terça-feira, 26 de agosto de 2025

Ganho de Lula tende a arrefecer em 2026, por Christopher Garman

Valor Econômico

Politicamente, o que mais fará diferença para o governo Lula é um cenário externo que facilite uma queda dos preços domésticos, particularmente de alimentos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva faz pronunciamento em rede nacional de rádio e TV (17/07) sobre o "tarifaço" de Trump — Foto: Reprodução

O Palácio do Planalto tem visto a tarifa imposta pela Casa Branca sobre as exportações brasileiras como uma excelente oportunidade política. Evidentemente, há preocupações com as consequências econômicas de um acirramento do conflito entre Brasil e EUA, mas já está claro que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem colhido benefícios junto à opinião pública.

AtlasIntel e Genial Quaest já registraram uma alta de três a cinco pontos percentuais na aprovação do presidente Lula (de 45% para 50%, e de 40% para 43%, respectivamente). Esse movimento pode ser parcialmente explicado pela queda na inflação dos alimentos — mas, principalmente, pelo embate com o governo de Donald Trump. O fenômeno tem precedentes: as aprovações dos governos do Canadá e do México subiram depois que Trump elevou as tarifas sobre ambos; alguns países da Europa viveram situações semelhantes. Tanto lá fora quanto aqui, eleitores veem as medidas norte-americanas como injustas, o que acaba inflando o nacionalismo contra uma ameaça externa.

Aqui, há o agravante de que o governo associa as tarifas ao lobby explícito do deputado Eduardo Bolsonaro para que Washington impusesse sanções contra o Brasil — embora o deputado tenha pedido mais sanções contra ministros do Supremo Tribunal Federal que tarifas. Mas, em termos políticos, isso abre um flanco para que qualquer candidato apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro seja associado a medidas do governo norte-americano que podem prejudicar empregos e renda no Brasil.

Mesmo reconhecendo esses avanços, ainda é cedo para afirmar se esse movimento terá um efeito concreto sobre o resultado das eleições de 2026.

Se o pleito fosse nos próximos três a cinco meses, as tarifas certamente contariam a favor da reeleição de Lula. Uma onda nacionalista e antiamericana tende a beneficiar a candidatura do presidente e enfraquecer qualquer outra associada a um governo que está tirando empregos do Brasil. Ao mesmo tempo, as consequências econômicas de uma guerra tarifária com os EUA tendem a ser sentidas mais tarde, não no curto prazo.

Essa equação muda um pouco com o passar do tempo. Falta um ano e três meses para as eleições, e os efeitos de eventos como esse tendem a se dissipar. Outros temas, mais caros para os eleitores — como renda, custo de vida, segurança — acabam falando mais alto.

Economistas estimam que as tarifas norte-americanas terão um impacto bastante modesto sobre a economia brasileira, reduzindo o PIB nacional entre 0,2% e 0,4% — uma vez que as exportações para os EUA representam menos de 2% do PIB brasileiro, e a produção doméstica deve encontrar novos mercados.

Mas é preciso fazer duas ressalvas.

A primeira é que os mercados provavelmente terão que avaliar os riscos de uma deterioração mais grave na relação bilateral. Se a Casa Branca aumentar de 50% para 100% as tarifas impostas ao Brasil e sancionar ministros do STF com a Lei Magnitsky, cresce o risco de o governo Lula retaliar contra empresas ou importações norte-americanas. A exclusão do Brasil do sistema de pagamentos Swift parece bem improvável (até porque precisaria do aval de países europeus e do G10), assim como medidas para bloquear o uso de GPS no território brasileiro. Mas não é pequeno o risco de uma escalada que possa ter consequências além das tarifas.

A segunda é que toda essa incerteza pode evitar uma apreciação do real. A moeda brasileira se desvalorizou pouco, de R$ 5,40 para R$ 5,56, desde que as tarifas sobre o Brasil foram anunciadas. Mas o real poderia ter feito o movimento inverso se não fosse a crise. Além do mais, um Lula politicamente mais forte nos próximos meses também pode reduzir as apostas de uma mudança de governo em 2026 — o que também tende a evitar uma apreciação cambial.

Não é pequeno o risco de uma deterioração nas relações EUA-Brasil que possa ter consequências além das tarifas

Politicamente, o que mais fará diferença para o governo Lula é um cenário externo que facilite uma queda dos preços domésticos, particularmente de alimentos. A inflação dos alimentos foi um dos principais responsáveis pela queda na aprovação do presidente no primeiro semestre deste ano, exacerbada pela desvalorização cambial. Assim, a percepção de que Lula pode ter vantagem em 2026 (algo que agentes do mercado vinham subestimando), combinada a uma incerteza econômica maior, pode levar a uma desvalorização do real — ou evitar uma valorização. O resultado para 2026 pode ser neutro: Lula ganha um pouco com uma onda mais nacionalista, mas perde com um câmbio mais fraco.

O dado mais relevante da equação pode ser a composição da chapa da oposição. As chances de Tarcísio de Freitas ser o candidato da direita parecem ter diminuído. Ao criticar as tarifas norte-americanas, o governador reforçou a suspeita dos Bolsonaro de que sua fidelidade ao ex-presidente tem limites, e aumentou a tendência de que o Bolsonaro escolha um de seus filhos para disputar a presidência como seu indicado.

Mas é difícil antecipar o impacto até desse quesito nas eleições. Se há um desejo de mudança — seja por causa de custo de vida ou de renda — qualquer candidato de oposição tende a prevalecer. E se a associação de Bolsonaro com um governo Trump impopular afeta negativamente a candidatura de alguém de sua família, abre-se um espaço para mais um candidato no campo da oposição, fragmentando a direita.

Ao fim e ao cabo, é fácil avaliar que Lula tende a se beneficiar do embate com Trump em 2025. Mas fazer projeções sobre o impacto desse conflito nas eleições do próximo ano é um exercício muito mais difícil — e ainda não permite concluir que Lula tende a se beneficiar com o embate em 2026.

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