DEU NO JORNAL DO BRASIL
Enquanto a presidente Dilma Rousseff precisou apenas dos 40 minutos necessários à leitura do discurso de posse para desanuviar as apreensões deixadas pela campanha eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pede vinte dias para se recompor aos próprios olhos. Avalia suficientes três semanas, em algum lugar de que não fará segredo, para definir sua participação na vida brasileira, certamente no vazio que não acredita ter deixado, mas que já está sendo reanimado pela lufada de democracia com que as circunstâncias reforçam o espaço de confiança, dilapidado por ele.
Lula não precisará de mais do que 48 horas fora do poder para entender o que não podia alcançar enquanto se sentia absoluto no espaço nacional, depois da lição com que Dilma Rousseff se declarou, sem maior ênfase mas com emoção, “a presidente de todos os brasileiros” (sem abrir mão da autoridade advinda das urnas). Valeu-se da mesma naturalidade do presidente Eurico Dutra ao tomar posse em janeiro de 1946, depois de 15 anos sem eleição direta e oito do regime autoritário do Estado Novo, que inaugurou a modernidade com o sacrifício das liberdades.
O prazo pedido pelo ex-presidente pode, porém, ser insuficiente para refazer o equilíbrio emocional de quem não estava em condições de governar sem se ter preparado (e, ao sair, ser contemplado com a sorte grande da opinião popular). Percebeu-se em Lula o desagrado de estar vivendo a atropelada seqüência final de um governo que não conseguiu levar a termo as obras que prometia e esquecia. A emoção vazada em lágrimas dizia mais do que a franqueza de insistir na obsessão de voltar, assim que possível, à frente de todas as razões que enfeitaram seus dois mandatos com a confiança que ele próprio dissipou no final. As ameaças de botar a banda sindical na rua não constavam em pos-escrito na carta aos brasileiros datada de 2002.
A presidente Dilma entendeu que “Lula mudou a forma de governar” e o enquadrou num padrão de popularidade que pode ser sincero mas não deixa de ser político, em relação à perigosa desconfiança social em processo de formação natural. O populismo de Lula é, etimologicamente, democrático, mas sem garantia de controle político. Nas conseqüências da primeira guerra mundial, a Europa conheceu o potencial da direita fundada sobre o apoio popular organizado. As variações mais à esquerda (sem disfarçar o conteúdo de direita) não mudam o teor político do perigo latente em soluções rotuladas de sociais. Pois Lula conseguiu romper com êxito a questão social no Brasil, já na casa de dezenas de milhões, sem exceder os limites legais da ação política.
Enquanto a presidente Dilma Rousseff precisou apenas dos 40 minutos necessários à leitura do discurso de posse para desanuviar as apreensões deixadas pela campanha eleitoral, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pede vinte dias para se recompor aos próprios olhos. Avalia suficientes três semanas, em algum lugar de que não fará segredo, para definir sua participação na vida brasileira, certamente no vazio que não acredita ter deixado, mas que já está sendo reanimado pela lufada de democracia com que as circunstâncias reforçam o espaço de confiança, dilapidado por ele.
Lula não precisará de mais do que 48 horas fora do poder para entender o que não podia alcançar enquanto se sentia absoluto no espaço nacional, depois da lição com que Dilma Rousseff se declarou, sem maior ênfase mas com emoção, “a presidente de todos os brasileiros” (sem abrir mão da autoridade advinda das urnas). Valeu-se da mesma naturalidade do presidente Eurico Dutra ao tomar posse em janeiro de 1946, depois de 15 anos sem eleição direta e oito do regime autoritário do Estado Novo, que inaugurou a modernidade com o sacrifício das liberdades.
O prazo pedido pelo ex-presidente pode, porém, ser insuficiente para refazer o equilíbrio emocional de quem não estava em condições de governar sem se ter preparado (e, ao sair, ser contemplado com a sorte grande da opinião popular). Percebeu-se em Lula o desagrado de estar vivendo a atropelada seqüência final de um governo que não conseguiu levar a termo as obras que prometia e esquecia. A emoção vazada em lágrimas dizia mais do que a franqueza de insistir na obsessão de voltar, assim que possível, à frente de todas as razões que enfeitaram seus dois mandatos com a confiança que ele próprio dissipou no final. As ameaças de botar a banda sindical na rua não constavam em pos-escrito na carta aos brasileiros datada de 2002.
A presidente Dilma entendeu que “Lula mudou a forma de governar” e o enquadrou num padrão de popularidade que pode ser sincero mas não deixa de ser político, em relação à perigosa desconfiança social em processo de formação natural. O populismo de Lula é, etimologicamente, democrático, mas sem garantia de controle político. Nas conseqüências da primeira guerra mundial, a Europa conheceu o potencial da direita fundada sobre o apoio popular organizado. As variações mais à esquerda (sem disfarçar o conteúdo de direita) não mudam o teor político do perigo latente em soluções rotuladas de sociais. Pois Lula conseguiu romper com êxito a questão social no Brasil, já na casa de dezenas de milhões, sem exceder os limites legais da ação política.
Até quando Lula resistirá à tentação do poder, se os fatos não se encaminharem na direção presumida a seu favor? Desde antes de ser levado às ruas, o processo eleitoral manteve sob controle a questão social subjacente. Lula converteu a confiança política em votos e manteve, pessoalmente, o controle. Mas deixou à vista a possibilidade de fazer dele uso extra-eleitoral.
Não por acaso, Dilma destacou a prioridade de reduzir a extensão da “pobreza extrema” como seqüência natural de governo.
Assim como a eleição de Lula foi o resultado de um pacto informal expresso, unilateralmente, na carta aos brasileiros em 2002, a hipótese de insucesso eleitoral o levou a desequilibrar-se, verbal e emocionalmente, de maneira inesperada. Não foi um bom sinal. Nem um bom final.
O curso dessa linha oblíqua pode ser desativado se as palavras da presidente Dilma Rousseff dissiparem o efeito final do sombrio quadro no qual o ex-presidente acabou falando sozinho, mas com o registro de 87% de aceitação popular. É aí que mora a imprevisibilidade, da qual Dilma Rousseff será vizinha.
Não por acaso, Dilma destacou a prioridade de reduzir a extensão da “pobreza extrema” como seqüência natural de governo.
Assim como a eleição de Lula foi o resultado de um pacto informal expresso, unilateralmente, na carta aos brasileiros em 2002, a hipótese de insucesso eleitoral o levou a desequilibrar-se, verbal e emocionalmente, de maneira inesperada. Não foi um bom sinal. Nem um bom final.
O curso dessa linha oblíqua pode ser desativado se as palavras da presidente Dilma Rousseff dissiparem o efeito final do sombrio quadro no qual o ex-presidente acabou falando sozinho, mas com o registro de 87% de aceitação popular. É aí que mora a imprevisibilidade, da qual Dilma Rousseff será vizinha.
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