- O Globo
O desemprego teve “a primeira queda estatisticamente significativa desde o último trimestre de 2014”, segundo o IBGE. A situação do mercado de trabalho continua dramática, mas o número veio melhor do que o esperado e confirma sinais já captados pelo Caged. A comemoração, no entanto, durou pouco porque em seguida o BC divulgou que a dívida pública é recorde e a crise fiscal permanece sem solução.
Depois de atingir 14,2 milhões de brasileiros no primeiro trimestre, o número de desempregados caiu para 13,5 milhões no trimestre encerrado em junho. Foram 690 mil pessoas que conseguiram algum tipo de trabalho nesse período, a grande maioria sem carteira assinada ou por conta própria, o que mostra que a recuperação tem sido frágil, lenta e gerado vagas de baixa qualidade. Quando a comparação é feita com o mesmo período de 2016, o número é 16% maior, o que significa 1,6 milhão de brasileiros a mais sem emprego.
O grau de melhora se mede em negativos menores. Assim: o primeiro trimestre deste ano, comparado ao mesmo período do ano passado, mostra uma alta de 2,8 pontos percentuais. Se a comparação for feita entre o segundo trimestre deste ano e o do ano passado, a alta é de 1,7 ponto percentual.
Em suma, há mais desempregados agora do que no ano passado, mas há menos do que no primeiro trimestre. Às vezes, o desemprego cai porque há tanto desânimo com a situação econômica que reduz a procura de emprego. Não foi o que aconteceu desta vez. O total de pessoas trabalhando e procurando emprego, a população economicamente ativa, aumentou. Mesmo assim, o desemprego caiu. A Rosenberg Associados chamou atenção para isso no relatório que fez. Houve crescimento da taxa de participação no mercado de trabalho, ou seja, o número de pessoas dispostas a trabalhar, que foi a 61,7%, atingindo um pico na série histórica. Isso quer dizer que a queda do desemprego não foi causada pelo desalento, quando as pessoas simplesmente desistem de procurar trabalho. Ela considerou que isso é um “ótimo sinal de recuperação econômica”.
Ontem foi o dia em que consultorias e bancos reviram para melhor as projeções de queda do desemprego. A Rosenberg revisou para de 12,8% para 12,2% sua estimativa para o final do ano.
O economista Bruno Ottoni, especialista em mercado de trabalho na Fundação Getúlio Vargas (FGV), diz que a projeção de desemprego da entidade, hoje em 12,7%, também deve ser revista para baixo, após o dado divulgado ontem. Ele diz que os números dessazonalizados pela FGV apontam que o mercado de trabalho está melhorando pelo terceiro mês consecutivo. Desde março, a taxa de desemprego recuou de 13,3% para 12,9% nessa comparação. Ainda assim, Ottoni avalia que a recuperação está sendo muito lenta e gradual.
— O que me preocupa bastante é o crescimento do trabalho por conta própria, que é muito volátil. Depende apenas da decisão da pessoa. Se a queda do desemprego fosse puxada pelos sem carteira, seria melhor, porque pelo menos se veria a decisão do empregador de contratar primeiro de forma informal, para depois formalizar o vínculo — disse.
Desde março, o emprego por conta própria aumentou em 400 mil, segundo Ottoni, o mesmo número que subiu os sem carteira. O que chama atenção nos dados do IBGE é o crescimento de 420 mil empregados no setor público, em plena crise fiscal. Já os empregos com carteira assinada ficaram praticamente estáveis.
Trabalho por conta própria pode ser a pessoa que vira motorista de Uber, ambulante, ou qualquer outra atividade que depende apenas de si. Às vezes, pode ser a realização de um projeto que termina virando uma empresa, um negócio. Mas nestes tempos de recessão, e com as dificuldades de uma empresa se estabelecer, é mais raro.
O outro dado de ontem da economia mostra como o país está em situação precária. A dívida pública continua subindo de forma acelerada e já atingiu 73% do PIB. E não há sinal de melhora alguma no horizonte com a sucessão de déficits primários que o país tem colecionado e a chance cada vez menor de o governo Temer conseguir aprovar qualquer reforma significativa na Previdência.
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