O Globo
De sua trincheira nos Estados Unidos, Eduardo
Bolsonaro ameaçou: “Sem anistia, não haverá eleição de 2026.”
Falso, sem a anistia desejada pelos
Bolsonaros, haverá eleição em 2026, e se porventura eles vierem a ser
responsabilizados por suas palavras, dirão que tudo não passou de simples
bravatas.
Os Bolsonaros introduziram dois elementos
tóxicos na política brasileira. Um é uma sorte de conflito intrafamiliar sem
propósitos. Ganha um fim de semana em Budapeste quem souber porque Michelle não
gosta de Jair Renan e é detestada por Carluxo. Flávio diz que Eduardo é maluco,
e Eduardo acha que Flávio é manso demais. Para quê? Para nada.
O segundo ingrediente é a bravataria. O patriarca Jair combateu vacinas, disse que o medo da Covid era coisa de maricas, ameaçou com Apocalipses e em diversas ocasiões referiu-se ao “meu Exército”. Sempre para nada. Ainda no século passado, quando ele era apenas um mau capitão, Jair pulava de bravata em bravata, como a dos explosivos da adutora do Guandu, apresentada num desenho infantil.
As explosões dos Bolsonaros, como os planos
da grei, ameaçam com o fim do mundo e, quando são chamados às falas,
protegem-se, dizendo-se bravateiros. O melhor exemplo disso esteve no Plano
Punhal Verde Amarelo. Enquanto era impresso no escurinho do Planalto pelo
general Mário Fernandes, faria e aconteceria. Chamado a explicar-se, o general
saiu de fininho, falando em simples reflexão.
Quando Eduardo Bolsonaro diz que “sem anistia
não haverá eleição de 2026”, ecoa uma frase atribuída ao general Braga Netto,
para quem não haveria eleição sem voto impresso. (Ele negou a autoria do
comentário.) De qualquer forma, houve eleição sem voto impresso, Bolsonaro e
Braga Netto foram derrotados, Lula está no Planalto e a dupla em prisões.
Bolsonaro numa cana domiciliar, e o general num quartel. O país ganhou uma
serenidade institucional que lhe foi negada durante o mandato do ex-capitão.
O estilo bravateiro é tóxico por ser de todo
inútil. Serve para nada, além de dar alguns minutos de fama aos interessados.
Os Bolsonaros não conseguiram impor uma
agenda radical quando estavam no governo. Nada conseguirão agora que estão fora
dele, obrigados a temer a caneta do ministro Alexandre de Moraes. É um estilo
vencido, como o dos chapéus e das polainas.
O deputado Eduardo Bolsonaro sabe que se o
Congresso aprovar algum tipo de anistia, ela não trará grande alívio ao
ex-presidente. Beneficiará primeiro os lambaris do 8 de Janeiro, condenados a
penas extravagantes, como a de 14 anos para o bobalhão que sentou-se na cadeira
de Alexandre de Moraes. (Ela estava na rua, não no prédio do Supremo Tribunal
Federal.)
A tragédia de McNamara
Chegou às livrarias americanas “McNamara at
War” (A Guerra de McNamara), dos jornalistas William e Philip Taubman. É a
história de Robert McNamara (1916 – 2009), o professor de Harvard que reergueu
a Ford Motor, revolucionou as Forças Armadas americanas e atolou uma carreira
brilhante nas selvas do Vietnã.
McNamara foi o secretário da Defesa dos
presidentes John Kennedy e Lyndon Johnson, até que deixou o cargo e, com o
tempo, tornou-se um crítico da guerra: “Foi um erro, um grande erro”.
“A Guerra de McNamara” expõe a tragédia
pessoal do poderoso secretário da Defesa, um devorador de estatísticas,
“computador com pernas”. Por trás do tecnocrata frio e deslumbrado com o poder,
havia um puritano angustiado, descrente da vitória militar que propalavam,
responsável pela morte de dezenas de milhares de jovens americanos e milhões de
vietnamitas, para nada. A Guerra do Vietnã durou 20 anos e acabou-se em 1975,
com a retirada das tropas americanas e o colapso do regime de Saigon. Desde
1965 McNamara e os principais assessores do presidente Lyndon Johnson sabiam
que os Estados Unidos não poderiam ganhar aquela guerra, mas fingiam que a
vitória militar estava ao alcance dos generais.
Os irmãos Taubman traçaram um completo perfil
do tecnocrata imerso nos jogos do poder palaciano. Ele mostrou-se um exímio
dançarino e flertava com a viúva do presidente John Kennedy, assassinado em
1963.
Quando a guerra tornou-se impopular, McNamara
sofreu com a oposição dos filhos e, aos poucos, deslizou para uma discreta
oposição. Foi dele a ideia de compilar informações capazes de explicar como os
Estados Unidos meteram-se em semelhante enrascada. Esses documentos tornaram-se
conhecidos como os Pentagon Papers.
Trocando a crise em miúdos, os governos
americanos convenceram-se de que se o Vietnã do Sul caísse, o sudeste da Ásia
cairia junto. Era a teoria do dominó, uma tolice, como se viu.
Conrado disse tudo
O professor Conrado Hübner Machado disse tudo
ao tratar do caso do promotor aposentado Jairo de Luca, que recusou um
penduricalho de R$ 1,3 milhão:
“Jairo talvez tenha praticado o maior gesto
individual antigrilagem magistocrática da história brasileira. Simboliza grito
de alguém que conseguiu transformar desconforto de consciência em gesto
concreto. Não é para qualquer um.”
Tarcísio candidato
Um veterano observador da cena política de
São Paulo e conhecido do governador Tarcísio de Freitas resolveu criar um
candidatômetro. Ele oferecerá registros periódicos de qual poderá ser sua
candidatura preferida.
Na semana passada, com a aprovação do
refresco do Imposto de Renda para quem ganha até 5 salários mínimos, ele era
candidato à reeleição para o governo de São Paulo.
Hugo Motta
Uma senhora atenta aos figurinos nacionais
confessou-se surpresa com a estampa do presidente da Câmara, Hugo Motta, de 36
anos.
“O rapaz deu um trato no cabelo e ficou
parecido com galãs de filmes mudos. Tipo Rodolfo Valentino.”
Manguinhos, ontem e hoje
A desdita da refinaria de Manguinhos, no Rio
de Janeiro, lança alguma luz sobre a natureza de parte do empresariado
nacional.
Ao tempo em que os bichos falavam, a maior
acionista de Manguinhos era a família Peixoto de Castro, com sua loteria,
mansões e os cavalos do haras Mondesir. Passados 75 anos, a refinaria, que
exibiria a competitividade de uma parte do empresariado do Rio, deslizou para o
submundo da sonegação y otras cositas más.
CPI do INSS
Se a CPI das fraudes do INSS encostar nas novas modalidades de financiamento dos sindicatos o aparelho governista terá dificuldade para se explicar durante o ano eleitoral de 2026.
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