segunda-feira, 13 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Crime organizado na Amazônia impõe reação imediata

O Globo

Apreensões feitas pela Polícia Federal na região indicam atuação cada vez maior de quadrilhas

A conjugação de altos rendimentos com nenhum risco de maiores punições provoca uma corrida do crime organizado para a exploração de atividades ilegais na Amazônia, na exploração de ouro, madeira, caça e pesca. Além do evidente reforço na vigilância e repressão, com uma coordenação entre instituições locais e federais, é preciso urgência na aprovação pelo Congresso de um Projeto de Lei apresentado em outubro, com a assessoria da Polícia Federal (PF), para elevar as penas de crimes ambientais cometidos por quadrilhas.

O assassinato do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista e servidor licenciado da Funai Bruno Pereira, em 2022, no distante Vale do Javari, perto das perigosas fronteiras com Peru e Colômbia, chamou a atenção para a pesca ilegal no local. A atuação de grupos criminosos naquela região amazônica começou a ser retomada assim que o reforço policial foi sendo relaxado.

Quente, o ano começa quente – Fernando Gabeira -

O Globo

Trump quer anexar o Canadá, tomar o Canal do Panamá. Certamente, estará muito ocupado nos primeiros momentos

Maduro no dia 10; Trump, no dia 20. São datas diferentes de posse e eles estão longe um do outro. No entanto é possível esperar dias tensos no Sul.

Trump quer anexar o Canadá, tomar o Canal do Panamá e comprar a Groenlândia. Certamente, estará muito ocupado nos primeiros momentos. Nos discursos de campanha, ele mencionou algumas vezes a Venezuela:

— Estão nos mandando presidiários e delinquentes.

Ao que tudo indica, isentou os venezuelanos da prática de matar e comer gatos e cachorros em Springfield. Essa acusação acabou pesando contra os haitianos.

Literatura engajada brasileira – Miguel de Almeida

O Globo

Ali pelo final da ditadura militar, as bancas com livros nos corredores das universidades vinham povoadas de Trótski, Lênin e até Rosa Luxemburgo. Ou Karl Liebknecht. Como refresco, havia a redescoberta (para a minha geração) de Oswald de Andrade e a leitura silenciosa de “Poema sujo” de Ferreira Gullar. Apesar da bela sedição de ambos os poetas, havia um ar restrito e nada múltiplo para o pensamento. Mas estávamos numa guerra, e excessos podiam ser tolerados. O compromisso: abater o governo autoritário.

Nos 40 anos da redemocratização, a mais longa convivência do brasileiro com a democracia no período republicano, apesar do fétido 8 de Janeiro, no lugar de Trótski e Lênin, entrou em cena a literatura racial e de gênero de cepa nacional numa imitação calamitosa da esquerda de Nova York.

E preguiçosa: James Baldwin ou Amiri Baraka (nascido LeRoi Jones), dois autores negros de primeira linha, ícones nos inquietos 1960, não produziam títulos de espírito óbvio ou ativista. Por aqui não encontraram eco, onde a geografia ideológica se viu aparentada de algo vizinho ao grupo Panteras Negras.

Haddad se alinha com a estratégia do Banco Central - Alex Ribeiro

Valor Econômico

Na área fiscal, o ministro fez em alguns momentos mais do que se esperava, mas a percepção segue de que ele tem um mandato apenas parcial de Lula para ajustar a economia

Passou quase despercebido, mas o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reconheceu na semana passada que a economia brasileira está sobreaquecida e que será preciso desacelerar a atividade para baixar a inflação e garantir um maior equilíbrio para as contas externas do país.

A mensagem foi transmitida numa entrevista à “GloboNews” e procura responder a uma das principais inquietações dos participantes do mercado, no que diz respeito à política monetária: o receio de que, agora que o Banco Central colocou em movimento um choque na taxa básica de juros, o governo possa reagir com mais estímulos fiscais ou parafiscais assim que a economia perder fôlego.

A crise nasceu na Política e a solução deve vir da Política - Bruno Carazza

Valor Econômico

Governo Lula armou armadilha econômica que pode comprometer seus planos de reeleição

O ano começa com uma crise cuja origem é sobretudo psicológica. Afinal, é preciso reconhecer os acertos da equipe econômica, a despeito do balanço negativo que fizemos aqui nas últimas colunas de 2024. Os ministros Fernando Haddad e Simone Tebet têm consciência da gravidade da situação fiscal e buscam soluções para equacioná-la.

Correções tributárias foram implementadas e, mesmo quando perderam os embates no Congresso, conseguiram conter a sangria de recurso, como nos casos dos limites à desoneração da folha e do Perse.

