O mercado de trabalho, que sempre reage lentamente à retomada da atividade econômica, vem mostrando uma animadora recuperação nos últimos meses. A taxa de desemprego medida pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) caiu de 13,7% para 13,0% entre o primeiro e o segundo trimestres de 2017. Trata-se, como lembrou o IBGE, do primeiro recuo estatisticamente relevante do desemprego – queda de 0,7 ponto porcentual – desde o fim de 2014, quando eclodiu a crise provocada pela desastrosa política econômica do governo Dilma Rousseff.
Do fim do primeiro mandato presidencial de Dilma até os três primeiros meses deste ano, de fato, o desemprego vinha crescendo de maneira ininterrupta, até alcançar seu auge no período janeiro-março. De abrangência nacional, a Pnad Contínua é divulgada mensalmente e mostra as flutuações do mercado de trabalho nos três meses anteriores ao da data de divulgação. No trimestre móvel encerrado em abril, o desemprego havia caído para 13,6%; no encerrado em maio, para 13,3%. O dado mais recente acentua a tendência de queda.
No segundo trimestre do ano, 1,289 milhão de brasileiros encontraram uma ocupação, elevando para 90,2 milhões a população empregada. A população desocupada, de sua parte, diminuiu 4,9% em relação ao trimestre móvel anterior, na primeira redução do total de desempregados desde o último trimestre de 2014. O rendimento médio real habitual das pessoas ocupadas no segundo trimestre de 2017, de R$ 2.104, ficou praticamente estável na comparação com o do primeiro trimestre (R$ 2.125) e com o de igual período de 2016 (R$ 2.043). Também a massa de rendimento real habitual ficou estável nessas comparações.
A reação do emprego na indústria, segmento mais afetado pela crise, também é um dado relevante da Pnad Contínua. A indústria foi um dos setores que mais contrataram, com a abertura de 375 mil postos de trabalho na comparação com o total empregado no primeiro trimestre deste ano. Esses são, em geral, empregos que exigem melhor qualificação dos trabalhadores e oferecem remuneração mais alta do que a dos demais setores da economia e melhores condições de trabalho.
Analistas do comportamento do mercado já veem nesses números uma indicação de que, pelo fato de o emprego reagir tardiamente à atividade econômica, a recessão está chegando ao fim. A comparação com outros dados sobre produção e vendas poderia fortalecer essa interpretação. O coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE, Cimar Azeredo, no entanto, vê os dados da Pnad Contínua do segundo trimestre com mais cautela.
Há motivos para a precaução do técnico do IBGE. Apesar de expressivo, o aumento do número de ocupados no segundo trimestre ainda é insuficiente para compensar o que se perdeu em um ano. Os dados mostram alguma força do mercado de trabalho, mas ainda insuficiente para caracterizar a recuperação. O total ocupado é 0,6% menor do que o de um ano antes, o que significa 562 mil vagas a menos. A construção, com o corte de 683 mil postos de trabalho em um ano, é um dos principais responsáveis pelos resultados negativos apurados pela Pnad Contínua.
A preservação da renda real, de sua parte, é assegurada mais pela queda brusca da inflação nos últimos meses do que pela efetiva recuperação dos rendimentos dos trabalhadores ocupados. A qualidade média da ocupação caiu, visto que, em um ano, o País perdeu 1,093 milhão de vagas com carteira assinada. Os ganhos em termos de ocupação foram assegurados pelo aumento de 5,4% do emprego sem carteira assinada no setor privado em um ano. A deterioração do mercado de trabalho em termos de qualidade da ocupação tem impacto fiscal, visto que o emprego informal não recolhe impostos e contribuições.
A despeito dessas restrições, é inegável que, ainda que muitos estejam na informalidade, mais brasileiros estão encontrando uma fonte regular de rendimento com que não contavam até há algum tempo. É mais estímulo para a produção e o consumo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário