Estado de S. Paulo
Não é febre alta, mas há meses começou a
preocupar. A temperatura do organismo econômico aumentou, tende a aumentar mais
e a criar mais incertezas. A inflação de 2024, medida pelo IPCA, não chegou aos
5%, mas ficou perto, ficou nos 4,83%. Em dezembro ficou dentro do esperado, nos
0,52%.
Como a meta é de 3% em 12 meses, com 1,5
ponto porcentual de escape tolerado, os juros crescentes, agora nos 12,25% ao
ano, não foram suficientes para dar conta da obrigação. E empurraram um arrasto
inflacionário também para dentro de 2025.
Como parte desta inflação é consequência da alta do dólar, que teve forte impacto sobre os preços dos alimentos, alguns empresários e políticos alegam que essa inflação não é de demanda e que, portanto, não pode ser atacada com alta de juros. É um equívoco.
Boa parte da alta do dólar, que atingiu 27%
em 2024, deveu-se à perda crescente de confiança na condução da política
fiscal, que levou empresas e investidores a fugir para a segurança. Essa
situação teve a ver com o crescimento das despesas do governo que, por sua vez,
aumentou a demanda de bens e serviços para além da capacidade de oferta por
parte do setor produtivo. E não é só por isso que aumentou a inflação. Aumentou
porque muitos setores da economia já não encontram mão de obra e os salários
cresceram, o que elevou o poder de compra do consumidor.
Não dá para esconder que um pedaço dessa
inflação está artificialmente achatado porque o governo exigiu que a Petrobras
segurasse o reajuste dos preços dos combustíveis.
Os juros básicos (Selic) estão uma
enormidade. Derrubam o crédito, expandem a inadimplência dos endividados, puxam
para cima os custos de produção – porque encarecem o capital de giro e o
investimento. Pior que tudo, aumentam a dívida pública à medida que os juros
são incorporados ao principal e se tornam, por si sós, aumento de custo fiscal.
No entanto, os juros só estão nessas alturas
porque precisam compensar o derrame de dinheiro produzido pela gastança do
governo. Daí por que a principal causa da inflação e dos juros é a flácida
política fiscal em curso.
A partir de março, quando a Selic chegará aos
14,25% ao ano, sob a tutela de Gabriel Galípolo e da maioria de diretores do
Copom indicados pelo presidente Lula, ultrapassará os níveis vigentes em toda a
administração de Roberto Campos Neto, o bode expiatório do governo.
A menos que o presidente Lula se disponha a
aplicar um recuo crível na sua política fiscal e, assim, a derrubar a infecção
do organismo econômico, será pouco provável que o nível do câmbio e a inflação
de 2025 deem algum tipo de trégua.
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