Mas se a dívida pública saltou de 71,4% para 77,8% do PIB desde o início do mandato, claramente o arcabouço fiscal tem sido insuficiente. E quando o anúncio do tão aguardado “ajuste pelo lado da despesa” veio não apenas com propostas aquém do necessário, mas ainda acompanhado de sinais dúbios de compromisso da cúpula do governo com essa agenda - e, pior, do respaldo político dos ministros da Fazenda e do Planejamento - disparou-se o gatilho da desconfiança dos agentes do mercado.

Entrevista | Carlos Siqueira: Esquerda precisa de renovação, e Lula tem que acertar mais

Por Bianca Gomes / O Estado de S. Paulo

Carlos Siqueira defende Alckmin como vice em 2026 e afirma que campo progressista precisa mudar para se conectar com eleitorado evangélico

Há 10 anos na presidência do PSB e a poucos meses de passar o bastão para um sucessor — que, ao que tudo indica, será o prefeito do Recife, João Campos —, Carlos Siqueira defende a manutenção da dobradinha Lula-Alckmin em 2026. Para ele, trocar o vice não seria uma atitude de “bom senso” por parte do petista. “Nenhum presidente poderia desejar um vice melhor do que ele”, afirmou Siqueira em entrevista ao Estadão.

O dirigente partidário, que é contra antecipar as discussões eleitorais, avalia que 2025 será um ano em que o governo precisará “acertar mais do que tem acertado”. Siqueira também fez críticas à esquerda, afirmando que há insatisfação com os governos progressistas no Brasil e no mundo, o que, segundo ele, impõe a necessidade de uma autorrenovação. Para o presidente do PSB, o identitarismo com que a esquerda se apresenta precisa ser “repensado” para que o campo consiga se reconectar com o eleitorado evangélico.

Em 2026, Lula deve manter Alckmin como vice em uma eventual chapa à reeleição ou seria o momento de buscar uma renovação?

Se o presidente decidir concorrer à reeleição— e eu espero que seja o caso — não manter o Alckmin como vice não seria uma atitude de bom senso. E eu sempre considerei o presidente Lula alguém de bom senso e com a capacidade de reconhecer que um vice melhor do que o Alckmin ele não encontraria no Brasil. Alckmin é um homem que tem uma história bonita, longa, correta, além de ser um vice trabalhador e leal. O que mais se pode esperar de um vice?

O STF que o ‘Estadão’ não mostra - Luís Roberto Barroso*

O Estado de S. Paulo

É possível não gostar da Constituição e do papel que ela reservou para o Supremo. Mas criticar o tribunal por aplicar a Constituição é que não é justo

No último ano, o jornal O Estado de S. Paulo produziu mais de 40 editoriais tendo por objeto o Supremo Tribunal Federal (STF) ou o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgãos que presido. Por um lado, tal fato revela a importância que o Judiciário tem na vida brasileira, seu papel na preservação da estabilidade institucional e nas conquistas da sociedade. O Brasil é o país que ostenta o maior grau de judicialização do mundo, o que revela a confiança que a população tem na Justiça. Do contrário, não recorreria a ela.

E, no entanto, praticamente todos os editoriais foram duramente críticos, com muitos adjetivos e tom raivoso. Ainda que não deliberadamente, contribuem para um ambiente de ódio institucional que se sabe bem de onde veio e onde pretendia chegar. Ao longo do período, o jornal não vislumbrou qualquer coisa positiva na atuação do STF ou do CNJ. Faz parte da vida. Parafraseando Rosa Luxemburgo, liberdade de expressão é para quem pensa diferente. Mas o que existe está nos olhos de quem vê.

As manobras de Zuckerberg e o Brasil - Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

Aliança de Zuckerberg com trumpismo e similares começou antes no Brasil

A eleição de Donald Trump juntou a fome coma vontade de comer de Mark Zuckerberg, CE Oda Meta. A mesma vontade, aliás, de outras big techs que resis tem às pressões para conter a disseminação dedes informação e às tentativas de regulação que enfrentam mundo afora. Leis comoa de Serviços Digitais, da União Europeia, em vigor desde fevereiro do ano passado, que buscam promover maior transparência, responsabilidade e segurança online, acabam por impor custos às plataformas e limitam sua capacidade de rentabilizar com conteúdos danosos. Desinformação e discurso de ódio rendem engajamento, ou seja, dinheiro. Por isso, os programas de moderação de conteúdo, como os que Zuckerberg decidiu abolir para Facebook e Instagram, equivalem a tapar o sol com uma peneira. Há muito mais em jogo.

O mundo está entrando em condição de guerra - Denis Lerrer

O Estado de S. Paulo

Já ingressamos em uma era em que o Ocidente deverá recorrer ao uso da força na defesa de seus valores de liberdade e igualdade

Se os filósofos sempre prezaram a racionalidade, chegando a formulara ideia de que o homem, por definição, seria um animal racional, a história da humanidade, porém, fez um contraponto: o da irracionalidade, se não o da maldade, da relação entre os homens e, mais especificamente, entre Estados. Intenções malignas, voltadas única e exclusivamente para destruição do outro, são apenas uma amostra disso. A violência, perseguida como um fim em si mesma, e não como um meio, continua povoando a História, apesar de tentativas de estabelecera concórdia e odiá logo como vetores das relações intraestatais.

