DEU EM O GLOBO
Recebi do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, a seguinte mensagem, a respeito da coluna de ontem, “Passo em falso”, em que critiquei o encontro entre ele e o deputado federal Ciro Gomes, candidato potencial pelo PSB.
Recebi do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, pré-candidato à Presidência da República pelo PSDB, a seguinte mensagem, a respeito da coluna de ontem, “Passo em falso”, em que critiquei o encontro entre ele e o deputado federal Ciro Gomes, candidato potencial pelo PSB.
Como se trata de um depoimento esclarecedor sobre seu processo decisório, num momento fundamental para a definição do candidato do PSDB, publico a íntegra da mensagem:
“Caro Merval, dizem que a política é território onde, em detrimento da verdade, prevalecem as versões.
Hoje, ao ler os jornais, fiquei com o sentimento de que é também o território das interpretações, mais do que o da realidade.
Estou surpreso com a repercussão do meu encontro com Ciro Gomes ontem em Minas.
E por uma única razão: não há nada de novo nele.
O deputado Ciro já esteve por diversas vezes no estado.
Em algumas delas estivemos juntos. Por várias ocasiões ele já reafirmou a possibilidade de retirar a sua pré-candidatura caso a minha venha a se concretizar.
No entanto, em nenhuma dessas ocasiões o assunto mereceu tanta atenção.
A pressa em rotular ou tentar encontrar nesse encontro alguma motivação que pudesse contribuir para as falsas teorias conspiratórias em curso no cenário político fez com que passasse desapercebido o único fato novo ocorrido no encontro: pela primeira vez o ex-ministro vem a Minas e não faz, no estado, nenhuma crítica ao governador Serra.
É claro que isso não foi por acaso. Surpreende que ninguém tenha observado isso, que, se não tem nenhum significado específico quanto à posição de Ciro, certamente revela muito da minha.
Percebo com clareza o esforço feito por alguns no sentido de tentar fazer prevalecer sempre uma visão maniqueísta dos acontecimentos. Por essa ótica, tudo o que eu faço tem como objetivo gerar constrangimentos para o governador Serra, e tudo o que ele faz — ou não faz — tem como objetivo me criar dificuldades.
Serra prefere que a decisão do partido se dê em março? Ora, é para inviabilizar o Aécio, correm a dizer.
O Aécio se encontrou com Ciro? É só para incomodar o Serra, repetem à exaustão.
Essas análises seriam apenas uma forma empobrecida de perceber a realidade política se não terminassem por cumprir uma função: engessar os movimentos do Serra e meus de forma a perpetuar a ideia de um falso antagonismo entre nós.
O governador Serra tem inúmeras razões, todas corretas, para agir da forma que age.
Também eu as tenho.
Nossas iniciativas têm outras motivações. Pergunto: e se eu recebo amanhã, como já recebi inúmeras vezes, a bancada federal de algum partido? Na lógica das análises apressadas, alguém vai dizer: depois de se encontrar com Ciro, Aécio recebe a bancada do partido X para enfraquecer Serra.
E, se a minha agenda política não tiver nenhum encontro que possa ser interpretado do ponto de vista eleitoral, ainda assim alguém pode interpretar: silêncio de Aécio tem como objetivo pressionar Serra.
Tanto o governador Serra como eu temos responsabilidades e não podemos agir ou deixar de agir em função de interpretações.
Não podemos ser reféns de interpretações.
Você se recorda quando, há bem pouco tempo, algumas análises, apesar dos meus reiterados desmentidos, garantiam que eu ia deixar o PSDB? Análises podem se mostrar incorretas. O tempo é que diz. Mas nós, que temos responsabilidades públicas, não temos o direito de errar tão facilmente.
Continuo acreditando que o PSDB precisa ampliar o seu leque de alianças qualquer que seja o nosso candidato. E continuo achando que essas alianças devem ser buscadas no período préeleitoral, no período eleitoral e, certamente, também após as eleições.
A experiência da aliança com o PT em torno das eleições em Belo Horizonte cumpriu um papel importante. Tanto o prefeito Pimentel quanto eu sabíamos que ela estaria necessariamente restrita ao âmbito municipal, uma vez que não há condições políticas de que ela fosse pensada de outras formas.
Digo que ela cumpriu um papel importante — e lembro que existem centenas de alianças municipais PSDB-PT Brasil afora — porque acredito que o processo político não é linear.
Por fim, reitero o que venho repetindo muito ultimamente, por mais ingênuo que possa parecer para muitos: faço política conversando. Com aliados, com possíveis aliados, com adversários. É uma forma de se identificarem espaços e caminhos para a construção de consensos e avanços, embora reconheça que, em algumas circunstâncias, não há como fugir do confronto.
