quarta-feira, 9 de maio de 2012

O segredo como patologia:: Fernando Rodrigues

Às vésperas da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, no próximo dia 16, a CPI do Cachoeira protagonizou ontem uma cena que se encaixaria à perfeição num filme do grupo de humor britânico Monty Python: uma sessão secreta (sic) na qual estavam presentes cerca de 50 pessoas, entre congressistas e servidores.

Em regra, não deve haver segredo no Congresso. É a "Casa do Povo". Na prática, querer manter em sigilo uma reunião com 50 participantes é tarefa inglória, patética ou as duas coisas juntas. Em CPIs anteriores era comum um deputado ou um senador deixar seu celular ligado e captando tudo para repórteres que ficavam do lado de fora.

Ontem, no início da sessão dita secreta, houve uma tentativa de obrigar todos os presentes a deixar seus celulares do lado de fora da sala. A exigência não vingou.

O depoente foi o delegado da Polícia Federal Raul Alexandre Marques Souza. Ele comandou a chamada Operação Vegas, que precedeu e deu origem à Operação Monte Carlo. Ambas desvendaram o esquema de negócios comandado por Carlos Cachoeira, raiz da CPI.

Antes de serem entregues ao Congresso, documentos dessas operações vazaram copiosamente para a mídia. O delegado Raul, por dever de ofício, já colocou tudo o que sabe em seu relatório. A CPI tem acesso a esses documentos -bem como qualquer cidadão com alguma habilidade em navegar pela internet.

Nada além de uma obsessão patológica pelo sigilo justifica o depoimento secreto de ontem. Da mesma forma, é ilógico impedir cada integrante da CPI de ter uma cópia da documentação sobre o escândalo. Só assim todos teriam como formar convicção sobre o que se passou.

Ao perder tempo sendo bedel de deputados e de senadores, o comando da CPI desacelera o ritmo da investigação. Por tabela, ajuda quem deveria ser punido com rapidez.

Fonte: Folha de S. Paulo

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