A cena histórica é frequentemente irracional. A relação entre Estados, enquanto unidades políticas, é regida por aquilo que filósofos como Thomas Hobbes, Jean-Jacques Rousseau e Friedrich Hegel consideravam como estado de natureza. Ou seja, ela seria regida por desejos de dominação e subjugação do outro. Os motivos podem ser variados, como prestígio, glória, ganhos econômicos e apropriação de territórios. Por sua vez, as relações internas aos Estados, individualmente considerados, nas experiências democráticas e constitucionais, vieram a se definir pelo império da lei, pelo livre jogo das instituições, pelas liberdades e pela economia de mercado.

Sob as garras do conservadorismo - Ana Cristina Rosa

Folha de S. Paulo

O comprometimento com diversidade e inclusão mostrou-se sujeito a pressões políticas e tendências do mercado

Reconhecimento, justiça e desenvolvimento são os pilares da Segunda Década Internacional para os Afrodescendentes (2025-2034), reeditada pela Assembleia geral das Nações Unidas, em dezembro, para promover a efetividade de direitos humanos.

Receio que a iniciativa esteja fadada ao fracasso. Não só porque uma década (ou duas, no caso) é pouco para deslindar o trágico legado dos séculos de escravização africana. Mas também porque as principais causas da insuficiência da Primeira Década (2015-2024) —falta de investimentos, baixo incentivo institucional e pouco compromisso— não foram resolvidas.

Os riscos da ditadura da liberdade - Carol Tilkian

Folha de S. Paulo

Decisão da Meta atravessa nossos votos de amor e paz para 2025

Mal tivemos tempo de digerir os votos de amor e paz para 2025 e já somos atravessados por mudanças coletivas que nos presenteiam com um cavalo de Troia. Sob a justificativa de priorizar a liberdade de expressão, Zuckerberg anunciou que a Meta encerrará programas de checagem de fatos e reduzirá filtros para conteúdos sobre identidade de gênero, xenofobia e misoginia. Embora a decisão tenha sido tomada nos EUA, ela reverbera globalmente entre os mais de 6 bilhões de usuários de Instagram e Facebook. O resultado? Uma liberdade que embala discurso de ódio e polarização.

Qual reforma ministerial? - Aldo Fornazieri

CartaCapital

As eventuais mudanças na equipe de governo devem almejar a coesão em torno de um projeto de País

O presidente Lula iniciou a reforma ministerial pela Secretaria de Comunicação Social. Era mais ou menos óbvio, pois a comunicação do governo tem recebido críticas de todos os lados. Sai o político Paulo Pimenta, entra o marqueteiro Sidônio Palmeira. Pela lógica, o próximo cargo a ser trocado seria a Secretaria de Relações Institucionais, pasta que enfrenta uma chuva de críticas pela sua inefetividade.

A reforma ministerial não decorre apenas dos resultados insuficientes deste ou daquele ministro, pois este é apenas um dos fatores que a determinam. Existem motivos conjunturais mais fortes: o PT saiu fragilizado das eleições municipais, os partidos de centro-direita saí­ram fortalecidos, crescem as dificuldades do governo no Congresso, é preciso garantir um apoio mínimo razoável de deputados e de senadores para evitar um impasse na aprovação de projetos governamentais, o governo não vai bem na avaliação da opinião pública, é preciso montar uma estratégia para as eleições de 2026, existe um estresse dos setores produtivos, e por aí vai.

As cryptotulipas - Luiz Gonzaga Belluzzo e Manfred Back

CartaCapital

Entre os episódios de loucura coletiva das nações destacam-se a Tulipomania, os bitcoins e o mantra do risco fiscal

Era uma vez, em 1630, um país chamado Holanda. Nas terras dos assim chamados Países Baixos ocorre um frenesi que se apodera da grande maioria da população, do mais rico ao mais pobre. A Tulipomania mobiliza corações e mentes na busca obsessiva por riqueza fácil.

Em 1636, um bulbo dessa exótica planta ornamental poderia ser trocado por uma nova carruagem, dois cavalos cinzentos e um conjunto completo de arreios. A febre do cultivo e comercialização de vários tipos de bulbos alastrou-se na economia holandesa mais rápido que a velocidade da luz. Não havia Internet!

A demanda por espécies raras de tulipas cresceu tanto que foram criados mercados regulares para a sua comercialização em Bolsas de Valores em Amsterdã, Roterdã e outras cidades holandesas.

