A parcela governista da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga as relações de Carlinhos Cachoeira com o submundo da política elegeu seu primeiro e favorito alvo: a imprensa. A estratégia equivale a culpar o mensageiro pelo conteúdo indigesto da notícia. É a velha obsessão do PT por calar seus críticos.
No primeiro depoimento colhido pela CPI, o principal assunto, segundo mostram os jornais de hoje, não foram as ligações entre a contravenção e o desvio de recursos públicos, como seria de se esperar. A base governista no Congresso lançou-se mesmo foi na jugular dos meios de comunicação.
Quem comanda o ataque são a bancada do PT e o ex-presidente Fernando Collor, que 20 anos atrás sofreu processo de impeachment e foi afastado do cargo por suspeita de corrupção. A aliança entre aquela e este, que seria impensável no passado, hoje rola soltinha no Congresso, irmanada no espírito predador que ambos demonstram ter em comum.
Com a CPI fortemente blindada pelo governo, seu comando tem feito de tudo para torná-la o menos transparente possível. O acesso a documentos é cerceado, controlado e filmado, como se criminosa fosse a investigação e não os ilícitos que se investiga. Até mesmo os depoimentos - como o do delegado da PF Raul de Souza, ontem - são feitos a audiências restritas.
O PT, que no passado viveu, abjetamente, da violação alheia, hoje se apressa a erigir muros em torno das atividades de um criminoso preso por ter lesado o patrimônio público em milhões- quiçá bilhões - de reais. Mas o melhor desinfetante para lambanças desta natureza continua sendo a luz do sol, não as sombras.
A atitude firme da imprensa foi decisiva para revelar e bloquear assaltos ao interesse público nos últimos anos. Se o que ela desnudou mostrou-se até agora verdadeiro, por que colocá-la no banco de réus? Será porque os meios de comunicação atrapalham e incomodam um projeto de dominação política de longa duração?
Fato é que a investida liberticida dos petistas no Congresso não é ato isolado. Está articulada com um desejo mais amplo do partido de Dilma e José Dirceu de silenciar os opositores do regime. Em recentes e reiteradas declarações, Rui Falcão, presidente do PT, não tem dado margem a dúvidas: o objetivo é botar o cabresto nos meios de comunicação.
Na última sexta-feira, ele voltou à carga, num encontro com a militância petista na Grande São Paulo. "(A mídia) é um poder que contrasta com o nosso governo desde a subida do Lula. Esse poder nós temos de enfrentar", disseFalcão, logo após anunciar que, em breve, o governo Dilma pretende apresentar a proposta de um marco para regular os meios de comunicação.
A esta proposta, acalentada desde os primórdios do primeiro governo Lula, o PT dá o pomposo nome de "controle social da mídia". Trata-se, na realidade, de um eufemismo para o que não passa, simples e objetivamente, de censura. Como o governo controla os chamados "movimentos sociais", o círculo se fecha: o que se pretende é o controle dos meios de comunicação pelo governo.
Falcão, assim como boa parte da militância e dos líderes do PT, tem outra ideia fixa na cabeça: turvar a percepção da opinião pública sobre o mensalão, o maior escândalo de desvio de dinheiro público para compra de apoio parlamentar da história brasileira. O sonho dos petistas é transformar a CPI no instrumento desta vingança.
Boa parte do PT e de quem hoje está no governo federal comunga do apreço aos velhos regimes totalitários que, no século passado, trucidaram a liberdade em nome de uma ideologia de bem-estar comum que só serviu para privilegiar uns poucos. É este modelo que está na raiz da ojeriza do partido a instituições que vivem da transparência.
Não é só a imprensa que o PT detesta. Os partidários de Lula, Dilma e José Dirceu também têm horror a órgãos que têm obrigação constitucional de fiscalizar, controlar e zelar pelo patrimônio público. Quem não se lembra da ira do ex-presidente contra o Tribunal de Contas, que teimava em reprovar a reiterada malversação de recursos do contribuinte na gestão passada?
Seja na CPI, no julgamento do mensalão ou na investida contra a imprensa, o que está em jogo é o desejo hegemônico do PT. Mas esta farsa eles não vão conseguir perpetrar. À sociedade brasileira interessa mais, e não menos, liberdade: esta é a batalha que vale a pena ser travada, dia após dia.
Fonte: Instituto Teotônio Vilela
Nenhum comentário:
Postar um comentário