Folha de S. Paulo
Livro cheio de surpresas traz biografias e
principais ideias de 30 pensadores
"How to Think Like a Philosopher"
(Como Pensar
Igual a Um Filósofo), de Peter Cave, é um livro estranho. E utilizo aqui o
termo estranho num sentido positivo. A reflexão filosófica, afinal, surge com o
"thaumázein", o verbo grego para designar o estranhamento.
Em princípio, "How to Think..." é mais uma introdução à filosofia. São 30 pequenos ensaios que traçam o perfil e procuram explicar as ideias de 30 pensadores. Os motivos para o estranhamento começam já na lista dos escolhidos.
Há os inevitáveis,
como Platão, Aristóteles e Kant,
os incomuns, como Avicena, Elisabete, princesa da Boêmia, e Cristina, rainha da
Suécia, e os definitivamente extravagantes, casos de Lao Tzu, que talvez nem
tenha existido e é mais bem descrito como uma liderança religiosa (fundador do
taoísmo), Safo, a poetisa, e Samuel Beckett, o dramaturgo.
Cave apresenta argumentos para justificar
seus eleitos, mas, se usamos um conceito assim tão elástico de filósofo,
imediatamente vêm à mente dezenas de outros nomes que também poderiam ter sido
incluídos e não foram. Dostoiévski? Machado
de Assis? O que resta é admitir que todo cânone é essencialmente
arbitrário.
Outro elemento que me surpreendeu no livro é
a sem-cerimônia com que Cave, que se propõe a apresentar as ideias dos
biografados, as critica. Para mim, treinado numa tradição acadêmica que busca
sempre interpretar os textos filosóficos nos limites que eles próprios
estabelecem, isso é meio chocante. Mas não posso dizer que tenha desgostado dos
resultados. Ao mostrar inconsistências, em geral lógicas, Cave revela pontos
fracos das teorias.
O autor é bem transparente. Ele não se
esforça para esconder quais são seus filósofos favoritos (Wittgenstein é de
longe o vencedor) e aqueles de que não gosta (Heidegger é ridicularizado de
forma que alguns acharão divertida).
Eu não recomendaria "How to Think..." como livro-texto para ser usado num curso acadêmico, mas é uma obra informativa e muito gostosa de ler. E nos faz abrir os olhos para a possibilidade de encontrar filosofia onde não esperamos.
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