Eleição de Tancredo completa 40 anos em período instável - Joelmir Tavares

Folha de S. Paulo

Vigilância cívica defendida pelo presidente eleito indiretamente em 1985, e que jamais assumiu, voltou à cena sob Bolsonaro

A eleição indireta de Tancredo Neves para a Presidência da República completa 40 anos na próxima quarta-feira (15) como uma espécie de lembrete para defensores da democracia. O apelo do político mineiro para que as forças civilizatórias não se dispersassem é visto ainda hoje como um discurso atual.

A votação do Colégio Eleitoral que em 1985 escolheu Tancredo para ser o primeiro presidente civil após 21 anos de ditadura militar entrou para a história como um marco da redemocratização do Brasil. Simbolizava a esperança do fim dos anos de chumbo e o triunfo do Estado democrático de Direito.

Na prática, os caminhos foram mais tortuosos —antes e depois da eleição em que deputados deram 480 votos ao candidato do então PMDB contra Paulo Maluf (PDS), o preferido de 180 dos votantes.

Novo produto, velha estratégia, mesma mentira – Ruy Castro

Folha de S. Paulo

Por que Bette Davis, Humphrey Bogart, Lauren Bacall e Peter Lorre acendiam 30 cigarros por filme?

Outro dia, numa revista americana dos anos 1940, vi um anúncio estrelado por John Wayne. Era do tipo em que o modelo fala, e o produto era o cigarro Camel. No título, Wayne já dizia: "Os papéis que interpreto exigem muito da minha voz. Não posso me arriscar a uma irritação de garganta. Por isso fumo Camel. Ele é suave" —sublinhado e tudo. Seguia-se o texto: "Estou há muito tempo no cinema e sei a importância da suavidade do cigarro para um ator. Assim, quando precisei decidir qual cigarro era mais adequado para minha garganta, fui exigente. Fiz um teste de 30 dias com Camel e descobri por que mais pessoas fumam Camel do que qualquer outra marca".

Livreiros de calçada - Juliana de Albuquerque*

Folha de S. Paulo

Nunca deixei de me surpreender com a quantidade de clássicos disponíveis em seus pequenos acervos itinerantes

Quem anda pelas ruas do centro do Recife está acostumado com a ruidosa presença de vendedores ambulantes especializados em todos os tipos de produto, como relógios, capinhas para celular, garrafinhas d’água, sombrinhas e guarda-chuvas, brinquedos, frutas, utensílios domésticos, animais de estimação, itens de papelaria e livros, muitos livros mesmo.

Embora uma parte desses livros fique exposta nos quiosques da praça do Sebo, localizada entre as avenidas Guararapes e Dantas Barreto, a outra é vendida nas calçadas do centro afora, onde os livros estão geralmente empilhados uns sobre os outros, apoiados em caixotes, banquetas e muros ou simplesmente espalhados pelo chão.

Os livreiros de calçada quase sempre adotam pontos de venda estratégicos, permanecendo relativamente próximo de um fiteiro ou de uma parada de ônibus um pouco mais movimentada do que as demais. Um ponto assim costumava existir na esquina da rua do Hospício com a do Riachuelo, não muito longe da Faculdade de Direito do Recife e do antigo prédio da Escola de Engenharia onde, na minha época de graduação, costumávamos renovar as nossas carteirinhas de estudante.

Poesia | João Cabral de Melo Neto - Circuito da Poesia do Recife

 

Música | Chico Buarque - Frevo (Tom Jobim e Chico Buarque)

domingo, 12 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

É tarefa urgente combater aumento de casos da dengue

O Globo

O ano de 2025 começa com previsões alarmantes sobre proliferação de doença letal e evitável

É preocupante o alerta feito pelo Ministério da Saúde a estados e municípios sobre o possível aumento de casos de dengue nos primeiros meses deste ano. Significa que uma situação que já é dramática pode se tornar ainda pior se as medidas necessárias não forem tomadas a tempo. Em 2024, diante de ações tíbias das autoridades sanitárias dos três níveis de governo, a doença se espalhou, batendo todos os recordes. Pelos números oficiais, foram 6.644.336 casos registrados — quase quatro vezes mais que no ano anterior — e 6.041 mortes (outras 875 estão sob investigação).

Projeções do Ministério para a temporada 2024-2025 estimam que os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Tocantins, Mato Grosso do Sul e Paraná poderão apresentar incidência maior do que no ano passado. Outra preocupação é que, apesar de os sorotipos predominantes ainda serem o DENV1 (73,4%) e o DENV2 (25,9%), o DENV3, para o qual a maior parte da população brasileira não tem imunidade, já circula em estados como Amapá, São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Roraima e Pará.

Os donos da verdade - Merval Pereira

O Globo

Lula assumiu o controle da História nos seus domínios provisórios querendo reescrevê-la do seu ponto de vista

"No Brasil, até o passado é incerto”, definiu o economista Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda do Plano Real e um pensador do país dos mais consistentes. Mais incerto ainda porque, como já disse o grande escritor George Orwell, “a história é escrita pelos vencedores”. Com o advento da internet, as fake news substituíram com vigor insuperável os boatos, que já tiveram seu papel na nossa história, como a acusação de que o brigadeiro Eduardo Gomes teria desprezado os votos dos “marmiteiros” na eleição presidencial de 1945 contra Eurico Gaspar Dutra, que acabou vencendo por larga margem.

O uso das redes sociais nas campanhas políticas, agravado agora pela Inteligência Artificial (IA) está em discussão há algum tempo no mundo, e agora mais do que nunca com a decisão de Mark Zuckberg de retirar de suas plataformas digitais (Facebook, Instagram, WhatsApp) as checagens sobre a veracidade do que é publicado. A vontade de distorcer os fatos dos vencedores do momento em benefício próprio não é novidade. Em 1924, após a morte de Lênin, principal líder da Revolução Bolchevique de 1917, Leon Trotsky e Josef Stalin passaram a dividir a influência sobre o partido comunista que, na prática, governava a União Soviética.

Trump e a volta do “imperialismo yankee” - Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Agora, às vésperas de tomar posse, Trump choca o mundo com uma visão geopolítica expansionista que vai muito além da “guerra comercial” com a China

Por definição, o imperialismo ocorre quando uma nação promove uma expansão territorial, econômica e/ou cultural sobre outra nação pela força. A colonização da África, da Ásia e da Oceania, que se iniciou na segunda metade do século XIX, representou o auge do imperialismo. Em termos atuais, pode ser empregada no caso da invasão da Ucrânia pela Rússia, por exemplo. Segundo o historiador Eric Hobsbawm, essa forma de neocolonialismo representou a ocupação de 25% das terras do planeta.

O revolucionário russo Vladimir Lênin, que liderou a Revolução de 1917 e fundou a antiga União Soviética, porém, associava o imperialismo ao estágio monopolista do capitalismo. “Essa definição compreenderia o principal, pois, por um lado, o capital financeiro é o capital bancário de alguns grandes bancos monopolistas fundido com o capital das associações monopolistas de industriais e, por outro, a partilha do mundo é a transição de uma política colonial que se estendeu sem obstáculos às regiões não apropriadas por nenhuma potência capitalista para uma política colonial de posse monopolista dos territórios da Terra, já inteiramente repartida.”

Com o fim da antiga União Soviética, que havia se transformado de uma força anticolonialista, sobretudo na Ásia e na África, numa potência imperialista na Europa Oriental, essa visão perdeu relevância. Com o fim do colonialismo, a integração das diversas regiões do globo por meio do desenvolvimento dos transportes e das comunicações ultrapassou os modelos nacional-desenvolvimentistas que nela se baseavam, sobretudo a partir de a China adotar o capitalismo de estado e emergir como nova potência econômica mundial.

Foi lindo – Dorrit Harazim

O Globo

Assunto para desesperança não falta, daí a importância de relembrar a felicidade coletiva pelo prêmio de Fernanda Torres

A terra arde na Califórnia, falta ar respirável na Venezuela de Nicolás Maduro, Mark Zuckerberg assume sua covardia cívica, e o mundo gira aparvalhado às vésperas de uma nova era — a era Trump II. Assunto para desesperança não falta, daí a importância de relembrar também aqui, e sempre que necessário, a felicidade coletiva que inundou o Brasil nas últimas horas do domingo passado.

Dada a excepcional safra de concorrentes ao Globo de Ouro de Melhor Atriz, poucos ousavam esperar que Fernanda Torres saísse premiada pela atuação em “Ainda estou aqui”, o precioso filme de Walter Salles baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva. O filme já havia corrigido uma lacuna colossal na História do país (e da ditadura militar) dando voz, corpo e alma à figura de Eunice Paiva. Já havia sensibilizado mais de 3 milhões de brasileiros e devolvido vida a salas de cinema. Já havia gerado análises fluviais e pertinentes em todas as mídias nacionais. Mas foi o anúncio surpresa transmitido ao vivo de Beverly Hills que fez com que o Brasil (ou boa parte dele) acordasse na manhã seguinte em estado de euforia coletiva. Uma alegria não estridente nem impositiva, de mera felicidade impregnada pela arte. Como foi gostoso sentir orgulho compartilhado e sem soberba. De repente, o amanhã fugidio e incerto foi substituído por um presente generoso, marcante, esperançoso.

O projeto das big techs - Bernardo Mello Franco

O Globo

Deu no Financial Times: o homem mais rico do mundo quer derrubar o governo britânico. Elon Musk está conspirando contra o primeiro-ministro Keir Starmer. Pretende forçar sua queda antes das próximas eleições, previstas para 2029.

O dono do X, da Tesla e da Starlink gastou mais de R$ 1,5 bilhão para ajudar Donald Trump a voltar ao poder nos Estados Unidos. Agora busca expandir sua influência política na Europa. Nos últimos meses, aproximou-se de diversos líderes de extrema direita. Prometeu conselhos e dinheiro, não necessariamente nesta ordem.

Eduardo Paes contra a máfia - Elio Gaspari

O Globo

O ano começou com uma grande notícia. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, atacou o cartel dos transportes públicos da cidade:

— Estamos enfrentando uma turma que é uma máfia. (...) Mafiosos que fazem essa caixa-preta há muito tempo no Rio. Eles não vão nos deter. Vamos dar transparência a esse sistema e pagar um preço justo.

Na raiz da zanga do prefeito está sua tentativa de integração dos transportes com um novo sistema de bilhetagem. No quarto mandato, Paes conhece de cor e salteado as operações do que agora, felizmente, chama de máfia.

Revisitar as proezas desse cartel é um passeio pela ruína da política e dos serviços públicos da cidade.

Em 2004, a prefeita Marta Suplicy instituiu o Bilhete Único em São Paulo. Incomodou as empresas e os transportes que defendiam seus interesses. No Rio, fez-se de conta que a inovação era coisa de outra galáxia. Só em 2007 a Fetranspor, alma do cartel, criou um pastel de vento chamado RioCard Expresso, sem desconto.

O Rio só instituiu o Bilhete Único em 2010. Custava mais caro que o de São Paulo e tinha serventia menor. A Assembleia Legislativa criou uma CPI para abrir a caixa-preta da Fetranspor. Acabou em CPIzza.

São Sidônio não faz milagre - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Marketing faz bem, mas não resolve inflação, dengue, falta de gestão nem Congresso guloso

Demorou, mas aconteceu o que Brasília inteira previa: o petista gaúcho Paulo Pimenta sai e o baiano Sidônio Palmeira entra na Secretaria de Comunicação, com “carta-branca” para montar a própria equipe e dar ordem de comando para que ministros e altos funcionários defendam Lula, o governo e eles próprios de ataques e fake news. Daqui pra frente, tudo será diferente? Bem… marketing não faz milagre.

Nenhum gênio da comunicação e do marketing tem poderes extraordinários para esconder, ou apagar, dados objetivos e oficiais. Dois exemplos fresquinhos, de 2024: a inflação fechou em 4,83%, muito acima do centro da meta, 3%, e até do teto, 4,5%, e mortes por dengue dispararam para 6.041, 400% a mais do que no ano anterior e ultrapassando a soma de 2015 a 2023.

Trump, o Brasil e o mundo pós-2025 - Pedro Malan

O Estado de S. Paulo

Protagonismo do País é afetado pela percepção do mundo sobre como estamos equacionando nossos inúmeros problemas domésticos

O futuro, que tem por ofício ser incerto, está a se tornar ainda mais incerto, imprevisível e perigoso. São momentosas as razões para que seja assim. A relação cada vez mais conflituosa entre os EUA e a China nas áreas econômica, tecnológica e militar; o agravamento dos conflitos no Oriente Médio; a belicosidade da Rússia em relação à Europa; o desenvolvimento vertiginoso da inteligência artificial e seu potencial de uso no desenvolvimento de armas mais letais como também em campanhas de propaganda política e desinformação. Tudo sob o dramático pano de fundo da mudança climática, do risco de aumento de endemias e de grandes fluxos migratórios que com grande frequência causam virulentas reações.

A avassaladora vitória eleitoral de Donald Trump deve a seus olhos constituir um claro mandato para intensificar seu peculiar modus operandi e sua visão sobre o que significa fazer a América “great again”. Anos atrás, a revista The Economist sugeriu que as ações de Trump seguiam um roteiro padrão, composto de três atos: fazer ameaças, alcançar acordos (propiciados pelas ameaças) e declarar vitória sempre (“make threats, strike deals, always declare victory”).

Consertado o relógio, resta cuidar do País - Rolf Kuntz

O Estado de S. Paulo

Lula pode contabilizar crescimento acumulado superior a 6,5%, mas deve reconhecer insegurança das contas públicas, desconfiança do mercado e persistência do risco inflacionário

Quando ouço a palavra cultura, pego minha arma. Citação imprecisa de uma peça do alemão Hanns Jost, essa frase poderia ter sido lembrada na terça-feira, em Brasília, quando foram reintegradas ao acervo do governo 21 peças vandalizadas em 8 de janeiro de 2023. O horror dos golpistas à arte, à cultura e a outras manifestações da civilização manifestou-se mais uma vez, naquele dia, quando vândalos depredaram as sedes dos Três Poderes e emporcalharam com sua presença a capital da República. Agora restauradas, ânforas de porcelana haviam sido reduzidas a cacos pelos invasores do Palácio do Planalto. Também foi reconstituído o relógio trazido ao Brasil em 1808 pelo regente João VI e arrebentado por um dos manifestantes.

