O Estado de S. Paulo
Nota intimidadora do ministro, que não gostou
de reportagem sobre o TSE, veio após STF declarar inconstitucional o assédio
judicial a jornalistas
Alexandre de Moraes, gestor de inquéritos onipresentes e
infinitos, também, claro, corregedor-universal do jornalismo, enviou nota ao
UOL para lhe acusar de ser falsa uma reportagem. Não indica quais seriam as
mentiras. Não precisa.
Trata-se de um de nossos salvadores. Pode
tudo – os colegas togados, formalmente, e nós mesmos, imprensa, o legitimaram.
Vige sobre este 8 de janeiro permanente. Líder do estado
de vigília contra o golpe. Donde crava: “fake news e notícias fraudulentas não
ficam restritas apenas às redes sociais”. Não está errado.
O que crava sendo o mesmo que tem cravado o
que será fake news e notícias fraudulentas.
Em defesa sempre da democracia, autorizado, pois, à aplicação de autoritarismos, escreveu: “Sob o manto do sigilo de fonte, a jornalista inventou fatos e versões”.
Seria o caso de temer pelo sigilo de fonte,
não fossem as fontes ministros do Tribunal Superior Eleitoral.
O veículo reiterou a veracidade do conteúdo,
publicado em 24 de maio. As repórteres Carolina Brígido e Carla Araújo
conversaram com membros do TSE; que se sentiram à vontade para comentar a
estratégia da defesa de Bolsonaro no processo que o declarou inelegível.
A tese dessa entidade oculta-vaga chamada
ministros-de-corte-superior-falam: ao recorrer ao STF, o ex-presidente teria
perdido a chance de investir em embargos capazes de lhe dar tempo até que a
nova formação do TSE – especulada como mais favorável a ele – passasse a
julgar.
Está tudo errado. Juiz comentarista de
defesa. E juiz comentarista de defesa cuja análise se dá à margem do Direito.
Juiz comentarista de defesa cuja análise tornada pública se fundamenta na
composição política do tribunal de que faz parte.
Xandão, guardião do estado de direito e fonte
responsável, não gostou. Para ser justo, dessa vez não ordenou censura. Seria o
caso do UOL agradecer, se lembrarmos do episódio fundador em que o inquérito
xandônico original, ainda bebê, em abril de 2019, mostrou a que viria censurando reportagem da revista Crusoé que informava ser Dias
Toffoli “o amigo do amigo do meu pai”.
A nota intimidadora de Moraes – resfriadora
do debate público – veio pouco depois de o Supremo haver declarado
inconstitucional o assédio judicial contra jornalistas. A prática consiste em
ajuizar ações em série, em locais diferentes, para constranger, onerar e até
impedir o exercício da profissão.
O STF agindo então – acredite – para, segundo
Fachin, “evitar os efeitos nefastos da restauração indireta de um procedimento
de censura e autocensura”. Cármen
Lúcia, que votou – em 2022, bem diretamente – pela censura a um filme, fez
coro: “A democracia é caudatária de uma imprensa livre e independente”.
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