Em Minas, costuma-se dizer que, em política, devem brigar as ideias, não os homens.
Por isso, durante o meu governo, o Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador do estado, vem recebendo deputados, senadores, governadores e ministros de todos os par tidos, inclusive da oposição. À luz do dia.
Pela porta da frente”.
“Caro Merval, dizem que a política é território onde, em detrimento da verdade, prevalecem as versões.
Hoje, ao ler os jornais, fiquei com o sentimento de que é também o território das interpretações, mais do que o da realidade.
Estou surpreso com a repercussão do meu encontro com Ciro Gomes ontem em Minas.
E por uma única razão: não há nada de novo nele.
O deputado Ciro já esteve por diversas vezes no estado.
Em algumas delas estivemos juntos. Por várias ocasiões ele já reafirmou a possibilidade de retirar a sua pré-candidatura caso a minha venha a se concretizar.
No entanto, em nenhuma dessas ocasiões o assunto mereceu tanta atenção.
A pressa em rotular ou tentar encontrar nesse encontro alguma motivação que pudesse contribuir para as falsas teorias conspiratórias em curso no cenário político fez com que passasse desapercebido o único fato novo ocorrido no encontro: pela primeira vez o ex-ministro vem a Minas e não faz, no estado, nenhuma crítica ao governador Serra.
É claro que isso não foi por acaso. Surpreende que ninguém tenha observado isso, que, se não tem nenhum significado específico quanto à posição de Ciro, certamente revela muito da minha.
Percebo com clareza o esforço feito por alguns no sentido de tentar fazer prevalecer sempre uma visão maniqueísta dos acontecimentos. Por essa ótica, tudo o que eu faço tem como objetivo gerar constrangimentos para o governador Serra, e tudo o que ele faz — ou não faz — tem como objetivo me criar dificuldades.
Serra prefere que a decisão do partido se dê em março? Ora, é para inviabilizar o Aécio, correm a dizer.
O Aécio se encontrou com Ciro? É só para incomodar o Serra, repetem à exaustão.
Essas análises seriam apenas uma forma empobrecida de perceber a realidade política se não terminassem por cumprir uma função: engessar os movimentos do Serra e meus de forma a perpetuar a ideia de um falso antagonismo entre nós.
O governador Serra tem inúmeras razões, todas corretas, para agir da forma que age.
Também eu as tenho.
Nossas iniciativas têm outras motivações. Pergunto: e se eu recebo amanhã, como já recebi inúmeras vezes, a bancada federal de algum partido? Na lógica das análises apressadas, alguém vai dizer: depois de se encontrar com Ciro, Aécio recebe a bancada do partido X para enfraquecer Serra.
E, se a minha agenda política não tiver nenhum encontro que possa ser interpretado do ponto de vista eleitoral, ainda assim alguém pode interpretar: silêncio de Aécio tem como objetivo pressionar Serra.
Tanto o governador Serra como eu temos responsabilidades e não podemos agir ou deixar de agir em função de interpretações.
Não podemos ser reféns de interpretações.
Você se recorda quando, há bem pouco tempo, algumas análises, apesar dos meus reiterados desmentidos, garantiam que eu ia deixar o PSDB? Análises podem se mostrar incorretas. O tempo é que diz. Mas nós, que temos responsabilidades públicas, não temos o direito de errar tão facilmente.
Continuo acreditando que o PSDB precisa ampliar o seu leque de alianças qualquer que seja o nosso candidato. E continuo achando que essas alianças devem ser buscadas no período préeleitoral, no período eleitoral e, certamente, também após as eleições.
A experiência da aliança com o PT em torno das eleições em Belo Horizonte cumpriu um papel importante. Tanto o prefeito Pimentel quanto eu sabíamos que ela estaria necessariamente restrita ao âmbito municipal, uma vez que não há condições políticas de que ela fosse pensada de outras formas.
Digo que ela cumpriu um papel importante — e lembro que existem centenas de alianças municipais PSDB-PT Brasil afora — porque acredito que o processo político não é linear.
Por fim, reitero o que venho repetindo muito ultimamente, por mais ingênuo que possa parecer para muitos: faço política conversando. Com aliados, com possíveis aliados, com adversários. É uma forma de se identificarem espaços e caminhos para a construção de consensos e avanços, embora reconheça que, em algumas circunstâncias, não há como fugir do confronto.
Em Minas, costuma-se dizer que, em política, devem brigar as ideias, não os homens.
Por isso, durante o meu governo, o Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governador do estado, vem recebendo deputados, senadores, governadores e ministros de todos os par tidos, inclusive da oposição. À luz do dia.
Pela porta da frente”.
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