Inflação, a febre da economia - Celso Ming

Estado de S. Paulo

Não é febre alta, mas há meses começou a preocupar. A temperatura do organismo econômico aumentou, tende a aumentar mais e a criar mais incertezas. A inflação de 2024, medida pelo IPCA, não chegou aos 5%, mas ficou perto, ficou nos 4,83%. Em dezembro ficou dentro do esperado, nos 0,52%.

Como a meta é de 3% em 12 meses, com 1,5 ponto porcentual de escape tolerado, os juros crescentes, agora nos 12,25% ao ano, não foram suficientes para dar conta da obrigação. E empurraram um arrasto inflacionário também para dentro de 2025.

Como parte desta inflação é consequência da alta do dólar, que teve forte impacto sobre os preços dos alimentos, alguns empresários e políticos alegam que essa inflação não é de demanda e que, portanto, não pode ser atacada com alta de juros. É um equívoco.

Uma despedida - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Esta é a última das quase 1.400 colunas de um período de 7 anos por aqui

Em certos momentos da história, analisar a política e o comportamento da sociedade é como escrever um manual de instruções de um aparelho que vemos pela primeira vez. É preciso desaprender a detectar mecanismos que seguem padrões já conhecidos e descobrir como giram as novas engrenagens.

Os últimos anos representaram um desafio dessa natureza. Quando publiquei minhas primeiras colunas na Folha, de 2017 para 2018Lula estava à beira de uma condenação que o levaria à prisão. Jair Bolsonaro era um agitador com popularidade ímpar nas redes e dois dígitos nas pesquisas. O barulho feito por Donald Trump mal transmitia a resiliência de um movimento político que se espalharia pelo planeta.

Responsabilidade compartilhada - Marcos Lisboa

Folha de S. Paulo

Desequilíbrio fiscal é obra de muitas mãos

Tornou-se lugar-comum criticar o governo federal pelo desequilíbrio fiscal.

O Executivo tem a sua parcela de responsabilidade, mas o problema é bem mais complexo, e distinto, do que afirma o contraponto "a direita que não quer pagar imposto, e a esquerda não quer cortar despesa".

Existem muitas regras que tornam a despesa do Estado brasileiro mais rígida do que em outros países, assim como diversos privilégios tributários. Elas contam com amplo apoio da esquerda e da direita, e refletem o sucesso de diversos grupos de pressão da sociedade.

reforma tributária foi abalroada por diversos setores, cada um justificando que seu caso era particular, e que não poderia pagar a alíquota padrão a ser cobrada do restante da sociedade.

Empresas de profissionais liberais, como médicos, economistas e advogados, faturando milhões de reais por ano, conseguiram alíquotas reduzidas.

Vale mencionar que já existe um benefício tributário para empresas que faturam até R$ 78 milhões por ano. Os regimes especiais permitem pagar uma alíquota menor de imposto sobre o lucro do que as empresas no regime geral.

Zuckerberg: corrupto ou covarde? - Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Bilionário do Facebook mudou de posição para puxar saco de Trump

Mark Zuckerberg decidiu cancelar o fact checking no Facebook e disponibilizar a rede social como plataforma para a extrema direita.

Há duas explicações possíveis para a mudança: ou Zuckerberg está com medo ou é corrupto. Elas podem ser verdade ao mesmo tempo.

Na primeira hipótese, Zuckerberg e outros bilionários temem sofrer retaliações de Trump se não doarem dinheiro, ou se não fizerem a vontade do governo. Na segunda hipótese, o Vale do Silício percebeu que Elon Musk vai ganhar dinheiro (com regulação das redes, ou das criptomoedas, ou com protecionismo contra a concorrência chinesa) por ter se aliado a Trump, e resolveu correr atrás de boquinha semelhante.

A manchete é uma dessas duas: Zuckerberg acha Trump um ditador ou Zuckerberg acha Trump corrupto. Liberdade de expressão não é o assunto aqui.

Como pensar igual a um filósofo - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Livro cheio de surpresas traz biografias e principais ideias de 30 pensadores

"How to Think Like a Philosopher" (Como Pensar Igual a Um Filósofo), de Peter Cave, é um livro estranho. E utilizo aqui o termo estranho num sentido positivo. A reflexão filosófica, afinal, surge com o "thaumázein", o verbo grego para designar o estranhamento.

Em princípio, "How to Think..." é mais uma introdução à filosofia. São 30 pequenos ensaios que traçam o perfil e procuram explicar as ideias de 30 pensadores. Os motivos para o estranhamento começam já na lista dos escolhidos.

