não só.

As manifestações de domingo passado (21) e a surra moral que os senadores aplicaram à Câmara no enterro da PEC da Blindagem na Comissão de Constituição e Justiça, mostraram que a construção de pautas convergentes é possível no ambiente radicalizado da política.

Requer que se perceba onde aperta o calo da maioria. Nas ruas, os protestos levaram o carimbo da esquerda, mas na sociedade e no Senado onde o voto é majoritário e não conta com a proteção da proporcionalidade que elege deputados, a indignidade foi amplamente compreendida.

A artimanha de olhar sem ver. Por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

A tensão entre o que salta aos olhos e a impotência de não confiar no próprio testemunho é o que alerta a consciência para a enormidade da ameaça contra o Estado democrático de Direito

Numa foto de sonda espacial do solo de Marte destaca-se uma rocha com traços semelhantes a nariz e boca, o que leva o observador a reconhecer o desenho de um rosto humano, quando se trata da ação aleatória da natureza. Esse tipo de ilusão, muito frequente, deve-se ao fenômeno mental conhecido como "pareidolia", tendência da percepção de se guiar por padrões já estabelecidos. Acredita-se, assim, ver coisas que não estão de fato presentes.

O projeto. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro mostra quais eram os planos da direita para um segundo mandato de Trump

Ainda que de modo caótico, atual presidente parece seguir as diretrizes dos conservadores

Trump é Trump. São raros os dias em que as postagens que ele faz na hora do almoço não contradigam o que ele afirmara no café da manhã. Mas o estilo caótico do presidente americano não implica que ele não tenha um plano.

"O Projeto", de David Graham, é uma tentativa de revelar para onde vai o Agente Laranja. A fonte primária de Graham não é Trump, cuja natureza desregrada o torna pouco confiável até para prestar informações sobre si mesmo, mas um grupo de autores que lhe são ideologicamente próximos e que têm maior capacidade de pôr ideias no papel.

Poesia | Citações, frases, de Charles Baudelaire

 

Música | Gal Costa - Frevo