terça-feira, 26 de agosto de 2025

O quadro geral dos atingidos, por Míriam Leitão

O Globo

Balanço mostra que oito mil empresas foram afetadas pelo tarifaço. Há boa notícia sobre castanha no Acre e preocupação com setor de máquinas e equipamentos

O número final ainda está sendo refinado, mas em torno de oito mil empresas foram atingidas pelo tarifaço de Donald Trump. Esta crise afeta as empresas de forma diferente e, por isto, a ajuda do governo foi formatada para socorrer mais quem teve prejuízo maior. O economista Guilherme Mello, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, diz que até o dia 8 todos os sistemas de financiamentos estarão prontos e espera para a segunda quinzena as primeiras liberações de crédito.

Há produtos que são facilmente realocados em outros mercados. O presidente Lula foi ao Acre visitar produtores de castanha que vendem para os Estados Unidos e lá ouviu o seguinte: “presidente, já está resolvido o nosso caso, a gente conseguiu outros compradores”. São bens com demanda global, como café e castanha, ou que podem ser vendidos no mercado interno.

— É diferente da empresa que fabrica uma máquina, um equipamento sob medida para uma indústria americana, uma autopeça sob medida para a Ford. Essa vai sofrer mais a transição, por isso precisa de capital de giro.

Em relatório feito a pedido da coluna, o gerente de Comércio Internacional da BMJ Consultores Associados, Josemar Franco, avaliou que o setor de máquinas e equipamentos é o mais prejudicado e pode desempregar 15 mil pessoas. Disse que “beira o impossível” nesse setor substituir os Estados Unidos. As exportações já caíram 8,1% no semestre, e a queda chega a 22,9% na comparação do primeiro trimestre deste ano com o mesmo período de 2024.

Em alguns setores, os números do semestre mostram aumento, mas quando se compara o primeiro e o segundo trimestres, a queda fica evidente. Em frutas, incluindo castanhas e nozes, houve alta de 17,2% no balanço do primeiro semestre. Mas, no segundo trimestre, teve uma queda de 5,7%. Em pescados, a mesma situação: houve alta de 31% no semestre, mas queda de 27% no segundo trimestre comparado ao primeiro. Isso se explica por diversos motivos. Um deles é a antecipação de compra desses produtos já que entraria em vigor o violento aumento do imposto de importação.

E o futuro? Há a possibilidade de que tudo isso se resolva rapidamente, mas pouca gente acredita neste cenário. O mais provável é ser uma crise longa.

— Digamos que não se resolva, esse empresário de máquinas e equipamentos terá que buscar clientes em outros países. Para isso, precisará adaptar a produção e investir. Existe uma linha de crédito específica para esse caso, mas poucas empresas têm grande dependência do mercado dos Estados Unidos — diz Mello.

Em móveis, registrou-se queda de 3% nas exportações, mas houve também uma antecipação de contratos, o que fez as exportações do setor fecharem em alta de 6,8%. Neste caso, há outra má notícia. Na sexta-feira, o presidente Trump avisou que estava iniciando um processo contra móveis importados em geral, que será concluído em 50 dias e pode aumentar a taxação ainda mais contra diversos países. Diante da ameaça, os contratos já estão sendo suspensos.

O secretário acredita que, em algum momento, os Estados Unidos vão querer conversar questões comerciais. Até agora, como se sabe, a exigência feita pelo governo americano é descabida e nada tem a ver com o comércio. É o fim do processo contra Bolsonaro e uma anistia para quem tentou um golpe de Estado no país.

— Os Estados Unidos compram manga do Brasil e do México, mas a produção mexicana acabou em julho. Os americanos podem não comer manga ou pagar muito mais caro pela fruta. Mas é uma bobagem dos Estados Unidos. O café é um caso clássico. O Brasil pode realocar a produção para outros lugares, mas não comprar do Brasil vai ser muito ruim para eles. Podem dizer que comprariam da Colômbia. A produção da Colômbia é muito menor do que a nossa e os americanos tomam um blend, mistura do nosso café ao colombiano — afirma.

Aqui no Brasil, o plano de ajuda tem potencial para socorrer as empresas, mas ainda não está funcionando. Mello disse que o governo corre para implementar e espera ter todos os sistemas prontos no dia 8 de setembro. A partir dessa data, as empresas poderão acessar as linhas de crédito, com as primeiras liberações previstas para meados do mês.

Enquanto o Brasil conta as suas perdas, os governadores da direita ignoram o tema e fazem campanha para 2026, como se nada tivessem a ver com essa bomba que caiu sobre a economia

 

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