Ainda estamos aqui – Márcio Macêdo*

Correio Brazililense

O filme é uma obra prima: roteiro preciso, retrato fiel de um momento histórico. Uma riqueza de detalhes e sutilezas que muitas vezes os filmes não conseguem alcançar

Demorei para assistir ao filme de Walter Salles — Ainda estou aqui, inspirado no livro de Marcelo Rubens Paiva. Estava esperando uma noite, depois do expediente, em que estivesse descansado ou um fim de semana sem trabalho e com o espírito preparado. Mas resolvemos eu e a Karina, minha esposa, irmos na noite chuvosa de 8/1, dia marcado pela tentativa de golpe de Estado no nosso país há dois anos. Dia em que o governo do presidente Lula organizou duas solenidades em defesa da democracia e dos movimentos sociais e os partidos democráticos fizeram o abraço à democracia na Praça dos Três Poderes, em Brasília.

O filme é uma obra prima: roteiro preciso, retrato fiel de um momento histórico. Uma riqueza de detalhes e sutilezas que muitas vezes os filmes não conseguem alcançar. Uma plástica irreparável, belas imagens, atuações espetaculares dos atores, com destaque para Fernanda Torres e Selton Mello. 

Poesia | Vinicius de Moraes - Mensagem à Poesia

 

Música | Geraldo Azevedo - Lembrando Carlos Fernando

 

sábado, 11 de janeiro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Posse ilegítima de Maduro exige mais pressão do Brasil

O Globo

Em conjunto com a comunidade internacional, país precisa reforçar a defesa da democracia no continente

A posse de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela nesta sexta-feira confirma seu desprezo pela vontade popular. Diante de derrota humilhante no pleito presidencial de julho do ano passado, escondeu os boletins de urnas, se declarou vencedor e assumiu, sem disfarces, ser um ditador. Não satisfeito em roubar as eleições, mandou a Justiça prender Edmundo González, o oposicionista consagrado pelo voto que acabou saindo do país. De lá para cá, a repressão sistemática se manteve intacta. Apoiado pelas Forças Armadas, Maduro desistiu de parecer legítimo.

Como lidar com um vizinho desse tipo é um dos maiores problemas da política externa. A embaixadora brasileira em Caracas, Glivânia Oliveira, esteve na cerimônia de posse na presença de diplomatas de México, Colômbia e representantes de ditaduras como Cuba, Rússia e Nicarágua. Estados Unidos e União Europeia não compareceram. Se a participação da embaixadora representar a volta da fracassada política de apaziguamento, o Itamaraty estará cometendo um erro enorme. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recusou o convite, mas comitivas do PT viajaram para a Venezuela. Dois dias depois da defesa da democracia nos eventos do 8 de Janeiro, integrantes do partido festejaram a posse de um tirano.

Duas armadilhas - Cristovam Buarque

Revista Veja

Os desencontros: renda média baixa e renda mínima permanente

Por décadas, perdurou a ideia de que a renda do crescimento econômico se espalharia do topo para a base da pirâmide social em quantidade suficiente para abolir a pobreza. A história mostra que essa distribuição não ocorreu e sabe-se que a renda chegada aos pobres não seria suficiente para comprar no mercado os bens e serviços essenciais: educação, saúde, segurança. Dessa constatação surgiu a ideia do “keynesianismo social e produtivo”: renda mínima condicionada à produção para atender às necessidades, sobretudo educação. O Bolsa-Escola foi o mais reconhecido desses incentivos: pagar à mãe para que assegure a frequência dos filhos à escola. Previa-se que em poucas décadas a pobreza seria superada, não pela pequena renda, mas pelas consequências da educação, desde que a frequência ocorresse com aprendizado em escolas de qualidade. E que, paralelamente, fossem feitas as reformas adequadas para livrar o país da armadilha da baixa renda média.

Compromisso com a segurança - Oscar Vilhena Vieira

Folha de S. Paulo

O país tem criado políticas ineficientes e muitas vezes contraproducentes, mas que têm mais apelo eleitoral

A negligência com a segurança pública levou à morte de cerca de 1 milhão de pessoas nas últimas duas décadas no Brasil. Essa é a face mais dramática de um fenômeno mais amplo, que dilacera famílias, esgarça o tecido social, compromete nosso desenvolvimento, além de brutalizar o cotidiano de milhões de pessoas, submetidas ao domínio arbitrário e violento do tráfico, de milícias e mesmo de agentes do Estado que, por definição, teriam a função de proteger os cidadãos.

A incapacidade do Estado brasileiro de assegurar o direito à segurança aos seus cidadãos gera ainda um outro efeito adverso que é ampliar a desconfiança da população nas suas instituições, abrindo espaço para discursos de lideranças populistas e descomprometidas com o Estado de direito.

Apesar de a criminalidade se encontrar entre as principais preocupações dos brasileiros, desde a década de 1990, as respostas oferecidas pelos sucessivos governos, sejam eles de direita, centro ou esquerda, tanto no âmbito dos estados, como no plano federal, não apenas se demonstraram insuficientes para conter o crescimento da criminalidade, em especial a criminalidade organizada, como em muitos aspectos têm contribuído para sua expansão.